"O 'Klaus' parece que está num crescendo de favoritismo para o Óscar"
Edgar Martins, supervisor de storyboard, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto. Trabalhou juntamente com o seu irmão Sérgio Martins em 'Klaus', que está nomeado para o Óscar na categoria de Melhor Filme de Animação.
© Edgar Martins/Facebook
Cultura Edgar Martins
Portugal voltou a não ter um filme entre os nomeados para os Óscares, mas mais uma vez vai estar representado na cerimónia que vai decorrer na madrugada desta segunda-feira (começa às 1h00 de Portugal Continental). 'Klaus', filme que se encontra entre os cinco nomeados na categoria de Melhor Filme de Animação, contou com a colaboração de dois portugueses, os irmãos gémeos Edgar e Sérgio Martins.
Edgar Martins trabalhou no filme como supervisor no departamento de storyboard e Sérgio Martins foi o supervisor de animação deste filme, uma produção Netflix concebido nos SPA Studios, em Madrid.
Na antecipação aos Óscares, o Notícias ao Minuto falou com Edgar Martins sobre este percurso profissional feito ao lado do irmão Sérgio e sobre 'Klaus'.
O supervisor de storyboard falou da química no trabalho com Sérgio, a reação ao fazer parte de uma produção de animação grande dimensão e sobre o impacto do filme. "Honestamente, não estava à espera de tanto sucesso", admitiu.
A expetativa para os Óscares é grande, até porque o filme tem sido premiado (ganhou o BAFTA de Melhor Filme de Animação e foi o grande vencedor nos Annie, considerados os 'Óscares' do cinema de animação). "Até tem um pouco mais de piada esperar para ver o que vai acontecer, porque desde que o ‘Klaus’ estreou em outubro e até agora parece que está num crescendo de favoritismo", frisou.
Como tem sido habitual, pode acompanhar a 92.ª edição dos Óscares no Notícias ao Minuto.
Qual foi o momento em que percebeu que queria trabalhar em animação?
Quando se fala em carreira é sempre inevitável falar pelos dois porque foi um processo muito ligado. Aliás, é possível que durante a entrevista fale sempre muito no plural porque é um hábito de cada vez que se fala em animação, visto que estamos muito ligados. Já temos a ideia de fazer parte da animação e de tentar ser animadores desde muito pequeninos, desde mais ou menos os oito anos de idade. Sem ter uma ideia total de como é que isto era feito. Era a magia, queríamos tentar descobrir qual é que era o processo por trás dos filmes da Disney. Na altura, nos anos 90, eram os filmes da Disney que nos maravilhavam. Houve um dia em que alguém nos explicou que quem fazia aquilo eram pessoas. Isso foi um click e a partir daí sempre apostámos na animação.
Gostávamos de desenhar desde sempre, por isso foi muito natural querer fazer parte do mundo da animação. E foi continuar sem parar, sempre a querer aprender, a apostar no desenvolvimento pessoal e artístico, e chegámos até ao Óscar esta semana [risos]. Não é que seja totalmente nosso, é o trabalho de uma equipa gigante. Mas fazemos parte da equipa e isso é ótimo.
Como é trabalhar com o seu irmão gémeo? Era algo que tivessem imaginado?
Imaginávamos trabalhar juntos, mas sendo um bocado realistas de que seria possível um dia não podermos trabalhar no mesmo projeto ao mesmo tempo. É provável que isso aconteça um dia. Mas vamos tentar continuar a trabalhar juntos porque damo-nos muito bem e complementamo-nos. Uma equipa, qualquer estúdio quando começa a conhecer-nos percebe que clickamos muito bem. Além disso, trabalhamos em áreas diferentes. O departamento do Sérgio é o de animação e o meu é o de estória, e acho que isso enriquece imediatamente a produção porque estamos habituados a lidar um com o outro desde sempre e a falar a mesma linguagem. Um de nós diz meia frase e o outro já sabe o que significa e para qualquer estúdio, à partida, isso é enriquecedor para a dinâmica da equipa. Por isso, esperamos continuar a trabalhar juntos.
O papel que cada um ia ter foi definido de forma natural, nunca pensámos muito nisso. Quando pegávamos em projetos mais pequenos em Portugal, com equipas muito mais pequenas, aliás, por vezes éramos só os dois, naturalmente começávamos a definir o que cada um fazia. ‘Olha, eu faço esta parte e tu fazes aquela’. Fomos percebendo em que áreas estávamos mais à vontade e agora já sabemos o papel que cada um gosta de ter num filme, e o ‘Klaus’ foi quase o culminar das experiências todas que tivemos até agora.
