EMEL: "Não há sítio onde estejamos que alguém nos peça para de lá sair"
A EMEL inaugura, esta quarta-feira, mais um parque de estacionamento em Lisboa. O Notícias ao Minuto falou com o presidente da empresa que gere e fiscaliza o estacionamento sobre os atuais desafios e as funções da EMEL no ordenamento dos lugares na capital.
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Economia Emel
A cidade de Lisboa ganha quase quatro centenas de novos lugares de estacionamento, esta quarta-feira, com a inauguração de mais um parque da EMEL, desta vez na zona do Areeiro. São 39, no total, o número de parques detidos pela empresa que gere e fiscaliza o estacionamento na capital. Contas feitas, são mais de 75 mil lugares geridos pela EMEL, que tem como objetivo proteger os dos residentes.
A este propósito, o Notícias ao Minuto falou com o presidente da EMEL, Luís Natal Marques, para perceber qual é a estratégia da empresa para Lisboa, numa altura em que a EMEL está focada na expansão nos Olivais e em Benfica.
Todos os dias entram em Lisboa 370 mil carros, número ao qual acrescem as 200 mil viaturas dos residentes. São mais automóveis do que aqueles que a cidade tem capacidade de acomodar, por isso, Luís Marques aponta "políticas concertadas" como alternativas. Sobre as multas, o presidente da EMEL faz notar que correspondem a uma percentagem muito reduzida das receitas da empresa.
A inauguração desta quarta-feira 'traz' cerca de 400 novos lugares para a capital. O que é que isto significa para uma cidade como Lisboa?
Temos a inauguração de um parque dissuasor da Manuela Gouveia, são 398 lugares para ser preciso. É um parque já dentro do perímetro da cidade de Lisboa, mas dada a dimensão e a sua proximidade de transportes públicos, do metro e dos autocarros, julgamos que pode assumir o papel de um parque dissuasor. Dentro daquela que é a nossa política de parques dissuasores: a pessoa por mais 10 euros que acrescenta ao passe, consegue deixar o carro estacionado durante o mês sem mais custos. Estes 10 euros mensais de estacionamento, num parque destes, comparam com sete euros diários para quem efetivamente trouxer o carro para o centro da cidade e estacione, por exemplo, numa zona verde, amarela ou vermelha.
Se me disser 'não são assim tantos lugares', bom, o caminho faz-se caminhando e é preciso começar por algum lado. Já temos também o parque da Ameixoeira perto de transportes públicos, da estação de metro, com cerca de 500 lugares. Aqui temos mais 400. Temos também um parque que vai ser construído junto da estação de metro da Pontinha, onde já são 2.000 lugares. Se não queremos que as pessoas tragam o carro para o centro da cidade, temos de dar alternativas. As alternativas passam, por um lado, pelo investimento em transportes públicos, que sabemos que está aí na ordem do dia, e também pelo convite às pessoas a que deixem o carro na periferia e não o tragam para o centro da cidade.
A cidade não foi construída para suportar um número tão elevado de carrosAcredita que a comunhão entre esses dois fatores pode ser, realmente, a solução para o excesso de carros que entram todos os dias em Lisboa?
Os carros que entram em Lisboa são 370 mil numa contagem, mas [este número] tem vindo a crescer, com o aumento do nível de vida, há muita gente que opta por trazer o transporte próprio. São 370 mil que entram aos quais temos de adicionar os 200 mil que existem e que pertencem a residentes. A cidade não foi construída para suportar um número tão elevado de carros.
Acredito numa política concertada [com os] transportes públicos. Sabemos bem que neste último mês houve um enorme salto de utilizadores, devido a esta diminuição do preçário do tipo de transporte, o que na nossa perspetiva é um grande incentivo para que as pessoas prefiram não trazer o veículo próprio e utilizem o transporte público. Isso, associado a mais facilidades de estacionamento na periferia, que nós estamos a construir, a aposta nas modalidades mais suaves, como as bicicletas que estão a cumprir a sua função… Há aqui uma série de políticas que têm de ser concertadas para que as pessoas encontrem uma alternativa ao veículo próprio.
