"Temos boas condições de fazer um resultado histórico em Portugal"
Pedro Pardal Henriques, o advogado do sindicato dos motoristas de matérias perigosas e cabeça-de-lista por Lisboa do PDR, é um dos entrevistados de hoje do Vozes ao Minuto.
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Economia Pedro Pardal Henriques
Pedro Pardal Henriques foi um dos nomes mais sonantes durante a greve dos motoristas de matérias perigosas, que por dois momentos ao longo deste ano ameaçou a estabilidade do país e dos portugueses. Agora, o advogado é cabeça-de-lista por Lisboa do Partido Democrático Republicano (PDR) e está confiante num "resultado histórico" do partido.
A menos de um mês das eleições legislativas, o Notícias ao Minuto falou com Pedro Pardal Henriques sobre as prioridades da sigla pela qual se candidata. Mas não só. Falámos também do que o levou a aceitar o convite de Marinho e Pinto, líder do PDR, numa conversa que teve lugar na sede do partido em Lisboa.
Como não poderia deixar de ser, falámos sobre o balanço desta luta dos motoristas de matérias perigosas, um cenário que o advogado considera ter sido positivo.
Pedro Pardal Henriques rejeita ter usado o sindicato e a exposição mediática para cumprir uma agenda própria; diz antes ser um "homem de causas". Continua a aguardar com serenidade a notificação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa sobre o inquérito judicial de que está, alegadamente, a ser alvo e sobre a dissolução do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) deixa uma garantia: não vai terminar.
O Pedro Pardal Henriques é cabeça de lista pelo PDR em Lisboa. Como é que nasceu esta oportunidade?
Nunca foi meu interesse ser político, não sou político, e isto é uma das nossas vantagens em relação aos outros partidos: o PDR não tem políticos profissionais, contestámos veementemente a política profissional. Quase todos os partidos que têm assento parlamentar são compostos por políticos profissionais, alguns que nunca trabalharam na vida, alguns que estão nos ‘jotinhas’ desde os 14 anos e assim que tiveram idade foram para a política e não saíram de lá.
É muito difícil uma pessoa que não tem experiência de aqui de fora decidir e legislar sobre a vida das pessoas, sobre os pensionistas, sobre os trabalhadores, sobre os empresários quando nunca o foram. Estão num mundo à parte e nunca foram trabalhadores, nunca viveram aqui fora, estão protegidos numa redoma. O nosso partido não é composto por políticos profissionais, somos pessoas que têm vivências, experiências e temos toda a legitimidade para analisar e ajudar a resolver os problemas das pessoas.
Aceitei este convite depois de muita relutância, porque nunca foi isto que eu quis, mas tendo em conta a luta que travámos pelos trabalhadores… O Dr. Marinho e Pinto já me tinha feito o convite há muito tempo.
Ainda antes de a imagem do Pedro Pardal Henriques se tornar mediática?
Entre a primeira greve e esta agora, o Dr. Marinho e Pinto já me tinha feito o convite. Mas outros partidos também o fizeram. Vários partidos me fizeram convites, sobretudo nesta fase mediática.
Pode dizer quais?
Não [risos]. Não, por respeito. Só mesmo por respeito e consideração. Tenho muita consideração por todos os convites que me fizeram, mas a minha intenção era chegar ao final desta luta e agradecer a todos pelos convites, que muito me honram, porque afinal de contas é um orgão de soberania para o qual me estão a convidar. Mas [queria] dizer que nunca foi com este intuito.
Um dos camionistas abrandou para me cumprimentar, porque eu estava no piquete de greve, e assim que ele abrandou saíram três militares com uma espingarda apontada a perguntar o porquê de ele estar a abrandarO que me fez mesmo aceitar este convite nem foi o Dr. Marinho e Pinto, foi a atitude que o Governo teve com os trabalhadores. Eu estive no piquete de greve todos os dias, passámos três dias e três noites sem dormir, acho que naquela semana dormi duas ou três horas. Ver o senhor primeiro-ministro colocar a máquina do Estado a trabalhar contra os trabalhadores, colocar o Exército, que deveria estar ao serviço dos portugueses, ao serviço do Governo e das empresas contra os trabalhadores… Ver trabalhadores a conduzir camiões com uma pistola apontada à cabeça, com uma espingarda apontada à cabeça - e isto não é no sentido figurativo.
