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"O André Ventura faz uma declaração e o PNR baba-se todo"

A entrevista de hoje do Vozes ao Minuto é com Pedro Pestana Bastos, o candidato do CDS às eleições autárquicas de Loures.

"O André Ventura faz uma declaração e o PNR baba-se todo"
Notícias ao Minuto

06/09/17 por Notícias Ao Minuto

Política Pedro Pestana Bastos

Pedro Pestana Bastos entrou mais tarde na corrida à Câmara Municipal de Loures como candidato do CDS, depois de o partido ter retirado o seu apoio a André Ventura. Apesar de admitir as dificuldades normais de quem assumiu a candidatura posteriormente aos restantes adversários ao município de Loures, mostra-se confiante no projeto que o CDS apresenta.

Ao Notícias ao Minuto, deixa várias críticas ao discurso e às ideias sugeridas por André Ventura, que considera ir ao encontro do que é defendido pelo PNR. A inclusão é uma das bandeiras do seu programa eleitoral e Pedro Pestana Bastos destaca a importância de criar um Alto Comissário para a Inclusão em Loures.

A mobilidade é a outra grande prioridade para o concelho da Área Metropolitana de Lisboa e o candidato defende a criação de um corredor ferroviário, assim como a extensão do metro até Loures. 

Que ligação tem ao concelho de Loures?

A minha ligação é ténue. Eu não resido em Loures. Aliás, penso que nesse campo todos os candidatos estão em igualdade de circunstâncias. Nenhum reside em Loures. A minha ligação é puramente profissional. Além de ser advogado, sou também sócio-gerente de uma sociedade que tem um estabelecimento em Loures, mais precisamente em Moscavide que faz parte do concelho. Aliás, é um estabelecimento muito antigo, desde sempre ligado à minha família. Eu sou sócio-gerente há poucos anos. Foi das primeiras sociedades comerciais a fazer parte, na altura, do Grémio de Moscavide que depois deu origem à Associação Empresarial de Loures e Odivelas. Faz parte dos primeiros 50 associados. 

Se olharmos para o discurso do André Ventura estão lá todas as propostas do PNRPropôs-se a concorrer pelo CDS a Loures em substituição do apoio a André Ventura. Foi uma decisão imediata depois de o CDS lhe ter retirado o apoio? Por que razão decidiu assumir esta candidatura à Câmara Municipal de Loures?

O PSD propôs desta vez uma coligação com o CDS e houve muitas resistências por parte do CDS local e esse tema foi também debatido nos órgãos nacionais. Faço parte da Comissão Política do CDS e fui desde logo dos dirigentes nacionais que teve reservas quanto a essa coligação. Não pelo candidato, mas sobretudo por uma questão política que é muito relevante. O PSD nas últimas eleições, do meu ponto de vista, traiu os votos dos eleitores de Direita porque fez uma coligação pós-eleitoral com o PCP, que é algo que nunca tinha acontecido em Portugal. E portanto houve muitas pessoas de centro-direita que ficaram descontentes com essa coligação. Eu chamo-lhe a 'geringonça vodka com laranja'. Eu sempre defendi que isso até era uma oportunidade de crescimento para o CDS, uma vez que há muitas pessoas do centro-direita que por vezes votam no CDS e outras vezes no PSD. O CDS poderia ser o único partido à direita a fazer oposição.

Na altura, não foi isso que a maioria dos militantes de Loures entendeu. Acharam que era possível fazer um projeto alternativo à direita e fez-se uma coligação. A decisão foi da concelhia, que foi respeitada pelos órgãos nacionais. Depois de facto houve declarações que foram consideradas inadmissíveis por parte do CDS. O partido ainda propôs ao PSD continuar em coligação e encontrar outro candidato. Ainda ficou em aberto a possibilidade de deixar cair o André Ventura. Não foi essa a decisão do PSD depois de ser ponderada e portanto houve um quebrar da coligação. Eu nessa altura disponibilizei-me à presidente do partido. A presidente do partido apresentou as várias alternativas à estrutura local, que entendeu que devia ser eu o candidato indicado para nesta altura abraçar este projeto em Loures e aqui estamos.