O talento está em Portugal, a aposta financeira é que ainda não está no nível certo para se fazerem grandes produçõesA indústria da animação em Portugal é quase inexistente ou muito pequena, pelo menos. Como é que vocês reagiram quando receberam o convite para trabalhar no SPA Studios?
Essa é uma história engraçada porque estávamos a trabalhar nesse dia no meu apartamento. O meu irmão recebeu um e-mail do Sergio Pablos, o realizador do ‘Klaus’. O meu irmão sempre foi um grande fã dele. Digamos que haveria talvez três animadores que eram os heróis do meu irmão nos anos 90 - e os meus também pela cultura da animação - e um deles era o Sergio Pablos. Ele enviou um e-mail a propor-nos uma visita aos SPA Studios e falarmos da hipótese de trabalharmos no filme ‘Klaus’ como supervisores. Para nós isso parecia totalmente descabido porque ele não tinha nada nosso. Nunca enviámos nada para os SPA Studios. Ele não conhecia o nosso passado ou processo. Ele apenas viu uma curta-metragem em que trabalhámos e a partir daquela curta achou que tínhamos potencial e apostou em nós assim um pouco às cegas. Ele lá sabe o que é que viu, e à partida resultou.
Então nesse dia parámos tudo o que estávamos a fazer e fomos almoçar para festejar o facto de termos recebido aquele e-mail. Aliás, acho que antes de responder ao e-mail já estávamos a almoçar porque foi um ponto alto em termos de carreira, haver reconhecimento sem o termos procurado, sem termos batido à porta. Foi fantástico, foi ótimo.
Era um grande objetivo trabalhar num estúdio destes? Como foi encarar uma realidade que suponho ser diferente de tudo o que tinham conhecido até essa altura?
Absolutamente diferente. Foi brutal perceber que numa produção grande chegaram a trabalhar 300 pessoas, embora talvez a média geral durante os três anos tenha sido de 150 pessoas. Perceber que há equipas para coordenar equipas e pessoas. 33% da equipa são organizadores, só para se compreender que o trabalho passa de departamento para departamento. Isso é uma realidade que não existe em Portugal de todo. Foi a primeira experiência que tivemos e aprendemos imenso. Foi quase um super curso intensivo.
Em Portugal existe muito talento, sem dúvida, e se esse talento fosse levado ao seu limite se calhar seriam descobertos ainda mais valores portugueses ao nível da animação, mas ainda não existe uma aposta económica. Falta financiamento. Talvez se devesse apostar mais no lado comercial para gerar indústria, e a partir dessa indústria talvez se pudessem espalhar as possibilidades para os artistas portugueses. Isto era uma conversa que dava para um par de horas. O talento está cá, a aposta financeira é que ainda não está no nível certo para se fazerem grandes produções.
Há vários filmes sobre o Natal, o Pai Natal e que evocam a origem do Natal. Até se poderia pensar que esta é uma história que já foi muito explorada, mas o ‘Klaus’ apresenta-nos uma versão diferente e cativante da origem do Natal. Como surgiu a ideia para este filme?
Eu não sou muito fã de filmes de Natal, o clássico filme de Natal. E quando o Sergio Pablos nos convidou até tive uma sensação algo agridoce por ser um filme sobre o Natal. Mas depois li o guião, um rascunho, ao qual se chama o ‘treatment’ e deu para perceber logo que o objetivo do Sergio Pablos era tentar ser o mais irónico possível, mas de forma inteligente. Ele não queria ser irónico ‘in your face’ para o público, mas o filme passa muito a ideia de ‘se vocês não gostam do Natal, este filme é para vocês’. Mas depois no final já vão estar embrulhados numa sensação de Natal sem quererem. Esse é que é o processo de tentar contar uma nova estória de Natal com uma base mais real, menos fantástica, e depois dar aquela magia de Natal quando o espectador já está tão envolvido nesta dinâmica de ironia, que acaba por sentir a nostalgia e o quentinho do Natal sem dar por isso.
Ao ler esse ‘treatment’ é que percebi que isto podia ter muita piada e que era quase uma brincadeira. Pensei ‘Ok, vamos divertir-nos a contar a verdadeira estória do Natal, que é muito irónica e um pouco cínica, e de facto contar uma estória de Natal no fim’. Há todas aquelas ideias engraçadas do porquê de haver a imagem icónica das renas a puxarem o trenó contra a lua, porque é que o Pai Natal desce pela chaminé, e o público desvenda todos esses segredos. Espero que se divirtam ao ver o filme porque foi mesmo muito divertido todo este processo.
