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"As pessoas estão a reagir muito bem. Sinto-me muito apoiada pelo país"

Há mais de 20 anos, era uma "adolescente complexada" e "melodramática". Agora, vai representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, com uma música que esteve "muitos anos a marinar à espera do momento certo". O Notícias ao Minuto esteve à conversa com Mimicat.

"As pessoas estão a reagir muito bem. Sinto-me muito apoiada pelo país"
Notícias ao Minuto

31/03/23 por Márcia Guímaro Rodrigues

Cultura Mimicat

Mimicat e o tema 'Ai Coração' venceram a 57.ª edição do Festival da Canção e vão representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, que este ano se realiza em Liverpool, no Reino Unido, entre os dias 9 e 14 de maio.

A cantora, cujo nome verdadeiro é Marisa Isabel Lopes Mena, gravou o primeiro álbum com apenas nove anos e participou no Festival da Canção pela primeira vez aos 15, em 2001.

Volvidos mais de 20 anos, decidiu voltar a participar através da candidatura de livre submissão. Conquistou o 2.º lugar na primeira semifinal e rumou à grande final, onde competiu com outros 12 temas. No final da noite de 11 de março, recebeu a pontuação máxima do júri regional e do público e sagrou-se vencedora da edição deste ano.

Ao Notícias ao Minuto, a cantora conta como têm sido as últimas semanas e quais as expectativas que tem em relação à sua participação no maior concurso de música do mundo. 

A 67.ª edição do Festival Eurovisão da Canção realiza-se em Liverpool, após a União Europeia de Radiodifusão (UER) e a BBC terem anunciado que o Reino Unido irá receber o festival, apesar de a Ucrânia ter vencido a edição anterior. Em causa estiveram incertezas sobre se o país teria condições para receber o evento por causa da invasão russa.

Como está o seu coração após vencer o Festival da Canção?

Agora parece estar a começar a acalmar mais um bocadinho, mas acho que é uma falsa sensação só por uns dias. Vêm aí novamente as festas pré-Eurovisão e as coisas começam a acelerar outra vez. Mas agora, em termos de emoções, já está tudo um bocadinho mais calmo. Apesar de o ritmo ainda não ter abrandado, as emoções já estão mais calmas. Mas estou muito feliz, claro.

Criei a música há 10 anos, depois achei que não era Mimicat. Então adiei, adiei e adiei. Ainda pensei dá-la a outras pessoas, mas nunca dei

No fim de semana, participou no 'Barcelona Eurovision Party' e segue-se uma agenda preenchida em abril. Considera que estes eventos terão impacto na prestação portuguesa em Liverpool?

Não sei se terão ou não. O meu objetivo com estas festas é aproveitar ao máximo a promoção que possa ter para a minha música, para a minha carreira e para o meu nome enquanto artista. Estou a tentar levar a minha música ao máximo de gente possível, tenha impacto na Eurovisão ou não. Estou a tentar fazer o máximo de promoção que posso.

E como foi o processo de criação de 'Ai Coração'?

Foi muito simples. Eu criei a música há 10 anos, depois achei que não era Mimicat. Então adiei, adiei e adiei. Ainda pensei dá-la a outras pessoas, mas nunca dei. Até que achei que desta vez estava na altura de a submeter para o Festival da Canção e assim foi: submeti a canção e tive a sorte de ser selecionada.

A canção esteve ali muitos anos a marinar à espera do momento certo. Tentei há cinco anos fazer uma primeira abordagem, depois tentei fazer outra com outras pessoas e não resultou também. Na primeira abordagem, o produtor do tema como o conhecem, não gostava dela, mas foi essa primeira demo que submeti ao Festival.

Era uma adolescente muito complexada. Era muito introvertida na altura. A típica melodramática. Acho que não aproveitei muito a adolescência

Participou no Festival da Canção pela primeira vez há mais de 20 anos. O que diria Mimicat de agora à Izamena de então?

Para ela se divertir e não ser uma adolescente tão complexada. Eu era uma adolescente muito complexada [risos].

Porquê?

Eu era muito introvertida na altura. Gostava imenso de estar trancada no quarto. Era a típica melodramática. Acho que não aproveitei muito a adolescência, aproveitei imenso o pós-adolescência, mas devia ter aproveitado melhor a adolescência. Dizia-lhe para que aproveitasse a sério.

tinha referido ao Notícias ao Minuto que participar no Festival era um sonho de criança… Sente que o realizou?

