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"É o momento certo para o 2.º filme. O Nicolau vai estar sempre connosco"

A dupla João Paulo Rodrigues (Quim Roscas) e Pedro Alves (Zeca Estacionâncio) já anda na estrada há 20 anos. Um marco na carreira que vai ser assinalado com espetáculos e a chegada de um novo filme.

"É o momento certo para o 2.º filme. O Nicolau vai estar sempre connosco"
Notícias ao Minuto

03/02/20 por Marina Gonçalves

Fama João Paulo Rodrigues e Pedro Alves

Após o convite de Rui Xará, João Paulo Rodrigues iniciou-se no stand-up comedy num bar na cidade do Porto, local onde conheceu mais tarde Pedro Alves, que é hoje em dia o seu companheiro na vida profissional ligada ao humor.

Numa noite, Pedro assistiu à prestação de João e meteu-se com o agora colega e amigo. “Ele estava a contar o final das minhas anedotas”, recorda o intérprete da personagem Quim Roscas. E esse foi o início da história de uma dupla de sucesso que continua a encher salas.

Este ano de 2020 será marcado pela presença nos palcos, mas também por uma novidade: vai chegar o segundo filme dos comediantes - sete anos após o lançamento de '7 Pecados Rurais'. Informação que partilharam durante a entrevista ao Notícias ao Minuto.

Uma conversa em que o bom humor, simpatia e a boa disposição da dupla estiveram em destaque. 

Quais foram as primeiras impressões que tiveram um do outro quando se conheceram?

João Paulo Rodrigues (JPR): Que ele era um parolo [risos], porque já tinha bebido uns canecos e estava a contar o final das minhas anedotas.

Pedro Alves (PA): E a primeira impressão que tive dele foi: "tanto talento... tão mal aproveitado. Vamos lá tratar disso" [risos].

JPR: Depois daquela noite em que nos conhecemos, começámos a estar juntos na Rádio Nova Era. Comecei a ir lá uma ou duas vezes por semana fazer as manhãs - o Pedro na altura tinha um programa na rádio e já tinha criado a personagem do Zeca Estacionâncio, já com bastante sucesso. Depois quando comecei a fazer rádio com ele, ele dizia que eu era o primo dele, o Quim Roscas, e ficou. Entretanto, recebi o convite de um tipo que estava a abrir um bar e que me perguntou se podia fazer lá uma noite de comédia. Falei com o Pedro a perguntar se ele podia dar-me uma ajuda - e foi a primeira vez que nos juntámos para fazer um espetáculo

O que recordam do início desta amizade?

JPR: Recordo muitas horas na estrada, eu e ele. Recordo-me de, passado cerca de um ano de andarmos na estrada, ele me dizer que ia fazer isto mais dois, três anitos e que depois ia abrir o seu negócio. E já lá vão 20 anos…

PA: E abri o meu negócio, só que continuo nesta vida também.

Já não consegue largar o João Paulo?

PA: Já é terapêutico. Estarmos juntos já não é aquela coisa de “tenho de ir trabalhar, tenho de ir ter com ele”, não… É fixe.

O ‘Telerural foi um dos vossos êxitos. O que ditou na altura o fim do programa?

JPR: Acho que foi uma decisão de fazermos uma coisa diferente. Na altura, o José Fragoso - que agora é outra vez o diretor da RTP -, depois do sucesso do ‘Telerural’ (fizemos quatro temporadas), propôs-nos subir um nível e nós fizemos isso. Fizemos depois o ‘Portugal Tal & Qual’, que foi um programa de igual sucesso mas não se fala tanto porque o ‘Telerural’ foi uma coisa mais mítica.

PA: O ‘Portugal Tal & Qual’ é um programa que as pessoas têm consumido ao longo destes anos todos, mesmo nos dias de hoje. Foi dos trabalhos em televisão que mais gozo me deu fazer. Foi muito bom. Mas depois, na altura, também apareceram outros formatos mais fortes na televisão e acabámos.

Na altura assinámos para três [filmes], portanto, ainda temos de fazer mais dois. Agora estamos a sentir que é o momento certo para fazermos o segundoMas nunca ponderaram fazer mais episódios, tanto do ‘Telerural’ como do ‘Portugal Tal & Qual’?