Um dos camionistas abrandou para me cumprimentar, porque eu estava no piquete de greve, e assim que ele abrandou saíram três militares com uma espingarda apontada a perguntar o porquê de ele estar a abrandar. Fazer isto com helicópteros a sobrevoar, eu pensei: estamos no Iraque, estamos num estado de guerra. E a única coisa que estes motoristas estão a fazer é reclamar direitos que são públicos, direitos que estão protegidos, estão a reclamar que querem receber de uma forma lícita, que não querem receber através de uma fraude fiscal, que querem ter uma reforma digna, querem ter um salário digno.
Foi isto que me fez aceitar, não foi o convite do Dr. Marinho e Pinto, por quem tenho muita estima e consideração, foi ver que não podemos continuar com políticos a defender quem prevarica em prol dos mais desfavorecidos. Quisemos ser uma voz ativa no Parlamento, temos coragem, aliás é o lema da nossa campanha, e acho que já demonstrei isso aos portugueses, não tenho medo de lutar contra o sistema que está instituído na nossa política, mesmo com as ameaças de que fui alvo, mesmo com todas as críticas.
Se eu for eleito pelos portugueses não vou ser deputado em regime de exclusividade, continuarei com as minhas causas, sou um homem de causas e não é o facto de ser eleito que me vai fazer parar de defender estas causasQuais é que são as principais bandeiras do PDR?
O PDR é um partido que está no centro, está entre a Direita e a Esquerda, está entre o PS e o PSD se quiser usar o sentido figurativo. Mas toda a nossa campanha e determinação é assente na defesa dos trabalhadores, na defesa daqueles que não têm sido defendidos. Estamos voltados para os trabalhadores, para o sindicalismo. Eu dou apoio jurídico a vários sindicatos e continuarei a dar apoio jurídico.
Um pequeno parênteses: eu não me vou candidatar em exclusivo. Se eu for eleito pelos portugueses não vou ser deputado em regime de exclusividade, continuarei com as minhas causas, sou um homem de causas e não é o facto de ser eleito que me vai fazer parar de defender estas causas. Por tudo isto, faz sentido que a nossa campanha seja voltada para os trabalhadores. Não sei se só agora estamos a conseguir ver ou se isto já existia de forma encapotada, mas o que eu tenho visto é que temos cavalgado a passos largos para uma situação que assusta. Um estado de Direito, um estado democrático que não vê os valores que estão na constituição, sobretudo pelos trabalhadores. Existem direitos que são intransponíveis, ou pelo menos deveriam ser, nomeadamente o direito à greve, que é um deles. Os sucessivos governos, e não falo só do PS, que têm sido sempre PS ou PSD, têm ultrapassado sem nenhum pudor estes direitos que estão constitucionalmente protegidos.
A nossa bandeira será os trabalhadores, queremos ser uma voz ativa pelos trabalhadores. E pode perguntar: não acha que outros países já fazem isso? Se é que vai perguntar. [risos]
Exatamente. Em que é que o PDR é diferente?
Pode perguntar, não acha que o PCP já faz isto, o Bloco de Esquerda já faz isto, os partidos tradicionalmente de Esquerda já fazem isto? A minha resposta é muito simples: se fizessem isto, não tínhamos assistido a tantas greves no último ano. Se isto acontecesse, os trabalhadores não estavam tão insatisfeitos. Se estivessem a fazer isto, os sindicatos tradicionais, ligados à CGTP ou à UGT, que como sabe são controlados por três partidos, teriam resolvido o problema. O que é certo é que temos 14 greves até às eleições, todos os dias existem greves, todos os dias há trabalhadores que se estão a manifestar mais do que o habitual.
Respondendo à sua pergunta: a nossa campanha será muito centrada nos trabalhadores, na defesa intransponível dos trabalhadores, no sindicalismo, sobretudo no sindicalismo independente, naquele que não está ligado a nenhuma central sindical ou a nenhum partido político. Defendemos claramente o sindicalismo independente, porque não tem que responder a orientações que vêm de acordo com programas políticos.
Um dos nossos temas fortes é um salário digno. Queremos apresentar isto e temos propostas concretas para falar sobre isto. Um salário digno é diferente de um salário mínimo.
Por isso é que têm uma proposta de salário digno que varia consoante a região… Como é que funcionaria?
