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"Rui Rio merece a minha lealdade até à última gota de sangue"

Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Rui Rio merece a minha lealdade até à última gota de sangue"
Notícias ao Minuto

08/07/21 por Catarina Correia Rocha

Política Salvador Malheiro

O trabalho autárquico está "sempre inacabado" e Salvador Malheiro apresenta-se a eleições, uma vez mais, para continuar o seu projeto em Ovar. Ser presidente da Câmara Municipal, explica, é "das coisas mais dignificantes que existe na ação política", sem medos que, de um dia para o outro, possa deixar de o ser: "Estou de presidente de Câmara, não quer dizer que seja presidente de Câmara para sempre", frisa em entrevista ao Notícias ao Minuto.

A sua terra e as suas gentes foram "um bocadinho mais sacrificadas" do que o resto dos portugueses em tempos de pandemia, tendo sido o primeiro município no continente a estar sob cerca sanitária. Foram momentos "complicados" que fazem com que o povo vareiro mereça uma "vénia máxima" por parte do autarca, que reitera que "faltou coragem de fazer aquilo que foi feito em Ovar noutros locais".

Apesar de serem as eleições autárquicas que estão quase a 'bater à porta', o também vice-presidente do PSD concorda que há uma "influência" do que se passa a nível nacional nos resultados que surgirão. Assim, replica, "o PS pode criticar tudo e mais alguma coisa, mas não pode criticar a atitude do PSD no âmbito da gestão da pandemia". 

Já os elogios vão no sentido de Rui Rio. "Temos um líder da oposição que também é prova de lealdade ao país, de ajuda e de colaboração, que, desconfio, nunca mais vai existir".

É presidente da Câmara Municipal de Ovar desde 2013. O que o levou a recandidatar-se?

Como diz é um projeto que foi iniciado em 2013, um projeto autárquico que, pela sua natureza, está sempre inacabado, porque existem sempre possibilidades de melhoria. Faço um balanço extremamente positivo, mas sabendo que estamos a viver momentos críticos, em que as mudanças foram enormes, em que a realidade de hoje nada tem a ver com a realidade de 2017, muito menos de 2013 - e, tendo nós muitos projetos em curso, muitos mesmo, que já iniciámos - achei por bem dar continuidade a este trabalho de sucesso.

Depois, também, uma questão pessoal muito importante que tem que ver com a minha motivação forte, de gostar muito daquilo que faço e de interpretar o cargo de presidente de Câmara da minha terra e das minhas gentes - das coisas mais dignificantes que existem na ação política. 

Nós, infelizmente, estivemos sujeitos a condições que mais ninguém esteve. Fomos sacrificados um bocadinho mais. Mas não perdemos este cunho – a proximidade é algo que nos marca relativamente a mandatos anterioresQuais os desafios? 

Nós, neste momento, temos de ter a consciência que estamos a viver uma revolução tecnológica com uma intensidade fortíssima. Estamos também a iniciar um período pós-Covid que nada tem que ver com o passado. Quero com isto dizer que os desafios pela frente são enormes. E não falo apenas da questão dessa transição digital, das alterações climáticas… A nossa comunidade não é a mesma, nós temos de interpretar o emprego, a forma de trabalhar de maneira completamente diferente. Não tenho a menor dúvida que mais de metade das profissões de futuro nem sequer estão inventadas. Portanto, isto não é o tempo de haver novas experiências. É, sobretudo, de alicerçar aquilo que é o presente, projetar o nosso futuro e alinhar com os grandes desafios.

Sem delongas, e indo diretamente à questão, o nosso grande desafio, além de dar corpo aos nossos cinco eixos prioritários que começaram em 2013, o enfoque vai ser em matéria de habitação – vamos fazer um esforço grande para colocar em prática a nossa estratégia local de habitação que pressupõe um investimento superior a 30 milhões de euros no âmbito da requalificação de fogos, para dotar todas as pessoas que cá moram com habitação digna. Será um grande desafio poder concretizar esse desiderato.

Depois, tenho um outro, uma meta que estabeleci aqui em Ovar, de conseguirmos atingir a neutralidade carbónica já nesta década e não apenas e só em 2050 como este Governo tem preconizado. 

Como tem sido governar a nível mais local em tempo de pandemia? Como fica a política de proximidade?