PA: Não. Tivemos, entretanto, um que eu fiz há pouco tempo na RTP, que também foi pensada por nós, o ‘Desliga a TV’. Só que como o Jota [João Paulo Rodrigues] não podia - porque estava na SIC, e a RTP é que ficou com aquilo -, fui eu fazer com outros atores. Mas se virem bem o formato, o ADN é sempre o mesmo. Os nossos guionistas são os mesmos há 17 anos. Nunca mais pusemos em cima da mesa voltarmos a fazer o universo 'Curral de Moinas' para televisão, porque acho que aquele formato foi na altura certa e a nossa disposição hoje em dia para fazermos algo do género, se calhar, não iria ser tão grande.

Acham que se fosse lançado agora não teriam o mesmo sucesso?

PA: Tínhamos! Disso não tenho a mínima dúvida. Só que agora, se calhar, já somos menos pacientes em certas coisas para fazermos e termos o gozo que tivemos na altura a fazer o ‘Telerural’. Mas o formato vai continuar no cinema.

JPR: E acho que é o que faz mais sentido. Nós já fizemos um filme ['7 Pecados Rurais'] e temos mais dois para fazer.

PA: Na altura assinámos para três, portanto, ainda temos de fazer mais dois. Agora estamos a sentir que é o momento certo para fazermos o segundo. Por isso aproveitámos o facto de a partir de fevereiro começarem as nossas festividades dos 20 anos de carreira, vamos meter também aí o filme.

Então ainda vão fazer? E isso é uma novidade para este ano?

PA: Sim, ainda vamos fazer, já está tudo preparado. É uma novidade para este ano. Tanto eu como ele vamos arranjar férias das nossas outras vidas para podermos estar focados e a curtir a cena de fazer o filme, que é isso que nós queremos. Acima de tudo, aproveitarmos ao máximo aquilo que estamos a fazer, que é disso que gostamos. Mesmo ao fim de semana, quando subimos ao palco, é exatamente a mesma coisa. Com o filme queremos fazer assim, até porque já temos saudades.

Notícias ao Minuto Nicolau Breyner© Global Imagens

O que recordam do primeiro filme? Quais foram os melhores momentos?

PA e JPR: Não dormir!

E como descrevem a aventura?

JPR: Na altura estava a fazer três programas de televisão, tínhamos espetáculos todos os fins de semana e estávamos a gravar o filme. Houve um dia em que terminámos um dia de gravações às 21h30, em Lisboa, fomos fazer um espetáculo a Ponte de Lima às 00h00 e voltámos para Lisboa para no dia seguinte voltarmos a gravar. Dormimos no estúdio. Arranjaram-nos lá uns colchões para dormirmos e no dia seguinte, às 7h00, já estávamos a gravar outra vez.

PA: A conclusão a que chegamos é que foi muito divertido, gostámos muito, mas queremos saborear muito mais. Não termos estas maluqueiras. Da outra vez esta experiência passou a correr, nós nem tivemos tempo para ver a edição do filme. Vimos o filme a primeira vez na antestreia. Este ano queremos fazer parte dos processos todos do filme, como estamos a fazer, para desfrutarmos mais do momento.

O Nicolau [Breyner] vai fazer sempre parte da história da televisão, da comédia, do teatro… Ele desbravou muito caminho. (...) E vai estar sempre ligado a este fenómeno que foi o 'Curral de Moinas'O primeiro filme foi realizado pelo Nicolau Breyner... Qual foi o contributo de Nicolau para o cinema português?

JPR: O Nicolau vai fazer sempre parte da história da televisão, da comédia, do teatro… Ele desbravou muito caminho. Em cinema, o nosso filme foi o terceiro que ele realizou. Ele era um mestre, estávamos ali todos num processo muito fixe porque nos ouvia. Tinha a ideia dele, mas como nós criámos o universo 'Curral de Moinas', ele tinha a preocupação de nos perguntar o que achávamos. Vai estar sempre ligado a este fenómeno que foi o 'Curral de Moinas' porque, neste momento, é o terceiro filme português mais visto de sempre.

PA: Fazer o filme foi um team building para todos. A partir dos primeiros cinco minutos que estivemos com ele, ficámos logo a perceber que ia ser fixe. O Nico é único. Não estou a falar só no aspeto profissional, estou a falar de tudo, ele era único. Era uma pessoa que me fazia rir, que conseguia estar numa realidade completamente paralela quando estava toda a gente focada numa coisa. Tinha piada em tudo o que fazia. Ele andou a até ao meio da rodagem do filme a trocar-nos os nomes das personagens.

JPR: E depois fazíamos as cenas e dizíamos que conseguíamos fazer melhor, mas ele dizia sempre que estava bom. Explicava que comédia é um plano aberto e que o drama é um plano fechado.

PA: Ele dizia que fazer aquilo mais do que duas vezes era para começar a estragar, e nós partilhamos dessa opinião.

