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"O filme faz lembrar quando estamos no café e ouvimos a mesa do lado"

Bruno Aleixo, o ewok mais reconhecido da televisão e rádio portuguesas, deu o salto para o grande ecrã e o Notícias ao Minuto esteve à conversa com os responsáveis, João Moreira e Pedro Santo.

"O filme faz lembrar quando estamos no café e ouvimos a mesa do lado"
Notícias ao Minuto

23/01/20 por Sara Gouveia

Cultura Bruno Aleixo

Depois de 'Os Conselhos Que Vos Deixo', 'O Programa do Aleixo', 'Aleixo na Escola', 'Aleixopédia', entre muitos outros, e de atravessar plataformas, o ewok mais famoso de Coimbra, de Portugal e até com uma base de fãs considerável do outro lado do Atlântico, está pronto para se estrear na sua primeira longa-metragem, 'O Filme do Bruno Aleixo', onde se mostra igual a ele próprio.

Com a chico-espertice que lhe é inerente e o sotaque bairradino bem vincado, desta vez Bruno Aleixo é desafiado a criar um filme sobre si. Sem ideias, junta os seus amigos mais próximos - Busto, Homem do Bussaco e Renato Alexandre - que reunidos a uma mesa de café tentam fazer um brainstorming que se vai concretizando em filme e que conta ainda com a ajuda de vários atores para o tornarem real. Ao mesmo tempo vai arrancando gargalhadas com o imprevisível aleatório a que o público se tornou fiel.

'O Filme do Bruno Aleixo' estreia esta quinta-feira nas salas de cinema portuguesas e brasileiras e o Notícias ao Minuto esteve à conversa com João Moreira (voz de Aleixo, Renato Alexandre e Homem do Bussaco, entre outras) e Pedro Santo (voz de Busto), criadores deste universo, que assumem o cargo de realizadores do filme.

Nunca pensámos que iríamos trabalhar quase exclusivamente, pelo menos na área do humor, no Bruno Aleixo durante 12 anos

Quando começaram, imaginaram que algum dia iam estar a apresentar um filme sobre um ewok, sexagenário, natural de Coimbra e do Brasil, com opiniões vincadas sobre tudo?

João Moreira - A partir de certa fase, sim. Em 2008, quando isto começou não, mas se calhar em 2013, sim. Porque, entretanto, o processo foi avançando e há bocadinho até estava aqui a conversar com o Pedro [Santo], a ideia de fazer o filme começou em 2013, portanto foi há… é fazer as contas. 

Pedro Santo - E começou porque alguém do cinema nos formulou uma proposta, não fomos nós a começar a pensar nisso. Isto nunca foi pensado muito além. Começou com vídeos pequeninos, dos vídeos que não tinham sido pensados para a televisão, começou a passar na televisão quando a proposta apareceu. Rádio também quando a proposta começou a aparecer, ou seja, nunca nos sentámos para pensar numa determinada coisa que íamos fazer a seguir.

João - Isto é como os Rolling Stones. Nós somos os Rolling Stones portugueses. Uma vez perguntaram ao Mick Jagger se achava que aquilo ia durar dez anos e ele respondeu que não. Quando começámos não havia planos, era ver o que dava, até porque isto não foi uma coisa que fizemos e correu bem, aliás foi [risos], mas foi uma de várias. Trabalhámos com o Fernando Alvim, o Pedro já tinha trabalhado com o Nuno Markl, andávamos há já muito tempo a disparar e achámos que isto ia ser uma de várias coisas que podíamos ir fazendo, ou seja, que o Bruno Aleixo nos ia abrir portas para fazer outras coisas. Nunca pensámos que iríamos trabalhar quase exclusivamente, pelo menos na área do humor, no Bruno Aleixo durante 12 anos.

Bruno Aleixo é uma estrela multiplataforma.. Rádio, televisão.. Esta passagem para o cinema acaba por ser esperada. Sentiram isso?