Não vale a pena estar aqui a relatar o que ocorreu no passado recente em Ovar. Nós, infelizmente, estivemos sujeitos a condições que mais ninguém esteve. Fomos sacrificados um bocadinho mais. Mas não perdemos este cunho – a proximidade é algo que nos marca relativamente a mandatos anteriores, sobretudo proporcionando as condições possíveis para os agregados mais vulneráveis e tendo sempre as portas da câmara abertas. Porque essa é que tem sido a nossa forma de gerir. Independentemente do estatuto social, da etnia, da orientação sexual, todas as pessoas que queiram vir à Câmara Municipal e queiram desabafar com o presidente, mostrar a sua discordância sobre alguns assuntos, têm sempre essa oportunidade e nós nunca deixámos de o fazer. 

Fomos o único município em território continental que esteve sujeito a uma cerca na verdadeira aceção da palavra. Ficámos completamente sitiados (...) Essas condições não se replicaram em mais nenhum local do país apesar de terem existido condições sanitárias se calhar piores do que as nossas

Ovar foi alvo de uma cerca sanitária ainda na primeira fase da Covid-19 em Portugal. Como foram esses tempos? O povo de Ovar foi mais sacrificado do que o resto dos portugueses é a sua consideração…

Não é uma consideração. É factual. Nós fomos o único município em território continental que esteve sujeito a uma cerca na verdadeira aceção da palavra. Ficámos completamente sitiados com barreiras físicas em que as pessoas não podiam entrar nem podiam sair, as empresas não podiam trabalhar e viam os seus concorrentes a trabalhar ao lado. Ficámos completamente isolados. Essas condições não se replicaram em mais nenhum local do país apesar de terem existido – e agora dá para fazer esse balanço – condições sanitárias se calhar piores do que as nossas. Mas, assim foi. Tenho de tirar o chapéu e fazer aqui a minha vénia máxima ao povo vareiro que percebeu que estávamos a ter aqui um serviço público para o país inteiro. Estávamos em presença de uma estirpe muito complicada vinda do norte de Itália e, com essa cerca, impedimos que esse contágio saísse de cá. Ficámos nós sacrificados, mas os municípios à volta não tiveram sequer números comparáveis com os nossos, o que quer dizer que as coisas funcionaram lindamente.

Mais factual é a questão de os cientistas no verão do ano passado, depois de terem feito trabalho técnico-científico de qualidade, terem concluído que essa estirpe do norte de Itália estava completamente erradicada, tendo havido uma consequência direta com o que se passou cá em Ovar. Foi um período muito complicado, difícil, entregámo-nos de corpo e alma – podíamos não o ter feito, a competência nesta matéria não é nossa, todos sabem que é da Saúde Pública, do ministério da Saúde -, mas ficámos muito assustados, muito preocupados. Falo por mim, pelo meu Executivo e muita gente que aqui ajudou: encarámos isso como o desafio da nossa vida e colocámos de lado aquilo que eram as competências e substituímo-nos completamente ao Governo.

Não havia nada, não havia testes, não havia zaragatoas, não havia materiais de proteção individual e comprámos tudo. Implementámos um hospital de campanha. Mas pronto, se fosse agora teria feito a mesma coisa. Mas já passou e, mesmo que agora venha novamente a acontecer, este povo está preparado. A preparação já é diferente. 

Terei sido mal interpretado talvez propositadamente por alguém – nunca disse que deveria haver uma cerca sanitária noutros locais do país e muito menos em Lisboa ou na Área Metropolitana de Lisboa (...) O que critiquei e volto a criticar é que faltou coragem de fazer aquilo que foi feito em Ovar noutros locais 

Acusou o Executivo de António Costa de falta de coragem para impor uma situação semelhante noutras localidades ou zonas do país. Continua a ter essa opinião?

Sim, creio que, apesar das palavras simpáticas que recebi nessa altura – no mês de março de 2020 – de toda a gente, percebemos que não havia grande capacidade de sinalizar, de concretizar. Percebemos, de acordo com aquilo que nos foi explicado, que era necessário estancar o foco onde já existia contaminação comunitária, ou seja, já não se conseguia controlar a área de contágios e, portanto, era necessário que este município tivesse cercado. Somos pessoas racionais e que, sobretudo, colocam o interesse do país em primeiro lugar.

Terei sido mal interpretado talvez propositadamente por alguém – nunca disse que deveria haver uma cerca sanitária noutros locais do país e muito menos em Lisboa ou na Área Metropolitana de Lisboa. A antecipação foi feita em Ovar numa altura em que tínhamos apenas 20 casos ativos – ficámos sujeitos a uma cerca sanitária porque era preciso implementar medidas musculadas. Logo depois da primeira vaga começaram a surgir surtos muito identificados em várias zonas do país e nada foi feito. Nada foi feito minimamente comparável com o que foi feito cá. E a que é que isso deu origem? Deu origem a que aparecesse uma segunda vaga e que aparecesse depois uma terceira. E mesmo agora, que já estamos em plena quarta vaga, foi por demais evidente perceber onde é que isto tinha começado.