E quem vai realizar este próximo filme?

JPR: Será o Miguel Cadilhe, da Filbox. Era uma vontade que eu e o Pedro tínhamos porque ele foi o produtor/realizador do ‘Telerural’. É uma pessoa que conhece ao pormenor o universo 'Curral de Moinas', as personagens todas.

PA: Faz parte do ADN!

JPR: E este filme vai ser dedicado ao Nicolau porque quando ele nos deixou, a Mafalda, a mulher dele, disse-nos que tínhamos de fazer o segundo filme por ele. E o Nico vai estar sempre connosco a fazer o filme.

Com a chegada da Internet/YouTube, acham que é mais fácil ou mais difícil manterem-se nesta área?

PA: Provavelmente, nisto da comédia, devemos ter sido dos primeiros a perceber o sucesso que tínhamos através do YouTube. Quando começámos com o ‘Telerural’, na ‘Praça da Alegria’, há cerca de 17 anos, não tínhamos noção de que o público mais jovem gostava de nos ver porque o programa da manhã tem outra faixa etária. Mas havia pessoas que gravavam e publicavam aquilo no YouTube. Tínhamos visualizações do episódio da manhã no YouTube que era uma coisa fora do normal. Por isso chegávamos à conclusão de que eram as pessoas mais jovens que como não podiam ver de manhã, iam depois ver ao YouTube.

Foram tantas as coisas que nos aconteceram e tivemos sempre, se calhar, algo especial a tomar conta de nós, não sei…Mas sentiram-se na obrigação de apostar no YouTube?

PA: Não, porque continua a acontecer o mesmo. Há pessoas que gravam os espetáculos e continuam a publicar no YouTube. Mas criámos o canal de YouTube há pouco tempo para nos adaptarmos às novas plataformas, e aderimos às redes sociais para partilharmos a nossa agenda. É mesmo para fazermos chegar informação, não é para fazermos chegar os espetáculos nem piadas. O resto vamos continuar a fazer como até aqui.

Notícias ao Minuto Dupla Zeca Estacionâncio e Quim Roscas© Global Imagens

Já com vários anos de carreira, com muitas experiências e muitos quilómetros de estrada, acredito que haja um pouco de todo o tipo de momentos para recordar. Qual foi o mais inusitado?

PA: Acho que as cenas caricatas que tínhamos era discutirmos de propósito, eu provocá-lo para não termos sono. Foi uma loucura. Há uns anos fazíamos viagens Porto-Lisboa de carro, de um lado para o outro… Agora estamos muito mais controlados. Passámos por cima de tudo e nunca tivemos um stress. Foram tantas as coisas que nos aconteceram e tivemos sempre, se calhar, algo especial a tomar conta de nós, não sei…

O que mais gostam no trabalho um do outro?

JPR: O nosso trabalho já se mistura um bocadinho. Ele é sempre muito seguro e confiante daquilo que estamos a fazer. Sempre foi o irmão mais velho, aquele que me dava conselhos… É uma pessoa que não tem medo de ir à luta e trabalhar nas situações mais complicadas. Há coisas que eu começo logo a achar que não vamos conseguir fazer e ele diz sempre para eu ter calma e que vamos conseguir fazer. E depois, normalmente, corre bem.

PA: Acho que o Jota tem uma característica que é a resiliência. Quando mete uma coisa na cabeça, [vai até ao fim]. Obviamente que para conseguir fazer as coisas dessa forma tem de ter uma série de características que alavancam isso tudo, que é o talento que ele tem, passou a ser muito mais seguro… Eu nunca mais me esqueço de quando ele recebeu o convite para participar na ‘A Tua Cara Não Me É Estranha’. Nós estávamos os dois juntos no carro e quando ele desliga a chamada perguntei-lhe logo qual é que era a preocupação dele. Disse-lhe que ia ganhar porque ele tinha uma coisa que poucas pessoas sabiam na altura, que era o facto de cantar muito bem. E depois tinha também a parte do entretenimento. E foi verdade! Eu vinha de propósito aos programas para vê-lo e apoiá-lo.

JPR: Estava eu a caracterizar-me para as personagens e recebia uma mensagem dele e do nosso grupo de amigos que estavam todos dentro de um carro com uma travessa de percebes, sangria… Era uma festa!

Se a dupla não resultasse, tinham um plano B?

JPR: Tinha, era ser advogado. Mas, graças a Deus, nunca aconteceu.