Temos zonas da cidade que ainda não estão abrangidas por tarifas de estacionamento, o que leva a que muitas encontrem nas zonas ainda não tarifadas a alternativa para estacionarem o seu automóvel. Mas, como se está a estender a presença da EMEL por toda a cidade, acreditamos que essa presença também será desmoralizadora a que as pessoas tragam o veículo para o centro da cidade.
Luís Filipe Natal Marques nasceu em 1956 e é presidente do Conselho de Administração da EMEL © EMEL
Portanto, a tendência é que o estacionamento no centro da cidade seja para os moradores e não para os 370 mil que chegam todos os dias, como dizia há pouco, é isso?
A política da EMEL tem sido sempre essa. A questão do dístico de residente e de alguma forma facilitar o estacionamento dos residentes [são exemplos disso], porque foi nessa lógica que a EMEL dividiu a cidade nas diversas zonas. As diversas zonas são feitas na lógica de proteção do estacionamento dos residentes.
Por isso é que as juntas de freguesia pedem a intervenção da EMEL?
Exatamente. Sei que há depois pessoas que acham que as zonas deveriam ser maiores, para permitir mais circulação, mas o que é certo é que a política de zoneamento da cidade é feita no sentido do estacionamento e não no sentido de facilitar a circulação, porque essa é a lógica do sistema que existe aqui em Portugal e pelo mundo fora.
Dizia que a EMEL tem vindo a expandir a sua presença por toda a cidade. Qual será a próxima freguesia a ter estacionamento pago?
Neste momento estamos a fazer a expansão para a freguesia dos Olivais. Tem havido alguma contestação, tem sido pública, mas o que é certo é que existem zonas dos Olivais onde nós estamos, por exemplo na Encarnação, e onde as pessoas dizem que finalmente conseguem chegar a casa e ter um lugar para estacionar. Aquela é uma zona muito perto do aeroporto, onde trabalham milhares de pessoas e deixavam ali o carro, numa zona que não era tarifada, para depois se dirigirem ao seu posto de trabalho. A nossa chegada desmoralizou, de certa forma, essa utilização do espaço público.
Do ponto de vista prático, não há sítio onde estejamos em que alguém nos peça para de lá sair, o que significa que a nossa presença regula e normaliza a questão do estacionamento Em Benfica a mesma coisa, em frente ao Fonte Nova havia um problema gravíssimo, as pessoas deixavam por ali o veículo para depois tomarem outros transportes públicos. A nossa chegada, pelas notícias que me chegam da própria junta de freguesia, veio regularizar a situação e fazer com que o estacionamento não seja tão selvático como era. Chegámos a Telheiras, onde havia um problema gravíssimo. Diz-nos a população que, finalmente, quando as pessoas chegam a casa têm lugar para estacionar, encontram o estacionamento mais ordenado.
Nos lugares onde chegamos e naqueles onde nos afirmamos, se existe alguma contestação é normalmente no início, porque penso que as pessoas estão a ver mal a situação. Do ponto de vista prático, não há sítio onde estejamos em que alguém nos peça para de lá sair, o que significa que a nossa presença regula e normaliza a questão do estacionamento.
Portanto, Olivais, Benfica e depois estas coisas têm de ser concertadas com as juntas de freguesia. Normalmente, as juntas de freguesia são nossas parceiras e para lá chegarmos conversamos, decidimos em conjunto por que zonas é que se deve começar - há umas mais problemáticas do que outras. Na certeza, porém, de que quando chegamos a uma zona, tarifamos, regularizamos [e] normalmente as zonas que não têm a nossa intervenção começam a ser pressionadas por isso, porque as pessoas começam a fugir para essas zonas por não serem tarifadas.
Não há um único cêntimo que as pessoas entreguem à cidade e que a empresa depois não devolva de outra maneira. As multas são uma percentagem diminuta das receitas da EMELPortanto, todo o estacionamento pago em Lisboa até 2020 é uma opção pela qual a EMEL ainda está a lutar?