Porque há várias formas de conter a pandemia, não é só com cercas. É com rastreio dos contaminados em tempo real, com isolamento dos infetados em tempo real e não deixar passar dez ou 15 dias. O que critiquei e volto a criticar é que não houve a coragem de se fazer noutros locais do país, não nos mesmos moldes que em Ovar, mas algo parecido, para se conter o início dos surtos. E aí volto a dizer e digo-o à frente de quem tiver de o dizer: faltou coragem de fazer aquilo que foi feito em Ovar noutros locais.

Lisboa e Vale do Tejo é, atualmente, a região mais preocupante no que à pandemia diz respeito. À luz das medidas tomadas no passado em Ovar, como caracteriza as que de momento estão a ser implementadas – em especial na Área Metropolitana de Lisboa?

Sou engenheiro, não sou médico. Mas estar a preconizar um recolhimento obrigatório às 23 horas, estar a fechar os restaurantes a algumas horas do dia, impedir – e digo impedir entre aspas porque aquilo é completamente permeável – saídas e entradas na Área Metropolitana de Lisboa… o que me parece é que as consequências disso são nulas. São zero. Porque nada tem a ver com aquilo que seja uma medida verdadeiramente musculada.

Toda a gente diz isto, mas o vírus não escolhe hora para contagiar e não é só ao fim de semana que contagia… contagia também durante a semana. O que é que isso tem que ver se, durante a semana, as pessoas fazem a sua vida normal? Mas isso é a minha opinião. E não é agora que isto devia ter acontecido, era no início quando nós tínhamos ainda números acumulados por 100 mil habitantes a 14 dias inferiores a 100, não é agora quando já estamos acima dos 240 – onde já nem sequer matriz temos para colocar lá o ponto. Já não existe. Pergunto onde é que eles vão por agora o ponto*. 

[*Já após a entrevista foi prolongado o eixo da incidência na matriz de risco]

Como é que Ovar se ‘levantou’ e está a ‘levantar’ dos efeitos da pandemia – a níveis social e económico?

Tenho reivindicado muito, pelo menos por esse mês em que ficámos sitiados, em que as nossas empresas não puderam trabalhar, tenho pedido sempre de uma forma muito construtiva e dialogante junto do Governo que haja uma discriminação positiva. Nesse mês, merecíamos ser discriminados pela positiva. De todas as formas, mais uma vez tenho de tirar o meu chapéu às pessoas de Ovar, designadamente aos seus empresários, porque souberam, de imediato olhar para estes problemas e estas ameaças como verdadeiras oportunidades.

Temos muitos casos de sucesso de pessoas que se souberam reinventar, readaptar, pessoas que souberam catapultar o seu know-how para aquilo que são os desafios atuais. Naturalmente que temos pessoas a passar mal, pessoas que perderam os seus empregos, pessoas que estão a viver dificuldades sociais pontuais, mas também temos muitos casos de sucesso, mesmo ao nível do comércio e, sobretudo, ao nível do nosso tecido empresarial. Têm-se reerguido como sempre: com muito trabalho, muita determinação, também com a nossa proximidade e a nossa ajuda.

O problema não está resolvido, longe disso. Estamos muito cautelosos, com muito respeito. Porque é como digo: neste momento, cá em Ovar estamos bem, temos um acumulado nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes inferior a 70 – ainda estamos longe desse número de alerta que é o 120, em que depois é necessário ter duas semanas consecutivas com esse valor para, eventualmente, recuar. Estamos longe disso, mas acho que é muito complicado mantermo-nos nesta bolha até porque, neste momento, não há nenhum obstáculo ao vírus.

Temos o Porto já como está, Gaia como está, Aveiro como está, Arouca como está… Ainda por cima temos praias extraordinárias aqui no nosso território e as pessoas vêm para cá. Vamos aguardar. Espero que as coisas possam correr bem, mas temo que, neste período crucial em que o setor turístico é decisivo, podermos ter aqui estes recuos e avanços possa ser muito complicado para as nossas gentes. Temos muitas pessoas que dependem desta sazonalidade do verão e das atividades económicas conexas.

