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"Ser Governo? Se o fizer, PAN poderá estar a assinar a certidão de óbito"

André Silva, porta-voz cessante do PAN, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Ser Governo? Se o fizer, PAN poderá estar a assinar a certidão de óbito"
Notícias ao Minuto

04/06/21 por Melissa Lopes

Política André Silva

Reabilitar património, recuperar a casa dos avós, numa aldeia de Viseu, ter uma horta, andar com os pés na terra, fazer escalada e caminhadas com o filho. Ao fim de quase seis anos como deputado, são agora estes os planos de André Silva, porta-voz cessante do PAN, que entrou sozinho no Parlamento e que, duas legislaturas depois, deixa um grupo parlamentar.

Em conversa com o Notícias ao Minuto, a poucos dias do Congresso que oficializa a sua saída da liderança do partido que fez crescer nos últimos anos, afirma que encerra este ciclo com um sentimento de missão cumprida e com a certeza de que não haverá um "bilhete de regresso".

Sobre o futuro do partido, defende que o PAN deve manter-se como "partido farol, de reivindicação, de oposição e que traz temas difíceis e incómodos", e que precisa de tempo de maturação para se consolidar antes de assumir a ambição de querer estar no Governo. "Penso que se o PAN fizer esse caminho, nos próximos tempos, poderá, eventualmente, estar a assinar a sua certidão de óbito", afirma. 

Do Parlamento vai sentir saudades da "adrenalina" e da "intensidade", mas presentes ainda estão os anos "esgotantes" de muita dedicação ao partido, em que colocou aspetos da vida pessoal em segundo e terceiros planos. 

Entendi que este era o momento para fechar o ciclo num período sensato e responsável

Ao fim de quase seis anos no Parlamento e de sete como porta-voz do PAN decide sair de cena. Qual foi o momento-chave dessa decisão?

Não houve um momento-chave. O momento-chave é o Congresso que se vai realizar este fim de semana, que delimita o fim do meu terceiro mandato como porta-voz nacional. Entendi que, por uma questão de limitação de mandatos e porque os políticos não podem eternizar-se nos seus cargos, não iria fazer um quarto mandato. Saindo de porta-voz do partido e também da direção, a consequência lógica disso seria também sair do Parlamento.

A associar a isto há toda uma sensação de muitos anos esgotantes, em que dei muito ao partido, em que entrava no Parlamento de madrugada. Dei muito ao partido, colocando em segundo e em terceiro planos aspetos da minha vida pessoal e social. Mais recentemente, com o nascimento do meu filho, esta decisão foi consolidada. O desempenho do cargo de líder partidário e parlamentar, tal como entendo que deve ser desempenhado, e o tempo e a dedicação nos primeiros tempos da vida de um filho são absolutamente incompatíveis. Portanto, alguma coisa iria ficar para trás.

Entendi que este era o momento para fechar o ciclo num período sensato e responsável: se ficasse mais dois anos, sairia nas vésperas da próxima disputa eleitoral às legislativas e isso poderia ser pouco sensato e pouco responsável porque não daria tempo para que as pessoas que se seguem pudessem ocupar o seu espaço e marcar a sua liderança e fazer uma transição suave. 

Agora que está a dias de 'mudar de vida', qual é o estado de espírito? De alívio ou já com alguma saudade do tempo que passou?

O estado de espírito é de objetivos cumpridos. Isto é, colocar uma força política desconhecida no Parlamento. Já na Assembleia da República, consolidá-la e dar-lhe credibilidade e notoriedade, fazendo aumentar a sua representação parlamentar, assim como noutros órgãos como nas autárquicas e nas europeias. Tenho consciência que, juntamente com as direções dos anos anteriores, o legado para que o partido possa continuar o seu caminho de crescimento. 

Sente que a sua missão foi plenamente realizada?


O plenamente é sempre difícil de afirmar. Mas os objetivos principais foram realizados: fazer entrar o PAN no Parlamento, dar-lhe notoriedade e credibilidade e aumentar a representação parlamentar. Isso foi plenamente conseguido. 


E consegue eleger o momento de maior alegria ao longo deste percurso? 

Durante este percurso há dois momentos de alegria: a eleição de um eurodeputado e a eleição de quatro deputados para a Assembleia da República. São momentos de prestação de contas dos eleitores. São momentos em que os eleitores, no fundo, expressam através do seu voto a sua confiança e o reconhecimento no trabalho feito. 


