"Sporting? Com mais apoio teria feito um trajeto mais longo e vitorioso"
Com o dérbi à porta, Ricardo Sá Pinto é esta semana entrevistado do Vozes ao Minuto, numa conversa onde o treinador de 44 anos aborda o seu passado recente, desde a sua passagem pela Arábia Saudita à saída do Sporting.
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Desporto Ricardo Sá Pinto
Ricardo Sá Pinto, antigo treinador, entre outros, de Sporting e Belenenses, é entrevistado do Vozes ao Minuto.
Na conversa mantida com o Desporto ao Minuto, o jovem técnico fala abertamente sobre os problemas que enfrentou na sua aventura no futebol árabe, refere que gostaria de ter tido mais acompanhamento em Alvalade e deixa entrever que a saída do emblema do Restelo aconteceu contra a sua vontade.
Em vésperas de dérbi, entre Benfica e Sporting, o ex-internacional português defende ainda que a continuidade de Bruno de Carvalho à frente dos destinos leoninos é boa para o clube, lembrando ainda que Jorge Jesus é também um dos pilares do projeto desportivo montado.
Atualmente encontra-se sem clube. Quando pensa voltar ao ativo? Como tem aproveitado esta pausa no futebol?
Penso voltar o mais rapidamente possível, como devem calcular. Tenho aproveitado esta pausa - em termos daquilo que é a minha atividade como treinador - para ler, para me informar, para me atualizar naquilo que eu acho que vai aparecer e que se vai inovando neste jogo, sobretudo a nível do que é a metodologia de treino. Já estive fora a observar uma equipa, para perceber outro tipo de métodos e ideias. Mantenho conversas com outros treinadores, vou dando algumas entrevistas e alguma opinião sobre a minha forma de ver o futebol e a minha forma de trabalhar. Pessoalmente, aproveito também para estar mais tempo com as minhas filhas, com a minha mulher e com os meus amigos.
Começou a temporada na Arábia Saudita mas ao fim de três meses saiu. O que é que correu menos bem?
Existem muitas diferenças. A nível cultural e a nível da forma de organização, do trabalho, do compromisso com a profissão. Quase todos os dias faltavam jogadores ao treino, havia alguma proteção da parte de quem liderava, havia pouco rigor na hora de fazer cumprir essas regras. Quando não há regras, não há exigência, não há profissionalismo. Por mais que alguém exigia, é difícil que haja um rumo ou um caminho sério a percorrer. Às vezes nem é uma questão de maldade, tem a ver com o próprio feitio das pessoas e com o pouco profissionalismo. Não estão talhados para a exigência que é a organização do treino, de uma ideia de jogo, das regras. Têm uma forma de estar diferente. Naquela altura em que fui para lá, fiz questão de explicar que tipo de treinador era, mas também já tinha percebido que iria para uma realidade diferente. Aliás, há quem me tenha dito: ‘Em vez de levares três malas de roupa, leva uma de roupa e duas de paciência’. Eu devia ter levado seis de paciência e uma de roupa. Mas é uma realidade completamente diferente. A minha relação com a equipa era muito boa, os miúdos eram fantásticos, tentaram dar o melhor deles e estavam envolvidos. Mas não deixaram a equipa crescer.
Em concreto, não estavam habituados ao futebol moderno...
Foram várias questões. Queríamos trabalhar de manhã e, às vezes, a porta estava fechada, tínhamos de esperar que alguém a viesse abrir para podermos trabalhar, porque para o treino só apareciam às 19h00 e o treino era às 18h00. Às vezes estávamos a trabalhar apareciam lá pessoas para fazer obras no nosso gabinete. Estavam a mexer no teto e caía alguma coisa em cima de algum dos meus adjuntos. Trabalhávamos com barulho constantemente. O nome dos jogadores estava assinado na folha de presenças, mas eu chegava ao treino e não estavam lá. A direção prometia, mas não cumpria. Houve ali muita mentira, pouco rigor, falta de profissionalismo e pouca vontade de trabalhar. Eu ia preparado para ter jogo de cintura, mas não para tanto.
