"PAN é um partido com pendor animalista. Nós somos um partido ecologista"
Heloísa Apolónia, deputada do Partido Ecologista Os Verdes, é a entrevistada de hoje do Vozes ao Minuto.
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Política Heloísa Apolónia
Heloísa Apolónia é uma das vozes mais conhecidas da Assembleia da República. Deputada desde 1995, concorre nestas legislativas pelo círculo eleitoral de Leiria, onde a CDU já não elege desde 1987. Encara este “desafio” com “muita satisfação, muita determinação e muita confiança.”
Para a deputada, uma das características fundamentais de quem está eleito “é saber ouvir e não se considerar dono da verdade.” Elenca os transportes e as florestas como as questões principais a serem levadas ao Parlamento em caso de eleição, não esquecendo a questão dos plásticos, bem como a educação e a saúde.
Um bom resultado eleitoral “é sempre poder reforçar a posição na Assembleia da República”, refere, acreditando que existe “uma possibilidade objetiva de reforçar o grupo parlamentar ecologista” nas eleições de 6 de outubro.
Quanto a uma eventual nova geringonça, Heloísa Apolónia diz que Os Verdes estão “disponíveis para as soluções”. “Digamos que, neste momento, tudo pode estar em cima da mesa, mas, efetivamente, a solução será sempre encontrada depois dos resultados eleitorais”, conclui.
É natural de Setúbal e sempre se candidatou por esse distrito. Porquê agora Leiria?
Leiria é um desafio, é uma aposta que a CDU faz num distrito onde não elege um deputado desde 1987. E Leiria porque é um distrito pelo qual tenho produzido imenso trabalho na Assembleia da República e que acompanhei muito na passada legislatura, tendo em conta designadamente o drama e a tragédia que todos conhecemos dos incêndios de Pedrógão Grande e também da Mata Nacional de Leiria. A matéria da floresta foi uma prioridade na intervenção d’Os Verdes na Assembleia da República. Tive também oportunidade de ser relatora de uma petição de inúmeros cidadãos que trouxeram à Assembleia o problema da linha ferroviária do Oeste. A ferrovia foi também uma das prioridades da intervenção do Partido Ecologista Os Verdes nesta legislatura e, portanto, há um conjunto de matérias que acompanhei com muito pormenor e muita determinação que visam diretamente o distrito de Leiria. Nesse sentido, houve a possibilidade de lançar esta candidatura em Leiria e é um desafio que aceito com muita satisfação, com muita determinação e com muita confiança.
Diz que é um “desafio”. Como é que o encarou quando lhe foi proposto?
Justamente como o desafio de transmitir à população de Leiria o inúmero trabalho que as forças que compõem a CDU - quer o grupo parlamentar d’Os Verdes quer o grupo parlamentar do PCP - desenvolveram na Assembleia da República em prol da sustentabilidade daquele território e da melhoria da qualidade de vida daquelas populações, mas não só. Sustentar o conhecimento que julgo que se traduzirá em reconhecimento deste trabalho, projetando também para o futuro. Porque as nossas denúncias e a constatação dos problemas traduzem-se para nós em respostas, em soluções, em propostas. E é isso, justamente, que me proponho fazer numa próxima legislatura se os cidadãos do distrito de Leiria entenderem eleger-me – neste caso a primeira candidata da CDU pelo círculo eleitoral de Leiria – para a Assembleia da República: ser uma voz ativa, de denúncia dos problemas de Leiria, mas também uma voz que é ouvida na Assembleia de solução para os problemas do distrito. Ou seja, terão em mim uma voz determinada, uma pessoa determinada na Assembleia que, naturalmente, estabelecerá formas privilegiadas de contacto com o distrito de Leiria e os cidadãos de Leiria.
Os Verdes foram muito silenciados durante a passada legislatura na projeção do seu trabalho parlamentarFalou na questão de a CDU já não eleger um deputado neste círculo desde 1987. Está confiante na eleição ou sente que corre um maior risco por se estar a candidatar por este distrito em vez de o fazer por Setúbal?