O que o filme tem de rico é mesmo uma relação que passa completamente ao lado do Natal, a relação das personagens principais (Jesper e Klaus), e no final temos a sensação de que estes dois amigos improváveis parecem existir e que de facto são amigos. Ao longo de todo este processo de desenvolvimento de amizade descobrimos toda a origem do conceito de Natal e como é que um carteiro com as intenções mais erradas ajudou a criar a personagem icónica do Natal.
O reconhecimento das pessoas foi o que tornou o filme completo em siPode descrever o seu trabalho no filme e o do Sérgio?
Em animação há uma linguagem muito visual. O que eu faço é através do desenho tentar desenvolver a estória. Por exemplo, um argumentista tenta definir uma cena cómica em que acontece um acidente ou a personagem principal faz uma trapalhada qualquer, mas não tem a imagem visual de como representar isso ou como é que isso vai encaixar na personalidade ou na maneira de se movimentar da personagem. É aí que entra o storyboard, nós somos capazes de resolver estas situações, e também sugerir ou emendar. É um trabalho conjunto até ao momento em que o filme entra em animação, ou sequência aliás.
O trabalho do meu irmão, o Sérgio, era fazer um pouco o que faz um ator num filme de imagem real. Existe o argumento, o storyboard, já se sabe qual é a cena em que a personagem entra e o que vai dizer naquele momento, mas não existe ainda uma linguagem corporal, não existe um maneirismo, da mesma forma que um ator num filme de imagem real tem de descobrir qual é o comportamento da personagem, como é que fala, qual é o processo mental por trás daquilo que diz. Esse é o trabalho de um animador, para além da parte técnica que é muito complexa e que é desenhar e fazer com que pareça que todos os movimentos são credíveis. O que torna mesmo muito interessante o trabalho do animador é dar a sensação de que a personagem existe, embora sejam só um grupo de desenhos em sequência. No final do filme as pessoas já estão tão iludidas com a magia da animação, que parece mesmo que estas personagens existem. O trabalho de um animador é convencer o público de que existe mesmo um passado e que o comportamento físico da personagem faz sentido para quem ela é na estória.
O papel do meu irmão como supervisor era tentar definir os maneirismos das personagens, os tipos de movimentos, todo o comportamento da personagem, a sua personalidade e certificar-se de que os animadores conseguiam desenhar isso bem e que era homogéneo por toda a equipa.
Os dois irmãos lado a lado: Edgar Martins (à esquerda), supervisor de storyboard, e Sérgio Martins (à direita), supervisor de animação© Sérgio Martins/Facebook
Quanto tempo demora a passar um filme destes dos primeiros esboços para o grande ecrã?
No caso do ‘Klaus’ foram três anos. Mas sem contar com sete, oito, nove anos, em que o Sergio Pablos já tinha todos os seus esboços, todas as ideias que tinha na cabeça. Mas em termos de produção foram três anos, foi um bocadinho curto, uma vez que a Disney costumava demorar-se um pouco mais. Mas três anos pareceram ser suficientes para se fazer um filme desta qualidade, com muitas pessoas envolvidas no projeto, muitas horas extra. Foram três anos muito comprimidos. Foi uma maratona.
O que sentiu quando viu o resultado final?
Isso é engraçado porque depois de fazer storyboard também ajudei a fazer team planning, que é construir as câmaras dos planos. Então passei por todo o processo do filme. Na última reunião em que se estava a compor e a aprovar o último plano, faltava menos de um mês para estrear o filme, eu estava lá a aprovar o último plano de câmara. Isso significa que durante o processo todo eu estive tão dentro que não conseguia ver a partir do exterior. Então sempre que via um plano, eu só via os erros, parecia que só via problemas. Já quase não conseguia ver a imagem geral, que conseguia ver no início quando estávamos a desenvolver a estória.
A surpresa de ver a reação das pessoas e de perceber que do início ao fim do filme tudo funcionava numa linha contínua e a emoção acabava por chegar às pessoas, essa é que foi a melhor surpresa. Estava tão emaranhado em todos os aspetos técnicos do filme que foi através do público que consegui divertir-me e perceber ‘Ok, este filme está engraçado e as pessoas estão a aderir de forma positiva’. O reconhecimento das pessoas foi o que tornou o filme completo em si.
O Klaus traz ao filme uma profundidade que nenhuma outra personagem consegue trazer. Ele é o coração do filme e é a minha personagem preferida‘Klaus’ seguiu um caminho diferente daquele que os filmes de animação têm seguido. É um filme 2D que parece 3D. O facto de ser a duas dimensões tem sido muito destacado. Pode explicar as diferenças entre o 2D e o 3D e a forma como conseguiram que se parecesse com 3D?