Olhando para trás, arrepende-se de ter ido para Arábia Saudita?
Não. Acho que foi uma experiência de vida muito interessante. Acho que se toda a gente tivesse a oportunidade, deveria passar por ela. Se soubesse o que sei, teria tido mais cuidado, teria aprofundado mais, tinha procurado saber mais coisas ainda. Em termos profissionais, para o mesmo clube e com a mesma direção, não voltaria. Com os mesmos jogadores voltava. O clube tinha duas coisas positivas: financeiramente cumpria e tinha condições de trabalho. Ou seja, tinha um bom relvado, não ainda na perfeição, porque o calor não ajudava. Tinha de melhorar as condições do balneário, mas tinha piscina para a recuperação e um ginásio equipado. Havia o mínimo de condições. Tinha um estádio com um bom relvado. A grande rutura foi com a administração. O futuro nunca se sabe, mas que irei ter ainda mais precauções, irei.
Disse que não levou a sua família e que os seus adjuntos também não. Já teve outras experiências no estrangeiro, não foi, neste caso, por ter ido para o país que foi?
Normalmente não vão porque esta vida de treinador é muito volátil. Não sabemos se duramos cinco anos ou um mês. Infelizmente, nunca se sabe bem o nosso futuro. Dependemos de muitas variáveis. Mudar a família com estas variáveis todas não é fácil. Prefiro que fiquem cá [em Portugal] e que me vão visitar ou vice-versa. Se é um projeto que sabemos vai durar dois anos, a família adapta-se e vai comigo, desde que haja condições para que as minhas filhas continuem a estudar.
Tem passagens, enquanto treinador, por Portugal, Sérvia e Grécia. Acredita que essas experiências fazem de si um treinador mais completo?
Todas as experiências nos tornam mais completos. Quando constatamos que aquilo que estamos a fazer é para continuar e quando há coisas que fizemos para corrigir ou para alterar. Em todas as minhas passagens, em que tive de me adaptar à cultura do clube e do próprio país, tive experiências muito enriquecedoras em contextos bastante difíceis.
A Grécia e a Sérvia são países que não têm muita paciência para os treinadores e que não dão o tempo necessário para que as coisas aconteçam. Tive a felicidade de que as coisas tivessem corrido bem. No Belenenses tive também um trajeto espetacular. Fizemos algo inacreditável, algo que ninguém pensou em 100 e tal anos de história do clube. Com grandes vitórias, com grandes conquistas em termos de Liga Europa, onde batemos todos os recordes na história do clube com uma equipa 100% portuguesa. Foi financeiramente muito importante, consegui ajudar a reduzir em muito o passivo. Foram muitos os milhões que entraram. Era um projeto que estava a correr dentro da sua linha. Infelizmente, não foi possível dar continuidade e, se quer que lhe diga, nem eu percebi bem porque é que as coisas não estavam a fluir. Estávamos em 12.º lugar, a três pontos do Arouca, que foi à Liga Europa.
Mas lá está, houve coisas que não foi possível concretizar. Estava num projeto no qual me sentia bem e que gostava de ter continuado, mas, por várias razões que não vale a pena estar a enumerar, não foi possível continuar. Por último, a experiência na Arábia também aconteceu num contexto difícil. Foram experiências com resultados diferentes, mas todas elas me fizeram melhor treinador.
Reafirmo aquilo que disse. A forma como entreguei e aquilo que a equipa fez… merecia outro desfecho. Estávamos em quatro competições, fizemos algo extraordinário. Tive pena de me vir embora e não era essa a minha ideia
Sobre o Belenenses, sentiu-se injustiçado?
Sem dúvida. Merecia ter tido mais apoio em todos os aspetos, mas o futebol é o que é. Não tenho de olhar para trás, mas foi um clube em que gostei de trabalhar e que gosto muito. Acho que merecia ter continuado com o projeto mas, infelizmente, não aconteceu.