João - Sim, não surpreendeu. O público creio que sempre achou que mais cedo ou mais tarde haveria qualquer coisa. Alguns com receio de que o filme pudesse estragar, porque acho que muita gente considera que o cinema não é a plataforma certa para o filme. No fundo, apesar de ser multiplataforma há aqui um certo espírito de sitcom porque, apesar de ser sobretudo rádio e televisão, são sempre as mesmas pessoas, que se encontram em ambientes de trabalho ou sociais similares - ou estão no café, ou estão na rádio, ou encontram-se na casa de um ou estão a gravar um talkshow -, no fundo há ali uma espécie de espírito de sitcom que pode não compadecer-se com a linguagem do cinema, e foi um pouco isso que nós forçámos para contrariar. A estrutura do filme continua a ser uma conversa de café, é um brainstorming, só que neste caso de ideias para filmes. A partir da conversa de café recriamos a linguagem do cinema. É ao mesmo tempo uma rábula e uma homenagem ao cinema também. 

Pedro - Eu acho que houve surpresa. Acho que é raro ver um produto televisivo e de rádio que acabe no cinema. E depois o nosso público ainda é muito de culto e de nicho, não é massificado, e tenho ideia de que quando as pessoas esperam um filme é quando uma série grande acaba e as pessoas ficam a ressacar e acontece um filme, como aconteceu com 'Breaking Bad'.

João - Mas isso são fenómenos recentes que decidem fazer um filme para acabar com as pontas soltas. Aqui estamos a falar de um universo de bonecos e por isso era relativamente normal que acontecesse.

Pedro - Digo isto porque as reações que vejo são sobretudo de surpresa. Porque o filme acaba por ser um estágio final de qualquer produto. O cinema dá uma grandiosidade e uma solenidade às coisas. A televisão e a rádio são mais comuns.

João - É, a partir de agora é sempre a descer [risos]. Mas as pessoas levam um bocadinho mais a sério uma coisa que foi para o cinema. 

Pedro - Pessoas que nunca ligaram muito se calhar agora vão dar uma oportunidade. Até estivemos a ver ontem, tirando os ‘7 Pecados Rurais’, eventualmente, ou mesmo o ‘Filme da Treta’, mas aí era uma peça de teatro, são produtos que tinham nomes muito fortes associados logo desde início e por isso quem aposta neles sabe que quando vão para o cinema há uma massa de pessoas a ir ver, não é o nosso caso. O nosso seguiu os trâmites mais normais do cinema em Portugal - concurso do ICA [Instituto de Cinema e Audiovisual] com uma produtora associada, teve de provar que o guião e o projeto de produção eram minimamente consistentes para depois poder avançar.

Quem é o Bruno Aleixo aos 62 anos? Quais são as suas principais preocupações da sociedade neste momento da sua vida?

Pedro - Tende a não se preocupar com muita coisa. Preocupa-se com as coisas dele, porque ele tem uma série de negócios e mesmo nós não sabemos bem de que é que ele vive. Sabemos agora que tem uns programas de televisão, de rádio, um filme, mas antes disso não sabemos.

João - Sabemos que é uma pessoa relativamente influente, há muita gente a dever-lhe favores. Não sabemos até que ponto é que ele vive da troca de favores, subarrendamento sabemos que faz - em Coimbra é bastante possível subarrendar, se agora se faz para turistas, em Coimbra sempre se fez isso para estudantes.

Pedro - As preocupações dele serão essas, muito mundanas. Se vai apanhar trânsito, por aí.

João - Até porque ele gosta de estar na vida dele. Não tem grandes planos de vida, prefere que não o chateiem, um bocadinho como os velhos. Quando começou tinha 50 anos mas tinha muita coisa já de velho jarreta ao mesmo tempo. Mas isso é normal nos ewok [risos]. Não tem filhos também, pelo menos que se saiba. Tem um passado assim meio obscuro, ele evita falar assim de assuntos de relacionamentos, sempre. Mas nota-se que tem ali alguma misoginia causada por algum tipo de trauma, porque está sempre a falar de gajas amuadas, o que denota claramente alguém que teve problemas [risos].

Quanto tempo demorou a escrita de guiões e produção do filme?

João -  É difícil de contabilizar porque é muito espaçado no tempo. Desde que tivémos a primeira versão do filme, a depois ter sido submetido ao subsídio para apoio, à escrita, à reescrita - isto começou em 2013. Mas a parte do guião não é bem quantificável porque foi escrito depois houve uma pausa, a seguir fizemos um curso, depois ganhámos o concurso, depois voltamos a rescrever, houve outra pausa, depois submetemos a segunda versão.