Antes da chegada deste universo do 3D no final dos anos 90, o que acontecia com a animação 2D era que se notava que eram desenhos no ecrã. Eram muito bidimensionais. Era simplesmente a linha e a cor por cima, mas não havia tratamento de luz que simulasse a sensação de ver mesmo tridimensionalidade. Talvez fosse inevitável que a animação 2D evoluísse para aí, mas como o 3D entrou em grande e contou com a adesão dos grande estúdios, parou a evolução da animação 2D.
No ‘Klaus’, isto nem começou por o Sergio Pablos querer evoluir o 2D. Ele via os livros de ilustração de Natal infantis e pensava porque é não se conseguia fazer um filme de animação parecido com os livros infantis de ilustração de Natal. Com isso em mente, e depois trabalhando com os diretores de arte, desenvolveu-se uma tecnologia e houve ali um processo demorado de anos antes do filme começar a ser feito. O objetivo foi sempre fazer uma ilustração animada, não foi simular 3D. O que inevitavelmente acabou por acontecer porque ao termos luz animada, que era basicamente a grande diferença entre os filmes de 2D que a Disney parou de fazer nos anos 90 e agora o ‘Klaus’, o que acontece é que por cima de todo este desenho existe agora uma nova camada onde há luz e sombra que simula totalmente o chamado 3D comum.
Por isso, é natural que agora haja a discussão de que parece que o 2D quer ser 3D, mas o objetivo era mesmo conseguir ilustrar uma animação e agora é bastante prazeroso que esteja a ser reconhecido porque foi realmente um processo inovador. É provável que com esta tecnologia o 2D venha a ter um novo lugar no mercado.
Uma característica muito interessante desta tecnologia é que não é o computador que faz a luz e sombra, é o artista que pinta por cima dos personagens a luz e a sombra. Nesse sentido é muito diferente do 3D porque no 3D constrói-se um cenário de fantoches e criam-se as próprias luzes dentro desse cenário que se acendem e apagam, mas é o computador que cria a iluminação. Claro, dentro dos parâmetros que o artista tenta definir. Neste caso pinta-se um desenho como um pintor faria numa tela. O computador apenas preenche os desenhos do meio.
Há alguma personagem em que se reveja mais?
Gosto imenso do Klaus. A personagem que acaba por ser o Pai Natal. Quando o Klaus aparece a primeira vez, aquilo é um pouco à filme de terror. Tenta ser um bocado assustador. Foi tão complicado tentar que as nuances não fossem para destruir quem o Pai Natal é. Ele é uma pessoa isolada, anti-social e torna-se no bonacheirão Pai Natal no final. Este desafio e esta evolução da personagem, ele depois revela o seu passado. Ele traz ao filme uma profundidade que nenhuma outra personagem consegue trazer. Ele é o coração do filme e é a minha personagem preferida, a mais desafiante.
Quando concluiu o trabalho no filme, esperava que ‘Klaus’ recebesse críticas tão positivas e se tornasse num sucesso tão grande, conseguindo até a nomeação para o Óscar de Melhor Filme de Animação?
Honestamente, não estava à espera de tanto sucesso. Sabia que havia aspetos muito interessantes. Sabia que a animação e o movimento das personagens, aquilo em que o meu irmão esteve envolvido no trabalho de supervisão, tinha alta qualidade porque era fácil de comparar com os filmes de animação 2D. Sabia que o tratamento visual era excelente, mas em termos de estória eu estava tão dentro do filme que não conseguia ter a visão do que era a estória, acreditando sempre que estaria ali algo de interessante. Mas à medida que foram saindo as críticas, algumas foram menos boas, mas a maioria foram muito positivas e a reação do público foi excelente. Superou o que eu esperava. Sabia que tínhamos feito um trabalho porreiro e único, mas não sabia que impacto é que iria ter.
No final este reconhecimento da Academia - e também já houve outros prémios relacionados com o mundo da animação - isso então é inesperado mas muito gratificante porque são os colegas de trabalho que estão a premiar e a dar os parabéns pelo trabalho realizado. Não podia pedir mais. É excelente.
Ganhar o Óscar? Desde que o ‘Klaus’ estreou em outubro e até agora parece que está num crescendo de favoritismoVai estar em Los Angeles?
