"A campanha do PSD tem sido toda de calúnia e de maledicência"
Pedro Marques, candidato do PS às eleições Europeias, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.
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Política Pedro Marques
De ministro a cabeça de lista do PS às europeias, Pedro Marques, um político com um perfil executivo, como o próprio define, quer levar para a Europa a receita aplicada em Portugal. Acena bem alto a bandeira dos 350 mil postos de trabalho e a redução das desigualdades, feitos alcançados ao longo dos últimos três anos, provando assim aos líderes europeus que, sim, havia alternativa à crise. Alguns, até da Direita europeia, já se renderam, sublinha Pedro Marques em entrevista ao Notícias ao Minuto.
Lamenta que os candidatos escolhidos para disputar estas eleições sejam “rostos do passado”. Nomeadamente, Manfred Weber, “o protagonista do pedido de sanções com força máxima na altura do pico da crise”, uma escolha do PPE para a Comissão Europeia, e um candidato apoiado por e CDS.
Pedro Marques diz ser um político “que faz coisas”, ao contrário dos seus adversários, sobretudo da Direita. A Paulo Rangel, que acusa de levar por diante uma campanha eleitoral baseada em “falsidades” e em "tricas", não lhe conhece trabalho significativo. Sobre Nuno Melo, duvida da sua coerência política sobre a Europa. Não se revê na visão aventureira dos partidos à esquerda do PS, embora repare que estão agora mais “euro-calmos”.
Nesta entrevista, Pedro Marques enfatiza ainda a preocupação relativamente ao crescimento de movimentos populistas, nacionalistas e de extrema-direita, um fenómeno que, acredita, em Portugal "ainda não encontrou palco". E, da sua parte, garante, não haverá qualquer contributo para "normalizar o discurso da extrema-direita". O mesmo espera do país.
Sobre a política nacional e a avalanche de casos de laços familiares no Governo, que Rangel classificou como um gravíssimo atentado ao "princípio republicano", Pedro Marques defende que tais "acusações cruzadas entre partidos" resultam da falta de agenda e fazem mal à democracia. Mais: "Há uma certa misoginia nesse tipo de ataques", acusa.
Trabalhei muito pelo país e é exatamente isso que vou fazer pela Europa
De ministro a cabeça de lista do PS nas eleições Europeias. Quando é que foi convidado por António Costa e que características reúne para ter sido o escolhido?
Fui convidado alguns meses antes da apresentação pública da candidatura. Julgo que as características que procurou o secretário-geral do meu partido têm a ver com o meu perfil executivo. Tenho trabalhado grande parte da vida na causa pública, sempre a fazer coisas concretas para as pessoas, desde autarca a membro do Governo. A maior parte da minha vida foi de facto a fazer coisas concretas, tais como o complemento solidário para idosos, que retirou da pobreza cerca de 250 mil idosos; o programa PARES, que aprovou 400 creches, centenas de equipamentos sociais; a reforma da Segurança Social; e, agora, os investimentos na ferrovia. Pegámos a ferrovia num estado de abandono total e temos hoje mais de 300 quilómetros de obras lançadas - em obra ou concluída. Temos a obra do IP3, para dar outro exemplo, a obra da ponte 25 de Abril... Portanto, o meu perfil é executivo. Uma pessoa que faz coisas, que conhece bem o país. Não tenho estado como residente habitual… Trabalhei muito pelo país e é exatamente isso que vou fazer pela Europa.
Em que matérias irá defender os interesses de Portugal e com que soluções?
Perguntado dessa forma reconduz-me a explicar-lhe a nossa visão para a Europa e a maneira como vamos defendê-la. No PS pensamos, e eu também pessoalmente, que a Europa precisa de um novo contrato social. Isto decorre do facto de consideramos que a Europa, nos últimos anos, - particularmente desde a criação do euro e do conjunto de reformas de desregulação económica, laboral -, podia ganhar competitividade, mas na verdade, o que resultou foi uma maior desigualdade entre os países europeus que, desde logo também foi uma causa da crise financeira. Mesmo países do centro da Europa, que tiveram crescimento económico, tiveram desigualdades internas. E isso fez com que os cidadãos na Europa – praticamente em todos os países, temos sido felizmente a exceção – tenham tido um apelo muito maior pelos populismos e nacionalismos e, em muitos casos, por essa extrema-direita que tem vindo a ganhar espaço, como aconteceu aqui tão perto, na Andaluzia, em que se conseguiram aliar à direita do PP para uma solução de governo. A Europa tem que voltar a governar para as pessoas.
Que significa na prática...
As instituições europeias têm de reconstruir esse pacto com os cidadãos, com as classes médias, que no passado chamámos modelo social europeu e que designamos agora como novo contrato social para a Europa. Significa governar na Europa como estivemos a governar aqui em Portugal durante os últimos três anos, promover a criação de emprego, redução de desigualdades e pobreza, mantendo sempre as contas certas para garantir a total sustentabilidade das políticas públicas.
A Europa tem de regressar a políticas de facto concretas de redução da pobreza e da desigualdade
Aqui [em Portugal], como sabem, conseguimos criar 350 mil empregos neste período, consideramos que é possível e desejável que a Europa também siga um caminho de maior criação de emprego. Embora tenhamos uma situação favorável na Europa, temos de nos focar ainda mais em políticas de investimento e criação de emprego com efetiva convergência entre todos os Estados-membros. A Europa tem de regressar a políticas concretas de redução da pobreza e da desigualdade, implementar o pilar dos direitos sociais e não o deixar no campo dos princípios. Diria, ser tão ambicioso no campo dos direitos sociais como fomos na questão do completar da união económica e monetária.
Avançar, por exemplo, e como instrumento muito importante também para esse novo contrato social que promova uma efetiva estabilização europeia, para a implementação do orçamento da zona euro. É algo por que batalhamos muito, por que batalhou muito o primeiro-ministro português no contexto do Conselho Europeu. Conseguimos que agora haja um mandato para a construção desse orçamento, que é muito importante para a promoção da convergência do ponto de vista europeu e mesmo a longo prazo para a criação de instrumentos de estabilização da própria zona euro. São sempre políticas concretas.
Como por exemplo?
Por exemplo políticas de habitação. Os fundos europeus têm de apoiar as políticas de habitação para as classes médias e para os jovens. Políticas de investimento, como referi, com o apoio do orçamento da zona euro, mas efetivamente políticas de convergência de todos os Estados-membros e não apenas políticas de investimento no centro da Europa; políticas de apoio à igualdade, nomeadamente de género, de combate à desigualdade salarial e também de apoio à estabilização das relações laborais. São de facto políticas diferentes das que temos implementado nos últimos anos na Europa, onde a afirmação da coesão social às vezes fica do lado dos princípios ao invés de se traduzirem em políticas concretas.