Chegou a dizer-se que podia existir alguma interferência do presidente…
Não vou abordar essas questões que se passaram a nível interno. Reafirmo aquilo que disse. A forma como entreguei e aquilo que a equipa fez… merecia outro desfecho. Estávamos em quatro competições, fizemos algo extraordinário. Tive pena de me vir embora e não era essa a minha ideia. Era um projeto que gostava de ter acabado. Fiquei com pena.
O Sá Pinto faz parte de uma geração de treinadores pós-Mourinho. Acha que os treinadores portugueses têm condições para chegar ao nível do José?
Qualquer treinador tem condições para lá chegar. É um caminho difícil. Mesmo o próprio José disse que tinha de se reinventar, apesar de todo o conhecimento e experiência que tem. Está a ter dificuldades em voltar a pôr as suas equipas a jogar e a torná-las mais fortes. O futebol é isto, são muitas variáveis.
Os treinadores portugueses são dos melhores que existem a nível mundial. A nossa escola é metódica, organizada, de rigor, de trabalho, de dedicação, de estratégia e de estudo. Estudamos muito e dedicamo-nos muito à profissão. Tem de existir paixão. Isso é meio caminho andado para termos sucesso. Para chegarmos ao nível do Zé o caminho é muito longo, muito difícil e não vai ser fácil para um treinador português chegar, tão cedo, ao nível dele. Acho que ele apanhou um timing ideal. Mesmo a pré-disposição numa determinada idade, a energia que tem, a paixão que empresta. Mesmo que essa experiência tenha sido adquirida, há ali coisas que vão mudando.
E o que lhe tem faltado para chegar a esse nível?
O que me tem faltado na minha carreira é ter uma estrutura à minha volta, a nível de direção, com a minha mentalidade de exigência e rigor. Que é muita para este nível. Exijo-me a mim primeiro e depois aos outros. Isto, para mim, é fundamental. Não consigo ser diferente do que fui enquanto jogador, em termos de dedicação e trabalho. Habituei-me a ganhar e quando não ganho tanto como treinador como ganhava como jogador, a mim faz-me muita confusão, principalmente quando sei qual o caminho que preciso de fazer.
Se tento assumir a responsabilidade do cargo que exerço e, logicamente, perceber que tenho de ser o líder de uma equipa, posso ter um lado emocional, mas tenho de ser mais racionalHá pouco falou em características de jogador que também transportou para a carreira de treinador. O que é mudou do Sá Pinto jogador para Sá Pinto treinador? Quando começou a treinar o Sporting, as pessoas ainda estavam habituadas ao Sá Pinto guerreiro dentro de campo e depois nas conferências de imprensa era uma pessoa muito calma...
Algo que me deixa triste é ser preso por ter cão e preso por não ter. Se fosse demasiado emotivo diziam ‘pois ainda pensa como jogador e ainda é o mesmo tipo emocional e não tem controlo’. Se tento assumir a responsabilidade do cargo que exerço e, logicamente, perceber que tenho de ser o líder de uma equipa, posso ter um lado emocional, mas tenho de ser mais racional. As pessoas não estão habituadas e depois não perdoam, não aceitam. O que posso fazer contra isso? Talvez haja alturas em que sou mais agressivo nas conferências de imprensa e outras alturas em que não tenho o de ser. Ninguém vai traçar o meu perfil e eu farei aquilo que acho que tenho de fazer. A diferença que existiu foi essa. Assumir a responsabilidade do cargo que assumi. A racionalidade, a prudência, a paciência, foram das coisas que mais me consumiram na hora de ser treinador. Tive de ser mais tudo e mais competente em várias áreas do que era anteriormente. Mesmo na comunicação, não comunicava por comunicar. Não sou perfeito, nem ninguém o é, e nas pessoas não há unanimidade, principalmente quando se está ligado a um clube grande. Os treinadores têm de estar atentos a tudo. Um simples levantar de mão ou um olhar mais penetrante têm impacto. Tudo o que nós fazemos tem de ter impacto. Estamos sempre a ser avaliados, sobretudo pelos jogadores. Se olho mais para um ou para outro…. tudo isto tem impacto. Temos de estar sempre, sempre a pensar em tudo o que fazemos. E isto desgasta muito.