Acho que já foi dado o benefício da dúvida tempo que chegue a este Governo para mostrar o que vale e, em termos de gestão de pandemia, naturalmente, que a nota é muito negativa 

O primeiro-ministro confirmou que o país está na quarta vaga da pandemia. O que podemos pedir mais à população ou fazer diferente?

Temos de pedir é, sobretudo ao Governo, que tenha uma mensagem de seriedade, de verdade e que não tenha atitudes e medidas que as pessoas não percebam. Pedir mais às populações acho que é injusto. As pessoas estão a colaborar, estão a dar o seu melhor. Naturalmente que estão fartas de tudo isto, mas têm uma enorme paciência, uma enorme resiliência.

O que não é correto é esta gestão da pandemia, com erros a acumularem-se ao longo dos tempos, onde se permite a organização de grandes eventos e ninguém percebe. Onde temos uma intransigência completa na monitorização desta pandemia, designadamente com esta matriz de risco que não incorpora um valor decisivo que é a vacinação… quando temos tratamentos a existir perfeitamente iguais para quem está vacinado e para quem não está.

Acho que já foi dado o benefício da dúvida tempo que chegue a este Governo para mostrar o que vale e, em termos de gestão de pandemia, naturalmente, que a nota é muito negativa. Se, na primeira vaga, todos nós percebemos e todos nós ajudámos, agora as coisas são muito complicadas. O que é que justifica, neste momento, um atraso nos rastreios de semanas? Não pode. Já todos sabíamos disto há muito tempo. Estar a retirar o ónus e a responsabilidade ao Governo e passá-la para os cidadãos… já chega. Já tentaram isso uma ou duas vezes. Que deem o exemplo, que assumam as suas responsabilidades. Que saibam planear de uma vez por todas. Que tenham uma estratégia bem definida. Que passem uma mensagem de verdade. Que não tenham medidas avulsas.

E quanto à matriz de risco – que atualmente está no vermelho escuro – o que tem a dizer?

Não me cabe estar aqui a apresentar soluções, também não sou conhecedor de todos os dados. O que nós temos de exigir ao Governo é, sabendo que as condições agora em julho são completamente diferentes das condições de abril, estar-se a manter o mesmo método, a mesma forma de analisar, monitorizar e, depois, de atuar, na minha ótica não é correto. Agora, não me cabe a mim essa competência. Mas que está errado… está. Aliás, hoje quero saber como é que colocam lá o ponto, se não mexem na matriz*. 7

Vacinação: balanço positivo e espero que possa continuar assim. Na certeza de que, aquela famigerada imunidade de grupo, não vai ser tão fácil de ser atingida, não vai ser com 70%

Como está a decorrer o plano de vacinação? Que elogios ou críticas lhe merece?

Muito bem. Merece muitos elogios mesmo. As coisas estão a correr bem e merecem elogios a ACeS do Baixo Vouga, a nossa task-force, mas, merece sobretudo elogios quem, na prática e no terreno, implementou todas as condições para que assim fosse. Temos uma logística muito otimizada num edifício que pertence à Câmara Municipal, em que todas as condições que lá estão – seja de sinalética, seja de operacionais – foram implementadas pela autarquia. Está a correr bem e também ajudámos muito a que pudesse correr bem. E deixo votos que continuem a correr bem não só aqui mas no país inteiro, sabendo que esta é a nossa principal ferramenta para combater este vírus. Agora, há que ter noção de que há pessoas que se reinfetam e não são tão poucas quanto isso, há que ter noção que há pessoas que se infetam depois de ter as duas doses da vacina e há pessoas que têm necessidade de cuidados hospitalares depois de terem as duas doses. E falo daquilo que sei.

Vacinação: balanço positivo e espero que possa continuar assim. Na certeza de que, aquela famigerada imunidade de grupo, não vai ser tão fácil de ser atingida, não vai ser com os 70%. Será, infelizmente, com uma percentagem mais elevada. Vamos aguardar, sou um otimista e estou sempre à espera que as coisas corram bem. Mas este planeamento não tem sido o melhor. 

Sendo um otimista está confiante na vitória a 26 de setembro. 

O futuro a Deus pertence.