Vamos lá ver, é bom que se diga: as pessoas dizem que a EMEL quer tarifar tudo, ganha milhões com isso, nós sabemos que as pessoas dizem isso. Mas o que é certo é que não há um único cêntimo que as pessoas entreguem à cidade e que a empresa depois não devolva de outra maneira. Precisamos dos meios para depois investir nas infraestruturas. Acabamos agora, por exemplo, de remodelar por completo o elevador de Entrecampos, que passa por cima da linha junto à Avenida de Roma. São investimentos que exigem da nossa parte meios e nós vamos buscá-los ao estacionamento. E, felizmente, a maior parte dos cidadãos paga o estacionamento de uma forma regular e cumpre, porque às vezes há caça à multa, mas as multas são uma percentagem diminuta das receitas da EMEL, não é por aí. Quem nos dera a nós que não houvesse a necessidade de multar as pessoas, significava que éramos todos cidadãos exemplares e que não havia a necessidade de penalizar as pessoas.
Quando há estacionamentos em segunda fila, estacionamentos em cima do passeio, nas passadeiras, que dificultam a mobilidade, é preciso tomar uma atitude e penso que ninguém concordará que nós devemos facilitar o estacionamento em cima dos passeios, em segunda fila, não há que facilitar.
Aproveito que fala nessa questão: Recentemente, foi noticiado que havia carros estacionados em locais autorizados pela EMEL, em Campolide, em cima do passeio, mas tratava-se de uma situação provisória...
Os 'layouts' do estacionamento na cidade - isto é, a maneira como é dividido -, são feitos na EMEL, mas isso é tudo concertado com a junta de freguesia e depois validado pela Câmara [Municipal de Lisboa]. É lógico que se queremos privilegiar os residentes, de um dia para o outro não podemos tirar centenas de lugares de uma rua. Temos de arranjar primeiro uma alternativa. Por isso, essa foi uma situação provisória, a pedido da população, a pedido da junta de freguesia, no sentido de, enquanto não houver alternativa, criarmos lugares para haver estacionamento naquela zona. A proibição pura e simples de estacionar perturbava não só os residentes, como o comércio local. São situações provisórias.
O que é estranho é que a maior parte das críticas nem foi pelo facto de se estacionar em cima do passeio, foi pelo facto de ele ser pago. Aceito muito mais uma crítica em que dizem que em cima do passeio não se pode estacionar, do que pela questão do pagamento.
Na cidade ideal a EMEL não seria precisa para nada, porque os cidadãos seriam todos cumpridoresHá pouco falava do valor das multas, que corresponde a uma percentagem muito reduzida das receitas da EMEL. Pode precisar qual é esse valor?
São 6% das nossas receitas. O principal valor das receitas da EMEL tem a ver com o estacionamento e a maioria dos cidadãos paga religiosamente. As outras situações, que acabam em multas, dizem respeito a situações fora daquilo que o Código da Estrada permite, segundas filas e incumprimento do pagamento.
Quem me dera a mim, quem dera à empresa, que estivéssemos na cidade ideal. Na cidade ideal a EMEL não seria precisa para nada, porque os cidadãos seriam todos cumpridores e não havia falta de quem regularizasse o estacionamento.
A EMEL emprega cerca de 600 pessoas e prevê que esse número cresça em 120 funcionários este ano© EMEL
E, como referiu, esses pagamentos são essenciais para os investimentos da EMEL. No ano passado disse, numa entrevista, que queria tornar a EMEL na empresa mais amada de Lisboa. Estes investimentos, estas iniciativas, vão nesse sentido?
Todos estes investimentos vão no sentido de facilitar a vida às pessoas. É nessa facilidade que estamos a apostar. Sabemos que há situações que geram algumas incompreensões, o que gostaríamos muito é que as pessoas vissem na EMEL uma empresa de referência, uma empresa que lhes facilita a vida, mas para isso seria preciso também que as pessoas cumprissem com os seus deveres de cidadãos.
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