Achamos que é preciso regressar à governação para as pessoas, para que estas não sintam esse apelo dos tais populismos e dos tais extremismos. Sempre que as políticas públicas e os políticos não governam para a maioria dos cidadãos, não conseguem interromper as desigualdades, claro que as pessoas vão sentir muito mais apelo a esses extremismos. Nós vamos interromper essa dinâmica. E certamente não queremos que ela chegue a Portugal, e portanto, vamos criar as condições para que Portugal continue a governar como tem governado nestes últimos três anos.
No fundo, o que pretende é replicar na Europa a política conseguida aqui em Portugal?
Sim, no fundo é isso. Isso foi sufragado pelo nosso partido a nível europeu, não é um desejo nosso que não tenha qualquer concretização e adesão por parte dos outros partidos europeus. Quem teve a oportunidade de nos acompanhar em Madrid, no congresso do Partido Socialista Europeu, viu um partido unido, em que aliás a pessoa mais aclamada foi António Costa. E foi esta política que defendemos e executámos aqui em Portugal, e que lá propus enquanto cabeça de lista, que foi aprovada. Este novo contrato social é a matriz do programa do PS europeu e foram muitos os líderes que lá disseram: ‘António, nós queremos fazer lá o que tu conseguiste fazer em Portugal e que diziam não ser possível’.
Se se recordam bem, havia muita gente nas instituições europeias, nomeadamente na Direita europeia, que dizia das duas uma: ou que nós não conseguíamos implementar aquilo com que nos tínhamos comprometido - devolução de rendimentos, aumento do salário mínimo nacional, a redução do IRS - , porque queríamos manter as contas em ordem; ou então, para cumprir essas promessas, ‘espatifávamos’ as contas públicas. Nem uma coisa, nem outra aconteceu. Conseguimos de facto cumprir. E agora podemos dizer na Europa que é possível este modelo alternativo. Havia muito aquele discurso do 'There Is No Alterative' ... O homem do pedido de sanções contra Portugal é apoiado pelo PSD e pelo CDS
Sim. O TINA.
Nós fomos de facto aqui com a governação concreta do PS em Portugal um exemplo de que sim, de que havia alternativa, de que conseguíamos devolver os rendimentos, repor as desigualdades, sem colocar em causa as contas públicas. E hoje já tem vários responsáveis europeus do período da crise a perguntar: ‘será que podíamos ter feito diferente?’. Já ouvimos isso, várias vezes, de responsáveis da União Europeia.
Infelizmente, a Direita europeia, com o apoio do PSD e do CDS, tem essa escolha extraordinária para cabeça de lista à Comissão Europeia o protagonista do pedido de sanções com força máxima na altura do pico da crise. Jean Claude-Juncker é um exemplo concreto, do PPE, amigo de Portugal, que disse que talvez devêssemos fazer diferente, que deveríamos ter feito diferente. O candidato que é escolhido pela Direita, qual é? O homem do pedido de sanções contra Portugal e é ele que é apoiado pela Direita em Portugal, pelo Rangel do PSD e pelo Nuno Melo do CDS. É uma escolha de passado, mas isso também não me espanta muito porque os candidatos da Direita são de facto candidatos de passado.
Voltando à escolha de António Costa por si para encabeçar a lista do PS. A Direita tem insistido na crítica de que Pedro Marques se aproveitou do cargo de ministro e da legislatura para preparar terreno para esta candidatura. Aceita essa crítica?
Acho essas críticas bastante absurdas. Saí do Governo muito antes da marcação das eleições europeias por parte do senhor Presidente da República. Nem sei se no passado foi assim, sei que não é habitual quando se trata de eleições legislativas, mesmo os candidatos a legislativas que estão nos governos completam os seus mandatos. Nós optámos, eu optei pessoalmente – e houve uma concordância com António Costa – que deveria sair muito cedo. As pessoas que andam a dizer isso, são os mesmos que continuam a exercer os seus mandatos ao Parlamento Europeu (PE), que andam a participar em iniciativas como deputados, a participar em conferências sobre o futuro da Europa, a exercer atividade e apresentá-la como parte do seu currículo e património muito depois das eleições terem sido marcadas. Essa crítica parece-me bastante absurda, devo dizer, e desprovida de sentido.
Se o meu partido optou por renovar naturalmente não é para fazer tudo igual
Indiferente a essas críticas tem estado António Costa que tem demonstrado grande confiança em si, tendo mesmo afirmado que acha que foi uma boa escolha para dar continuidade “à boa tradição dos cabeças de lista europeus do PS”. É isso que pretende fazer, dar continuidade ao que já foi feito ou, de alguma forma, marcar a diferença?
Há duas questões na sua questão. Primeiro, a escolha feita pelo PS, efetivamente foi muito secundada pelo secretário-geral do meu partido. Evidentemente, é uma honra enorme para mim suceder a Mário Soares, António Vitorino, Maria de Lurdes Pintassilgo – candidatos absolutamente extraordinários que tivemos no passado, tantos que podia aqui nomear. O PS tem tido sempre esta tradição de renovar os cabeças de lista e acho que, neste momento em particular, precisamos de uma Europa de futuro, de uma Europa diferente, que não esteja outra vez a olhar para trás, ao tempo dos cortes, das sanções. Precisamos de uma Europa que mude de paradigma e que volte a governar para as pessoas, mais social. Se acreditamos que a Europa tem que ser diferente e que tem de ter uma mensagem de futuro para combater esses populismos e nacionalismos, foi infeliz que os partidos da Direita repetissem os seus cabeças de lista, em particular cabeças de lista tão associados ao apoio àquele governo de Passos Coelho e depois a Manfred Weber com as sanções.
Quanto à renovação, é uma honra muito grande ser o cabeça de lista do partido mais europeísta do nosso país e naturalmente enfrento este desafio com esse sentido de responsabilidade. Mas se o meu partido optou por renovar naturalmente não é para fazer tudo igual. Contamos com a experiência daqueles que estavam, temos dois eurodeputados que continuam, e reconhecemos e agradecemos o trabalho muito grande de muitos dos nossos eurodeputados deste mandato, mas quisemos de facto apresentar uma mensagem de futuro. Por isso é que a lista tem tanta gente jovem, por isso é que é uma lista novamente paritária, com muita gente com muitas competências diferentes, mas sobretudo gente que faz coisas, com competências executivas e que não somos propriamente os campeões dos sound bites na nossa lista, de facto.