E por outro lado, um momento de tristeza e insatisfação? Elegeu a eleição de um eurodeputado como um momento de alegria. Perder essa representação foi um momento de tristeza?

Não foi um momento agradável, como é evidente. Não identifico [esse momento] de tal forma relevante para constituir o momento de maior tristeza... Há vários momentos, não consigo identificar o de maior tristeza. Mas foi com muita frustração que assisti em 2019 ao chumbo da iniciativa da morte medicamente assistida. Foi por um fio que não passou, depois de anos e anos de trabalho, não só o trabalho jurídico-legal de apresentar uma boa lei, como todo o debate político para o qual contribuímos. Sendo um direito fundamental que está por cumprir, foi com bastante tristeza que vi o chumbo dessa iniciativa. 

 O preconceito era notório, pensava-se que o PAN era uma moda 

Considera que nestes últimos seis anos houve uma evolução positiva na forma como os outros partidos olham para o PAN e para as causas que o partido trouxe para a agenda política? 

Há uma maior aceitação.

No início sentia-se que o PAN ficava a falar um pouco sozinho.

Sim. Havia muito preconceito e ainda há. O preconceito era notório, pensava-se que o PAN era uma moda e que, da mesma forma que aparecemos iríamos desaparecer na legislatura seguinte. Eu tinha a certeza, a absoluta convicção, de que não seria assim. E agora, os outros partidos percebem que há muitas pessoas na sociedade que concordam com as propostas do PAN e que esperam respostas nas várias temáticas onde nós nos movimentamos. Isto é sinal de notoriedade e, acima de tudo, de respeito pelo trabalho de consolidação e credibilização. 


E, de alguma forma, a presença e consolidação do PAN levou outros partidos a trazerem para a sua própria agenda temas ligados aos direitos dos animais e de proteção do ambiente?


Sim. Há vários partidos que nunca abordavam estas matérias - direitos dos animais e proteção ambiental - e que passaram não só a incluí-las nos seus programas eleitorais, como também a ir a jogo no debate sempre que ele é oportuno com determinadas propostas. Hoje em dia, o avanço na proteção dos animais e nas políticas ambientais está significativamente mais facilitado depois de uma primeira legislatura de afirmação. 


A primeira legislatura serviu para quebrar barreiras... 

Sim.

Foi difícil tentar descolar o PAN do rótulo de ser única e exclusivamente um partido animalista?


Isso vale o que vale. Muitas vezes esse rótulo foi colocado por outros partidos ou pelo comentarismo que existe em vários órgãos de comunicação social. A esmagadora maioria desses opinadores têm uma agenda política e interessa-lhes desvalorizar um partido como o PAN. Mais do que esse rótulo o importante é trabalhar diariamente naquilo em que acreditamos, como temos feito desde há seis anos. As pessoas vão estando atentas - não tenho dúvidas nenhumas disso - e vão reconhecendo, em todos os ciclos eleitorais desde 2015, o nosso trabalho. 

O PAN só deve estar no Governo se os portugueses assim o entenderem


Inês Sousa Real, a próxima porta-voz do PAN, afirmou, em entrevista ao Público, esperar que daqui a 10 anos o partido possa ter a oportunidade de ser Governo. Consegue vislumbrar isso a acontecer dentro desse espaço temporal ou demorará mais tempo?

Depende dos objetivos. Acho que o PAN se deve manter como partido farol, de reivindicação, de oposição e que traz temas difíceis e incómodos, que mexem em determinados interesses instalados. Para pertencer ao Governo tem que se dar alguma institucionalização. Isso significa alguma normalização, algum adoçamento daquilo que é o discurso e a narrativa, e também das linhas programáticas. Se o PAN fizer esse caminho, nos próximos tempos, poderá, eventualmente, estar a assinar a sua certidão de óbito. O PAN precisa de tempo de maturação para se consolidar.

Por outro lado, entendo que o PAN só deve estar no Governo se os portugueses assim o entenderem. Parece-me que um partido que tenha 25% ou 30% de uma votação, pode e tem todas as condições para reivindicar um lugar no Governo e fazer uma coligação a sério num ciclo governativo. Coisa diferente é o partido ter 2% ou 3%, e ter dois ou três deputados que, pela matemática, dão um maioria parlamentar. Nesse caso seria um erro o partido - seja ele qual for - entrar num ciclo governativo. 