Na verdade, sim. Quando participei, em 2001, tinha 15 anos e nessa altura dava zero importância ao Festival. Só me apercebi do quanto eu queria participar no Festival há uns anos, principalmente depois de o Festival levar um 'rebranding' com a equipa nova, no ano do Salvador [Sobral]. A partir daí, voltei a reacender a chama de querer participar no Festival. Foi um sonho cumprido.

Tivemos ali uma altura em que os representantes que mandávamos lá para fora [para o Festival Eurovisão da Canção] não eram representantes da qualidade musical que tínhamos em Portugal e isso com a vitória do Salvador [em 2017] mudou

Acha que esse 'rebranding' influenciou a forma como o Festival é visto pelo público e pelos artistas nacionais?

Claramente! Até porque nós tivemos ali uma altura em que os representantes que mandávamos lá para fora [para o Festival Eurovisão da Canção] não eram representantes da qualidade musical que tínhamos em Portugal e isso com a vitória do Salvador [em 2017] mudou. A nova equipa do Festival começou a convidar pessoas com base na qualidade do trabalho e eu acho que isso veio dinamizar muito o Festival. Veio trazer uma grande plataforma da música portuguesa que não chega às rádios 'mainstream'.

Acho que, neste momento, o Festival da Canção é muito importante para os músicos portugueses, especialmente para os independentes.

Após vencer o Festival, destacou na conferência de imprensa que nunca teve muito reconhecimento no panorama nacional. Isso influenciou a sua expectativa em relação a uma possível vitória?

Quando fui para o Festival tinha a noção que estávamos todos em pé de igualdade. O Festival da Canção é uma coisa à parte. Não depende das rádios, depende única e exclusivamente do público que segue o Festival e gosta de ouvir as músicas, de dar a sua opinião e votar em função disso. É completamente imprevisível saber quem é que vai ganhar. Quando lançaram as músicas, não me importei muito com o facto de não ser das mais conhecidas. Mas, honestamente, não achei que ia ter a reação que tive à canção, mas fiquei muito feliz quando comecei a perceber que o feedback era positivo.

Como é que se sentiu quando percebeu que estava empatada no júri regional com o Edmundo Inácio? Podia ganhar ou ficar em segundo lugar…

Para mim, estar ali na final e estar numa posição em que de facto era uma das favoritas, já era uma vitória. Quando vi que estávamos empatados, até aceitei de muito bom grado. Pensei: "Ok, estou empatada com uma pessoa que efetivamente respeito". E achava que a canção era igualmente boa para representar o país. Se eu tivesse ficado em segundo - obviamente que a felicidade e a projeção são outras quando se ganha -, mas não teria ficado triste. Portanto, estava tranquila, honestamente. Estava expectante, mas estava tranquila.

Esta fase está a ser ótima, as pessoas estão a reagir muito bem. Sinto-me muito apoiada pelo país e, por isso, acho que é altura de aproveitar o momento 

Quais são, para si, as maiores dificuldades de um artista em Portugal?

Acima de tudo é conseguir chegar a um público abrangente. Eu não quero estar sempre a dizer mal das rádios, o problema não é só das rádios. Mas o público também fica muito viciado naquilo que ouve nas rádios e acaba por consumir muito o mesmo. Acho que, acima de tudo, há falta de plataformas de divulgação. O Festival é uma plataforma importantíssima de divulgação da música portuguesa e nós precisávamos de mais coisas assim. 

Se calhar em 'primetime', [precisávamos] de coisas que, de facto, conseguissem criar algum público e algum apoio e que não fosse só para os que já são conhecidos. Que fosse para pessoas que, efetivamente, têm um bom trabalho e precisam de um apoio extra na divulgação.

Vencer o Festival da Canção será um ponto de viragem na sua carreira?

Espero que seja uma ajuda extra. Já ia lançar um álbum de qualquer modo, o álbum vai sair este ano, mas já sabia que o Festival ia potenciar a promoção e a divulgação do nome. Já tinha um bocadinho essa perspetiva quando fiz a candidatura e acho que é possível que represente pelo menos uma alavanca. Se vai ser “o” ponto de viragem? Não sei, vamos ver. 

Estou recetiva a tudo o que está para acontecer e já há muita coisa a acontecer. Esta fase está a ser ótima, as pessoas estão a reagir muito bem. Sinto-me muito apoiada pelo país e, por isso, acho que é altura de aproveitar o momento.

