"O presidente do partido não tem de ser o candidato a primeiro-ministro"
Nuno Miguel Henriques, candidato à liderança do PSD, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.
Política Nuno Miguel Henriques
Assumidamente com objetivos distintos dos de Rui Rio e Paulo Rangel, Nuno Miguel Henriques, militante social-democrata há quase 30 anos e ex-candidato a presidente da Câmara Municipal de Alenquer, diz, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que a sua candidatura à liderança do partido, a que chama "terceira via", é um "grito de alerta" para mostrar que o "PSD é muito mais do que dois pensamentos".
Lamenta que milhares de militantes de base não consigam fazer ouvir as suas vozes e defende uma revisão dos estatutos para que a democracia interna deixe de ser apenas uma aparência e passe a ser uma realidade.
Candidata-se para enriquecer o debate interno e não vê com bons olhos o duelo protagonizado pelos candidatos "mais badalados" numa altura em que se deve priorizar os interesses do país e do partido.
O vereador da Câmara Municipal de Alenquer não aponta diretamente o dedo aos seus adversários internos, mas critica o sinal de "poder pelo poder" e de "ambição desmedida" na política. Defende que há circunstâncias em que o presidente do partido não deve ser o candidato a primeiro-ministro, destacando que Rui Rio tem um perfil mais executivo e Rangel um lado político-partidário.
Está disposto a colaborar com qualquer um dos outros candidatos porque, contas feitas, o que os une "é muito maior do que aquilo que os separa". Para formalizar a candidatura, Nuno Miguel Henriques precisa de reunir 1.500 assinaturas, um processo que ainda decorre e que acredita que vai chegar a bom porto.
A candidatura não surge com o objetivo propriamente de ganhar eleições internas do partido, mas com o propósito de dar voz a muitos militantes
O que o levou a entrar na corrida à liderança do PSD? Equacionava fazê-lo mesmo num cenário dito normal, sem crise política e sem eleições antecipadas?
Não. O que se passou foi que que, já que não unanimidade – como acho que poderia ter acontecido – em relação a uma candidatura, e havendo um cenário de eleições antecipadas, achou-se que era necessário aquilo que chamamos uma terceira via. Ou seja, uma via mais humanista e, também, para trazer novas ideias e propostas de âmbito cultural e social. A candidatura não surge com o objetivo propriamente de ganhar eleições internas do partido, mas com o propósito de dar voz a muitos militantes que não a têm. E, também, trazer novas temáticas à luz do dia.
Nomeadamente?
Uma política cultural inclusiva, uma política social diferente e também territorial. Portugal é muito mais do que apenas Lisboa e Porto e é preciso valorizar todo o território, incluindo os locais de baixa densidade populacional, que podem ser uma mais-valia. Essencialmente, o que eu quero trazer é um alerta às outras candidaturas, ao partido, ao Conselho Nacional, dizendo que nós, militantes de base, também existimos, que temos ideias e outras formas de pensar que são um contributo positivo para as candidaturas, para a liderança, para o governo, não só da nação mas também para as autarquias.
Não concorre então para ser líder do partido e se candidatar a primeiro-ministro mas sim para enriquecer o debate interno?
Exatamente. Para enriquecer o debate interno com determinadas áreas que eu acho que estão a ser uma lacuna. Não somos utópicos, sabemos como as coisas funcionam. Sou militante há quase 30 anos. Há muitos anos que levo moções a congressos nacionais e não passam disso. Eu e muitos militantes.
Durante os últimos 15/20 anos, a voz dos militantes e as preocupações com a verdadeira matriz social-democrata não têm chegado junto das populações
Sente que a voz de muitos militantes não é escutada?
Sim, porque as estruturas não têm funcionado. Há agora o Conselho Estratégico Nacional (CEN), que é uma ajuda e que tem sido positivo, mas muitas vezes não chega onde deve. Quando é hora de decidir, muitas vezes funcionam os lóbis tradicionais. Estamos a falar de muitos, muitos, muitos militantes – milhares – cujos pensamentos não chegam onde deviam chegar. Antigamente, havia no partido o gabinete de estudos nacional, do qual outrora fui coordenador da área da cultura, quando era líder do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Havia um debate que o CEN veio substituir um bocadinho, mas, durante os últimos 15/20 anos, a voz dos militantes e as preocupações com a verdadeira matriz social-democrata não têm chegado junto das populações. Os protagonistas que estão no debate, e na comunicação social, e até como comentadores, são os mesmos das duas décadas e meia. E é preciso novos rostos porque o partido tem-nos. O PSD tem quadros valiosíssimos, só que são esquecidos nas suas concelhias, nas suas distritais, e muitas vezes não são valorizados porque os lóbis funcionam mais para afastar aqueles que têm um pensamento próprio, diferente e que não são carneiros. Não precisamos de carneiros, a social-democracia e o partido vive da sua democracia interna e isso é que é a grande riqueza.