Ficou surpreendido com o facto de o PSD ter decidido manter o apoio a André Ventura?

Fiquei surpreendido e acho que o PSD se vai arrepender. Recordo que já muito recentemente, além das declarações que o André Ventura fez em relação aos ciganos ou em relação à prisão perpétua, a fasquia está cada vez mais elevada. Já foi admitido, aliás, num debate onde até eu estive, a pena de morte. Portanto, são tudo questões que não têm a ver com o PSD, que sempre foi um partido moderado nestes aspetos. Aliás, o CDS sempre foi um partido mais securitário do que o PSD. E nós espantamo-nos como é que o PSD não percebeu esta deriva por parte do seu candidato, que é uma deriva securitária, que coloca pessoas contra pessoas, grupos contra grupos. Não está em causa a existência de problemas com pessoas da etnia cigana, o problema é a generalização. Se o candidato André Ventura dissesse que há alguns ciganos ou até muitos ciganos que têm problemas de subsídio-dependência ou até de segurança, não havia problema nenhum. O que o André Ventura fez foi diferente. Disse 'os ciganos' e portanto generalizou. 

Depois disso já foram feitas outras declarações que não podemos compreender e aceitar: trabalhos forçados a prisioneiros, pena de morte, prisão perpétua para delinquentes. Acho que isto tem vindo num crescendo. O André Ventura, com o devido respeito, anda à procura de ideias para ter votos. Claramente, está a sentir o pulso à população e às dificuldades de Loures. Esse não é o nosso caminho. Nós temos ideias e queremos votos para as nossas ideias, que é exatamente o contrário.

Percebe-se que o caminho que está a ser trilhado. O CDS veio retirar o apoio mas em sua substituição quem veio dar apoio ao André Ventura foi o PNR. O André Ventura já disse que não quer o apoio do PNR e eu percebo, porque todos nós sabemos que o PNR é um partido da extrema-direita. Mas a verdade é que se olharmos para o discurso do André Ventura estão lá todas as propostas do PNR. Aliás, a última proposta que o André Ventura apresentou é a reconquista do Parque das Nações, quer que o Parque das Nações volte a fazer parte do concelho de Loures. O PNR tem agora um cartaz onde se lê 'Vamos reconquistar Lisboa'. Se tiver o cuidado de ir à página do Facebook do PNR, estão lá as declarações de apoio ao André Ventura. Seja na prisão perpétua, seja nas declarações contra os ciganos, seja na pena de morte. O André Ventura faz uma declaração e o PNR baba-se todo. O CDS não se coliga com o PNR, que isso fique claro. 

Teve menos tempo para preparar a sua candidatura. Quais as suas expetativas para estas eleições?

Nós tínhamos um projeto comum, o programa estava praticamente fechado e vamos ser fiéis a esse projeto. Em muitos aspetos o programa do CDS vai ser muito parecido com o do PSD e não temos nenhum problema com isso. Não tivemos muito tempo para preparar as listas. É muito diferente preparar listas em coligação do que prepará-las sozinho. Para ter uma ideia, o CDS teve de apresentar 200 candidatos em pouco mais de 15 dias, que foi o tempo em que as listas foram desfeitas e tiveram de ser apresentadas novas listas no tribunal.

Foi um trabalho muito difícil, junto dos militantes, até porque não escondo, esta decisão do CDS não foi bem acolhida junto de pessoas do CDS de Loures. Não escondo que há militantes do CDS que infelizmente se reveem neste tipo de discurso, como há militantes do PSD. É uma minoria, mas não nego.

O programa foi mantido em muitas áreas, noutras áreas aproveitámos o facto de irmos sozinhos para recuperar algumas ideias nossas. 

O principal objetivo do CDS é ficar à frente do PSD em Loures? Tem salientado muitas vezes que é uma eleição para se perceber que Direita quer o país, ou mais precisamente Loures.