Não, infelizmente não. Vai o realizador e vão os produtores. Vai ser uma equipa pequena. Não é como nos Annie, os ‘Óscares’ do cinema de animação, aos quais foi possível levar grande parte da equipa artística. Para os Óscares é complicado. O número de convidados é mais reduzido.
‘Klaus’ é favorito a ganhar o Óscar?
Agora a lista é pequena, são cinco. Este ano creio que foi um recorde de filmes de animação enviados, havia muita qualidade. Havia filmes japoneses que não foram nomeados, e tem havido em outras edições dos Óscares. Vários ficaram pelo caminho e o ‘Klaus’ chegou à ‘shortlist’. Foi nessa altura que deu para perceber que era muito complicado conseguir a nomeação, porque havia 10 filmes de alta qualidade. E agora o ‘Klaus’ está entre os cinco primeiros. Acho que é um favorito pelo facto de estar entre os cinco nomeados. Vamos ver. Entre os nomeados estão o ‘Toy Story 4’ e o ‘Como Treinares o teu Dragão’, e a Academia gosta muito de apostar no seguro mas também no grandioso a nível de efeitos e ao nível da indústria, se fez dinheiro. Esta é uma realidade que começa a mudar, mas a animação ainda está agarrada aos grandes estúdios, a Disney, a Pixar e a DreamWorks. Até tem um pouco mais de piada esperar para ver o que vai acontecer, porque desde que o ‘Klaus’ estreou em outubro e até agora parece que está num crescendo de favoritismo.
O ‘Klaus’ foi feito com 20% do orçamento do ‘Toy Story 4’. Por isso, nesse sentido é praticamente uma luta de David contra GoliasA Netflix fez em anos recentes um forte investimento na indústria cinematográfica, apostando em realizadores e atores de renome e em filmes que se destaquem pela sua qualidade. A aposta no cinema de animação também já é notória, tendo dois nomeados para o Óscar de Melhor Filme de Animação. Que impacto terá uma vitória da Netflix nesta categoria, que é tradicionalmente dominada pela Disney, pela Pixar e pela DreamWorks?
Eu gostava de salientar que o ‘Klaus’ é o primeiro filme realmente produzido pela Netflix. O outro filme da Netflix que está nomeado, o ‘J’ai Perdu Mon Corps’, foi comprado após ter sido feito. Por isso, não foi uma aposta de produção, foi uma aposta de compra. Tem todo o mérito de estar lá e é por ter sido comprado pela Netflix que também está lá, porque a Netflix ajudou no processo de tornar possível a nomeação para os Óscares. Também gostava de apontar que o ‘Klaus’ foi feito com 20% do orçamento do ‘Toy Story 4’. Por isso, nesse sentido é praticamente uma luta de David contra Golias. Estamos a falar de orçamento e de equipas com uma experiência muito diferente, o que torna tudo mais interessante e divertido.
A Netflix realmente está a conseguir quebrar um pouco as regras estipuladas pela Disney. A Disney define todo o seu universo e não arriscam em algo que saia desse universo. É muito contido porque é um produto que eles querem que seja comprado pelas famílias. O que a Netflix conseguiu fazer com estes dois filmes, aliás, o ‘J’ai Perdu Mon Corps’ é muito adulto e está nomeado na categoria de animação, o que é espetacular, foi dar liberdade aos artistas para poderem ser irónicos e poderem sair da caixa Disney, DreamWorks e Pixar, que é muito orientada para a família. Ao apostar com 20% do orçamento, a Netflix está a mostrar a todos que não tem de seguir uma metodologia passo a passo para que um filme tenha sucesso ou a audiência goste.
Se a Netflix ganhar com o ‘Klaus’ ou com o ‘J’ai Perdu Mon Corps’ isso vai ajudar a que haja uma maior aposta em diferentes criatividades, em fugir às regras impostas pelos grandes estúdios de filmes de animação. Isso vai provavelmente abrir portas a novos a novos criadores e a novas experiências. Esta mudança já começou o ano passado com o ‘Spider-Man: Into the Spider-Verse’ que ganhou o Óscar. Já estávamos a fugir às regras.
Jesper (voz de Jason Schwartzman) é uma das personagens principais do filme 'Klaus'© Klaus/Facebook
Quais são as suas apostas para os Óscares?
Este ano está complicado. Há filmes muito bons, mas se tivesse de apostar num seria no ‘The Irishman’, foi o que gostei mais até agora. Acho que é o filme mais complexo. Estou a ver mais pelo lado de produção e técnico do que pelo lado do filme em si. Tenho grandes expetativas com o ‘Little Women’, que ainda não vi. Não sei se esse não será o melhor de todos.
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