Defende que uma terceira via faz falta, não só ao PSD como também ao país. No que é que se consubstancia a sua candidatura como terceira via no partido e no país?
Esta candidatura é um grito de alerta para dizer que o PSD é muito mais do que estes dois pensamentos, do que discutir datas e uma aliança ou outra. Temos de mostrar que, ao contrário do que as pessoas pensam, o PSD foi sempre dos melhores quando esteve na governação nas áreas da cultura. E não é só com subsídios, não é só com dinheiro. Isso faz-se através de uma política inclusiva da cultura e do turismo. Temos de provar que somos bons no turismo porque temos a cultura e vice versa.
Não podemos ter uma cultura de elite, mas do verdadeiro povo, sem medo da palavra povo e de utilizarmos a nossa língua, a língua de Camões, a língua mais falada do mundo. Temos de usar a língua também como instrumento económico, sem medo da palavra, porque é uma riqueza económica. Um país sem memória não tem pensamento, e sem pensamento não existem ideias, e sem ideias não existe futuro.
Aquilo que trago ao debate são ideias de futuro para hoje e para amanhã. Esta terceira via quer afirmar-se dentro do partido para ter uma voz, para ter uma presença, para deixar uma marca indelével hoje e amanhã.
Diz que o partido precisa de novos protagonistas, porque os atuais o estão há muitos anos na ribalta. O que é que o distingue mais dos outros dois candidatos, Rui Rio e Paulo Rangel?
Tudo. Somos diferentes em tudo. Primeiro, não nasci no Porto. Nasci na Covilhã. Conheço o país todo. Vivi em vários sítios, até na Madeira. Tenho esta experiência territorial de vir do povo, de estar com o povo, de não estar agarrado a cargos. Sou um português igual a tantos outros. Portanto, distingue-me as origens, a maneira de pensar e de estar. Mas aquilo que nos une – a social-democracia - é muito mais do que aquilo que nos separa, se não não estávamos no mesmo partido. Sou mais do lado cultural e do lado social. A maioria dos políticos, mesmo de segunda e terceira linhas, são da área de direito e de economia, principalmente no PSD. Acho que precisamos de ter outros pensamentos.
Essa dificuldade de os militantes de base fazerem ouvir-se intensificou-se com Rui Rio ou pelo contrário?
Melhorou. Como lhe disse, com o CEN, melhorou, não sendo ainda o ideal porque as pessoas ficam a falar em círculos fechados. Mas também cabe à comunicação social, às entidades e organizações, começarem a dar valor e a chamarem outras pessoas. Muitas vezes é uma questão de não estarmos nos lóbis certos e de sermos tão mediáticos. Por exemplo, é uma falsidade completa dizer-se que o PSD não é um partido de cultura. É sim um partido de cultura e com preocupações culturais. Mas é preciso uma afirmação e uma sustentabilidade destas políticas, assim como uma política social. Não me venham dizer que a parte social é mais de Esquerda, não. Não temos que dar o peixe mas sim ensinar as pessoas a pescar. E temos de compreender os anseios da nossa população e do nosso povo. Tenho andado sempre junto do povo por todo o lado.
O sinal de outros, às vezes, é um sinal de poder pelo poder e de uma ambição desmedida. Não podemos pôr à frente dos interesses do país e do partido, mas principalmente das pessoas, os interesses de determinados sistemas e lobbies
Como terceiro candidato, que comentários lhe merece o duelo Rio vs Rangel e as tricas que têm protagonizado?
Acho que não é enriquecedor para o tal debate do partido. Houve a proposta [de Rui Rio] no Conselho Nacional de adiar as eleições internas, ficando a marcação suspensa até se saber o resultado da votação do OE no Parlamento. Decidiram marcar logo as eleições [inicialmente, para 4 de dezembro]. E eu acho que, às vezes, ‘depressa e bem não há quem’. Precisamos de refletir se vale a pena este duelo interno ou uma contribuição de todos para o mesmo objetivo. Quando se vai à luta pode não se ganhar sempre e quem não vai perde com certeza. Mas temos de ver que em política é uma questão de timing, dos métodos e dos sinais. E o nosso sinal é positivo e contributivo para todas as candidaturas e está definido o que é que pretendemos com os dados de que dispomos. O sinal de outros, às vezes, é um sinal de poder pelo poder e de uma ambição desmedida.