Temos estudos já realizados por entidades independentes, que iremos apresentar durante a campanha, sobre um salário digno que varia consoante a região. E isto resolve muitos problemas. Existem outros países, Estados de Direito, não estados encapotados, que lutaram pelo salário digno. Nesses países, um salário digno seria um salário mínimo e meio ou seria 1,8 [vezes] o salário mínimo, dependendo das regiões. E isto é fácil de entender: no ciclo em que eu me candidato, em Lisboa, nenhum português tem dignidade suficiente para viver com o salário mínimo nacional, 600 euros não dá para pagar um quarto, ou melhor, dará para pouco mais do que um quarto. As pessoas não conseguem sair para jantar, levar os filhos ao cinema, 600 euros é abaixo do limiar das necessidades que qualquer pessoa pode ter em Lisboa. Por isso, não podemos aceitar que as empresas paguem o salário mínimo só porque é o que está na lei, mas não se preocupem verdadeiramente com os trabalhadores.
Não queremos combater o salário mínimo, há de ser atualizado e há-de ir aumentando. Deveriam existir incentivos para as empresas que paguem acima do salário mínimo e que cheguem até aos valores do salário digno. E esses incentivos podem partir desde logo do Estado, por exemplo, existirem incentivos fiscais para as empresas que paguem o salário digno, que valorizam os trabalhadores. Podem existir vantagens, por exemplo, de só as empresas que paguem o salário digno possam ser preferenciais na contratação do Estado, na contratação pública. O salário digno em Lisboa não será o mesmo que em zonas do Interior ou mais desfavorecidas.
Mas isso não vai acentuar as diferenças que já existem entre as grandes cidades do Litoral e o Interior?
Penso que não. Porque que há um vazio do Interior em relação às grandes cidades [como] Lisboa, Porto ou Coimbra? As pessoas procuram estas grandes cidades para procurar oportunidades de trabalho ou de vida. Mas depois chegam a estas grandes cidades e o nível de vida é muito mais alto e aquele salário que recebiam no Interior e dava para ter uma vida digna, desafogada, nas grandes cidades não existe. Se as pessoas no Interior conseguem ter um salário digno que lhe permita fazer face a todas as despesas, viver com dignidade, sustentar a família com dignidade, isto vai combater a desertificação do Interior em prol das grandes cidades.
Até diria que dois salários mínimos não chegam para se viver em Lisboa e todos os portugueses entendem isto, ou pelo menos viver com a dignidade que é necessária. No Interior não estamos neste limite, porque o nível de vida é diferente, os custos são diferentes, o stress é diferente... Este é um dos nossos grandes lemas: salário digno na defesa intransigente dos trabalhadores.
Temos boas condições de fazer um resultado histórico em Portugal e estamos crentes que faremos um resultado histórico como nunca se viu de um partido que saiu do quase anonimato para ter uma boa representação num grupo parlamentarEm 2015 o PDR foi a sétima força política mais votada. As previsões para este ano são melhores ou piores?
Temos muito boas expectativas. Aliás, o PDR está composto por grandes profissionais, com experiências em todas as áreas, com vivências em todas as áreas. O Dr. Marinho e Pinto é a pessoa que todos os portugueses conhecem, foi bastonário da Ordem dos Advogados com um ótimo mandato, com trabalho e provas dadas. É uma pessoa crítica contra a corrupção, é uma pessoa muito crítica contra os ataques que fazem à Constituição da República, aos trabalhadores e vai continuar com esta veemência a lutar por aquilo em que acredita. Nós acreditamos nos mesmos valores. O Dr. Marinho e Pinto candidatou-se pelo Porto e tem grandes probabilidades de ser eleito. Nós candidatamos-nos pelo círculo de Lisboa e acredito que possamos ser efetivamente uma voz ativa pelos trabalhadores no Parlamento e temos grande esperança nesta campanha que vai estar recheada de algumas surpresas.
O Dr. Bruno Fialho, que é também um representante dos trabalhadores há mais de 18 anos, é uma voz ativa na defesa intransigente dos trabalhadores, foi representante do sindicato da aviação civil durante 18 anos e as pessoas conhecem-no pela defesa dos trabalhadores.
Enquanto advogado eu não defendo todas as causas, aceito as causas em que acredito e por estas em que acredito debato-me implacavelmenteAcredito que vamos ter um bom resultado, porque estão reunidas algumas pessoas - não só nós os três. Temos boas condições de fazer um resultado histórico em Portugal e estamos crentes que faremos um resultado histórico como nunca se viu de um partido que saiu do quase anonimato para ter uma boa representação num grupo parlamentar.
Se isso não acontecer, Marinho e Pinto já disse que se afasta da vida política. O Pedro Pardal Henriques reconhece ter as características necessárias para o suceder? Ou gostaria de o fazer?
