Lucas Rodrigues tem apenas 23 anos mas já realizou dezenas (quiçá centenas) de sonhos de desconhecidos com o seu projeto 'Lucas With Strangers', seguido nas redes sociais por mais de 2 milhões de pessoas.

Só no Tik Tok, o jovem, natural do Porto, tem mais de 1,9 milhões de seguidores. É por lá também que os seus vídeos chegam a ter mais de 4,4 milhões de visualizações.

Um sucesso que, ao contrário do que normalmente acontece nas redes sociais, se deve à missão de ajudar os outros e, tal como realça Lucas em entrevista ao Notícias ao Minuto, "espalhar felicidade num mundo digital desprovido de significado".

Muitos os que o seguem e que o viram oferecer – com a ajuda de patrocínios e doações - um ano de renda a um idoso, que estava prestes a tornar-se sem-abrigo, assim como a conseguir que um menino com cancro no cérebro conhecesse o seu ídolo, Cristiano Ronaldo, estão longe de imaginar que o projeto que hoje faz sorrir tantas pessoas foi a âncora que agarrou Lucas à vida, após um assalto violento que o deixou "preso num ciclo de ataques de pânico".

Recentemente, Lucas foi nomeado para os Globos de Ouro da SIC, na categoria de personalidade do ano na área do digital, estando o seu projeto a ganhar cada vez mais notoriedade.

Ver a ajuda ao próximo tornar-se algo 'mainstream' enche-me de esperança, porque mostra que estamos todos juntos nesta jornada para fazer o bem 

Foi nomeado para os Globos de Ouro da SIC, na categoria de personalidade do ano na área do digital. O que sentiu quando soube desta nomeação? 

Fiquei genuinamente surpreendido e muito grato com a nomeação. É um sinal de que o meu trabalho está a ter impacto. Mais do que isso, reflete o apoio incrível que recebo diariamente dos meus seguidores. Esta nomeação simboliza o nosso esforço coletivo para espalhar mensagens de amor e solidariedade no mundo digital. Ver a ajuda ao próximo tornar-se algo 'mainstream' enche-me de esperança, porque mostra que estamos todos juntos nesta jornada para fazer o bem.

Como é ser um dos maiores TikTokers de Portugal? É verdade que antes do sucesso de 'Lucas with Strangers' odiava redes sociais?

Eu ainda odeio redes sociais, na verdade. Só uso mesmo para trabalho. Acho que a minha geração (e não só) cada vez perde mais tempo com as redes sociais. Cada vez socializamos menos presencialmente, e a verdade é que o tempo passa mais rapidamente quando usamos as redes. E a vida já não é longa o suficiente para alcançar todos os sonhos que temos… 'passar o tempo' com algo que não nos acrescenta nada acaba por nos afastar do nosso potencial máximo. Tento afastar-me das redes sociais porque sei o quão viciantes podem ser. São a droga mais aceite socialmente. Mas claro, não posso deixar de mencionar que são uma ferramenta poderosa quando utilizadas corretamente. E já que existem e as pessoas passam a maior parte do tempo livre lá, tento canalizar a atenção dessa audiência para causas importantes e promover a ajuda ao próximo e espalhar felicidade num mundo digital desprovido de significado.

Quando fui assaltado e sequestrado, muita gente ouviu os gritos por ajuda durante horas e não chamou sequer a polícia
 
Quando é que o 'Lucas with Strangers' surgiu? E porquê?

Num momento da minha vida em que achava que não havia saída, que estava para sempre preso num ciclo de acordar com ataque de pânico, tentar sair de casa e falhar redondamente, e ir dormir depois de tomar medicação para lidar com os diversos ataques durante o dia. Não foi fácil. Mas vinha maioritariamente de uma crença errada de que o mundo era um local extremamente perigoso e que se precisasse ninguém me ia ajudar. Quando fui assaltado e sequestrado, muita gente ouviu os gritos por ajuda durante horas e não chamou sequer a polícia. Essa minha crença desapareceu quando comecei a falar com estranhos e a ver a imensa humanidade e bondade que tanta gente tem! Hoje, a minha comunidade, que tanto amo, é a maior prova disso. Há tanta gente disposta a dar do pouco que tem para ajudar alguém que precisa mais. Isso é lindo! E é impossível para mim agora ter a crença de que o mundo é um lugar mau, quando vejo tantos corações bonitos, entreajuda e amor diariamente, apesar das adversidades. A experiência traumática rapidamente se tornou uma experiência disruptiva positiva na minha vida. Levou-me a descobrir aquilo que realmente gosto de fazer, e sou muito sortudo por isso! Muita gente nunca descobre aquilo que foi feito para fazer. Por isso, de certa forma, tive sorte em ser sequestrado. 

Ainda se lembra do primeiro estranho que ajudou? Com quem gastou um terço do que tinha na sua conta bancária para lhe dar o que queria...

Não me lembro muito bem da cara dele porque estávamos numa altura em que usávamos todos máscara na rua, mas lembro-me bem do dinheiro. Eram apenas 10€ mas era 1/3 do dinheiro que tinha! Era um pedido simples, não propriamente uma ajuda no sentido tradicional. Mas foi o início de uma fase na minha vida. Esse pequeno gesto simbolizou o começo de muitos sorrisos e ações positivas que espero ter gerado desde então! 