Foi uma transição difícil para si?
Foi uma transição complicada, foi diferente. Nada é fácil. Eu tive uma particularidade, sempre gostei muito do jogo e sempre tive a perceção do que se passava dentro do jogo. Comunicava muito com os treinadores que delegavam em mim determinadas tarefas dentro do grupo. Portanto, sempre percebi muito do jogo, mas também tinha a noção de que ser treinador era algo exigente. Dentro do próprio jogo, quis continuar a viver a minha paixão de forma útil. Quis perceber e formar-me em diversas áreas. Licenciei-me em comunicação, fiz um curso em gestão no desporto e marketing, e um mestrado, em que defendi uma tese relacionada com a liderança no futebol. Fiz entrevistas qualitativas a ex-jogadores internacionais. Depois, fiz os cursos de treinador. Passei por relações internacionais, dirigismo, e percebi que aquele não era o meu espaço. Não é o meu espaço de paixão nem a profissão que quero estar a exercer. Sei fazê-lo e é muito fácil, mas não me preenche. A paixão pelo jogo foi surgindo à medida que fiz os cursos e depois fui treinar como adjunto com o Pedro Caixinha. Ele estava a começar, éramos muito amigos e achava que lhe podia acrescentar valor. Depois surgiu a hipótese de treinar os sub-19 do Sporting, onde fui campeão nacional. Correu tudo lindamente.
Ser treinador é o que me preenche. Pela exigência, pela pressão, pelo gosto pelo jogo. Estar envolvido, tomar decisões, liderar um grupo, ver uma equipa a encontrar-se e a jogar em equipa.
Falando do futuro, tem alguma equipa que gostasse de treinar?
Treinar uma equipa que vá ao encontro daquilo que idealizo no futebol. Ao mais alto nível, para lutar pela conquista de títulos. É isso que pretendo. É essa a minha paixão e, portanto, é isso que me seduz e que me motiva a continuar, a lutar contra algumas adversidades até chegar a essa oportunidade. Mas não é isso que eu persigo. Isso é o ideal. Adoro treinar. Não me faria confusão treinar num nível diferente, mas com objetivos de treinador. Nesta altura, quero treinar a nível de clubes e no futebol profissional.
Dois pontos é difícil mas não é decisivo, até pelo que vimos no passado recente. O Sporting estava sete pontos à frente do Benfica e, no entanto, foi o Benfica que terminou campeão. Nada se vai decidir neste jogo"
Passando para a atualidade do futebol português, o que espera do dérbi entre Benfica e Sporting? Acha que há um favorito? Uma derrota do Sporting pode ser decisiva nas contas do título?
Em dérbis não há favoritos e nada está acabado. Não me parece que nada tenha acabado. Faltam muitos jogos da Liga, nada vai ficar determinado agora. Contudo, é importante, para quem tem aspirações ao título, pelo menos, não perder. Dois pontos é difícil mas não é decisivo, até pelo que vimos no passado recente. O Sporting estava sete pontos à frente do Benfica e, no entanto, foi o Benfica que terminou campeão. Nada se vai decidir neste jogo.
O Ricardo esteve presente em alguns dos dérbis. São, de facto, jogos especiais?
Sem dúvida. É grande a rivalidade que existe na história do futebol português entre os dois clubes. São sempre jogos muito competitivos e para os jogadores é muito mais do que um jogo. Não são só três pontos. É um jogo na história da rivalidade entre ambos, portanto o lado emocional é muito forte e está muito presente.