Eu não faço planos quanto à vida política. Como sabe, não sou político, nunca quis ser político. Gosto muito daquilo que faço, que é defender e representar as pessoas. Enquanto advogado eu não defendo todas as causas, aceito as causas em que acredito e por estas em que acredito debato-me implacavelmente, se calhar muito além daquilo que me era exigido, mas é a minha forma de estar na vida em qualquer situação.
Não queria fazer futurologia sobre isto, acho que o Dr. Marinho e Pinto vai ser eleito, acho que o partido precisa do Dr. Marinho e Pinto e os portugueses precisam de uma voz como a do Dr. Marinho e Pinto para lutar pelos valores que ele defende.
Isto custou-me horrores a ouvir, porque eu no meu escritório consegui investigar esta fraude fiscal e parece-me quase impossível que uma autoridade tutelada pelo Governo diga 'nós não temos forma de verificar que estão a roubar todos os portugueses'Na apresentação da candidatura disse também que uma outra bandeira do partido era o combate à corrupção. De que forma é que acha que isso pode ser feito?
A corrupção pode ser combatida, desde logo, se os partidos deixarem de utilizar as entidades que são tuteladas pelo Governo - e refiro-me, entre outras, à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), mas existem outras - para uso próprio e passarem a utilizar para os fins a que se destinam, nomeadamente, para servir os portugueses e fiscalizar o cumprimento da lei, a corrupção será combatida de outra forma.
Vou dar-lhe um exemplo: eu, enquanto representante do sindicato dos motoristas de matérias perigosas, desde 2017 que tenho vindo a denunciar a fraude fiscal que é praticada no setor dos transportes de mercadorias. Uma fraude fiscal que ascende a cerca de 300 milhões de euros por ano. A resposta da ACT foi: não temos meios suficientes para investigar essa fraude fiscal. Isto custou-me horrores a ouvir, porque eu no meu escritório consegui investigar esta fraude fiscal e parece-me quase impossível que uma autoridade tutelada pelo Governo diga 'nós não temos forma de verificar que estão a roubar todos os portugueses'.
Mais ainda, verificar que esta mesma entidade durante a greve trabalhou a favor das empresas, indo notificar os trabalhadores a casa, obrigando-os a trabalhar. Obrigando-os a conduzir um camião durante 15 horas, quando sabiam, por exemplo, que o horário de trabalho são só oito horas e que não podiam trabalhar as 15 horas. Como é que é possível uma entidade, que deveria estar a servir os portugueses, estar a servir os interesses do senhor primeiro-ministro, porque a única pessoa que não queria que a greve surtisse efeitos era o Governo, muito preocupado com as eleições.
A Fectrans não tinha conseguido assinar este acordo se nós não estivéssemos em greveAproveito que fala nesse exemplo da greve dos motoristas para lhe perguntar como é que vê todo este processo, que balanço é que faz desde abril até ao desconvocar da greve?
Faço um balanço muito positivo. Mais positivo do que aquilo que aconteceu acho que não poderia existir. Em abril ninguém conhecia os motoristas de matérias perigosas, nenhum português praticamente sabia que estes motoristas trabalham 15, 16 horas por dia. Mas ficou provado que estas pessoas têm que trabalhar 15, 16 ou 17 horas para servir um país, porque mesmo que só façam o trabalho normal, ele não serve metade do país. Metade do país fica sem estar abastecido. A prova disso foi que o Governo depositou serviços mínimos ao trabalho suplementar, porque sabe perfeitamente que o trabalho normal não é suficiente para abastecer o país. Em abril ninguém sabia disto, ninguém sabia que existia esta fraude fiscal dantesca no país.
Em abril conseguimos fechar um princípio de acordo com a ANTRAM, de várias alíneas, princípio de acordo este que por entendermos que não estava ser cumprido na totalidade fizemos esta última greve e anunciámos esta outra que desconvocámos. Durante este período, a Fectrans veio fechar um acordo com a ANTRAM e o acordo que fechou foi exatamente aquele que nós, motoristas de matérias perigosas, tínhamos conseguido. Mas digo-lhe mais: a Fectrans não tinha conseguido assinar este acordo se nós não estivéssemos em greve, porque a Fectrans não divulga isto, mas a primeira reunião - e isto está em ata - a Fectrans veio pedir um aumento de 1,6% aos trabalhadores. Está em ata, é público, podemos mostrar se for necessário. Estas pessoas vão ficar com uma média de salário tributado, pago todos os meses, inclusivamente no mês de férias com subsídio, de cerca de entre 1.400 a 1.500 euros. Isto é subir de 630 para 1.500 euros, não é 1,6% de aumento.