Não podemos pôr à frente dos interesses do país e do partido, mas principalmente das pessoas, os interesses de determinados sistemas e lóbis. Temos de ter o discernimento de ver o que é que é melhor. Há tempo para tudo. O PSD é um partido onde todos têm – e onde todos devem – ter lugar. Temos de saber se estamos no caminho certo. É errado em termos de timing determinadas críticas [no duelo Rio Vs. Rangel] que não são positivas.
Quando fala em ambição desmedida refere-se a Paulo Rangel?
Estou-me a referir a quem tem uma ambição desmedida. Em política não devemos ter uma ambição desmedida. Temos de ter uma ambição, sim, mas em determinados contextos, em determinadas alturas, para irmos a determinadas cenários.
A organização estatutária do PSD não está adequada aos tempos contemporâneos e precisa de ser revista a curto/médio prazo
Então alinha mais com o que defende Rui Rio relativamente ao adiamento das eleições internas?
Poderíamos esperar, sim. Mas as eleições foram marcadas e, a partir desse momento, estamos todos nas mesmas circunstâncias. E ainda pode aparecer outro militante qualquer a candidatar-se à liderança do partido. As eleições estão marcadas, estão marcadas. Sou a favor da democracia interna. Mas não é fácil este processo do PSD em termos de estatutos porque não dá oportunidade de as pessoas se candidatarem facilmente e de fazer como se fazia antigamente nos congressos, quando foram eleitos Cavaco Silva, Durão Barroso, Marcelo Rebelo de Sousa. Os líderes eram eleitos no próprio congresso sem esta questão das diretas dos militantes. É que depois começa o caciquismo de um lado e do outro e não deixam aparecer as tais ideias que antigamente apareciam. Não nos podemos esquecer que Marques Mendes, hoje conselheiro de Estado e grande comentador televisivo, foi candidato nesses congressos, às vezes com 3%/15%, tal como Santana Lopes. Candidatos que não apareceriam se não fosse por aquele método. Este método não é o mais eficaz. Há que refletir.
Outra questão que acontece é que nós, ao contrário do PS – que tem o seu secretariado nacional como o PSD a comissão política nacional – os eleitos não o são por método de Hondt. Dentro do secretariado nacional do PS, ou dentro das comissões políticas do PS, entram os vários pensamentos, pelo método de Hondt, conforme a eleição. No PSD não. Quer seja nas concelhias, quer seja nas distritais, quer seja a nível nacional, entra aquele que ganhou. Eu defendo que deve entrar, proporcionalmente, as várias fações de pensamento. Ao fim ao cabo, fazemos parte do mesmo partido e todos fazem falta. Os próprios estatutos não causam a tal democracia que deviam causar, só aparentemente. A organização estatutária do PSD não está adequada aos tempos contemporâneos e precisa de ser revista a curto/médio prazo.
O que está a dizer é que são os próprios estatutos que estão a impedir que a democracia funcione dentro do próprio partido?
Em parte, sim. Deviam estar todos os tipos de pensamento. Imaginemos o seguinte: Rio ganha as eleições dentro do partido, mas na sua comissão podiam ter assente, por exemplo, outros candidatos a líderes, por exemplo, proporcionalmente aos números de votos que tiveram, com as suas equipas, sendo que, aquele que ganha teria, obviamente, mais representatividade do que os outros. E deixava de haver estes duelos.
E as guerrilhas internas?
Exatamente. Nós temos rivalidades nas concelhias e nas distritais porque, muitas vezes, há estas guerrinhas que têm a ver com a própria organização estatutária que não vai ao encontro da social-democracia e que precisa de ser revista. Aquilo que nos une tem de ser sempre mais do que aquilo que nos separa. Vou também pôr em causa o conceito de militante ativo. O militante ativo não deve ser aquele que tem as quotas pagas, mas sim aquele que participa ativamente na vida do seu partido. Em quantas assembleias da concelhia ou da distrital participaram? A maioria deles não participam em nada e tem, por causa do tal caciquismo, a liberdade e o poder de decidir sobre o futuro do partido e, por consequência, o futuro do país, só porque tem a quota paga ou alguém lha pagou.
Tenciona também pedir uma audiência de cortesia ao Presidente da República?
Óbvio que sim. E não só. Até com os outros candidatos. Terei, a seu tempo. Não estou com a pressa de pôr a carroça à frente dos bois. Compreendo que o debate não possa ser da mesma maneira como se estivéssemos sem eleições legislativas já em janeiro. Espero que o PSD ganhe, que ganhe bem para governar e endireitar o país. Mas terei sempre esse lado institucional.
E a recolha das assinaturas? Já está concluída?