Na sua passagem pelos juniores do Sporting juntamente com o Abel Ferreira treinou jogadores como Esgaio, Ilori, Rúben Semedo, João Mário, João Carlos Teixeira, Iuri Medeiros, Bruma e Carlos Mané. Como olha para o percurso destes jovens?
Olho com grande felicidade. Ainda há pouco tempo estive a falar com o Esgaio. Tenho pena que ainda não tenha dado o salto. É um miúdo muito competitivo, com qualidade, com nível para jogar noutra Liga. O próprio Mica Pinto foi para o Belenenses este ano. Pouco a pouco, eles vão conquistando o seu espaço na Liga portuguesa e noutras Ligas. Olho para o seu percurso com grande satisfação porque aquele grupo de jovens jogadores não tinha conquistado qualquer título antes de lá chegar. Não se tinha afirmado enquanto equipa, tínhamos individualidades, mas não funcionavam ainda como uma verdadeira equipa.
O Chaby, um nome que podia estar nessa lista também, era um miúdo extraordinário. Hoje podia estar ao nível deles mas, infelizmente, teve uma lesão grave e ainda não conseguiu voltar ao nível que merece. Está agora a fazer um bom campeonato no Sp. Covilhã e, por isso, é outro atleta a que auguro um bom futuro.
Olhando para trás, posso dizer que estou satisfeito. Funcionaram como equipa, jogaram um futebol extraordinário. Ganhámos sempre ao Benfica. Na Liga Next Generation batemos todos os recordes. Praticávamos um futebol extraordinário. Espero que não fiquem por aqui e que sejam tão ambiciosos quanto foram na altura e que as conquistas que estejam a conseguir sejam só o início de outras.
Foi um bom ponto de partida para a sua carreira de treinador?
Sem dúvida. Exigente e a lutar para ganhar... como eu gosto. Foi extraordinário e era o que eu gostava. Estava no meu contexto. Foi um bom começo, mas num nível diferente, de formação. Na equipa principal tive uma grande conquista. Tive a felicidade de, na história do Sporting, das cinco meias finais de competições europeias estar presente em duas. Uma enquanto jogador e outra como treinador. Penso que serei o único, mas não tenho a certeza. Como treinador, alegra-me ter ajudado o Sporting a ter chegado a um patamar extraordinário a nível europeu. Com um bocadinho mais de sorte podíamos ter chegado à final e depois tudo podia acontecer. Eliminarmos o City, uma equipa de 500 milhões, com as dificuldades financeiras todas que nós atravessávamos, foi extraordinário.
Com mais apoio penso que teria feito um trajeto mais longo e vitorioso. Enfim, não o tive. Já passou e não há nada fazer. Não fico a lamentar essas situações
Pegou no Sporting numa altura conturbada. Sentiu que o clube devia ter escolhido um treinador mais experiente? Gostava de ter pegado no Sporting numa altura mais estável, como agora?
Eu estava a 100% preparado para as funções. Se serei melhor treinador daqui a 10 anos? Sim. Daqui a 20? Com certeza que sim. Mas isso também não será sinónimo de sucesso. O Mourinho ganhou há cinco/seis anos a Champions. Agora está mais experiente e não ganha tanto. Por essa lógica, teríamos de ganhar sempre. Experiência não é sinónimo de sucesso, infelizmente. Mas estava mais que preparado. Tivemos aquele dissabor na Taça de Portugal. Algo inexplicável, uma arbitragem horrorosa e muito azar durante o jogo. Agora, sem dúvida nenhuma, merecia ter tido mais apoio do que tive. Foi isso que ditou a minha saída, que, do meu ponto de vista, foi prematura. Com mais apoio penso que teria feito um trajeto mais longo e mais vitorioso. Enfim, não o tive. Já passou e não há nada fazer. Não fico a lamentar essas situações. Tento que quando se fecha uma porta se abra logo uma janela. É a minha forma de estar.
Sente que o jogo com o Manchester City foi o ponto alto da sua carreira?