Essa deveria então ser uma condição para o PAN apoiar ou integrar uma solução de Governo, para além da linha vermelha que já colocou relacionada com o Chega?

Há várias formas de suportar um Governo. Antes de fazer parte de um Governo estão outros objetivos como o crescimento eleitoral. O alargamento da base eleitoral do PAN é muito mais significativa do que era em 2015, não tenho dúvidas disso, mas, do meu ponto de vista, ainda não é para estarmos no Governo. Há todo esse trabalho para fazer e só depois podemos assumir essa ambição. Esta é a minha perspetiva que pode ser diferente da de outras pessoas dentro de um partido que é plural. 

As negociações para o Orçamento do Estado (OE) para 2022 estão prestes a iniciar-se. A que prioridades devia o PAN agarrar-se?

Os contactos para se fazer as primeiras reuniões já começaram. Vão ocorrer depois da minha saída. Nessa medida, quero abster.me de fazer qualquer comentário sobre quais devem ser as medidas propostas e as medidas vermelhas para negociar o OE. Isso pertence à próxima direção. Não sou porta-voz da próxima direção e não devo imiscuir-me neste assunto. 


Já deu conselhos à Inês sobre truques a usar nas negociações com o Partido Socialista?

A Inês é uma pessoa bastante experiente. Já fez vários orçamentos no Parlamento, dois ordinários e um extraordinário. Não só a Inês, como a Bebiana, como a maioria da direção que vai transitar para a próxima (16), estão habituados e tarimbados com aquela que é a dinâmica e a intensidade da negociação orçamental. 


Da sua experiência, diria que é fácil negociar com o PS e com António Costa?

Não há negociações fáceis com nenhum partido. 

E com o PS em concreto?

Não é fácil, evidentemente. É um processo que tem a sua morosidade e que tem avanços e recuos. Não há processos negociais políticos fáceis. 


Como avalia a gestão da pandemia pela parte do Governo durante o último ano? 

Em muitos aspetos positiva, mas com alguns aspetos contraditórios. 

Por exemplo?

Não se permitem, por questões sanitárias, que os cidadãos residentes em Portugal possam assistir a jogos de futebol. Mas depois, por causa de um negócio, já se permitem situações como aquelas que vimos na cidade do Porto. Parece-me que descredibiliza bastante as pessoas, e, acima de tudo, desrespeita a postura exemplar dos cidadãos portugueses que, sempre que lhes foram pedidas restrições, genericamente cumpriram. Tudo isto só acontece porque o Governo e o presidente da Câmara do Porto quiseram encaixar algum dinheiro e permitiram comportamentos e atitudes de totalmente de risco. Isto é uma total discrepância, é um sinal absolutamente errado.

O Governo durará o tempo que António Costa quiser

O Governo está já a acusar algum desgaste?

É natural que um Governo que está em funções há vários anos e que enfrentou um período muito severo de pandemia cometa os seus erros. Daí a estar desgastado ou estar nas últimas... Não acredito. O Governo durará o tempo que António Costa quiser. Ou seja, se em 2022 [António Costa] quiser substituir Charles Michel, poderemos ter uma crise governativa, uma crise política em outubro/novembro. Se, pelo contrário não o quiser fazer para já, continuará a ser primeiro-ministro. 


Num espaço curto de tempo, há um ano, o PAN perdeu de uma assentada a representação no Parlamento Europeu, na Madeira e no Parlamento nacional. Estas saídas fizeram o projeto político perder força? Ou entende-as meramente como dissidências resultantes das dores de crescimento?


Infelizmente faz parte das dores de crescimento. Não conheço nenhum partido que esteja implementado que não tenha sofrido fortes reveses ao longo dos anos.  Todos tiveram momentos baixos, crises internas, dissidências, situações menos positivas que sempre conseguiram ultrapassar. No caso do PAN é uma aprendizagem, é algo que faz parte das dores de crescimento. E o resultado prático e material disso mesmo é que, menos de um ano depois, houve eleições legislativas regionais, nos Açores, onde conseguimos eleger um deputado. Se tivéssemos entrado numa rampa descendente, num declínio, numa situação de crise, nunca teríamos obtido esse resultado.