Não quero focar a minha campanha só contra o André Ventura. Essa foi uma declaração que fiz e não a retiro. Há pessoas do CDS que entenderam que não devíamos ter acabado com esta coligação, como há pessoas do PSD que mostraram bastante desconforto com as declarações de André Ventura. O presidente da Comissão de Honra do André Ventura retirou-lhe o apoio. Foi alguém que foi eleito deputado municipal pelo PSD nas últimas eleições e que se demarcou do André Ventura e vai apoiar o CDS. Mas não queremos só conquistar pontos ao PSD, queremos conquistar votos ao PCP, ao PS. 

Mas também lhe digo isto, Bernardino Soares embora não seja um bom presidente de Câmara melhorou em alguns aspetos uma péssima governação socialista. Aliás, Bernardino Soares consegue ganhar a Câmara há quatro anos porque as pessoas estavam fartas da governação de oito anos de PS. Mas não estamos contentes com este estado de coisas e por isso apresentamos este projeto, que acreditamos ser o melhor para Loures.

Nós damos gritos de alegria quando o Cristiano Ronaldo marca golos. Mas também quando o Ricardo Quaresma marca golos! Devido à polémica gerada por André Ventura, as autárquicas em Loures ganharam este ano uma dimensão maior no panorama nacional. Loures vai representar um teste à forma como o discurso populista pode ser acolhido em Portugal. Apesar das críticas de diversos quadrantes, acha que o populismo de André Ventura pode ser bem sucedido?

Não concordo com as pessoas que acham que há certas opiniões que não podem ser toleradas. Acho que o André Ventura tem todo o direito de defender tudo aquilo que defende. Tudo é tolerável. Na democracia todos podemos ter a opinião que entendermos. O direito ao disparate é algo que integra a liberdade de expressão. Eu nunca votarei no PNR, mas ao contrário de outras pessoas que acham que o PNR devia ser proibido, eu não acho isso. Acho que o PNR deve ser permitido, o Bloco de Esquerda deve ser permitido. A extrema-direita pode ser permitida e a extrema-esquerda pode ser permitida, mas esse não é o meu caminho.

De facto esta polémica teve uma questão útil. Não me lembro de nas eleições autárquicas haver um debate sobre Loures. Portanto, o André Ventura tem essa vantagem, pôs Loures no mapa e obriga-nos a discutir os problemas de Loures. As pessoas percebem que é o concelho que é o parente pobre da área metropolitana mais rica do país.

O que trouxe o debate de Loures são ideias perigosas para o país, na minha opinião, porque dão origem a uma desfragmentação social e colocamos grupos contra grupos, que é o pior para o país. Isto é um teste, por um lado ao PSD. O PSD pode ter tentações, se tiver um bom resultado em Loures, de importar esse resultado. Eu quando digo o PSD, não digo Pedro Passos Coelho. Tenho-o como uma pessoa de bem e que teve uma atitude difícil como primeiro-ministro e tomou decisões que mais nenhum político conseguia ter. Reconheço-lhe valor e acho que ele cometeu um erro e provavelmente já se arrependeu. Passos Coelho quando decidiu não retirar o apoio a André Ventura, não acredito que tivesse noção que passados 15 dias o André Ventura estivesse a defender a pena de morte. Ou que tivesse noção que André Ventura pura e simplesmente tenha 'rasgado' a Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas assinada por Passos Coelho em 2013. O líder do PDS já se arrependeu, está a gerir isto. Agora já não lhe pode retirar o apoio. 

O risco que existe é este: se isto tiver de facto resultado, pode haver uma tentação populista de algum PSD e isso pode provocar em André Ventura a tentação de fundar um partido. Não acredito que haja uma grande votação, mas se houver pode existir este risco. Ele pode querer criar um movimento anti-partidos. Aliás, ele tem-se colocado como uma pessoa anti-sistema. O que é uma contradição. Se há partido que anti-sistema é o PSD. Assim como o PS. Portanto, alguém que se candidate pelo PSD e se intitule anti-sistema é um paradoxo. 

Quais são, afinal, as principais prioridades do município de Loures?