Falava há pouco que foi escolhido por ser um executivo que conhece muito bem Portugal. Até que ponto conhece a Europa?
Desde que comecei a trabalhar, trabalhei sempre em dossiers europeus e em particular na área dos fundos estruturais, o meu primeiro emprego foi imediatamente a trabalhar com fundos estruturais. Com a negociação do 20/30 que iniciámos agora a negociação, vou no quinto quadro comunitário no qual participo na gestão ou na conceção de quadros comunitários de políticas para a Europa. Participo em fóruns europeus, evidentemente. Aliás, participo este fim de semana num 'think tank' do qual faço parte há já algum tempo e no qual participo regularmente. Participei em imensos Conselhos Europeus da minha área, quer dos assuntos gerais, quer de política de coesão, quer dos conselhos de transportes como ministro das Infraestuturas, lá atrás no meu tempo na Segurança Social, participei no Conselho Europeu de assuntos sociais e fiz a presidência portuguesa na altura, enquanto secretário de Estado. Portanto, sim, conheço, compreendo a Europa e compreendo-a do lado de quem faz coisas concretas para a Europa evoluir. Essa é a minha abordagem em Portugal e na Europa.
Relativamente a essa experiência nos fundos estruturais, o Público avança hoje [segunda-feira] que António Costa poderá nomeá-lo para candidato a comissário europeu dessa pasta. É um cargo que aceitaria?
O que lhe posso dizer sobre essa matéria são duas coisas. Primeiro, acho que é uma discussão bastante extemporânea. Estamos a disputar eleições para o Parlamento Europeu. A escolha do comissário português é feita pelo governo português, e por isso, pelo primeiro-ministro de Portugal que certamente o fará em função do perfil das pessoas que entenda convidar e da própria pasta que seja atribuída a Portugal. O país tem muita gente competente, felizmente o PS tem muita gente competente que poderá vir a ser eventualmente convocada para esse desafio. A pasta que será atribuída a Portugal será tão mais relevante quanto nós tenhamos a capacidade de ter melhor resultado enquanto Partido Socialista. Porquê? Porque é entre os governos das várias famílias políticas que depois se faz essa definição das pastas a atribuir a cada país. E, claro, se tivermos mais força, como esperamos ter nestas eleições, o Governo português do PS também terá mais força na negociação desse pelouro no contexto da Comissão Europeia. Quanto ao mais, acho que esse tipo de discussão é prematura.
A única coisa que está em discussão agora é a eleição do presidente da Comissão Europeia e aí as escolhas são bastante claras. Nós temos um progressista, dos direitos fundamentais, do estado direito democrático, que é o Frans Timmermans como candidato do PS europeu, o seu principal opositor é Manfred Weber de quem já falámos, o principal rosto das sanções contra Portugal. É uma escolha da Direita europeia que os portugueses devem ter em conta e também devem fazer escolhas tendo em conta a forma como o PSD e o CDS decidiram apoiar este candidato. Esse rosto do passado, dos cortes, das sanções, é o rosto da Direita, e isso tem que ser penalizado nas escolhas dos que estão fartos dos rostos do passado.
Falava na lista do PS como sendo muito jovem. Ela é constituída também por muitas mulheres. É a constatação de que há um crescimento do poder feminino na política?
É desde logo a constatação de uma opção de fundo de política do PS. O Governo do PS propôs uma lei da paridade que entretanto veio a ser aprovada [e já promulgada], houve uma negociação de fundo que permitiu chegar a bom porto e que permitiu aumentar para 40% a percentagem mínima de cada género nas listas políticas e que se aplicará não agora nas eleições europeias obrigatoriamente mas que é já um marco para o futuro em Portugal. É mais um avanço e, mais uma vez, por iniciativa do PS e obviamente partilhada por outros partidos.
No nosso caso, decidimos ir mais além, decidimos voltar a ter uma lista paritária. É de facto muito importante esse aumento da participação das mulheres na vida política e nós queremos ir além disso. Para além de contarmos com um ativo com a competência dos homens e mulheres da lista, contamos que seja sobretudo um sinal do mundo que queremos fazer. Temos muito para fazer ainda na área da conciliação da vida familiar com a vida profissional. Tenho orgulho de ter sido autor da legislação que rasgou horizontes em Portugal, a legislação dos direitos de parentalidade de 2009 é da minha autoria material, enquanto secretário de Estado da Segurança Social, foi aí que passámos a ter licenças de parentalidade, foi aí que os pais começaram a ser incentivados a gozar uma boa parte da licença com resultados concretos positivos mas há muito caminho a percorrer. E há a questão da igualdade salarial onde temos muito trabalho a fazer na Europa. O Frans Timmermans assumiu um compromisso, e eu naturalmente acompanho-o nesse compromisso, de nos próximos cinco anos eliminar completamente o 'gap' salarial entre homens e mulheres na UE e essa é também uma das propostas fundamentais que temos para apresentar.
Manuel Pizarro foi nomeado para 9.º lugar da lista, tendo o PS do Porto considerado um lugar "desprestigiante". Causou algum mal-estar dentro do partido esta escolha?
Não. Pelo contrário. Manuel Pizarro tem estado empenhadíssimo na campanha, tem sido um dos nossos grandes ativos. O Porto é um dos grandes distritos, tem dois lugares elegíveis - um homem e uma mulher - e nós vamos bater-nos evidentemente para a eleição direta de Manuel Pizarro que, na altura, considerou adequada essa escolha. E, como digo, tem sido muito, muito ativo no processo de campanha, tem sido um dos nossos grandes pilares. E nós contamos ter um grande resultado no distrito do Porto porque ali temos muito investimento comunitário apoiado por fundos europeus, temos muitas políticas concretas de melhoria da vida dos cidadãos, de todas talvez possa referir a última de todas tão importante para a descarbonização que é a introdução deste novo sistema de apoio à redução dos passes sociais que no fundo vai para todo o país.
Quais são as expetativas em relação a essa medida?
Temos um milhão de utilizadores de transportes públicos em Portugal. E a nossa expetativa é que muitas centenas de milhares, desde logo nas duas áreas metropolitanas, tenham um aumento significativo dos seus rendimentos. Para muitas pessoas e famílias são muitas dezenas de euros na diferença dos passes e que nós esperamos que induza um aumento significativo da utilização dos transportes públicos, para além do nível de melhoria do nível de vida das famílias. Esta é uma medida emblemática daquilo que disse há pouco de fazer na União Europeia aquilo que fizemos bem em Portugal. Esta é uma medida absolutamente estrutural. No nosso país passamos o tempo a perguntar pelas reformas estruturais.