Além do apoio do país, tem acompanhado as opiniões dos eurofãs de outros países? 

Em Barcelona, percebi que as reações eram muito boas. Do que me iam dizendo... E tenho amigos que vão vendo os vídeos de reações - eu não vejo, só vi uns dois ou três - e vão dizendo que [os eurofãs] falam bem. Portanto, daquilo que me contam acho que está a correr bem, mas vamos vendo. Pode tudo mudar na altura da Eurovisão, dependendo dos ensaios e tudo mais. Acho que há muitos fatores ainda. 

Ainda não estou nervosa, a minha perspetiva e a minha postura são muito do género: "Ok, isto é a maior oportunidade que eu vou ter na minha vida". Vou mostrar a minha música a milhões de pessoas ao mesmo tempo. Portanto, vou aproveitar e vou tentar divertir-me ao máximo

Não vê os vídeos de reações porquê?

Porque não tenho tempo [risos]. Honestamente, não tenho tempo.

Vai participar na primeira semifinal do Festival Eurovisão da Canção, que é considerada a mais renhida. Está nervosa?

Não, mas acho que vou ficar um bocadinho mais nervosa uns segundinhos antes de entrar em palco. Aquilo é um palco mesmo muito grande e eu ainda não o vi. Mas ainda não estou nervosa, a minha perspetiva e a minha postura são muito do género: "Ok, isto é a maior oportunidade que eu vou ter na minha vida". Vou mostrar a minha música a milhões de pessoas ao mesmo tempo. Portanto, vou aproveitar e vou tentar divertir-me ao máximo. Vou absorver o que puder e aproveitar a experiência. É um momento único.

E já teve oportunidade de ouvir todas as músicas da competição? 

Já ouvi algumas, sim. E gosto de algumas.

Qual é a sua preferida?

Gosto muito da de Espanha ['Eaea' de Blanca Paloma] e gosto da Loreen [que irá representar a Suécia com 'Tattoo']. Mas há uma favorita que eu tenho, que é a da Arménia ['Future Lover' de Brunette]. Eu, pessoalmente, identifico-me muito com aquele género de música e gosto muito da canção e da voz da cantora. Diria que é a minha favorita, mas a minha pessoa preferida é a Blanca Paloma, pela energia e por tudo, ela é maravilhosa.

Eu considero-me um cabaret português [risos]. Mas o que vamos fazer lá é um cabaret moderno

Na festa em Barcelona já esteve em contacto com outros participantes…

Sim, deu para conhecer. Estivemos ali todos juntos e a falar. Foi giro, muito giro.

E como estão os artistas de outros países? Calmos, nervosos?

Acho que estamos todos no mesmo 'mood'. Acho que está toda a gente a tentar aproveitar ao máximo esta experiência, estas festas, e estarmos uns com os outros. Acho que serve também para isso, para esta troca de música e de informação, no fundo. Perguntam-nos coisas sobre a nossa música e sobre o nosso país e nós perguntamos-lhes a eles. É muito engraçado. Está toda a gente um bocado com a mesma postura.

E sobre a sua atuação na Eurovisão, haverá novidades? Já falou num cabaret português…

Eu considero-me um cabaret português [risos]. Mas o que vamos fazer lá é um cabaret moderno. Vamos usar aquilo que temos lá e vamos fazer um cabaret moderno. E é o que posso dizer, o resto fica para depois [risos].

Passar à final já seria um bom resultado 

Vai atuar no mesmo dia que o Salvador Sobral [9 de maio] e, se for à final, será também a 13 de maio, o dia em que Salvador venceu o concurso. Há quem fale num presságio… Acredita?

[Risos] Não. Acho que é pura coincidência porque calha na mesma altura e eu não acredito muito nessas coisas, mas, se for para acontecer, eu fico feliz. Quem acredita, que reze [risos]. A minha mãe é crente e tudo mais, mas eu pessoalmente não ligo muito a essas coisas. Acredito mais na mistura entre esforço, trabalho, dedicação e talento. Acho que é só uma coincidência feliz. 

O que seria para si um bom resultado?

Passar à final. Já seria um bom resultado.

E depois de maio? O que se segue?

Concertos e um álbum na segunda metade do ano.

E o que nos pode contar sobre esse álbum?

O álbum vai ser uma viagem pela minha história de artista. É um álbum conceptual, dividido em três capítulos. Um vai ser de onde vim, outro onde já andei, e outro por onde irei. Vai ser um bocadinho uma viagem pela minha carreira. 

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