Pedro - Entretanto, fizemos outras coisas com a própria produtora - a 'Som e Fúria'.

João - Ou seja, a resposta grande é: desde 2013 até agora. Quase 8 anos, cerca de 7 anos e meio. O real trabalho exaustivo foi desde fevereiro/março até agora em pré-produção, as rodagens foram no final março início de abril e demoraram duas semanas e pouco, quase três. Levou um ano no total na edição e montagem, que é onde se faz o filme, na verdade, o design de som, pós-produção e agora a parte da promoção, o que é relativamente pouco para uma longa metragem.

O Bruno Aleixo tem de arranjar uma ideia para um filme e deixa tudo para o último dia, então vai pedir aos amigos que não sabem porque é que ali estão para terem ideias à pressaAs gravações foram feitas em Anadia. Por que não em Lisboa, por exemplo? Foi por ser mais perto de casa?

Pedro - Para o Bruno Aleixo e para todas as personagens, sim. No nosso caso, havia dois cenários exteriores que tinham mesmo de ser lá, que era Curia (no concelho de Anadia) e Coimbra. Depois, a dada altura, como a equipa técnica era sobretudo de Lisboa, pensámos em fazer cá, porque tínhamos muitos interiores, mas tinha de ser um tipo específico de café, de casa, tínhamos esse tipo de decor. Entretanto, percebeu-se que filmar em Lisboa é complicado a todos os níveis e - juntamente com equipa de produção - que levar as 12, 13, 14 pessoas a gravar aqueles dias e trazê-los... compensava mais ficar lá. 

João - Tivemos ainda o apoio da Câmara de Anadia e outras entidades locais que nos ajudaram com as estadias e com a alimentação.

Pedro - E, claro que a nossa experiência é só esta, mas acabou por correr muito bem, porque come-se muito bem, as pessoas descansam, não têm de andar a viajar. Se fosse aqui quando acabassem de gravar iam ter de ir para casa de carro, no outro dia estavam cansados. Ali estavam, no máximo, a 10 minutos de carro dos decors. Foi um nível de conforto que achámos que não se aplica a todas as rodagens, mas que connosco resultou.

Que personagens vamos ter no filme?

João - No grosso, Bruno Aleixo, Renato Alexandre, Homem do Bussaco e Busto. As outras personagens laterais vão aparecendo menos, mas vão aparecendo, em chamadas de telefone, por exemplo.

São esses quatro e ele [Bruno Aleixo] chama esses três amigos sem eles saberem ao que vão, basicamente, porque ele tem uma ideia para propor à produção. O Bruno Aleixo tem de arranjar uma ideia para um filme e deixa tudo para o último dia, então vai pedir aos amigos que não sabem porque é que ali estão para terem ideias à pressa. Por isso é que as ideias saem todas mal. Elas saíram mal de qualquer maneira, como ele próprio diz ao Renato “nem três anos”.

É uma salganhada.

Pedro - Ainda há a questão de lhe terem pedido um filme biográfico sobre a vida dele e à partida não quer falar muito sobre a sua própria vida, portanto logo aí, há um entrave. Quando virem o filme vão perceber que todos os episódios começam com situações das vidas deles mas são episódios completamente corriqueiros, que não dizem nada sobre a vida. Têm pequenas pinceladas das vidas, mas depois a ação é sobre outra coisa qualquer completamente ficcionada.

O filme conta com “vários atores famosos” - Adriano Luz , Rogério Samora, José Neto, José Raposo, João Lagarto, Manuel Mozos, Fernando Alvim e Gonçalo Waddington - como é que se consegue esta panóplia de participações para um “filme pobre”?

João - Neste caso o mérito vai todo para a nossa produtora, 'Som e Fúria', e para o nosso produtor, Luís Urbano, que já tinha trabalhado com eles em filmes a sério.

Pedro - Mas calma, o mérito inicial é nosso. Porque escolhemos atores que queríamos e que sabíamos que o Luís conseguiria chegar, facilitámos-lhe o caminho. Mas, a partir daí, o mérito é dele porque conseguiu convencê-los - uns já conheciam, outros conheciam vagamente, outros não.