Sou uma pessoa que, graças a Deus, tenho uma vida, quer em termos profissionais, quer em termos pessoais, muito interessante. Não dependo da política para absolutamente nada. Aliás, tenho perdido muito, designadamente em termos financeiros

Mas tem auscultado, mesmo em tempos de pandemia… 

Tenho, tenho. Aliás, uma das razões para me recandidatar é precisamente essa energia, essa motivação que recebo dos meus concidadãos com quem interajo com muita facilidade. Mas, em política, até ao dia das eleições está sempre zero a zero. Vou partir em pé de igualdade com toda a gente e à medida que os votos começarem a aparecer nas urnas é que começa a ser diferente. Muito respeito pelos meus opositores, muito respeito por quem manda em Democracia, que é o povo, e também a humildade de, depois, saber interpretar os resultados.

Sou uma pessoa que, graças a Deus, tenho uma vida, quer em termos profissionais, quer em termos pessoais, muito interessante. Não dependo da política para absolutamente nada. Aliás, tenho perdido muito, designadamente em termos financeiros. Estou preparado para, de um dia para o outro, deixar de ser aquilo que sou hoje. Estou de presidente de Câmara, não quer dizer que seja presidente de Câmara para sempre. Encaro a política como atividade passageira, mas vou dar o meu melhor para tentar conquistar o máximo número de votos possível e espero ganhar.

Pensa que o PS poderá ser ‘castigado’ nas autárquicas pelas medidas tomadas na pandemia? 

Aqui em Ovar espero que castiguem muito o PS [risos]. Mas há que ter a noção que estas eleições são muito direcionadas às pessoas, aos projetos, às equipas, e muito menos à questão ideológica. Naturalmente que o partido que tiver melhores candidatos é aquele que tem maior probabilidade de ganhar, mas a influência em termos nacionais também existe. Digo com frontalidade, não vou ser aqui ingénuo.

Por exemplo, em 2013, o PSD sofreu uma derrota forte e não foi apenas pelos seus candidatos e pelas suas equipas, houve aqui uma componente nacional. Penso que poderá existir aqui também – não sei com que percentagem – uma influência nacional no resultado das autárquicas nas várias terras. E penso que essa influência será negativa, porque nunca vi um Governo com tamanho desgaste, um Governo com tamanhas guerras internas e com a gestão de uma série de dossiers que não tem sido a melhor. 

O PS pode criticar tudo e mais alguma coisa, mas não pode criticar a atitude do PSD no âmbito da gestão da pandemia

O PSD tem a ganhar ou poderá ser penalizado por uma eventual perceção de falta de ser oposição também a nível nacional?

O PSD deu um grande sinal de sentido de Estado em colocar os interesses do país acima de tudo. O PS pode criticar tudo e mais alguma coisa, mas não pode criticar a atitude do PSD no âmbito da gestão da pandemia. Desde a primeira hora, desde logo com os seus autarcas que se apresentaram como verdadeiras extensões do Governo - onde me incluo – demos o nosso melhor em prol do país.

Temos um líder da oposição, o dr. Rui Rio, que também é prova de lealdade ao país, de ajuda, de colaboração, que desconfio que nunca mais vai existir no nosso país. O PS pode-se queixar de muita coisa, não se poderá queixar da falta de colaboração por parte do PSD. Se os erros aconteceram, se as falhas aconteceram, devem-se apenas e só ao Governo e não às condições políticas que lhe foram criadas. Porque, independentemente de todos os outros – apesar de os respeitar completamente – o PS, tendo o apoio inequívoco do PSD, teve aqui todas as condições politicas para implementar Estados de Emergência, retirá-los, fazer o que bem lhe apetecesse. Tinham essa cobertura. No que diz respeito ao facto de o PSD ser penalizado… isso depende da avaliação de cada um. Mas acho que quem está a ser avaliado, transpondo para a realidade nacional, é o Governo, não o PSD. 

O que é um bom resultado para o PSD nestas próximas eleições? É mais uma Câmara que em 2013?

Essa é uma avaliação que vai ter que acontecer no dia a seguir às eleições. Não quero entrar por aí, mas já foi dito mais do que uma vez – e toda a gente já percebeu – que essa análise será feita com seriedade, com frieza, e as consequências irão existir. Se o resultado for bom ou mau, tudo depende, porque não podemos estar a avaliar apenas pelo número absoluto de Câmaras, temos umas maiores, outras menores… temos locais onde ganhar um vereador tem uma força muito grande. Locais onde nunca na vida ganhámos um vereador. Temos outros onde ganhar Câmaras é normal. É uma análise que tem de ser feita. 

Há Câmaras que nunca saíram da alçada, por assim dizer, do PS, do PSD ou do PCP… 

E temos locais onde se encontra uma social-democracia muito diminuta. Não fugindo à questão, fazendo parte dessa Comissão Nacional Autárquica e tendo acompanhado a maioria dos processos, faço uma avaliação extremamente positiva de como o processo decorreu e estou muito esperançado em ganhar Câmaras - não é uma Câmara, são Câmaras. 