Isto deixou-me muito feliz. Qualquer um pode reclamar os louros da vitória, mas os motoristas de matérias perigosas sabem perfeitamente que esta vitória foi nossa. Foi conquistada por nós.
Desconvocámos a greve na sexta-feira [dia 6 de setembro], que se iniciava no sábado [dia 7], porque além de tudo o que a Fectrans assinou e foram conquistas nossas, ficou declarado que vamos partir para um processo de mediação, de negociação, mas há uma frase neste acordo que para nós era impreterível que ali estivesse: todo o trabalho prestado pelos trabalhadores será devidamente remunerado. Isto significa que não vão haver pagamentos por baixo da mesa, significa que se estas pessoas trabalharem 10 horas vão receber por 10 horas, se trabalhares 14 horas vão receber por 14 horas. Isto para nós é fundamental porque estarão salvaguardados os interesses dos trabalhadores. Era a única condição que nós tínhamos, além de tudo o que já tínhamos assinado. Vamos agora partir para um processo de negociação descansados, vamos com boa fé, vamos negociar algumas coisas que faltam negociar, vamos continuar a lutar pela antecipação da idade da reforma, porque é uma profissão de um desgaste tremendo.
Eu não fui oportunista e, como já lhe disse, nunca foi minha intenção. As pessoas são livres de dizerem o que quiserem e, aliás, os profissionais da política fazem isto muito bem. Se eu sou um oportunista que fará aquelas pessoas que nunca fizeram mais nada da vida?Como é que responde às críticas de pessoas que dizem que utilizou esta exposição mediática e a posição que teve no sindicato para agora assumir uma carreira política ou cumprir uma agenda própria, como vinham dizendo?
Antes de aceitar esta candidatura já sabia que iam fazer estas críticas, até porque quando fizemos o comunicado a aceitar a candidatura eu disse logo que vinham pessoas dizer isto. É normal. Se não fosse assim, em que é que me iam criticar? Se não fosse dizer 'ok, ele foi um oportunista'? Não é verdade.
Eu não fui oportunista e, como já lhe disse, nunca foi minha intenção. As pessoas são livres de dizerem o que quiserem e, aliás, os profissionais da política fazem isto muito bem. O senhor primeiro-ministro, o ministro Pedro Nuno Santos fazem isto muito bem, que é dizer 'foi um oportunista'. Se eu sou um oportunista que fará aquelas pessoas que nunca fizeram mais nada da vida, se não fosse isto em que é que me iam criticar? Por ser uma voz na defesa dos trabalhadores quando nunca ninguém fez isto? Dizer que os outros sindicatos, ligados ao partido comunista, andaram 22 anos e nunca conseguiram resolver este problema? Que tinham conhecimento da fraude fiscal que se praticava e nunca conseguiram resolver?
Agora, aparece um advogado desconhecido, sem interesses, a defender estas pessoas... Não me podiam criticar por isto. Criticam-me por ter coragem para afrontar o sistema? Para afrontar o Governo? Para desafiar o Governo? Para desafiar as petrolíferas que são quem manda no país?
Reajo com tranquilidade, quem me conhece sabe que não foi oportunismo, queremos apenas continuar a defender os trabalhadores. Se não chega enquanto advogado, então vou continuar a ser advogado com uma voz ativa dentro do Parlamento.
Quando as pessoas tentam inventar muitas desculpas, tentam inventar muitos argumentos é porque não têm razão. E o Ministério Público não tem razãoEstamos a terminar, Pedro. Se realmente o sindicato dos motoristas de matérias perigosas for dissolvido, como pediu o Ministério Público (MP), qual é a alternativa?
Já recebemos a notificação do MP relativamente à dissolução do sindicato e é tão patético o que está ali... São 70 páginas onde o senhor procurador tenta encontrar uma justificação para algo que não é justificável, porque se não bastaria uma página para escrever aquilo.
Quando as pessoas tentam inventar muitas desculpas, tentam inventar muitos argumentos é porque não têm razão. E o MP não tem razão. Quando se cria um sindicato, não é como quando se cria uma empresa ou uma associação normal em que vamos à conservatória e criamos na hora. O sindicato não é assim, é feita uma assembleia, são votados vários pontos, inclusivamente os estatutos do sindicato, são assinados esses estatutos e é enviado para a DGERT, para o Ministério do Trabalho. A DGERT tem oito dias para remeter ao MP qualquer suspeita de ilegalidade ou de irregularidade e o MP tem oito dias para se pronunciar relativamente a isto. Só depois de ser verificado pelos técnicos da DGERT e pelo próprio MP é que é publicado no Boletim do Emprego. É assim que se cria um sindicato. E o SNMMP foi fiscalizado pelo MP, pela DGERT na altura da sua constituição e depois publicado no Boletim do Emprego. O que agora tentam justificar em 70 páginas é o que não viram na altura.