Penso que a atitude quer do Francisco, quer da Cristina de inventarem argumentos para estarem em dissidência - argumentos esses que nunca foram debatidos em nenhuma reunião - decidindo abandonar o PAN mas sem entregarem os mandatos que são do partido, ficando a receber uma renda, diz muito mais deles do que do partido e da direção.

Quando o André anunciou que iria sair de cena, a agora deputada não inscrita  Cristina Rodrigues disse que "já ia tarde" e que "se mais alguns saíssem poderia ser que o PAN voltasse a ser um partido livre e plural". São críticas duras. Como é que as encara?

São críticas de quem? Em primeiro lugar, até à data da saída, fazia há imensos anos parte da direção e do núcleo duro do partido. Não percebo. Depois, essas mesmas críticas ou circunstâncias nunca foram pela Cristina Rodrigues levadas a debate. Há aqui uma justificação para prosseguir um projeto pessoal, uma falta total de gestão das suas ambições pessoais que colocaram em causa o coletivo. Tinha de inventar qualquer coisa, inventou essa. Podia ser outra.

Foi então inesperada a saída da Cristina, como dos outros dirigentes?

Sim. Podia haver atritos, podia haver tensões, mas ninguém esperava que pessoas que ocupavam os cargos que ocupavam pudessem desfiliar-se, mantendo os mandatos. 

E a crítica de que o partido se foi afastando de alguns princípios fundadores também não faz sentido?

Não, não faz sentido nenhum. Na medida em que o partido quando foi fundado não conseguia rigorosamente nada. Uns anos depois, no Parlamento, quer na primeira quer na segunda legislatura tem conseguido conquistas nessas mesmas áreas como noutras também. Essa crítica é de alguém que esteve na origem da estratégia do PAN num passado mais distante e num passado mais recente. Aquilo que Cristina Rodrigues criticou como sendo um afastamento - de que eu discordo -, foi uma decisão de estratégia de que ela fez parte. O alargamento dos temas em que o PAN se envolve e das respostas que o partido traz nas diversas áreas foi sempre algo que foi discutido internamente, inclusivamente com o apoio dela. Aliás, foi das pessoas que esteve mais envolvida, por exemplo, no programa eleitoral de 2019 que, no fundo, concretizava as respostas que queríamos dar na legislatura de que saiu. Isso não faz sentido nenhum. Na hora da saída não fez qualquer tipo de debate interno, tinha de inventar qualquer coisa, foi essa a justificação, podia ter sido outra qualquer. 

Não estou a sair agora pensando que em determinado ciclo político regressarei 

Na despedida do Parlamento, Ferro Rodrigues disse saber que o afastamento de André Silva não seria por muito tempo. Tem razão o presidente da AR?


Ferro Rodrigues foi bastante generoso e simpático nas suas palavras. Temos uma enorme estima e respeito um pelo outro, sempre trabalhámos muito bem, independentemente das divergências. Mas a decisão que eu tomei é uma decisão que não tem qualquer perspetiva de futuro político. Ou seja, não estou a sair agora pensando que em determinado ciclo político regressarei. Não dizendo 'nunca' nem dizendo 'sempre', neste momento, o meu sentimento é de uma saída sem perspetiva de um bilhete de regresso.  

Que planos tem o André para o futuro? Onde é que o poderemos ver daqui a cinco, dez anos?

Na vida pública, não faço ideia. Pode ver-me na casa dos meus avós, que quero começar a recuperar dentro de algum tempo, numa aldeia no distrito de Viseu, pode ver-me eventualmente em projetos aliciantes de recuperação e reabilitação do património, que é uma área de que gosto, pode ver-me numa horta a produzir alimentos, com os pés na terra. Pode ver-me a fazer escalada ou caminhadas com o meu filho. 

Na biodanza...

Não sei, com a pandemia deixei de praticar e nunca mais regressei. Agora não sei se regressarei.

O que lhe vai deixar mais saudades na vida parlamentar?

Acho que vou ter saudades de alguma adrenalina e dos momentos difíceis nos processos legislativos que fazem avançar o país. Vou ter saudades dos momentos mais difíceis do Parlamento, dos momentos de maior tensão,  da negociação para o OE, da aprovação à tabela, muitas vezes, de processos legislativos muito difíceis, e daqueles debates muito intensos que mexem com princípios e valores fundamentais. Vou ter saudades do que tenho sempre. Quando tenho saudades de algo - um projeto, uma pessoa, uma atividade - é sempre pela sua intensidade ou dificuldade de concretização. São os desafios que me movem na vida. 