Em termos internacionais, sim. Todo o trajeto na Liga Europa, em termos internacionais, foi uma conquista. Fiquei em quase todas as posições ao longo da minha carreira e, em termos nacionais, fui vice-campeão da Liga sérvia. Fui sexto na Grécia. Ainda não tive, como treinador, uma conquista de título nacional ou de taça. Por isso, esse resultado foi, até agora, o ponto mais alto.
Mas imagina regressar ao Sporting?
Claro que sim. Sou um treinador profissional de futebol. A minha ligação com o Sporting toda a gente a conhece, não o escondo, será eterna. É uma ligação para a vida. Como aconteceu quando treinei o Belenenses e tive de jogar contra o Sporting e tive de ser profissional. Tal como o Ronaldo. É do Sporting e teve de jogar contra o Sporting. Fora da minha atividade profissional, faço sempre as minhas escolhas e sigo o caminho mais emocional.
Sendo o Sá Pinto um símbolo do Sporting, e tendo em conta que João Benedito, outro símbolo, está a pensar candidatar-se, é um cargo que se vê a exercer?
Não. A única que coisa que ambiciono nesta altura é treinar uma equipa e peca por tardia que já deveria estar a treinar… [risos].
Como avalia o percurso de Bruno de Carvalho enquanto presidente do Sporting?
Muito bom. Acho que os adeptos têm de continuar a ajudá-lo. Tão jovem e conseguiu reorganizar o clube, voltou a unir a família sportinguista, voltou a trazer a paixão e a construir uma boa relação entre os adeptos e a equipa. Voltou a fazer os adeptos acreditarem num Sporting competitivo e a lutar por títulos. Não só no futebol como nas modalidades amadoras. Valorizou as modalidades e até a construção do próprio pavilhão. É um presidente presente, um presidente protetor, um presidente líder, que não consegue ser perfeito aos olhos de toda a gente. Mas, para mim, está a fazer um excelente trabalho e merece continuar a desenvolver o seu trabalho. Só assim, com esta estabilidade, é que o Sporting conseguirá chegar aos tão desejados títulos nacionais e ao tão desejado título da Liga.
Os jogadores nunca podem sentir que o treinador não está firme ou que perdeu poder. É ele que manda. É ele que vai ficar. É ele que vai liderar. O apoio de Bruno de Carvalho a Jorge Jesus é fundamental para o projeto do Sporting
Esse caminho para o sucesso de Bruno de Carvalho passa por manter Jorge Jesus no comando técnico?
Penso que sim. Um treinador tem de sentir essa estabilidade para a transmitir à equipa. É um treinador com provas dadas, tem experiência e, do meu ponto de vista, merece apoio e continuidade no projeto, porque tem competências para poder ter êxito como já o teve noutro clube [o Benfica].
Acha que a posição dele pode ficar fragilizada no caso de falhar os objetivos definidos no início da época?
O presidente do Sporting escolheu Jesus porque tem um determinado perfil que considera ideal para o clube nesta altura. É uma pessoa competente, com capacidade para liderar este projeto juntamente com ele. Bruno de Carvalho não tem dúvidas, como não teve em escolhê-lo. Não pode ter dúvidas em relação ao futuro. Na altura, no clube rival [o Benfica] houve muita contestação dos sócios, mas o presidente manteve-o e teve sucesso. Não tenho a mínima dúvida de que se os jogadores sentirem que Jorge Jesus é um treinador para o projeto, a equipa vai conseguir ganhar. Se os jogadores sentirem que o treinador está na corda bamba, os resultados vão começar a cair. Por isso digo que a liderança é tão importante. Os jogadores nunca podem sentir que o treinador não está firme ou que perdeu poder. É ele que manda. É ele que vai ficar. É ele que vai liderar. O apoio de Bruno de Carvalho a Jorge Jesus é fundamental para o projeto do Sporting. Não pode haver dúvidas em relação à continuidade do treinador até ao final do projeto.
Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.
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