Pois bem, neste mandato recuperámos a capacidade de investimento nos transportes públicos, nos fluviais, nos metros, nos autocarros movidos de forma mais eficiente em termos ambientais, no próprio transporte ferroviário, no qual lançámos o primeiro concurso para a aquisição de comboios em 20 anos. Portanto, um aumento significativo de capacidade que se procura induzir com esse voltar ao investimento público no material circulante no sistema de transportes públicos, que depois é complementado com esta medida concreta, vai levar a que muito mais gente deixe o carro individual em casa e passe a utilizar o transporte coletivo. É uma medida absolutamente estrutural que afetará positivamente a vida de centenas de milhares de portugueses.
Propaganda eleitoral é fazer coisas disparatadas que não vão ao encontro do interesse público
Ainda assim, uma certa Direita classificou a medida como uma “bomba eleitoral”. É?
Tudo o que se faz em ano de eleições é chamado de propaganda eleitoral pela oposição. Costumo dizer que já sei quando começa o ano eleitoral porque qualquer coisa que se faça é propaganda eleitoral. Lança um projeto é propaganda, faz uma obra é propaganda eleitoral, acaba uma obra e inaugura-a, é propaganda eleitoral.
Há dias Daniel Oliveira escreveu uma coisa que me parece muito ajustada sobre essa matéria. Propaganda eleitoral é fazer coisas disparatadas que não vão ao encontro do interesse público só porque estamos em ano eleitoral. Se fizermos qualquer coisa boa e estruturante para os portugueses, não estamos manifestamente nesse caso. Um exemplo de propaganda pura foi aquele simulador de devolução do IRS no final do governo anterior. Não consigo encontrar exemplo mais acabado do que essa medida do governo PSD/CDS de fazer uma simulação que manifestamente enganou as pessoas, não houve nenhuma devolução do IRS naquele ano. De facto, enganou as pessoas com fins eleitorais. Isso é que é propaganda eleitoral.
Apesar de ser um executivo e de ter estado envolvido em várias políticas, como já referiu, Paulo Rangel diz desconhecer o seu pensamento político europeu. Dentro do PS, Francisco Assis disse praticamente o mesmo. Quer aproveitar, tanto quanto possível, para os esclarecer?
É mais do que habitual que, em particular, os candidatos da Direita, aproveitem todos estes momentos para tentarem apoucar os seus adversários políticos. Não me parece particularmente inovador, a campanha do PSD tem sido toda assim, de calúnia, de maledicência, não julgo que isso traga pessoas para a política, muito menos eleitores para as eleições. O continuará o caminho que entender. O meu pensamento é o pensamento do meu partido: um partido humanista, reformista, europeísta, é aí que eu estou. Em particular nisso, dividimo-nos e separamo-nos tanto dessa Direita que não tem os mesmos valores que nós, nomeadamente em relação à coesão social, à solidariedade, que tem uma visão austera e individualista da sociedade. E, também, nesse sentido, distingo-me bastante dos que estão à esquerda do PS, nomeadamente os que falam dos aventureirismos da saída da zona euro, da saída do Euro e da Europa [BE e PCP].
Agora, já nem tanto …
Pois. Mais euro-calmos agora, mas de facto muito aventureiros no passado. Talvez agora tenham visto com o Brexit as consequências desse tipo de aventureirismos. Somos mesmo muito europeístas aqui no PS. Mesmo nas fases mais duras, mesmo nas fases do governo ‘mais troikista do que a própria troika’, o que andámos aqui a dizer aos portugueses era que acreditamos na Europa mas que era preciso uma Europa diferente para enfrentar a crise europeia. Nunca pusemos a Europa em causa porque acreditamos que é no espaço da Europa que nos afirmamos no mundo e que a Europa é um espaço de paz e de prosperidade para os portugueses e para os cidadãos do continente como um todo.
Outra das críticas que lhe tem sido feita é a de recusar debater com os seus adversários políticos. Para quando um frente a frente?
Outro exemplo de falsidade. Tem sido uns atrás dos outros. Tem sido a campanha toda assim. A 1 de março ficou marcado o primeiro debate que está marcado para dia 20 de maio. É o primeiro debate entre todos os candidatos dos partidos com assento no Parlamento Europeu. Nas semanas seguintes continuamos a ouvir essas falsidades. É o tipo de campanha que se faz na base das falsidades. Eu lamento esse tipo de campanha. Os portugueses farão a avaliação desse tipo de campanha que andam a fazer do lado da Direita e em particular o dr. Paulo Rangel.
Paulo Rangel só ainda não me acusou de ser o responsável pelo falhanço entre o Donald Trump e a Coreira do Norte
Na mesma linha, Rui Rio diz que vai ser fácil para o PSD porque o PS escolheu um candidato fraco, justificando isso com o desempenho enquanto ministro que o próprio considera ter sido próximo do zero … Como é que lhe responde? Esteve desatento o líder social-democrata?
Rui Rio facilitou claramente a tarefa ao PS quando escolheu outra vez o mesmo candidato, alguém que é um residente habitual, vai para 15 anos na Europa, e a quem não se conhece trabalho significativo, nem no Parlamento Europeu nem em Portugal, nem em benefício da Europa, nem em benefício do país. Rio também facilitou a tarefa ao PS porque hoje temos um fraco, que anda à procura de rumo, mas isso é um problema do PSD em que eu não me meto. O PSD chega a estas eleições Europeias num ambiente que é razoavelmente inédito. Não consegue dizer mal do Governo, não consegue criar aquele ambiente de cartão amarelo porque os portugueses estão satisfeitos com a situação do país. O país criou mais emprego, reduziu as desigualdades, reduziu a pobreza.
Claro, há sempre a ambição das pessoas de fazer mais, há sempre situações para melhorar, mas isso é a governação. A governação é sempre ir melhorando a vida das pessoas. De facto, há resultados para apresentar. E, portanto, o PSD tem de se entreter nesse tipo de tricas. Acho que o PSD esbarrou um bocadinho com o muro da realidade. Veio com o discurso típico de oposição de que o país está pior e de que todos os males do país, da Europa e do mundo são culpa do PS e do cabeça de lista do PS. Mas como o país não está de facto pior, está melhor, só lhes sobra essa campanha. Não conseguem fazer mais nada do que isso. Paulo Rangel só ainda não me acusou de ser o responsável pelo falhanço entre o Donald Trump e a Coreia do Norte. Tudo o resto é culpa do PS. Podem continuar por aí.