Se reparar na Área Metropolitana de Lisboa, Loures é o parente pobre e não tem razões para ser. Olhamos para os concelhos à volta de Lisboa e vemos Oeiras, Cascais, Sintra, Odivelas e Loures, que é o único concelho da AML que não tem um verdadeiro corredor ferroviário. Nós podemos dar as voltas que quisermos. O grande problema de mobilidade e de acessibilidade de Loures para Lisboa e de Lisboa para Loures é a falta de um corredor ferroviário. 

Investimos nas últimas décadas muito em estradas e investimos muito pouco na ferrovia. Em termos ferroviários continuamos ao nível, nem é da segunda circular, é da 'primeira circular'. A única ligação que existe e que se faz entre a Linha de Sintra e do Norte, é a ligação que chamo de 'primeira circular', que vai por Sete Rios, Entrecampos, e não há mais nenhuma ligação. Era essencial, e não digo só para Loures, nem para a AML, mas para o país que houvesse um grande anel ferroviário que ligasse a Linha do Norte à Linha de Sintra e à Linha do Oeste. Teria um impacto enorme em termos de mobilidade em Loures. Se nós tivéssemos o interface do metro com esse anel ferroviário em Loures, e se tivéssemos também o alargamento da linha Vermelha para a Portela e Sacavém. Com essas duas obras – grandes obras – mas que interessam não só a Loures, mas ao país, nós teríamos o problema de mobilidade de Loures totalmente resolvido. 

Foi feito um estudo com os habitantes de Loures e mais de metade diz que quando tiver possibilidade quer sair de Loures. 

Temos de ter noção que Loures não é a Síria. A Quinta da Fonte e a Quinta do Mocho não são AlepoEssa ideia de criar um corredor ferroviário em Loures é viável?

Está mais do que estudado. Esta ideia não é minha. Há um estudo de professores do Técnico que apresenta isso. Com os fundos comunitários, estamos sempre a referir que devemos apostar na ferrovia. Loures deve pôr na sua agenda como grande prioridade, grande desígnio municipal, e naturalmente colocando toda sua pressão sobre a Área Metropolitana e sobre o Governo e fazer perceber que isto não é só bom para Loures.

No entanto, ainda não está agendada a expansão do metro para Loures.

Estou totalmente à vontade nessa questão. A presidente do meu partido tem um projeto que apresentou, que calendarizou, com custos, é muito ambicioso. É uma obra que no fundo quer trazer o metro para a zona ocidental de Lisboa, até Algés, e que no fundo alarga duas linhas, a Amarela para Frielas e Loures, e a Vermelha para Portela e Sacavém. Não foi combinado com a concelhia de Loures, naturalmente. Achamos que esse alargamento das linhas é essencial. É muito mais importante alargar as linhas até Loures do que fazer novas estações de metro em Lisboa. O importante do metro é trazer pessoas para a rede. Loures é o concelho, que hoje em dia, provavelmente mete mais carros em Lisboa. 

Já percebi que a mobilidade é uma das suas principais bandeiras para Loures. Quais são as outras?

Temos de ter a noção de que existem problemas de segurança e de exclusão social graves em Loures. Temos das escolas mais problemáticas do país em Loures, designadamente o agrupamento de escolas da Apelação. Temos problemas de indisciplina gravíssimos, de agressões aos professores.

A insegurança e a exclusão social são a nossa segunda grande prioridade. Temos de perceber que muitos dos problemas que existem entre comunidades são da responsabilidade de sucessivos Governos e de sucessivos responsáveis camarários. A Quinta da Fonte e a Quinta do Mocho são dois bons exemplos disso. E colocaram lá comunidades que secularmente são rivais. Não é na mesma rua, não é no mesmo prédio. É no mesmo andar. No lado esquerdo estão comunidades ciganas, no lado direito estão comunidades angolanas. Isto é não conhecer a realidade social deste país. Fez-se ali um grande barril de pólvora. 