Está exatamente no mesmo processo dos outros candidatos. Tivemos uma reunião eleitoral na passada terça-feira e temos outra marcada para esta terça-feira. Tal como os outros candidatos, as assinaturas estão a ser recolhidas. As assinaturas, lá está, têm de ser de militantes com quotas pagas [e podem fazê-lo até ao dia 17]. Já foi feito o sorteio da ordem dos boletins de voto. A minha candidatura, se tudo correr bem, irá ser a primeira, depois Rui Rio e por fim Paulo Rangel. Estamos a trabalhar em conjunto com a comissão eleitoral e com a secretaria-geral, com elevação para que o processo decorra com a lisura com que tem de decorrer. O meu processo é exatamente igual ao dos outros. Eles estão com o objetivo da liderança, eu estou com o objetivo de trazer ao debate determinadas ideias e conceitos. E estou disposto a colaborar com qualquer uma das lideranças, digo já perentoriamente. Não me vou isolar.
No caso de uma segunda volta admite apoiar um candidato? Qual?
Até ao lavar dos cestos é vindima. No caso de uma segunda volta, temos de saber uma coisa: será que algum dos candidatos me apoia a mim, se for eu? Já pensou nisso? [risos]
Concordou com esta antecipação das diretas em uma semana, para 27 de novembro?
Concordei. Temos de despachar as coisas o mais rapidamente possível e arrumar a casa.
Estou disponível para debater com o candidato Paulo Rangel, se ele assim o entender. Sinto-me completamente preparado
E relativamente à estratégia definida por Rui Rio de não querer fazer campanha interna para se dedicar a fazer oposição ao PS e preparar caminho para as legislativas. Parece-lhe bem?
Compreendo e respeito. Mas gostava de ter um debate com os dois candidatos e demonstrar estas ideias. De qualquer modo, estou disponível para debater com o candidato Paulo Rangel, se ele assim o entender. Sinto-me completamente preparado.
E devo dizer-lhe uma coisa: Há uma jurisprudência política – Sá Carneiro fez isso – em que o presidente do partido não é, nem tem de ser, candidato a primeiro-ministro. E eu acho que em determinadas circunstâncias isso devia acontecer. Houve também candidatos a primeiro-ministro que não eram presidentes do partido, por circunstâncias extraordinárias. Se tivéssemos tido um presidente do partido durante o período da Troika que não fosse o primeiro-ministro, se calhar teríamos preparado as autárquicas de 2013, que foram muito más, e as de 2017, que foram péssimas, de outra maneira. Neste momento, estamos a recuperar o perdido durante esse tempo porque o presidente do partido era o mesmo que o primeiro-ministro (Pedro Passos Coelho), numa altura muito difícil para Portugal. Não ponho de lado esta situação que nem sequer é inédita. Imagine que eu era presidente do partido. Se calhar propunha outra pessoa para primeiro-ministro de Portugal.
Mas parece-lhe que Rio e Rangel acolheriam essa ideia?
Não sei. Rui Rio já assumiu que é candidato a primeiro-ministro, assim como também o fez Paulo Rangel. Eu não sou candidato a primeiro-ministro, sou candidato ao partido e para contribuir para qualquer um deles. Temos de ver o que é que é melhor em cada momento e não podemos tratar por igual o que é diferente.
E que ideias defende para a governação do país?
Acho que deve haver o ministério das forças de segurança em vez de termos o ministério da administração interna para a PSP, forças de segurança, Proteção Civil e etc, e o da Defesa com a marinha, Exército, Força Aérea e etc, e o da Justiça com os guardas prisionais e as PJ. Defendo um ministério único. Se calhar não tinha havido tantos casos. Temos o maior Governo de sempre.
Defendo o ministério do ensino, que integrasse o Ensino Superior com a formação profissional. Ou o ministério dos assuntos sociais, que combinaria os assuntos sociais e os da saúde. O ministério da Cultura e do Turismo juntos. O difícil é ser simples.
Tenho 100 ideias simples para um país complexo. O difícil é ser simples: menos Estado, melhor Estado. Dividir para reinar não veio favorecer nada a não ser os interesses instalados. E é isso que eu trago ao país. A primeira preocupação que devemos ter é a qualidade de vida e as pessoas serem felizes e termos no nosso mote, na social-democracia, palavras como felicidade, amor e qualidade de vida.
Acha que o PSD beneficiava, neste momento, em ter um candidato a primeiro-ministro diferente do presidente do partido?