Vou trazer aqui à memória um exemplo concreto do meu trabalho. Falávamos há pouco de igualdade de género. Tive de lutar muito como vereador que um governo de Direita autorizasse um acordo para abrirmos uma casa de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. Outro exemplos concretos, quer na área social quer na área dos transportes. Por exemplo, recuperámos todos os passageiros da ferrovia que o governo anterior perdeu: 14 milhões. Convivo normalmente com a crítica. Quem faz coisas tem que estar disponível para ser criticado. Eu, de facto, dos meus adversários da Direita, tenho um problema: é que não tenho nada para criticar. É o meu problema nesta campanha, não há nada para criticar do trabalho concreto que tenham feito por Portugal e pela Europa. Tenho de conviver com isso. Mas também não é esse o meu tipo de campanha.
A Direita diz ainda que o Pedro Marques está “conformado” com a ideia de Portugal perder 7% de fundos comunitários quando países mais ricos conseguiram ganhar…
Vamos outra vez às calúnias desta campanha. Neste caso, é uma falsidade objetiva. Paulo Rangel, em entrevista à RTP, disse “negociámos com o Governo para que Portugal não perdesse fundos”. Depois vamos ao tal acordo, entre o Governo e o PSD, que é citado nessa entrevista, a única referência que lá está à negociação de fundo é: “os fundos de coesão não podem ser inferiores a preços correntes”. Se tivessem aplicado os critérios da chamada fórmula de Berlim, Portugal teria de facto um corte significativo de fundos, mesmo a preços correntes. Pressionámos a Comissão Europeia, apresentámos os nossos argumentos e conseguimos que a primeira proposta aumente em 1.700 milhões de euros, mesmo a preços correntes, a proposta para Portugal.
Relativamente a?
Relativamente ao quadro anterior. Portanto, mesmo assim, o dr. Paulo Rangel consegue dizer que foi um falhanço esse início de negociação. Estamos na primeira proposta da Comissão Europeia. Ainda não há um acordo fechado. Facto é que em relação ao quadro comunitário anterior por parte do governo da Direita e do então presidente da comissão, Durão Barroso, e em relação ao que está escrito no acordo com o PSD, conseguimos uma proposta sempre melhor e que cumpre integralmente o dito acordo. Mesmo assim o dr. Paulo Rangel consegue construir essa falsidade. Nunca direi que estamos satisfeitos com a ideia de existirem cortes reais na política de coesão a nível europeu ou para o nosso país. Estamos muito longe da negociação final.
Batalhará para melhorar essa proposta?
Com certeza. Como foi na primeira fase da negociação. Volto a dizer. Se tivesse sido aplicada a fórmula de Berlim, sim, tínhamos um problema em que podíamos ter cortes nominais importantes nos fundos para Portugal. Conseguimos que logo na primeira proposta que foi para cima da mesa isso não acontecesse.
Depois há a questão dos impostos europeus. Nuno Melo diz que o candidato do PS quer menos fundos e mais impostos…
Esse tema dos impostos europeus é interessante. Há um consenso entre os partidos portugueses de que Portugal deve fazer tudo para que as políticas que chamamos tradicionais não tenha cortes – a política agrícola comum, as políticas relacionadas com a ciência, as políticas de migrações e etc. Ora, se eu tenho necessidade de novas políticas e de orçamento para as mesmas, e ainda tenho o Brexit que retira recursos ao orçamento comunitário, das duas uma: ou não faço novas políticas, porque tenho menos dinheiro por causa do Brexit, ou corto nas tais políticas tradicionais.
Como é que se consegue quadrar o círculo? Naturalmente introduzindo mais receitas no orçamento comunitário. O que nós defendemos é que o orçamento comunitário deve ter mais receitas próprias, nomeadamente associadas a essas contribuições sobre setores como o setor digital e as transações financeiras, sobre essas empresas multinacionais que, se não for com uma cobrança coordenada a nível europeu, essa tributação não acontecerá de todo porque essas empresas deslocam-se de uns países para os outros.
Afirmamos que deve haver essa cobrança para o orçamento, e que, sendo receita da UE, permitam quadrar o círculo: manter ou até melhorar o orçamento das políticas tradicionais e criar novas política e compensar a questão do Brexit. Se não for desta forma, o dinheiro tem que vir de algum lado. Por exemplo, para manter a política agrícola, o dinheiro tinha que vir de cada país. Por isso é que tenho dito que quem tem estado contra a criação de receitas próprias da UE e dessas contribuições, como é o caso do CDS, só pode estar a defender aumentos de impostos sobre os cidadãos e as empresas. É a única forma como avalio a coerência – se é que há alguma coerência no pensamento de Nuno Melo para a Europa – é estar a propor, em vez destes impostos, impostos aos cidadãos e às empresas. Achamos que é preferível que haja estas contribuições das empresas de setores que até fazem concorrência desleal às pequenas e médias empresas portuguesas, em particular no setor do digital.
Falava anteriormente de nacionalismos e populismos. António Costa alertou este fim de semana para o risco de propostas na Europa que podem assumir ideais de extrema-direita. Preocupa-o a crescente onda de movimentos nacionalistas que vemos a nascer? Como se combate isso?
Preocupa muito. Primeiro combate-se com uma UE diferente, como eu disse. Aquela ideia do novo contrato Social para a Europa pretende que regressemos a uma governação orientada para as classes médias, para que as pessoas percebam que a Europa está a fazer coisas concretas que melhoram a sua vida, que a fazem evoluir para melhor. Penso que essa será a principal razão pela qual a extrema-direita em Portugal não encontrou ainda palco, crescimento significativo. Acho que nos sítios onde de facto, por esta ou aquela razão, se fez um caminho em que as políticas foram menos sensíveis às vidas das classes médias, a extrema-direita encontrou aí caminho para crescer. É também verdade que nos países com percentagens de migrações e de acolhimento de refugiados mais significativos houve um crescimento maior da extrema-direita.