Como é que resolvemos este problema? Ou resolvemos este problema com a opção do André Ventura, que é à chapada e à paulada. Ou resolvemos com uma opção de integração, que é a Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas aprovada no último Governo de Pedro Passos Coelho, que é fomentar e apoiar o trabalho das várias comunidades que é feito no terreno. Eu vou por este caminho. Um dos grandes projetos que temos na nossa candidatura é criar aquilo que chamamos de Alto Comissariado para a Inclusão. Esse Alto Comissário para a Inclusão será alguém que trabalhará em exclusiva ligação ao presidente da Câmara e a ideia é saber o que cada uma das associações está a fazer, saber o que cada uma precisa. Se calhar projetos de realojamento, mudando pessoas de uma lado para o outro quando é necessário, para tentar resolver problemas. Tentando concertar da melhor maneira possível todas as comunidades. Em Loures todos fazem falta. Todos têm lugar. Nós em Portugal não precisamos de lições de outros países para dar bons exemplos de integração. Damo-nos naturalmente com todas as etnias, com todas as comunidades. Estamos a falar de comunidades que têm exemplos maus e exemplos bons. Mesmo os próprios ciganos. Nós damos gritos de alegria quando o Cristiano Ronaldo marca golos. Mas também quando o Ricardo Quaresma marca golos! 

Temos de ter noção que Loures não é a Síria. A Quinta da Fonte e a Quinta do Mocho não são Alepo. A Quinta do Mocho é impressionante. Todas as escolas da Grande Lisboa deviam fazer visitas de estudo à Quinta do Mocho, porque a categoria e a qualidade da arte urbana que é feita por vários artistas de diversas comunidades é algo espantoso. Até desafio e incentivo o Ministério da Educação a promover, em vez de visitas de estudo ao Museu da Marinha e ao Museu Nacional de Arte Antiga, à Quinta do Mocho porque aprendem uma arte que não estão habituados a ver e uma forma de integração que existe e é bom as pessoas terem noção da realidade em que vivem.

A questão da insegurança é muitas vezes referida em Loures, não só nos bairros problemáticos, mas de uma forma geral. Quais são as medidas que tem planeadas para melhorar este problema? Passa por mais investimento nas forças de segurança?

Eu tenho esta visão inclusiva, mas tenho noção de que temos de ter por um lado esta mão inclusiva mas por outro lado temos de ter uma mão que imponha respeito pela ordem pública e pela lei. O CDS é um partido de direita que preza o cumprimento da lei e da ordem pública. Não estou com estas propostas de inclusão a tirar autoridade ao trabalho das forças de segurança. Acho que deve haver um programa de videovigilância em Loures, naturalmente com todas as devidas salvaguardas junto da Comissão Nacional de Proteção de Dados. Acho que a polícia municipal deve trabalhar também em cooperação com o tal Alto Comissário para a Inclusão. E todos temos de ter noção de que sobretudo as esquadras da PSP e também da GNR nas zonas rurais, designadamente em Lousa e Bucelas, precisam de mais mobilidade. Precisam de mais viaturas. As esquadras são arcaicas, cada uma tem uma viatura. É um problema generalizado, mas se perguntar ao Comando da PSP onde estão os maiores problemas em termos de mobilidade, todos lhe apontam Loures, porque é uma área muito grande.

Loures tem de ter um regulamento próprio. Não é criar milícias como diz André Ventura. É algo que antigamente era muito comum e para a qual devemos olhar sem problemas, sem preconceitos. É o regresso de uma política municipal de guardas noturnos. O regulamento dos guardas noturnos de Loures tem mais de 10 anos. Hoje em dia a realidade de comunicação é totalmente diferente. É uma forma de incluir pessoas que estavam ligadas às forças de segurança e que estão reformadas, mas que estão disponíveis para isso. 

O CDS nunca se coligará com a CDU em Loures. Isso é totalmente impossívelA educação é outra das bandeiras da sua candidatura. Quais são as suas propostas para este setor?