João - O que viram foi o guião e eventualmente o guião deve ter soado uma coisa estranha. Por isso se o Luís Urbano os conseguiu convencer com aquele guião…

Pedro - E estavam de boa vontade! [risos]

Porque é que acham que o Bruno Aleixo se tornou um fenómeno no Brasil?

João - Bom, salas confirmadas são tantas em Portugal como no Brasil. Mas porque o Brasil também é maior, tem 20 vezes mais pessoas.

Pedro - Entretanto, acho que já percebemos qual foi o paciente zero, quem é que pôs a primeira lança. Agora porque é que a primeira lança se disseminou... E convém dizer que lá também é um culto, mas o Brasil é gigante e qualquer nicho lá tem uma massa considerável de pessoas. 

Como é que foi?

Pedro - Foi com um pequeno segmento da primeira temporada que alguém meteu na internet. Os vídeos no YouTube tinham 10 minutos, portanto o programa era partido e na parte final o Busto e o Aleixo estavam a jogar a Street Fight e a seguir a cantar Scatman John ao piano - que são duas coisas bem globais. Alguém meteu esse vídeo num fórum de jogos da Capcom, bastante frequentado, e estavam lá uns brasileiros que começaram a perceber que aquilo estava em português.

A partir daí, tentaram descobrir, houve um que até legendou aquilo e na mesma altura estávamos a fazer o ‘Aleixo na Escola’, que era outro produto disponível e que remete para um Portugal bastante específico que faz parte do imaginário que eles têm de Portugal, da terrinha, que usam nas anedotas, do português que lá ia nos anos 50. E foi aí que percebemos que havia brasileiros a ver.

João - Tinham aquela coisa da ‘Escolinha do Professor Raimundo’, que aliás continua, muda-se de canal e continuam a passar umas versões mais recentes.

Pedro - E o Bruno Aleixo sempre teve aquela personalidade muito específica, muito carismática desde garoto, a dar a volta a toda a gente de formas bastante estranhas e pegou. Não sabemos porquê, até porque o sotaque é difícil, o nosso já é difícil normal, o dos bonecos então ainda é mais, o sotaque bairradino do João exagerado para fazer o Aleixo acho que é lixado, mas eles fazem o esforço.

Nós sabíamos que algumas piadas se iriam perder. Não escrevemos o filme para ser mostrado no BrasilNo Brasil, o filme teve de ser legendado.

Pedro - Sim, tanto pelos sotaques como pelas expressões. Eles não têm a convivência diária com o português de Portugal como nós.

João - Na diferença entre um galão e uma meia de leite, por exemplo. Eles não sabem o que são. Tivemos de mudar o nome… e não é bem a mesma coisa. Eles têm aquilo a que chamam uma média, que é parecida com uma meia de leite, mas depois o galão que cá é num copo grande, eles só têm uma coisa parecida que é num copo pequeno que é uma espécie de um pingado.

Não tiveram receio de que as piadas se perdessem na tradução?

Pedro - Nós sabíamos que algumas se iriam perder. Não escrevemos o filme para ser mostrado no Brasil. Por exemplo, a piada de serem aqueles atores percebe-se cá, lá percebe-se que são famosos mas eles não sabem quem são. Mas riam de outras coisas. Há expressões portuguesas que para nós são comuns e que nem sequer estão ali com esse intuito e eles riem porque é português e a palavra é estranha e é um boneco. Os brasileiros estavam a rir muito de coisas muito iniciais, quando ainda estávamos a estabelecer a premissa, praticamente.

João - Quando fizemos o nosso visionamento com os atores, havia pelo menos dois que não conheciam - o Adriano Luz e o José Neto - e eles estavam a rir-se muito das falas do Homem do Bussaco não corresponder à legenda, que é uma das primeiras coisas que se repara, o Bussaco é aquilo. E eles riam-se muito, mas sempre. Nós já não nos rimos daquilo! [risos]

Como é que surgiu a oportunidade de o filme passar na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Brasil? Como foi a receção?

João - A Mostra de Cinema de São Paulo é internacional e à partida está aberta a vários projetos, mas a nossa produtora teve lá vários filmes, algumas colaborações, mas já é normal estarem lá e sei que há pelo menos uma pessoa dentro do festival que são fãs e que confiaram por saber que tinha o selo do Luís Urbano. Se calhar se lhes perguntassem se queriam o filme do Bruno Aleixo mas não conhecessem a produtora, fossem mais apreensivos e mesmo assim. Neste caso houve logo interesse.