Julgo que o crescimento da extrema-direita é maior em situações em que as pessoas sentem insegurança económica ou física. A segurança económica aparece sempre que as pessoas sentem que os seus empregos estão em risco porque não têm os apoios sociais de que necessitam, etc. A segurança física poderá vir de uma situação em que haja um crescimento maior das migrações, se não houver uma política adequada de integração. O esforço da Europa tem de ser para uma política integrada, de solidariedade no apoio aos migrantes, controlo das nossas fronteiras e de combate sem tréguas ao tráfico de seres humanos e de apoio aos países emissários desses grandes fluxos de migrações e refugiados, ajudando à sua estabilização e ao seu desenvolvimento económico e social. A extrema-direita tem sobretudo crescido nestas duas circunstâncias.
Julgo que nós na Europa daremos um contributo melhor para que a extrema-direita não tenha este tipo de crescimento se tivermos políticas para as duas questões que identifiquei. Do lado da segurança económica, governando para as pessoas, criando políticas de emprego, de investimento, de apoio social que faça com que os cidadãos europeus se sintam bem e sintam que a sua vida está a melhorar.
Outra coisa que nós condenamos é esta quase que normalização da extrema-direita ou das políticas de extrema-direita como aconteceu em alguns países e em particular com alguns membros do partido do PPE. A extrema-direita chegou mesmo ao poder em alguns países, o caso de Itália é evidente, onde estão no Governo e até lideram intenções de voto em sondagens. E temos situações em que não estando no governo, [a extrema-direita] está a apoiar ativamente partidos de Direita, faz parte de coligações de Direita, como é o caso aqui em Espanha, na Andaluzia. E depois temos alguns partidos que introduziram no seu discurso e na sua própria política verdadeiras praticas de extrema-direita, como o PPE. Os ataques ao Estado de Direito aconteceram com Viktor Orbán, que defende políticas que não são europeístas, que não têm fundamento nos partidos europeus e que ajudam a cavalgar o passo da extrema-direita, mas isso não deve passar, em particular no nosso país.
Como avalia a decisão do PPE de suspender o partido de Orbán praticamente a dois meses das eleições?
Foi um bocadinho, para não dizer bastante, oportunista o timing da decisão. Andamos nisto há anos, com relatórios do Parlamento Europeu a condenar a situação na Hungria, e em cima das eleições faz-se este processo de suspensão que não é bem só voluntária, é quase proposta pelo partido e que depois culmina com Viktor Orbán a dizer “estou tão suspenso que depois vou decidir se quero ser do PPE ou de outro partido”. É uma coisa até um pouco aviltante do ponto de vista do exemplo que se pretenderia dar com aquela decisão. É oportunista do ponto de vista eleitoral e até o PPE não se dá ao respeito com aquela atitude de Orbán.
A UE tem fechado os olhos a essas situações de violação de direitos humanos?
Essas situações de violação de princípios básicos do Estado de direito democrático, de antieuropeísmo plenário, não têm cabimento no quadro das famílias das políticas europeístas e não devem ter cabimento e já deixámos claro isso no nosso caso. Este caso da Hungria é grave porque é mesmo um ataque sistemático às instituições europeias e aos valores da Europa que estavam em causa e que se espera que venha a ser corrigidas em breve. Já foram abertos processos no âmbito do artigo 7.º dos Tratados e devem de ser consequentes as decisões da UE mas devem sê-lo com a generalidade dos Estados onde haja qualquer tipo de risco em relação ao Estado de Direito democrático.
A propósito de extrema-direita, o que acha sobre a coligação anunciada para as Europeias e que tem André Ventura como cabeça de lista?
Acho que qualquer contributo para normalizar a extrema-direita é negativo. Espero que o meu país, que a nossa democracia, não dê palco a qualquer discurso xenófobo ou populista e anti-democrático, e não digo mais nada sobre essa matéria. Não quero valorizar essa questão.
Diz que quer uma Europa mais coesa. O que significa isso na prática?
Com políticas concretas. Primeiro, a política de investimento europeia tem de ser muito mais próxima das necessidades concretas das empresas e, mais em concreto, das empresas de todos os países europeus. Este plano de investimento para a Europa que defendemos no nosso programa, defendêmo-lo com o princípio de que o orçamento da zona euro, quando for criado, tem de fazer parte desse esforço de convergência de aumento do investimento, mas de convergência de investimento efetiva entre todos os países.
O que nós constatámos ao longo destes últimos anos é que muitos instrumentos de apoio ao investimento na Europa foram formatados de um tal modo que era muito mais provável a sua utilização por empresas do centro da Europa. Nós queremos um plano de investimento muito mais promotor da convergência com regras claras. Na área da habitação também é muito importante que haja esta coesão, nomeadamente no que diz respeito à questão da acessibilidade à habitação por parte das classes médias e dos jovens. Quando falamos de igualdade do género, igualdade salarial, estamos a falar também de coesão. Quando falamos de direitos laborais e de repor a normalidade nos contratos de trabalho, estamos a falar de coesão. Quando falamos num orçamento robusto para a política de coesão a nível europeu estamos a falar de coesão. Quando falamos de uma implementação concreta do pilar europeu dos direitos sociais e não apenas em princípios estamos a falar de coesão no contexto europeu. Temos caminho para fazer.
O Reino Unido não será um exemplo dessa falta de coesão. Como analisa a atual situação do Reino Unido e este impasse em relação à saída do país da UE?
É muito difícil dizer-lhe isso. Neste momento foi dado um prazo adicional ao Reino Unido que permitirá que o Reino Unido vote ou não no acordo de saída que estava estabelecido e caso não vote no acordo de saída, há a necessidade de o Reino Unido clarificar o que quer fazer. Nós estamos perante uma situação muito grave, muito séria. Isto é exemplo de como é muito importante votar nas eleições. Os jovens do Reino Unido defendiam esmagadoramente a permanência na União Europeia mas depois não foram votar. Acordaram no outro dia com o seu país metido nesta situação desgraçada da qual manifestamente não está a conseguir sair.
Espero que o Reino Unido encontre um caminho que respeite aquilo que é a vontade dos cidadãos e que respeite as regras europeias e que uma solução seja possível. Acho que ninguém quer uma saída descontrolada mas o Reino Unido tem que definir o que quer fazer. É mesmo muito importante que atentemos ao que se passou no Reino Unido como um apelo claro a que as pessoas vão votar para que depois não acordem no dia a seguir às eleições Europeias surpreendidas com o crescimento da Direita Europeia, a dos cortes e das sanções.
É importante que quem não quer regressar às políticas dos cortes e das sanções olhe para a candidatura de Manfred Weber, olhe para a forma como Nuno Melo e Paulo Rangel aplaudiam o governo de Passos de Coelho e os cortes sucessivos deste,e que perceba que a escolha da Direita em Portugal ou na Europa é uma escolha de regresso aos cortes e sanções. As pessoas que escolham ir votando.