Se nós dermos auto-estima, se valorizarmos as pessoas que vivem naquelas bairros problemáticos, sai dali trabalho que não é só bom, é extraordinário. Sem educação não há nada. Se não tivermos educação não temos sociedade. Também temos de perceber que os modelos de educação devem adaptar-se às comunidades. É diferente o português ou a história que é dada na Escola Maria Amália e no Liceu Pedro Nunes da que é dada na Apelação. Não só pelo ambiente socioeconómico mas pelo ambiente cultural. Estamos a falar de pessoas de comunidades cabo-verdianas, comunidades ciganas, angolanas, também já há alguns estrangeiros de comunidades de leste, embora em número muito reduzido. Esta interligação de comunidades por um lado tem alguma riqueza. 

O apoio especial a estas escolas é um imperativo moral que temos. Ou a escola integra ou estas pessoas são atiradas para a marginalidade. Ali estamos a investir em pessoas, em cada investimento retiramos pessoas da marginalidade, da droga, da pequena criminalidade, que depois se torna média criminalidade e depois grande. 

Que medidas pretende implementar para atrair mais empresas para o concelho e criar mais emprego?

Tentar arranjar melhores regimes fiscais para as empresas que investem em Loures. Derrama zero para as empresas que empreguem mais de 50 pessoas durante 10 anos consecutivos, para quem tiver um negócio próprio e que viva em Loures, a devolução do IRS cobrado aos munícipes de Loures. Mas para nós enquanto não estiver resolvida a questão da mobilidade, Loures nunca será algo atraente para os grandes projetos. A Câmara tem de aprender com os casos de sucesso como é o de Oeiras. Não temos uma pior situação geográfica do que Oeiras. Mas atrair empresas e depois as pessoas não têm forma de ir para lá trabalhar, também é difícil. 

Assunção Cristas tinha de passar pelo teste dos votosConsiderou uma traição aos eleitores a coligação do PSD com a CDU, depois da vitória comunista nas últimas autárquicas em Loures. Está fora de questão uma eventual coligação com a CDU depois das eleições?

O CDS nunca se coligará com a CDU em Loures. Isso é totalmente impossível. Nem com a CDU nem com o PNR. O CDS não se coliga nem com a extrema-esquerda nem com a extrema-direita. Ao contrário, o André Ventura já admitiu coligar-se de novo com a CDU. Numa entrevista, o André Ventura já disse que se ganhar e não tiver maioria, convida o PCP para o seu projeto. O André Ventura se não ganhar retira-se, mas deixará os seus números dois e três para renovar essa governação. O CDS será oposição firme. A doutrina municipalista do CDS nada tem a ver com os projetos comunistas que vemos pelo país fora.

E com os restantes partidos de Esquerda? Tem algum entrave?

O CDS não põe de parte coligações com qualquer partido democrático, nos quais incluo o PS e o PSD. Tenho pena que o PSD com esta deriva em Loures, se tenha auto-excluído dessa possibilidade. O PSD tem o apoio do PNR em Loures e portanto não pode ter o apoio do CDS ao mesmo tempo.

O que seria um bom resultado para o CDS nestas autárquicas? O partido fez uma aposta grande com Assunção Cristas em Lisboa.

O CDS apostou muito nestas eleições. A Assunção Cristas fez muito bem em ser candidata. O CDS foi liderado durante muito tempo por uma única pessoa, Paulo Portas. É muito difícil suceder-lhe. Assunção Cristas tinha de passar pelo teste dos votos. Era essencial ser candidata. Acho que está a fazer uma boa campanha. Acho que o CDS tem um bom naipe de candidatos noutros municípios, e será interessante perceber os resultados que têm.

Se o CDS mantiver as cinco câmaras e conseguir um bom resultado em Lisboa, e um bom resultado em Lisboa são dois dígitos. Se o CDS não conseguir eleger pelo menos dois vereadores, podemos dizer o que quisermos, mas eu conheço a Assunção Cristas e sei que não ficará satisfeita se não conseguirmos eleger o segundo vereador. E só conseguimos eleger o segundo vereador com mais do que 10%, que é algo que também é muito emblemático para o CDS. Portanto, cinco Câmaras e dois dígitos em Lisboa e a noite do CDS está salva. Tudo o que for abaixo disto é uma derrota. Tudo o que for acima disto é uma vitória.

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