Como foi a reação lá?

Pedro - Foi boa. Tinha muitos fãs, pessoas que já conheciam e também pessoas que não conheciam e que gostaram. As pessoas riram-se. Houve críticas que apontaram algumas falhas ao filme, mas isso é normal, foram críticas mais cinéfilas de pessoas que nem conheciam, mas que dão de barato que se riram.

João - Mesmo quem ficou chocado com o filme não ser um filme a sério, porque a Mostra é um festival sério, notámos que houve alguma crítica que estranhou mas a maior parte foram boas. Especialmente no Rio de Janeiro. E dentro da sala em São Paulo vimos as pessoas a rir-se nas salas. 

Pedro - Contaram-nos, inclusivamente, que houve portugueses que viram em São Paulo e que agradeceram o facto de o filme estar legendado porque as pessoas estavam a rir e não conseguiam ouvir as falas.

É uma experiência diferente. Independentemente de o filme ter qualidade ou não, a experiência em si é diferente de estar a ver em casa no telemóvelO Bruno Aleixo apareceu pela primeira vez em 2008. Como foi o caminho até agora?

Pedro - Lembro-me que na fase inicial havia um deslumbre, que agora já não existe. Agora fazemos uma coisa que tem história, que tem uma base de fãs, que nós sabemos que tem, grande ou pequena, sabemos que tem. No início não sabíamos nada, podia ser um flop, e quando se percebeu o que queremos e o que estamos a fazer isso começou a tocar as pessoas. Aquilo correu logo muito bem, o culto foi assérrimo logo ao início.  

João - Terá durando ali desde o final de 2008, 2009, início de 2010, que foi quando estivemos na rádio e depois foi a descer. Mas nós parámos também, estivemos dois anos parados, a internet mudou também, começou a haver mais oferta. Ainda chegámos a fazer uma segunda temporada, mas já não teve tanto impacto porque já era a segunda e as coisas tinham mudado.

Pedro - E depois como isto nunca foi pensado a longo prazo, nem cirurgicamente, não temos um site onde estejam as coisas todas, estão espalhadas, é difícil às vezes para algumas pessoas perceber a cronologia,. Há pessoas que nem sabem que estamos na rádio e estamos na rádio há 3 anos, simplesmente porque não ouvem rádio. Os próprios algoritmos para comunicar nas redes sociais mudaram, agora no Facebook  paga-se para se conseguir chegar às pessoas.

Nós chegámos a ter um perfil para cada personagem - no Hi5 - porque queríamos que aquelas personagens tivessem uma vivência- Lembro-me de que ao início com menos fãs, com cerca de 5 mil amigos, acho que era o máximo, chegávamos a muito mais gente do que hoje com publicações para 200 mil fãs, porque o algoritmo mudou, porque a forma de comunicar também. Acho que o deslumbre inicial foi mais marcante apesar de tudo.

Se bem que agora fazer um filme também é uma etapa diferente.

Porque é que as pessoas têm de ir ver este filme ao cinema?

João - Porque é um filme bom. É uma experiência diferente. Independentemente de o filme ter qualidade ou não, a experiência em si é diferente - no grande ecrã, com muitas pessoas - de estar a ver em casa no telemóvel. Tem um impacto diferente e não estraga. Não é a mesma coisa.

Pedro - Sim, é uma experiência mais coletiva do que individual.

João - É como ver a bola sozinho ou ir à bola com os amigos.

Pedro - Eu prefiro ver sozinho em casa, porque as pessoas no café não percebem nada de futebol e eu fico enervado [risos]. Mas neste caso, acho que funciona mesmo em sala. Aquilo foi filmado para passar em sala, apesar de a nossa animação primar um bocadinho pelo tosco.

João - As partes que digo de homenagem ao cinema, são todas partes que foram pensadas para grande ecrã e acho que ganha muito com isso. Até porque as questões de cinematografia e de design de som estão pensadas para isso e acho que resulta bem em grande.