O que sinto é que é possível esta eleição. É possível a CDU eleger uma deputada ecologista, que reforçará o grupo parlamentar d’Os Verdes na Assembleia da República numa próxima legislatura. Não vou dizer que é fácil, mas digo que é possível e que isso está nas mãos, evidentemente, dos eleitores do círculo de Leiria. E muitas vezes não é fácil porque – e acho que quem acompanhou o trabalho parlamentar há-de constatá-lo: Os Verdes foram muito silenciados durante a passada legislatura na projeção do seu trabalho parlamentar. Mas, com os meios que nós temos, com a determinação que nós temos, estamos a procurar passar essa mensagem e, como referi, projetando propostas para o futuro.
Na sua apresentação como cabeça de lista da CDU por Leiria, Jerónimo de Sousa disse que os elogios que agora lhe eram feitos eram “tardios” e “hipócritas”. Concorda? O que tem a dizer sobre esta afirmação?
Acho que, fundamentalmente, os elogios que foram feitos foram justos num sentido do reconhecimento da importância desta voz ecologista na Assembleia da República e do trabalho que foi realizado, do confronto que permanentemente o grupo parlamentar d’Os Verdes fez na Assembleia, não apenas ao primeiro-ministro mas a muitos ministros, a muitos responsáveis governamentais e também das negociações que encabeçamos bilateralmente com o Partido Socialista para atingirmos determinados objetivos e conseguirmos ver aprovadas determinadas propostas. Agora é evidente que há que reconhecer que muitos desses elogios surgiram de pessoas que ou nos criticavam ou nos silenciavam permanentemente, mas não posso deixar de concluir que me parece que os elogios acabaram mesmo por ser justos.
Mas são tardios?
Se fomos tão silenciados e muitas vezes criticados injustamente em relação a muitos aspetos do nosso trabalho poder-se-á dizer que são tardios. Mas justos.
Qual é o feedback que tem dos portugueses? Como pensa que os portugueses a veem?
Talvez seja importante dizer que o trabalho do grupo parlamentar d’Os Verdes faz na Assembleia da República é um trabalho muito virado para o contacto direto no terreno com as populações. Com os problemas concretos do território, inúmeros problemas de poluição, de amianto nas escolas – foi uma situação que fomos muito solicitados para contacto direto no terreno. Enfim, inúmeras questões que nos são denunciadas e, por isso, nós muitas vezes vamos ao terreno nesse contacto direto. Logo, o estabelecimento dessa relação direta é feito durante todo o mandato e não tenho contacto apenas durante a campanha eleitoral. O que é que sinto? Sinto normalmente uma grande confiança no que o grupo parlamentar d’Os Verdes pode fazer no Parlamento pelos cidadãos, a forma como podemos puxar para essas soluções concretas. E sinto, por outro lado, uma grande simpatia relativamente a este projeto ecologista. Digamos que no desenvolvimento do trabalho do grupo parlamentar d’Os Verdes é isso que tenho sentido. É evidente que nesta altura de pré-campanha e campanha eleitoral o que tenho mesmo que dizer é que era muito importante que essa simpatia e esse reconhecimento se traduzissem em votos concretos, no sentido que nós pudéssemos ter mais força na Assembleia da República para aumentarmos e robustecermos o nosso trabalho através da força que aqui possamos ter.
Rui Rio tem certamente muitos problemas para observar no país e apostar em soluçõesEstá na Assembleia desde 1995. Rui Rio apresentou a proposta de limitar o número de mandatos dos deputados – que faz parte do programa eleitoral do PSD. O que tem a dizer sobre esta medida?
Nós nos Os Verdes não fomos favoráveis à questão da limitação de mandatos porque o desenvolvimento do trabalho e a apreciação do desenvolvimento do trabalho de diversas pessoas que se dedicam à causa pública, num determinado momento da sua vida, é feito justamente pelos eleitores. Deve ser aos eleitores que compete essa avaliação e, proceder ou não, a essa limitação de mandato através das suas escolhas. Portanto, aquilo que me parece é que Rui Rio tem certamente muitos problemas para observar no país e apostar em soluções. Essa não é, seguramente, uma solução para resolver muitos dos problemas que Portugal tem e é mais um chutar para o lado relativamente àquelas que são as prioridades do país. Agora aquilo que nós defendemos é que os deputados na Assembleia da República estejam em exclusividade de mandato. Porque o exercício do trabalho parlamentar é muito exigente, de muito contacto e de muita dedicação. Isso, por exemplo, Rui Rio não defende.