As críticas que ali fazem é que eu, enquanto advogado, estou ligado a este sindicato e não deveria estar. Mas não sou só eu. Fui verificar uma série de estatutos de outros sindicatos, inclusivamente aqueles que estão ligados à CGTP e à UGT, e quase todos os sindicatos que ali estão têm representantes e dirigentes sindicais - e, atenção, eu não sou dirigente sindical - que não têm nada a ver com aquele setor. Porque que estes não foram inspecionados? Por que razão o MP não pediu a dissolução destes? Porque não causam constrangimento, não afetam em nada, há um controlo dos partidos para que não haja o que existiu com o nosso sindicato.
O nosso sindicato só foi alvo desta queixa, que eu pessoalmente estou a responder às 70 páginas em duas páginas, porque estamos a afetar o sistema que está criado. Mas acho que os portugueses já perceberam isto. Se existisse alguma ilegalidade, o que diz o Código do Trabalho é que o MP tem 180 dias, após a constituição, para se pronunciar. Não é depois de um ano que vem agora dizer 'vamos dissolver este sindicato'. Não é possível, quanto muito - e isto eu aceito - poderia o MP dizer 'existem aqui algumas irregularidades, então resolvam', que aliás foi isto que o juiz nos fez, enviou-nos a notificação, a acusação, e disse 'bom, o sindicato que se pronuncie sobre o que o MP está aqui a dizer'. Pelo menos há algum bom senso no magistrado que pegou no processo e viu que isto é mais um ataque político do que outra coisa.
Para acabar o sindicato dos motoristas de matérias perigosas tinha de acabar todo o sindicalismo em PortugalPortanto, o SNMMP não vai acabar?
De maneira nenhuma. Para acabar o sindicato dos motoristas de matérias perigosas tinha de acabar todo o sindicalismo em Portugal. Mas isto é compreensível. O senhor primeiro-ministro diz 'não é preciso mudar a lei da greve', pois não, declara serviços mínimos de 100%; há um sindicato que levanta a voz contra o Governo, contra a corrupção e ele diz 'extinga-se este sindicato'. Não é preciso mudar a lei da greve, está tudo normal [risos].
Vamos ver o que é que é mais forte, se é o poder político ou se é o poder judiciário, tendo em conta que eu sou advogado e acredito muito na justiça. Mesmo. Não acredito que o poder político seja mais forte do que o poder judiciário. Estamos tranquilamente a responder a estas acusações.
Para terminar, Pedro, continua a "aguardar tranquilamente" a notificação do DIAP sobre a investigação contra si?
Continuo a aguardar com tranquilidade a queixa que foi anunciada em abril pelo Diário de Notícias (DN), que o DN teria tido acesso e à qual eu não tive acesso. Estamos em setembro e eu não fui notificado de qualquer queixa. No dia seguinte às duas publicações do DN fomos ao DIAP, questionamos se existia alguma queixa sobre mim, já que eu era o visado, o DIAP fez uma pesquisa com os meus dados pessoais e não encontrou nada. Pedi uma declaração a dizer que não existia nenhuma queixa contra mim, pediram-me para formalizar o pedido por escrito, formalizei, o DIAP respondeu e isto foi divulgado. É estranho no pico de uma greve vir outra vez alguém dizer que existe uma queixa, um processo contra ele.
Até foi a PGR que veio confirmar, se não estou em erro...
Sim, foi a PGR. O que eu acho estranho é que eu não tenha sido notificado. Quando vier a notificação estarei completamente tranquilo porque tenho consciência. Posso até já ter feito qualquer coisa que prejudique alguém inconscientemente, mas luto para ser melhor a cada dia. Mas nunca faria aquilo que, segundo o DN ou a PGR, seria uma burla de perto de 100 mil euros, que é um absurdo. E ainda estranho mais esta pessoa que nunca apareceu, é um anónimo, nunca apareceu, é estranho. Mas estamos tranquilos, é para isso que existe a nossa justiça, é para que possamos usar o contraditório e possamos nos defender. E estarei cá, tranquilo, como sempre, para me defender.
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