Depende do candidato. O atual presidente do partido tem um perfil mais executivo de primeiro-ministro. Acho que não nos interessa, neste momento, ter um primeiro-ministro que seja político-partidário [Paulo Rangel]. Temos de ter um primeiro-ministro executivo com um lado muito económico – porque vamos ter uma crise – e também com a perspetiva social, com a preocupação com a qualidade de vida das pessoas.
Então, na sua opinião, Rui Rio encaixa melhor no perfil de primeiro-ministro.
Rui Rio tem um perfil mais executivo do que político-partidário.
E como é que avalia o desempenho de Rio como líder do principal partido da oposição?
Vou responder com a mesma resposta. Tem mais o perfil executivo do que político-partidário.
E isso tem sido positivo para o PSD?
No partido, precisamos de um lado mais político-partidário. No Governo da Nação precisamos de uma pessoa mais executiva.
Não me identifico com aquela esquerda radical, que está também no PS
Qual a sua visão quanto aos futuros entendimentos partidários pós-eleições legislativas? É favorável à ideia de um bloco central?
Ainda não vi ninguém ser favorável a um bloco central. Agora, uma revisão constitucional não se pode fazer sem o PS, porque é preciso dois terços. Não vejo problemas em dialogar com um lado ou com outro, mas não digo um bloco central, com ministros do PSD e do PS, para já, acho que não. Aquilo que eu não gosto de ver na governação são os extremos, seja da Direita seja da Esquerda, sem tolerância. Acho que o PSD tem de ser um partido de diálogo, tolerante e de entendimentos. Aquilo que posso fazer dentro destas duas candidaturas é fazer as pontes. Tem de haver tolerância. A política é a arte do “possível” e do “talvez”.
Não podemos criar cenários hipotéticos. Não me parece que um bloco central seja viável neste momento. Identifico-me como centro-direita e, obviamente, que as alianças serão mais feitas dentro deste âmbito. Não me identifico com aquela esquerda radical, que está também no PS. Não me parece que seja esse o caminho. Um dos grandes problemas de Portugal é também a própria Constituição. Temos de trazer temas como a regionalização, temos de trazer os próprios poderes da Presidência da República, do Parlamento e da Comunidade Europeia, à discussão. E isso passa por uma revisão Constitucional. Temos de mudar políticas nomeadamente no poder local.
Precisamos de uma justiça mais célere, mais eficaz. Precisamos de uma redução drástica da carga fiscal. Temos de ter uma revisão geral e longínqua, uma garantia, um pacto de 20 anos, sobre quais são os ministérios e quais são as regras. Do ponto de vista de qualquer empresário, quem é que quer investir num país em que hoje é assim e amanhã é assado?
E o PS e PSD, dialogando, poderiam chegar a esse pacto?
PS e PSD com os outros partidos todos. O PCP não pode ser excluído. É um partido histórico. Não pode ser excluído de determinadas opiniões e de determinados contributos. O CDS e a Iniciativa Liberal também não podem ser excluídos. São todos bem-vindos, desde que tolerantes e moderados. Não podemos ter é radicalismos. Não podemos ter esta carga fiscal imensa que destrói as famílias, principalmente da classe média. Hoje temos ou classe alta ou classe baixa. E as pessoas tentam mostrar que são felizes nas redes sociais, mas verdadeiramente não são livres e estão em depressão.
Temos de libertar as pessoas e dar desígnios a um país onde não tenham problemas ideológicos e complexos históricos a defender aquilo que é nosso e o nosso passado. Há aqui uma cartilha ideológica que está a estragar as gerações vindouras e que começa nas escolas e nas universidades.
Que cartilha ideológica é essa? Quer concretizar?
É uma cartilha ideológica muito de Esquerda, para quem parece que qualquer pessoa que tem uma empresa é um criminoso – e não é. Há uma cartilha ideológica de Esquerda radical até nos conceitos, nos costumes, nas tradições e na história. A história foi feita do que foi, não fomos nós que tivemos nos Descobrimentos. Parece que há aqui um preconceito. Devemos honrar o nosso passado, sem medo nenhum. É essa cartilha ideológica, que está a ser infiltrada em vários meios e começa nas escolas, que devemos combater. Vejo alunos com conceitos completamente distorcidos da realidade. São fait divers para desviar a atenção da realidade das preocupações das pessoas, que é a saúde, a qualidade de vida, a segurança – que não pode ser para a estatística.
Somos um país estatisticamente seguro, vai à rua e aos bairros sociais e nem tudo é seguro. E às vezes é mais valorizado um criminoso ou um preso do que um polícia ou do que um GNR. Depois têm medo de atuar. Claro, têm logo 50 processos em cima. E isso é ideológico.
Essa intolerância de que fala também a encontramos à Direita.
Encontramos em vários aspetos, à Direita e à Esquerda.
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