A deputada é uma das vozes mais conhecidas da Assembleia. O que significaria para Os Verdes, para a CDU - e até pessoalmente - perder esta voz no Parlamento?
O que acho é que aos cidadãos do círculo eleitoral de Leiria competirá decidir se esta voz vem ou não no próximo mandato para a Assembleia da República. Está nas mãos dos cidadãos do distrito de Leiria. Como referi, será uma voz ecologista que reforçará o grupo parlamentar d’Os Verdes. Acho que aquilo que é fundamental é que se compreenda também a importância desse reforço, desse contributo para a melhoria do trabalho parlamentar pelo reforço do grupo parlamentar d’Os Verdes. E, naturalmente, com mais deputados, mais trabalho podemos desenvolver. E não é só isso: mais influência teremos na Assembleia da República justamente para mais respostas ecologistas em tantas matérias que nós consideramos tão prioritárias no país como o reforço da vigilância da natureza, uma aposta nos transportes coletivos - um setor tão fundamental no combate às alterações climáticas de que Os Verdes já falam há tantas décadas - como a questão do reforço de meios para a despoluição de inúmeros recursos hídricos no nosso país. Tantas matérias onde podemos ter mais influência...
Falou há pouco num silenciamento do trabalho d’Os Verdes. O trabalho sempre foi reconhecido?
Quem conhece o trabalho que é desenvolvido pelos Os Verdes reconhece a importância desse trabalho. Agora o que sinto é que, muitas vezes, há um desconhecimento grande do trabalho que desenvolvemos na Assembleia da República. Acho que, com toda a franqueza, os órgãos de comunicação social que, por exemplo, fazem as reportagens sobre o trabalho parlamentar muitas vezes silenciaram o trabalho que é desenvolvido pelo grupo parlamentar d’Os Verdes. Se a informação sobre o trabalho desenvolvido pelos diferentes grupos parlamentares é tão diferenciada, acaba por se privilegiar uns aos olhos dos cidadãos e a prejudicar outros, porque não detêm informação sobre o que o grupo parlamentar fez. E quando estamos a falar de órgãos de comunicação social estamos a falar de uma informação de massas, que chega a muitos cidadãos e que forma opinião. Agora, o que sinto é que se houver esse desconhecimento é evidente que não há reconhecimento. Quando há conhecimento daquilo que o grupo parlamentar fez há muito reconhecimento da utilidade desse trabalho. E há uma coisa muito interessante que nós no grupo parlamentar acabamos por projetar e praticar muito que é: alguns cidadãos que conhecem projetos do grupo parlamentar dão opinião sobre como é que nalguns aspetos de especialidade achavam que eles poderiam ser alterados. Há, de facto, contributos muito interessantes. E nós fazemos muito esse trabalho.
Há um trabalho de audição dos cidadãos.
Acho que uma das características fundamentais de quem está eleito é saber ouvir e não se considerar dono da verdade. Nós que estamos aqui em representação dos cidadãos, ouvir o que estes sentem, percecionam e têm até para dar como contributo é fundamental. Para o exercício do nosso mandato nós fazemos muito essa rede participativa com os cidadãos. E depois aí sim há um reconhecimento muito grande da utilidade e da importância do trabalho do grupo parlamentar d’Os Verdes.
O PAN é fundamentalmente um partido com um pendor animalista. Nós somos um partido ecologista. Um partido ecologista confronta o sistemaO PAN elegeu um deputado na última legislatura. Como é que olha para a popularidade alcançada em relativamente pouco tempo de um partido que também tem preocupações ambientalistas?