Todos sabemos que quem manda no ministério da Agricultura é a CAP e que a ministra é uma marioneta

Dos setores que o PAN considera serem intocáveis, qual o representa o 'osso mais duro de roer'? 

Por um lado, tem sido o energético, na medida em que os subsídios perversos e as isenções se mantêm. Por outro, o setor pecuário. Tem um lobby fortíssimo. Todos sabemos que quem manda no ministério da Agricultura é a CAP (Confederação de Agricultores de Portugal) e que a ministra é uma marioneta.

E com o setor da caça, houve alguma abertura ao diálogo ao longo dos anos?

Abertura não porque estamos a falar de um setor extremamente violento, assim como o da tauromaquia. Consideram essas atividades arte, cultura, espetáculo, bem-estar e relação harmoniosa com a natureza. Quando alguém como estes setores tem estas perspetivas das suas atividades, é impossível o diálogo. Nós não dialogamos com o setor da tauromaquia e com o setor da caça não porque nos recusemos a sentar, mas porque as pontes são praticamente inexistentes, uma vez que consideram, sobretudo na caça, que tudo está bem e que nada tem de ser alterado e que é apenas uma questão de fiscalização. Isso é absolutamente impossível. Se continuar a haver atividade cinegética, ela, pelo menos, tem de ser muito mais fortemente regulamentada do que é. Existe uma permissividade total em que se pode atirar contra tudo o que mexe. É inaceitável. 

Do ponto de vista eleitoral, para o PS, acabar com as transmissões televisivas da tauromaquia é dinheiro em caixa

Dentro do Parlamento, viu avanço na forma sobre como cada partido encara esses assuntos?

Há uma diferença significativa. Na questão da abolição, mantêm as suas perspetivas, está tudo igual. Mas percebem que há muitos aspetos destas atividades que estão errados e, ao mesmo tempo, percebem que o sentimento geral da população portuguesa é desfavorável a estes setores, em particular o da tauromaquia. Hoje em dia, fruto do trabalho feito ao longo destes anos, de partir pedra, começo a sentir uma maior permeabilidade às nossas propostas. Por exemplo: Não digo a abolição da tauromaquia, mas o fim dos apoios públicos, ou o fim da transmissão pública é algo que é muito mais fácil debater hoje e, inclusivamente, concretizar, como estamos a ver agora. É o mesmo Governo socialista de há seis anos, mas há seis anos era absolutamente impensável que o mesmo Governo pudesse acabar com as transmissões televisivas das touradas [na RTP] com a narrativa de que é uma atividade cultural e que tem de haver diversidade. Acontece que, não só fruto daquilo que têm sido as pressões e o trabalho eficaz do PAN, por um lado, mas também a constatação de que a população portuguesa está connosco nesta matéria ...

Eleitoralmente vale a pena, é isso?

Claro, a nível eleitoral para o PS vale a pena. Do ponto de vista eleitoral, para o PS, acabar com as transmissões televisivas da tauromaquia é dinheiro em caixa.

E quanto ao aeroporto do Montijo, continuará a ser uma luta?

Enquanto não estiver construído é uma luta que vamos travar. 

Mantém a esperança de que possa não avançar?

Sim. Pode ser que a avaliação ambiental estratégica venha de alguma forma alterar esta situação. O problema é que a avaliação ambiental estratégica é ilusória e falseada, na medida em que o que foi aprovado foi uma avaliação ambiental estratégica mais abrangente com as várias alternativas aeroportuárias em todo o país, incluindo Beja. E, neste momento, é uma avaliação que tem a opção por Montijo e Alcochete. É absolutamente redutor. É um estudo que está inquinado à partida. 

O PAN continua a defender a solução Beja?

É uma solução que permitiria em pouco mais de 1 hora, com uma linha de alta velocidade, colocar os passageiros no centro do país e dinamizar fortemente um território que está altamente deprimido como é o Baixo Alentejo. 

E, além disso, já está feito.

Exatamente. É fundamental esse argumento.

 Que tipo de presença vai continuar a ter no partido?

Quero manter a minha presença como filiado de base, a colaborar com a concelhia e a distrital de Lisboa, sempre que for chamado a intervir e naquilo em que a minha ação política seja relevante. 

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