PA: A minha paixão foi sempre desporto automóvel, carros. A minha formação está ligada a esta área. A rádio na altura, aos 16 anos, meteu-se no meu caminho e eu agarrei aquilo, também foi uma paixão que adquiri e que não sabia que tinha. Depois, com todos estes trabalhos, esta paixão ficou sempre um bocadinho em ‘águas de bacalhau’, mas cheguei a uma altura em que quis apostar nisto e faz este ano dez anos que criei a empresa, a MonsTTer.

Temos estas coisas paralelas à dupla que não estragam a dupla, pelo contrário, até acabam por trazer mais pessoas Alguma vez ponderaram lançarem-se a solo?

JPR: Não! Há um compromisso de cavalheiros que eu e ele sempre assumimos e orgulho-me de dizer que sempre honrámos esse compromisso. Quando chegavam alturas em que éramos convidados para fazer coisas [separadamente], nós falávamos sempre um com o outro. Em comédia estamos sempre juntos e não gosto de fazer isso sem o Pedro. Agora, há coisas que faço sozinho e que quero continuar a fazer sozinho, como a minha parte musical. Nunca me perdoaria se não fizesse. Mas isso são outras novidades. O Pedro tem as coisas dele, o seu negócio, uma empresa de referência. Temos estas coisas paralelas à dupla que não estragam a dupla, pelo contrário, até acabam por trazer mais pessoas.

Como já foi referido, além deste projeto a dois têm outros trabalhos, mas mesmo nessas áreas distintas acabam, por vezes, por se juntar. Lembro-me, por exemplo, do programa ‘Queridas Manhãs’ que o João Paulo Rodrigues apresentava ao lado de Júlia Pinheiro, em que o Pedro tinha uma presença mais humorística… Vocês fazem questão de tentar sempre conciliar uma atividade juntos?

PA: Não é fazermos questão, as pessoas é que sabem que a dupla resulta. E obviamente que nós não nos importamos. Mas nunca fizemos questão de estarmos juntos nas coisas. As coisas têm acontecido na nossa vida profissional, nós nunca temos feito nada para que isso aconteça, ou seja, não exigimos  “se ele for, eu também tenho de ir”. Quando nos perguntam qual é a chave do nosso sucesso… não fazemos ideia. 

Andamos já a cozinhar estas coisas para os 20 anos [de carreira] e este ano vai ser brutal. Vamos fazer questão de que toda a gente que nos acompanha há 20 anos se sinta envolvida nistoO João Paulo Rodrigues acaba por estar mais no centro das atenções por estar mais ‘exposto’ na TV, uma vez que também faz trabalhos como ator e apresentador. Isso acaba por 'atropelar' a dupla no final dos espetáculos?

PA: Não, eu sou o primeiro a gozá-lo por ele fazer novelas [risos]. Hoje em dia os nossos espetáculos são 70% de improviso, falar de coisas que nos aconteceram durante a semana…

Não seguem nenhum guião...

PA: Não, nunca seguimos, nem nunca vamos seguir.

Que balanço fazem de 2019?

PA: Foi um ano de muito trabalho para os dois em todas as áreas. Um ano bom de trabalho, mil à hora, mas tive três ou quatro contratempos chatos, que se resolveram. Foi um ano agridoce, apesar de eu ser sempre uma pessoa muito positiva. Os anos ímpares acho que são assim um bocado esquisitos. Agora, andamos já a cozinhar estas coisas para os 20 anos e este ano vai ser brutal. Vamos fazer questão de que toda a gente que nos acompanha há 20 anos se sinta envolvida nisto.

E quais são os planos para 2020?

PA: As celebrações dos nossos 20 anos, o novo filme, que já nos vai dar uma trabalheira… A nível de televisão, não sei se a nova série do ‘Desliga a TV’ se vai fazer ou não, eu gostava muito… Acho que me espera um ano muito fixe. Eu quero, e o Jota também, que, cada vez mais, os anos sejam de muito trabalho mas também queremos começar a colher o que temos semeado ao longo destes anos. Eu já começo a fazer uma coisa que não fazia antigamente que é, por exemplo, antes quando íamos fazer um espetáculo aos Açores, íamos num dia e vínhamos no outro. Agora temos a agenda mais controlada e assim consigo usufruir das amizades que tenho construído ao longo destes anos e passar mais tempo com as pessoas, ir com tempo. Poder levar a minha mulher e os meus filhos e apresentar-lhes esses amigos… Porque eu quero chegar aos 50 e se me apetecer ir dar uma volta de mota durante um mês pela a Europa, vou. Quero ter essa capacidade. É esse o meu projeto de vida.

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