O PAN é fundamentalmente um partido com um pendor animalista. Nós somos um partido ecologista. Um partido ecologista confronta o sistema. Um partido ecologista, como Os Verdes, sabe que o capitalismo não é verde e, nesse sentido, procura uma alteração, uma transformação de muitos paradigmas de produção, de consumo, de investimento na sustentabilidade do desenvolvimento mas agrega também duas componentes fundamentais que são as da justiça ambiental e o da justiça social. E isto é ser-se ecologista. Agregar estas componentes. Não vou fazer comentários relativamente a outros partidos que tiveram até da parte da comunicação social um outro nível de projeção relativamente a algumas das propostas que apresentaram, cuja projeção não foi dada, muitas vezes, aos Os Verdes. Há quanto tempo nós apresentamos na Assembleia da República projetos relativamente à redução das embalagens, da oferta em mercado do plástico que é, de facto, um poluente enorme nos nossos mares tendo em conta a massificação da sua utilização. E não é para me responder mas poderia lançar esta pergunta: Quantas pessoas conhecem o trabalho que Os Verdes já desenvolveram em várias legislaturas sobre esta questão da redução da utilização dos plásticos? E, de qualquer modo, é uma questão que está muito em voga mas que Os Verdes introduziram no Parlamento, não de agora mas que obrigaram já outros grupos parlamentares a refletir sobre as propostas que nós trouxemos ao parlamento.
Mas o PAN dificultou de algum modo a vida aos Os Verdes?
Não, não, de modo nenhum. Os Verdes desenvolvem o seu trabalho e têm a sua agenda própria. Apostámos em muitas questões que não foram agenda de outros grupos parlamentares nem prioridade para outros grupos parlamentares nem para outros partidos com representação parlamentar. Designadamente a ferrovia que foi, de resto, uma questão que António Costa - num dos últimos debates na Assembleia – reconheceu que, se houve maior investimento na ferrovia e uma alteração de paradigma em relação ao que vinha do passado, foi devido ao que Os Verdes trouxeram ao Parlamento em termos de exigências, na nossa posição conjunta. Nós marcámos agenda, o partido ecologista Os Verdes marcou agenda na Assembleia da República, com a sua agenda própria com a suas prioridades próprias, que nós consideramos que são prioridades para o desenvolvimento do país.
Numa entrevista recente que deu à agência Lusa disse que as questões ambientais agora parecem “estar mais na moda”. Deve-se a quê?
Gostava de acreditar que não é uma questão de moda mas que é, de facto, uma preocupação enraizada nos cidadãos. Porquê? Porque, de facto, as matérias ambientais ou a degradação ambiental fruto de um sistema capitalista delapidador dos recursos naturais que tem como objetivo e visão o lucro a curto prazo - e tudo o que se encaixar na dinâmica do lucro a curto prazo "tudo bem”, tudo o que não se encaixar nesta dinâmica “tudo mal”, porque esta é de facto a visão - gostava de ter a convicção de que é uma preocupação enraizada nos cidadãos de que este sistema não serve. E que precisamos todos de nos juntar para transformar este sistema num modelo sustentável que permita uma solidariedade intergeracional, ou seja, que as próximas gerações tenham também direito de usufruir destes nossos recursos. Temos também que, através dos nossos modelos de produção e de consumo permitir que eles se regenerem na natureza mas, de facto, gostava de acreditar que não é exatamente uma questão de moda. Porque quando nós vemos aquilo que está a acontecer, por exemplo, com a Amazónia, é absolutamente assustador porque é o pulmão verde do Mundo que está em perigo. E não é uma questão que diz só aos brasileiros ou aos outros países que são abraçados pela Amazónia em concreto, mas aos cidadãos de todo o Mundo. Nós temos mesmo de nos revoltar pelo facto de o grande negócio e a grande ganância económica estarem a delapidar o maior centro de biodiversidade do Mundo. Não é só de flora e fauna por si só que estamos a falar – que já tem valor em si mesmo. Mas é ali também que vamos buscar muitas das soluções para a promoção da qualidade de vida dos cidadãos, seja através dos serviços de biodiversidade que ali são prestados: a regulação climática, tantos outros.
E os portugueses ganharam essa consciência? Estão mais ‘acordados’ agora do que estavam?