Não há nada mais gratificante do que ajudar o próximo, e poder fazê-lo a tempo inteiro, é um privilégio enorme. Espero ter ajudado mais pessoas do que aquelas que aparecem nos vídeos

Entretanto, a pergunta 'Como é que te posso fazer feliz?' tornou-se viral. Como tem sido este caminho? Sabe quantas pessoas já ajudou?

Tem sido um caminho incrível! É indescritível o sentimento de acordar todos os dias entusiasmado para viver! Não há nada mais gratificante do que ajudar o próximo, e poder fazê-lo a tempo inteiro, é um privilégio enorme. Espero ter ajudado mais pessoas do que aquelas que aparecem nos vídeos. Espero que tenha inspirado as pessoas que os veem a ajudar o próximo para que possam sentir um bocadinho desta sensação incrível de saber que tornamos o mundo um bocadinho melhor do que o encontramos. 

No início, queria criar o máximo número de sorrisos possível. Agora quero mudar o maior número de vidas possível

Qual foi o pedido mais insólito que já lhe fizeram? 

Foi cantar e dançar Quim Barreiros em cima da mesa de um shopping e depois em cima de um caixote do lixo em Santa Catarina! Costumo falar algumas vezes desta história e, curiosamente, há uns dias, as raparigas que me fizeram esse pedido viram uma dessas entrevistas e mandaram-me mensagem! Foi engraçado ver também como o espírito do projeto mudou tanto. Acho que, no início, queria criar o máximo número de sorrisos possível. Agora quero mudar o maior número de vidas possível.

E o mais difícil de concretizar? 

Felizmente, tem sido cada vez mais fácil concretizar desejos! Uma rede de contactos maior ajuda muito… mas, sem dúvida, o mais difícil foi levar o Gonçalo a conhecer o Cristiano Ronaldo. Foi uma batalha enorme durante três meses para concretizar esse sonho! Mas conseguimos! Já não acredito em impossíveis.

Qual a história que mais lhe tocou? 

É impossível escolher! Há tantas histórias de superação, de resiliência e de emoções fortes que já vivi durante este projeto! Escolher uma delas é como escolher um filho favorito [risos]. Não tenho filhos mas imagino que seja impossível. Cada história é uma pessoa que tem um significado que transcende qualquer limite. São grandes amizades que se criam. Normalmente, a última história é a que tenho mais presente no meu coração, ou aquelas em que estou a trabalhar, mas é injusto dizer que me tocaram mais. Só me lembro melhor.

Ao contrário do que muita gente pensa, grande parte do dinheiro usado para ajudar as pessoas vem da minha conta (...) Mesmo em vídeos patrocinados dou sempre um contributo

Entretanto, agora já não é da sua conta que tira dinheiro para ajudar as pessoas. Como é que as suas ideias começaram a ser apoiadas?

A maior parte dos desejos e ajudas só é possível concretizar graças a patrocínios e doações, mas, ao contrário do que muita gente pensa, grande parte do dinheiro usado para ajudar as pessoas vem da minha conta. Não fazia sentido para mim não ajudar o meu próprio projeto e faço questão de ser sempre a maior doação em cada ajuda que dou. Mesmo em vídeos patrocinados dou sempre um contributo. Gosto de ajudar. E claro que criar as pontes, organizar tudo, é imenso trabalho e já ajuda! Mas gosto de contribuir ainda mais. 

Há muitas pessoas a quererem 'ajudá-lo a ajudar'?

Há imensa gente, de todas as idades e estratos sociais, a querer ajudar! É incrível e comovente de se ver! Há pessoas que têm cêntimos na conta mas decidem ajudar na mesma com esses cêntimos. Há corações muito bonitos. E felizmente são cada vez mais os que encontraram uma forma de ajudar através do meu projeto. Gosto da grande família que nos estamos a tornar, só de gente boa com o coração no sítio certo!

Gostava de ter dinheiro e tempo infinito para poder ajudar toda a gente. Acho que às vezes o maior desafio é até a gestão de tempo e não tanto de recursos financeiros

E recebe muitos pedidos de ajuda?

São dezenas ou centenas por dia, dependendo da altura! É impossível ver todos e muito menos ajudar todos. Essa é a parte mais ingrata do projeto. Gostava de ter dinheiro e tempo infinito para poder ajudar toda a gente. Acho que às vezes o maior desafio é até a gestão de tempo e não tanto de recursos financeiros. Há muito trabalho por trás das câmaras que é invisível mas raramente tenho tempo livre.

É uma fórmula fácil para a felicidade que muita gente procura, mas nunca tenta. Ajudar o próximo é uma fonte inacreditável de auto realização e alegria

E o Lucas, do que precisa para ser feliz?

Desde que esteja a criar felicidade, a mudar vidas e a ajudar pessoas, vou ser feliz! Acho que é impossível ser infeliz assim. É uma fórmula fácil para a felicidade que muita gente procura, mas nunca tenta. Ajudar o próximo é uma fonte inacreditável de autorrealização e alegria. Enquanto tiver a sorte de poder fazer disto o centro da minha vida, vou ser feliz!

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