Pedro - Às vezes acontece perguntarem o que é que eu mostraria a pessoas que não conhecem ou que não gostam tanto para a pessoa ficar conquistada. Não temos que garanta resultados certos mas por exemplo na internet diria que talvez a ‘Aleixo na Escola’ que funciona muito, porque tem um universo que é apelativo a muita gente e acho que o filme terá o mesmo efeito, é uma excelente mostra do que é o Bruno Aleixo. Porque não me esqueço que isto é muito de culto ainda, não teve no canal 1, nem na SIC, esteve nos canais de cabo e mesmo na rádio está na Antena3, que é a alternativa pop, não é a Comercial, nem a RFM.

A estrutura do filme lembra quando às vezes estamos no café e começamos a ouvir a mesa do ladoMas qual é o elemento fundamental para as pessoas irem ver?

João - Porque é uma salganhada mental. 

Pedro - Acho que o filme é muito esquizofrénico. Mas nós achamos que é num bom sentido, estou a usar a expressão metaforicamente, e acho que tem uma linguagem que sendo assim tem depois um caráter terreno onde essa dualidade funciona bem. Mas estamos a ser juízes em causa própria. É uma série de coisas que faz com que o filme funcione melhor como experiência coletiva.

João - A estrutura do filme lembra quando às vezes estamos no café e começamos a ouvir a mesa do lado. Até podem estar a dizer porcarias, mas de vez em quando estão a ter uma conversa estranha e deixamo-nos estar a ouvir um bocadinho. Dá essa sensação quase voyeurista de estarmos a ouvir uma conversa de pessoas que podíamos encontrar no café no sábado à tarde.

Já tem merchandising com as personagens e para o Dia dos Namorados, mas é edição limitada. Não ponderaram lançar umas meias temáticas para o filme?

Pedro - Nós não ponderamos grande coisa, lá está, como sempre. Porque isto foi uma coisa um pouco em cima da hora, um amigo nosso propôs-nos fazer isto, nós nem sabíamos que havia um mercado para meias, na verdade.

João - Foi um teste que correu bem no Natal. Não foi pensado para o filme. Calhou de ser mais ou menos na mesma altura e aproveitámos o hype. As meias do Dia dos Namorados já esgotaram e pode ser que se faça uma segunda edição. 

A questão da edição limitada tem a ver com as encomendas que são feitas e a empresa que as vende tem de fazer determinada encomenda e quiseram ter cuidado para não sobrarem. Além disso, as meias das personagens já funcionaram um pouco como para o filme, porque são das personagens, têm frases icónicas e saíram mais ou menos ao mesmo tempo também.

A Aleixopédia que foi dedicada ao cinema ajudou para este filme?

João - Não diretamente. Mas a Aleixopedia reflete o conhecimento superficial que eles têm do cinema. Para eles fazer um programa sobre cinema é falar do ator que faz anos nesse dia, portanto. Têm aquele conhecimento standard de alguém que nem se deu ao trabalho de ir pesquisar qualquer coisa.

Pedro - Mesmo que a premissa seja séria, a coisa descamba, descamba sempre.

João - Portanto neste caso, sim. Reflete-se o mesmo desconhecimento tanto no filme como na Aleixopédia.

É um filme para ver com ou sem pipocas?

João - Eu diria que sem, porque se já é difícil ouvir as falas e ainda por cima com sotaques cerrados, se houver pessoas a mastigar ainda menos.

Pedro - Nos filmes portugueses não dá, porque precisamos de ouvir a fala. Não é como os ‘Transformers’, em que há barulho.

Imaginam o filme a passar num domingo à tarde na TV generalista?

João - Se for à tarde na altura do Natal. É aí que passam os melhores filmes, porque é quando há mais pessoas a ver. Mas o filme é para maiores de 14, por isso também não poderia passar à tarde, mas a seguir ao Telejornal ainda dá uma novela e depois a seguir à novela podia passar.

A seguir que nova plataforma se avizinha para Bruno Aleixo?

Pedro - Ainda ontem estivemos a ver isso.

João - O que é que nos falta? Banda desenhada, bailado, música, performance, jogo de computador, de tabuleiro. É plausível, banda desenhada por exemplo é bastante plausível, é fazível. É a vantagem de serem bonecos.

Depois de verem o filme... qual é a probabilidade de os espectadores dizerem: "Calhou cocó"?

Pedro - Seja ironicamente ou sério, acho que a probabilidade é muito alta.

João - Nós já lançámos as meias para nos precaver [risos].

Veja aqui o trailer:

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