Ao longo dos anos que tenho estado na Assembleia da República tenho vindo a sentir que há um crescimento gradual da preocupação e da consciencialização com as matérias ambientais. O que é que acontece? Agora voltamos à questão da comunicação de massas. Quando a comunicação social acorda para os problemas e os traduz em notícia, isto também faz parte da consciencialização para uma maior massa de pessoas. Se a comunicação de massas dá tradução de muitos dos problemas eles, de facto, tomam uma dimensão mais realista, não ficam tão escondidos. E nós todos, nos nossos diversos palcos, temos essa responsabilidade também de tornar visíveis as matérias ambientais. E Os Verdes têm feito um longo caminho relativamente a esta matéria. Desde os anos 90, Os Verdes já lançaram – e agora não estou a falar do trabalho parlamentar mas sim da relação com a sociedade – quatro ou cinco campanhas nacionais sobre a matéria das alterações climáticas onde tocámos muitas escolas, muitas empresas, muitas associações, muitos cidadãos individuais, porque consideramos que também temos esta responsabilidade de informar, de denunciar, de alertar para que haja maior consciência ambiental. Porque estamos em crer que não haverá soluções sustentáveis sem o acordo dos cidadãos.
Precisamos de ligar o nosso país, de promover ligações (...). Não deixar locais totalmente isolados designadamente pela falta de transporte coletivo. Precisamos alargar a nossa rede de transportes coletivos e, designadamente, a rede ferroviária é fulcralQuais são, em caso de eleição, os principais pontos que deverão ser debatidos na Assembleia? O que vai querer levar ao Parlamento?
Um prende-se com a questão dos transportes porque acho que esta questão é mesmo fundamental. E se nós invertemos a lógica nesta legislatura, de aquilo que se traduzia em desinvestimento na área dos transportes passou a traduzir-se em investimento, o que Os Verdes dizem é: “É preciso mais. Precisamos de chegar mais longe”. Porque a questão dos transportes públicos tem aqui várias vertentes que são, desde logo, o combate às assimetrias regionais. Nós precisamos de ligar o nosso país, de promover ligações no nosso país. Não deixar locais totalmente isolados designadamente pela falta de transporte coletivo. Precisamos alargar a nossa rede de transportes coletivos e, designadamente, a rede ferroviária é fulcral. Por outro lado, há um direito que as populações têm que é o direito à mobilidade. As pessoas não têm que ter carro para se poderem deslocar. Ao Estado compete garantir esse direito à mobilidade das populações. E depois há a questão central que é o desempenho ambiental do setor dos transportes. Estamos a falar de um setor que é um dos maiores contribuintes para as emissões de gases com efeitos de estufa. No início dos anos 90, a maior parte dos movimentos pendulares em meio urbano - e designadamente nas grandes áreas metropolitanas - eram feitos por transporte coletivo. No final dos anos 90, inverteu-se tudo. A maior parte dos movimentos pendulares começou a fazer-se por transporte individual porque compensava. A rede de transportes deixou de dar resposta ou não conseguiu dar resposta aos horários de que as pessoas precisavam, tinha imensas falhas. A linha ferroviária do Oeste constitui mais concretamente um empecilho na vida das pessoas do que uma resposta e uma solução. Isto é inadmissível. Porque alguém que vai tentar apanhar um transporte e, de repente, o comboio não aparece… a pessoa era para chegar ao trabalho a uma determinada hora. Isto é um empecilho. E houve outra questão que foi o encarecimento constante do preço dos títulos de transporte promovido por vários governos. A questão dos transportes, de uma boa rede de transportes públicos – e trabalhamos tanto nesta legislatura para a redução do preço dos transportes – foi uma longa reivindicação e chegámos a bom porto relativamente a essa matéria, mas é preciso mais.
Mas a redução do preço dos títulos foi acompanhada por uma melhoria dos transportes?
São duas peças fundamentais, lá está. Nós, de facto, conseguimos a questão da redução e é preciso que não se cinja às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Nós precisamos deste benefício e desta solução justa para todo o território nacional. Agora, é evidente que era preciso mais investimento numa rede de transportes. Nós vamos aqui à Soflusa, ao transporte fluvial, e todos conhecemos o drama que aqueles utentes viveram em tantos dias em que precisavam de se deslocar para trabalhar, ou para estudar ou para ir a uma unidade de saúde. Na próxima legislatura, o investimento na rede de transportes públicos é uma prioridade para Os Verdes.
