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"É difícil um tenista português crescer. Faltam parceiros e competição"

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Gastão Elias admite que "a modalidade tem recebido bastante atenção" por parte da Federação, mas avisa que é preciso fazer mais.

"É difícil um tenista português crescer. Faltam parceiros e competição"
Notícias ao Minuto

11/05/17 por Notícias Ao Minuto

Desporto Gastão Elias

Gastão Elias é um dos nomes mais sonantes do ténis português, detendo, inclusive, o título de segunda melhor marca da história da modalidade no nosso país, com o 57.º lugar no ranking ATP, em outubro do último ano, apenas atrás de João Sousa.

Numa entrevista concedida ao Desporto ao Minuto, o atleta natural das Caldas da Rainha abordou temas sensíveis como a falta de apoios no ténis nacional e a escassez de jogadores portugueses na elite da modalidade. 

Como é que começou a paixão por um desporto que não reina em Portugal? 

O meu caminho teve início por volta dos quatros anos por causa do meu pai. Ele jogava com os amigos e normalmente levava-me com ele e a partir daí começou a crescer-me o 'bichinho' do ténis. Foi algo que nunca mais me largou.

Porquê o ténis e não outra modalidade?

Desde pequeno que pratico diversos desportos, desde o motocross à natação, mas o ténis foi sempre aquele desporto que mexeu comigo e, para além disso, os bons resultados que fui tendo desde cedo ajudaram-me também envergar por este desporto.

Nunca pensou desistir da modalidade, especialmente por não ser das mais praticadas em Portugal?

Isso nunca me passou pela cabeça, nunca mesmo. No entanto, agora que estou a envelhecer já penso um pouco nisso (risos).

Se não fosse tenista o que seria?

Já pensei sobre isso por várias ocasiões, mas nunca cheguei a verdadeira conclusão. Porém, posso dizer que adoro culinária e a representação, dois caminhos que poderei ter seguido.

Ter os três grandes envolvidos no ténis irá ajudar a projetar a modalidade em Portugal

No ano passado, tornou-se no primeiro tenista português a juntar-se a um clube. De onde partiu a ideia?

Eu já tinha estado em contacto com Bruno de Carvalho, ainda quando ele não era presidente do clube de Alvalade, no aniversário do CIF, clube onde treino quando estou em Portugal. Uns anos mais tarde, decidi ir falar com ele e perguntar-lhe se me queria ajudar desportivamente, abrindo assim mais uma modalidade em Alvalade. Uma ideia que o presidente adorou e tudo se fez tranquilamente e sem demoras.

Acha que essa ligação o tem ajudado profissionalmente?

Penso que sim, mas, verdade seja dita, ainda não tive grande tempo para representar os leões em competições portuguesas. No entanto, tenho intenções de fazer ainda mais essa ligação com o clube.

Acredita que este tipo de ligação com clubes 'grandes' pode ajudar o ténis a ganhar maior notoriedade em Portugal?

Eu acho que sim, isto porque se pensarmos um bocadinho o futebol é um desporto de massas e teres os três grandes envolvidos no ténis irá ajudar a projetar a modalidade em Portugal. Por exemplo, no Sporting faz-se muita publicidade aos outros desportos, o que tem nos tem ajudado a ganhar maior notoriedade.

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Houve uma fase em que o ténis nacional estagnou um pouco e a Federação não era muito ativa

O ténis tem evoluído positivamente desde que começou a sua carreira desportiva? De que forma?

Tem crescido, porém aos meus 12/14 anos, quando começava a dar os primeiros passos na academia, houve uma fase em que o ténis nacional estagnou um pouco e a Federação não era muito ativa. Contudo, nos dias de hoje a modalidade tem recebido bastante atenção por parte do organismo que regula esta modalidade. Tenho notado um maior interesse e visibilidade por parte dos portugueses na sua generalidade.

Trabalhar com atletas de topo, como Federer, ajudou-o a conquistar um lugar na elite do ténis?

Ajudou obviamente, mas o trabalho é o mais importante, por mais conselhos que recebas se não te esforçares não há nada feito.

Como surgiu a oportunidade de treinar com Federer?

Aos meus 16 anos comecei a treinar com uma agência mundialmente conhecida, que me deu a possibilidade de ir treinar para a sua academia em Miami. Local onde me dei de caras com grandes nomes do ténis como o caso do Roger Federer.

Com foi a experiência de lidar com um nome dessa magnitude?

Foi fantástico ter tido esta oportunidade, eu lembro-me que início fiquei deslumbrado com o facto de estar a treinar com Federer, às vezes até a bola falhava (risos). No entanto, quando te habituas a esse cenário, aprendes imenso.

O Gastão já atingiu patamares importantes para o ténis nacional, qual é agora o seu próximo passo?

No ano passado cheguei ao número 57 do ranking ATP, agora o meu foco desde ano é lutar por um lugar no top 50.

Qual foi a partida mais marcante da sua carreira?

Para mim foi o Estoril Open de há três anos atrás, em que ganhei ao García-López (ranking 29 ATP) com uma atmosfera incrível, com as bancadas muito bem compostas.

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O que ouço lá fora é que o tenista português é talentoso e com bastante técnica

O que carateriza um tenista português?

Eu não sei bem, porque tivemos tão poucos jogadores na elite do ténis que é difícil encontrar pontos comuns nos tenista lusitanos, mas o que ouço lá fora é que o tenista português é talentoso e com bastante técnica. Por exemplo, se perguntasse para caraterizar atletas espanhóis seria mais fácil, porque houveram inúmeros no topo e jogavam todos da mesma forma.

Acredita que um dia veremos um tenista nacional chegar ao top-10 ATP?

Não é fácil, é preciso haver mais praticantes, infraestruturas e principalmente apoios em Portugal. Se olharmos para os melhores tenistas portugueses estão todos no estrangeiro a treinar. Aqui é muito difícil para um jogador crescer, primeiro há falta de parceiros e segundo há pouca competição.

Tem algum atleta português que aprecie e que esteja fora do top-100 ATP?

Eu gosto muito do Pedro Sousa, acho que ele tem muito potencial e qualidade e que poderá vir a subir no ranking, de certeza a absoluta. Ainda tem muito para dar ao desporto nos próximos anos.

O que diria a uma criança que está a dar os primeiros passos no ténis e que tenciona seguir profissionalmente a modalidade?

Não depende só de uma pessoa, é preciso ter-se sorte também, isto porque é importante ter uns pais que apoiem muito os filhos e acima de tudo é necessário ter posses, isto porque se dependermos de apoios em Portugal, será muito complicado conseguir singrar-se profissionalmente no ténis.

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