Qual vai ser o impacto da saída do Reino Unido para a UE?
Certamente danoso do ponto de vista económico e também do ponto de vista da construção europeia. A construção da UE foi uma construção que teve nos seus valores fundadores a aproximação das grandes nações europeias. Primeiro por via da cooperação económica, da aproximação das economias com uma ideia de paz e estabilidade na Europa. Esta situação é danosa no longo prazo no sentido da geopolítica e da estratégia. A Europa enfraquece quando se divide. Do ponto de vista do curto prazo, provocará instabilidade económica e social que era indesejável e evitável com outras soluções.
E Theresa May tem os dias contados?
Não me vou meter na política interna do Reino Unido, não seria ajustado da minha parte. Nós temos que ver que escolhas fazem os britânicos nas próximas semanas. Espero que eles consigam encontrar uma solução adequada para este problema tão grande em que ficaram colocados e em que os cidadãos me parece que votaram muito mal informados porque a saída da UE foi votada com a ideia de tomar de volta os 'nossos destinos' mas sem que tivesse sido minimamente apresentado aos cidadãos as consequências concretas daquela escolha ou sequer os caminhos concretos para a concretização da mesma. Espero que a democracia prevaleça e que sejam feitas escolhas que estabilizem a situação do Reino Unido e que não provoquem danos no contexto europeu.
As gerações jovens foram muito penalizadas pela escolhas que se fizeram após a adesão ao euro
Falava na questão dos jovens de não terem ido votar. O discurso usado pelo PS nesta campanha às Europeias é muito direcionada para o público mais jovem. Tem a ver com essa questão?
Tem a ver com a necessidade de conseguirmos coletivamente fazer um esforço brutal para que os jovens regressem à democracia e às escolhas democráticas e que votem muito mais do que têm feito em eleições recentes. As gerações jovens foram muito penalizadas pela escolhas que se fizeram após a adesão ao euro. As escolhas de desregulação económica laboral foram particularmente danosas para as gerações jovens que eram normalmente os outsiders do ponto de vista da desregulação laboral.
E nesse sentido acho que os jovens sentiram a sua vida penalizada. Refiro-me não aos jovens de 17, 18, 20 anos, mas alguns já com mais de 30 anos que sistematicamente veem a sua vida sem a perspetiva de ter uma vida melhor do que a geração dos seus pais e não é suposto ser assim. Quando nós governamos, quando nós escolhemos, quando fazemos avançar os nossos países, é para que os nossos filhos tenham uma vida melhor, e nós precisamos de facto de dar mais estabilidade à vida dos jovens. Eles são profundamente europeístas mas têm que ver a Europa a trazer resultados concretos para a sua vida. Para os mais jovens, por exemplo, temos que ser mais ambiciosos com o programa de Erasmus para que chegue a muito mais jovens. Estamos a fazer um esforço muito grande para passar esta mensagem de que os jovens fazem diferença na política europeia e na Europa. Não vamos conseguir, por exemplo, combater as alterações climáticas se não for de um modo integrado a nível europeu E os jovens, que no fundo serão os grandes recetores e impactados por essas escolhas que se fazem no planeta, estarão mais atentos a essas questões.
Estão, por exemplo, mais atentos a esta medida dos passes sociais que queremos para reduzir brutalmente as emissões de CO2 que vêm do sector dos transportes . Este setor é responsável por mais de ¼ das emissões de CO2. Esta medida que estamos a adotar, integrada no esforço que se está a fazer na área do transporte público, tem um impacto brutal na redução de emissões. Quando tomamos medidas concretas como estas acho que nos conseguimos aproximar um pouco os jovens da política, espero eu, e das escolhas de política pública. E isso melhora a nossa democracia.
E onde é que se encaixa a população mais idosa nessa Europa que ambiciona?
A população mais idosa tem tido direitos e tem tido mais bem-estar ao longo das ultimas décadas. A Europa está a envelhecer e não conseguiu ainda começar a promover a renovação das gerações, mas há ainda mais para fazer do ponto de vista do apoio às pessoas mais idosas e com mais dependências, nomeadamente no lado da rede de equipamentos, no lado dos cuidados informais por parte das famílias, no apoio às famílias, do lado do sistema de saúde. Temos de continuar a fazer um caminho do reforço do apoio social às pessoas idosas, da prevenção da dependência e também na área do envelhecimento ativo. Temos uma sociedade que, envelhecendo como tem envelhecido, tem de ser capaz de prevenir essas dependências das pessoas.
Temos de tratar das condições de rendimento dos nossos idosos. Recordei há pouco o complemento solidário para idosos que foi a mais importante política de redução da pobreza dos idosos em Portugal. Complementámos essa política com o aumento das pensões nesta legislatura, onde houve um aumento muito significativo das pensões novamente. Temos de continuar a trabalhar para aumentar os níveis de conforto da população idosa, prevenir a dependência e promover o envelhecimento ativo.
Reconhece que o euro é um projeto incompleto, que não contribuiu para fazer convergir em profundidade as economias dos seus membros. Qual é a solução para diminuir essas divergências/assimetrias?
O euro é, manifestamente, um projeto inacabado. A construção do euro foi voluntarista no sentido em que não foram introduzidos ao mesmo tempo todos os instrumentos que deveriam estar disponíveis no contexto de uma união monetária. Nós devíamos ter um orçamento comunitário da zona euro na altura em que criámos o euro, para promover essa convergência e ter instrumentos de estabilização no momento dos choques que pudessem existir dentro da moeda única porque deixou de haver taxa de câmbio para fazer esses equilíbrios.
Faltaram-nos também instrumentos na última crise financeira naquilo que foi a questão das dívidas soberanas e a própria resposta à crise do setor financeiro porque também não tínhamos instrumentos manifestamente disponíveis. Já demos um conjunto de passos importantes, nomeadamente nos instrumentos de estabilização das dívida soberanas, ou seja, estamos mais artilhados para uma futura instabilidade que exista quer do lado do sistema financeiro como das dividas soberanas, e demos agora um passo muito importante com o tal mandato ao Eurogrupo para a constituição do orçamento para a zona euro. A Europa tem sido construída de pequenos passos, não têm sido pedradas no charco, a não ser em momentos pontuais da sua história. Neste contexto da zona euro e do orçamento da zona euro, julgo que a constituição do princípio, o arranque do orçamento, sobretudo numa fase inicial, será promotor da convergência entre os países. Eu defendo e acredito que a longo prazo possamos também criar instrumentos de estabilização da própria zona euro.