O que falta fazer em matéria de florestas?
Outra prioridade prende-se com a questão da floresta porque nós nesta legislatura conseguimos inverter aquela que foi a famigerada lei da liberalização dos eucaliptos de Assunção Cristas. Essa lei abria ainda mais a porta àquela que tinha sido a opção de sucessivos governos de permitir a expansão de brutais monoculturas de eucalipto. A nossa floresta foi completamente cedida às celuloses e não pode ser. Porque a floresta é um património coletivo, multifuncional, que tem que dar resposta também à segurança do território, à segurança das populações e também ao desafio das alterações climáticas, designadamente como fonte de retenção de carbono. Nós invertemos essa lei da liberalização do eucalipto no sentido de estancar as brutais monoculturas mas, é preciso que no terreno haja fiscalização e haja uma expansão em simultâneo das nossas espécies autóctones. Estancar as monoculturas de eucalipto não era uma questão que fosse logo visível a curto prazo, mas era preciso alterar a lei para que ela começasse a dar resultados. Na próxima legislatura essa vai ser uma das nossas prioridades. Maior fiscalização e implementar no terreno essa diversidade da nossa floresta e essa maior resistência ao drama dos fogos florestais.
Que outras prioridades terão?
A questão dos plásticos continuará a ser uma prioridade nossa porque aquilo que é a oferta de mercado é também uma questão determinante, na nossa perspetiva. Continuaremos muito atentos à questão do amianto em edifícios públicos, mas também no setor empresarial, que foi uma questão que Os Verdes trouxeram à Assembleia da República nesta legislatura. Mas também no âmbito da educação, da saúde, da resposta do nosso Serviço Nacional de Saúde. Há todo um outro conjunto de dimensão de respostas de serviços públicos aos quais Os Verdes também darão prioridade.
Ainda quanto à floresta, o que é preciso fazer em Pedrógão Grande e no Pinhal de Leiria?
Urgentemente, a revitalização ecológica e produtiva daquela zona. Ou seja, fazer renascer das cinzas aquele pinhal Interior Norte. É fundamental, é algo que o país e o governo e quem tem poder de decisão deve àquela região. Isto faz-se, evidentemente, com apoios devidos àquelas pessoas que têm vontade de voltar a produzir. Uma das grandes falhas e um dos enormíssimos erros que se cometeu e que veio contribuir também para a dimensão dos fogos florestais foi ter-se promovido tanto o abandono da nossa agricultura em Portugal. Porque as áreas agrícolas eram áreas também que intercalavam com as áreas florestais e, portanto, eram zonas tampão. E com o abandono da agricultura o que é que nasceu nessas zonas agrícolas? Mato. Ou seja, para acrescentar aos eucaliptos era justamente o rastilho que faltava à nossa floresta. Seja pelas opções das espécies florestais introduzidas na nossa floresta seja pelo abandono da agricultura, toda esta política de sucessivos governos veio contribuir para a fragilização da nossa floresta. Revitalizar ecologicamente, ter em conta as espécies florestais da nossa floresta e a revitalização produtiva daquela zona é obviamente uma questão determinante e que requer investimento e que a CDU defende.
No início do mês foi publicado o decreto-lei que proíbe loiça de plástico de utilização única na restauração. Quais os próximos passos a dar?