Mas, por aquilo que transpareceu, esse não foi um processo calmo.

Foi um processo que decorreu com normalidade, onde a comunicação social empolou tudo o que eram problemas dentro do PSD e esqueceu completamente os problemas que estavam a existir noutros partidos. O PSD apresentou praticamente todos os seus candidatos e o PS não tinha os candidatos apresentados: tinha problemas no Porto, em Barcelos, em Ovar, em todo o lado… e não saiu uma única notícia. Não era por falta de conhecimento dos jornalistas, os jornalistas sabiam, não foi correto e, particularmente, não apreciei.

Naturalmente que em 304 concelhias é normal que haja problemas que precisam de ser resolvidos. Gostava era que fizessem essa divulgação, essa publicidade, aos problemas que aconteceram nos outros partidos também. Na generalidade, no PSD correu muito bem e já acompanho isto há anos.

Rui Rio é uma pessoa séria e correta que merece a minha lealdade, para que fique claro, até à minha última gota de sangue

Rui Rio já assumiu que um mau resultado é um “encontrão” para cair. Enquanto vice-presidente do PSD como vê estas palavras?

O presidente já explicou, também não vejo porque estamos outra vez a falar disso. Foram palavras que foram ditas num determinado contexto, em que a jornalista lhe perguntou se tivesse um resultado ainda pior que em 2017 se seria um encontrão. É uma pessoa séria e correta que merece a minha lealdade, para que fique claro, até à minha última gota de sangue.

Acho que nós, portugueses, não devíamos perder esta oportunidade de ter um primeiro-ministro com tamanha competência, com tamanha seriedade, com tamanho espírito de missão e que entra, até, aqui, em contraponto absoluto com a experiência que temos hoje de António Costa e com a experiência anterior do PS com José Sócrates… Rui Rio é, precisamente, a antítese disso tudo. Não tenho a menor dúvida de que ele seria um extraordinário primeiro-ministro e de que todos os portugueses iam ficar muito satisfeitos.

Aquilo que faço votos, de coração, é que os resultados que o PSD consiga obter no dia 26 de setembro – e espero que sejam os melhores possíveis – sejam resultados que permitam que Rui Rio continue à frente do PSD. E, se ele continuar a confiar, terá em mim um dos seus principais apoiantes nas horas más e nas horas boas. 

Com as qualidades que aponta a Rui Rio, o que se passa? A mensagem não passa? É incompreendido?

Quer comparar os problemas internos do PSD com os problemas internos que estão a acontecer no PS, designadamente no seio do Governo? Em que há duas alas completamente identificadas, desde já, a atacarem-se mutuamente? Naturalmente que os atributos de seriedade, de competência, de sentido de Estado de Rui Rio… Rui Rio é um líder que não é populista, não é uma pessoa que diz apenas aquilo que o povo quer ouvir. Diz aquilo que deve ser dito, é uma pessoa que fala por convicção e, depois, não entra nessas estratégias de haver uma série de cedências com a comunicação social.

Não tenho a menor dúvida que a comunicação social, na sua generalidade, não está a ser imparcial. Quando temos um líder que tem qualidades extremas – ainda por cima com uma comunicação social completamente hostil -, aquilo que passa é uma mensagem que é deturpada. A mensagem não está a passar – palavras suas, não são as minhas –, porque a comunicação social não faz grande esforço para que assim seja. Está sempre à procura do pequeno problema dentro do PSD, quando eles são muito maiores noutros partidos. Mas sou daqueles que respeito e confio muito na inteligência do povo. Creio que pode demorar mais umas semanas, mais uns meses, mas o povo vai dar razão a esse grande líder que é Rui Rio.

Que mensagem quer deixar ao povo de Ovar e aos restantes portugueses?

Quero deixar uma mensagem de muita saúde para todos. Que todos estejam de bem com a vida, que tentem simplificar aquilo que é passível de ser simplificado. Às vezes damos importância a questões acessórias e descuramos as questões decisivas.

Vamos entrar aqui num período autárquico em que o apelo que faço é que analisem as pessoas, os seus projetos, que façam uma avaliação não só dos últimos dois ou três meses mas dos mandatos todos que estão para trás, da continuidade que tem existido… e, depois, que decidam por convicção, em liberdade completa. E participem, não deixem de participar, mas votem de forma consciente. 

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