O Euro é um projeto inacabado e foi de facto promotor de desregulação de economia laboral mas em particular a moeda única, nos termos em que foi construída, foi um instrumento que promoveu divergências no contexto da Europa em desfavor dos países do Sul. Nós que somos europeístas, que acreditamos no aprofundamento da Europa, temos que ter isso em atenção e temos que continuar a dar passos, como já se deu depois da crise financeira, para preparar melhor a Europa para o futuro e, sobretudo, prevenir a existência de crises assimétricas como aquela que nos aconteceu em 2008.
O abrandamento económico está aí e soam os alarmes de uma nova crise. Estará a Europa melhor preparada para isso? Foram tiradas as devidas lições da crise anterior?
Estamos melhor preparados como eu referi. Não temos os instrumentos todos ainda, como por exemplo os instrumentos necessários do ponto de vista da segurança, do sistema financeiro como um todo, do sistema comum de depósito. Ainda há instrumentos em construção. Demos passos importantes de qualquer modo e teremos de ser céleres nesses passos, nomeadamente na constituição do Orçamento da zona euro. Ele tem de ser mesmo promotor da convergência.
Em qualquer caso, há já outros instrumentos na arquitetura da governança económica europeia que podem e devem ser convocados para fases de abrandamento económico quando existirem e forem prolongadas. Os países que agora têm uma exposição externa mais forte podem e devem tomar medidas para aquecer um pouco mais a economia numa fase de abrandamento económica, que é precisamente o que está a acontecer em alguns desses países do centro da Europa.
Nova crise? Estamos mais bem preparados mas não podemos estar descansados
No nosso caso, nunca seremos insensíveis enquanto país, nunca poderemos fugir das consequências de um abrandamento económico no centro da Europa até porque são nossos grandes parceiros comerciais. Mas tivemos um desempenho no início deste ano muito favorável quando comparado com a média europeia, o que nos dá todas as condições para manter um processo de convergência com a zona euro e a Europa. Só nos últimos dois anos, desde que criámos o euro, é que Portugal conseguiu convergir com a média europeia. Tudo indica que voltará a convergir em 2019, será o terceiro ano consecutivo, e temos a ambição de que isso aconteça durante uma década pelo menos. Mas, de facto, é impressionante que só durante dois anos, após tantos anos, é que o país tenha tido condições, neste governo, para convergir com a média europeia.
Temos hoje uma situação económica melhor, temos uma situação de contas públicas muito melhor que nos dá mais tranquilidade à entrada do ano em que estamos, mas temos que estar atentos e pedir à Europa que utilize todos os instrumentos que estão disponíveis para que este abrandamento pontual não se torne duradouro. Sabemos todos que o crescimento económico não se mantém no topo durante anos e anos a fio. Há fases de abrandamento e até recessões.Temos de chegar lá melhor preparados para isso. Não estamos ainda nessa situação, o arranque do ano ainda apresenta indicadores muito favoráveis.
Podemos estar descansados para os próximos anos?
Descansados não. Estamos mais bem preparados. Estar descansado significaria, talvez, ser menos exigentes connosco próprios e com a Europa. E não. Estamos melhor preparados mas temos que continuar a batalhar todos os dias para as fases boas e menos boas.
Falando de sinais positivos, o que seria um bom resultado para o PS nestas eleições?
Ganhar. Ganhar de forma clara. Temos todas as condições para ganhar e ganhar bem porque eu julgo que os portugueses reconhecem que a situação do país é melhor e, no final das contas, em qualquer eleição de âmbito nacional as pessoas acabarão sempre por avaliar se quem está a governar está a governar bem, se melhorou a sua situação e se tem propostas para a Europa que também permitam melhorar sua situação no futuro. Os resultados estão aí. Com estes resultados e com políticas e propostas concretas, acredito que temos boas condições para ter bons resultados.
Virando-nos agora para a política nacional, o Governo tem estado debaixo de fogo por causa das relações familiares de alguns dos seus membros. Paulo Rangel disse mesmo que o Presidente da República devia alertar Costa para aquilo que diz serem “promiscuidades familiares” no Governo, o que, do seu ponto de vista, constitui um “gravíssimo atentado ao princípio republicano”. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
Tem havido acusações cruzadas nos últimos dias entre os vários partidos sobre essa matéria. Eu associaria esse tipo de acusações à falta de agenda da oposição, em particular do PSD, embora não seja só deles mas o PSD agarrou esse tema e tenta acalentá-lo porque não tem nada a dizer sobre os resultados económicos e sociais do país. Quando vamos ter eleições e não há nada para dizer sobre os resultados do país, a oposição entretém-se com este tipo de temas, com cortinas de fumo para tentar pôr em causa os resultados do Governo, a governação e o carácter republicano da governação. É uma estratégia de campanha.
Mas fica a ideia de que pode ser uma situação estranha …
Estas acusações cruzadas entre os partidos fazem mal à democracia. Isto agora é um, depois outro, depois diz-se que há outro que também tem familiares.
Não vê, portanto, mal nenhum nisso?
Julgo que isso está muito longe de ser tema central da política. Conheço muitas das pessoas que foram objeto de acusações nessa matéria e que são competentes no trabalho que fazem. Se repararem, foram muitas mulheres que acabaram por ser acusadas de estar nos lugares por causa das relações familiares e isso dá uma certa misoginia a esse tipo de ataques. Isso entristece-me. Mas não é tema que queira valorizar porque isso faz mal à democracia. É tática eleitoral.
Geringonça quebrou aquele estigma de que o arco parlamentar tinha os partidos de governação e os da oposição
Acredita numa reedição da Geringonça?
Dizer que a Geringonça, esta solução governativa, entregou resultados para o país, isso é inegável. Julgo que temos que esperar pelas eleições legislativas para ver que condições políticas é que se estruturam. Esta legislatura, em qualquer caso, faz com que a política portuguesa nunca mais seja a mesma porque quebrou-se aquele estigma de que o arco parlamentar tinha os partidos de governação e os da oposição. Isso acabou e todos assumem as suas responsabilidades e todos têm a oportunidade para contribuir para as soluções concretas do país. Acho que fez bem à democracia, mas é preciso ver que resultados saem das eleições legislativas.
O PS terá, de certeza, outra vez, um programa forte, orientado para melhorar a vida da pessoas e veremos qual é o nível de confiança que os portugueses nos dão.
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