Houve uma outra questão que Os Verdes apresentaram na Assembleia da República que também foi publicada e que tem a ver com os sacos de plástico leves no setor da fruta e do pão. A necessidade de uma aposta em soluções alternativas. O que é que Os Verdes consideram que relativamente aos plásticos falta fazer? Uma questão tem a ver com os microplásticos decorrentes da utilização ou introduzidos ainda na questão dos cosméticos e dos detergentes. É uma questão que não é muito visível, mas que tem problemas sérios na contaminação das nossas águas e dos nossos mares e, portanto, é uma matéria que Os Verdes gostariam de voltar a trazer à Assembleia da República. Mas há outro que gostava de referir. Nós precisamos de reduzir as embalagens que o mercado impõe às pessoas. Porque muitas vezes as pessoas vão a um hipermercado, querem comprar um determinado produto e não o encontram a não ser embalado ou duplamente embalado ou, às vezes, triplamente embalado. Lembremo-nos, por exemplo, dos iogurtes em promoção: vêm embalados em cartão, depois vêm embalados em plástico, depois ainda têm uma outra película de plástico a agregar mais não sei quantos. Isto é um esbanjar, uma utilização absolutamente inútil – e quando digo inútil é porque ela em nada se relaciona com a preservação da qualidade do produto – e os cidadãos quando vão a um hipermercado e depois, quando chegam a casa, fazem um saco enorme e hipervolumoso de resíduos que não precisam para nada. E normalmente o plástico impera nesses resíduos que se deitam imediatamente para o lixo. Esperemos nós que o coloque no local certo no ecoponto. Nós temos de responsabilizar também o mercado por uma atitude ambientalmente responsável perante aquilo que é oferecido aos consumidores. E, de facto, temos embalagens totalmente desnecessárias em mercado e nós Os Verdes consideramos que isso deve ser regulado.
Qual seria um bom resultado nas eleições para Os Verdes e para a CDU?
Um bom resultado é sempre poder reforçar a sua posição na Assembleia da República. Sempre que haja um reforço da força que determinada força política tem na Assembleia da República isso é sempre um resultado positivo e é para isso que a CDU está a trabalhar. Para reforçar o número de deputados no Parlamento. Em relação ao grupo parlamentar d’Os Verdes em concreto há, de facto, essa possibilidade quer através dos lugares que temos em Lisboa e em Setúbal, mas também com a minha candidatura no círculo eleitoral de Leiria e também com a candidatura de Manuela Cunha, também d’Os Verdes, que é cabeça de lista por Portalegre. Há uma possibilidade objetiva de reforçar este grupo parlamentar ecologista.
As eleições legislativas servem para eleger 230 deputados para a Assembleia da República e muitos procuram dar a ideia de que (...) servem para eleger um primeiro-ministro. Totalmente errado. E esta legislatura provou issoPensa que é possível voltarmos a ter uma geringonça no Parlamento?
As condições que se criaram nesta legislatura foram determinadas pela vontade dos eleitores. Acho que finalmente se percebeu aquilo que a CDU anda a dizer em todas as eleições legislativas e que alguns partidos políticos procuram distorcer e muitos órgãos de comunicação social, muitas vezes, também contribuem para distorcer. Vou-lhe dizer o que é e a CDU insiste permanentemente nesta questão. As eleições legislativas servem para eleger 230 deputados para a Assembleia da República e muitos procuram dar a ideia de que as eleições legislativas servem para eleger um primeiro-ministro. Totalmente errado. E esta legislatura provou isso. Os eleitores determinaram que PSD e CDS perderam a maioria dos deputados na Assembleia. Logo, houve condições objetivas com os partidos que se tinham comprometido com a mudança em relação ao massacre que estava a ser promovido pelo PSD e pelo CDS - e foi a CDU que alertou para isso logo no dia das eleições - para se formar um outro governo porque havia uma outra correlação de forças na Assembleia da República. Isto é para dizer que estamos disponíveis para as soluções. A solução da próxima legislatura dependerá de tal maneira da correlação de forças que houver na Assembleia da República que acho que só nessa altura é que se pode dizer exatamente que solução é que se poderá formar. Há uma coisa que posso garantir: venha de onde vier uma proposta que o Partido Ecologista Os Verdes considere benéfica para o país terá sempre o nosso voto favorável. Uma que contribua para fazer mal ao país Os Verdes votarão contra. Digamos que, neste momento, tudo pode estar em cima da mesa, mas, efetivamente, a solução será sempre encontrada depois dos resultados eleitorais. Aquilo que nós dizemos é: Quanto mais força tiver a CDU na Assembleia da República na próxima legislatura, melhores condições estarão criadas para que soluções objetivamente positivas possam ser encontradas no Parlamento.
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