"Maioria dos imóveis convertidos em alojamento local estava desocupada"
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português (CTP), é o entrevistado desta terça-feira do Vozes ao Minuto.
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Economia Francisco Calheiros
Portugal “não é apenas um destino de sol e mar” e “tem margem para crescer além das regiões mais procuradas atualmente pelos turistas internacionais (Lisboa, Porto, Algarve e Madeira)”. A convicção é do presidente da Confederação do Turismo Português (CTP).
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Francisco Calheiros admite que “o Turismo foi decisivo para a recuperação da economia nacional, num momento em que o país precisava de gerar riqueza e postos de trabalho”, e que “o aeroporto de Lisboa se encontra no limite da sua capacidade”.
O representante do setor do Turismo refere ainda que “o nosso mercado tem capacidade para absorver as novas soluções de alojamento”, referindo-se ao Airbnb, e que “a atividade turística em Portugal deve acompanhar as tendências que vão surgindo” a nível mundial.
O bom momento que o país atravessa no que toca ao Turismo é passageiro ou é uma tendência que veio para ficar?
O crescimento do Turismo não resulta de um fenómeno ou de uma tendência pontual, mas sim de um esforço concertado de profissionais e agentes da atividade que investiram, ao longo dos últimos anos, na melhoria da oferta, na qualidade do serviço, na qualificação dos seus recursos, na diversidade dos produtos e na excelência dos equipamentos. Este crescimento sustentado permite-nos afirmar que Portugal é hoje um destino consolidado e reconhecido internacionalmente. O que não significa que já não tenha margem para crescer, sobretudo além das regiões mais procuradas atualmente pelos turistas internacionais - Lisboa, Porto, Algarve e Madeira. O país, no seu todo, garante uma oferta turística muito diversificada e capaz de responder a diferentes perfis de procura. Não somos apenas o destino de sol e mar: temos cidade, Natureza, património e cultura, saúde, gastronomia e vinhos.
O contributo de Madonna é semelhante ao de uma campanha de promoção eficaz, que atinge um público à escala globalUma das artistas mais reconhecidas da música a nível mundial está a residir em Lisboa. Que contributo dá Madonna para o Turismo português?
Naturalmente, quando uma artista com a dimensão da Madonna escolhe o nosso país para viver, o impacto só pode ser positivo. O contributo é semelhante ao de uma campanha de promoção eficaz, que atinge um público à escala global. E não podemos falar apenas de Madonna. Muitas outras personalidades internacionais compraram ou estão a comprar casa em Portugal e isso só pode deixar-nos satisfeitos e orgulhosos.
Como é que Portugal pode melhorar a competitividade e rentabilizar ao máximo os benefícios que o Turismo gera?
Há ainda muitas medidas por tomar para assegurar a competitividade e a sustentabilidade do Turismo. Temos margem para crescer nos principais países emissores e, mais ainda, em mercados de grande dimensão como os EUA, a China, o Japão e a Coreia. Falta uma solução definitiva para garantir mais ligações aéreas, dado que o Aeroporto de Lisboa se encontra no limite da sua capacidade, falta resolver o problema do SEF, falta uma política de promoção que envolva o setor público e o setor privado, falta um acesso mais facilitado ao financiamento e uma efetiva redução dos custos de contexto.
A solução do aeroporto do Montijo responde às nossas necessidades imediatas, mas não podemos esperar muito maisA expansão do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, é uma prioridade?
Sem dúvida. Há muito que a CTP tem vindo a alertar para a situação do Aeroporto de Lisboa, que ameaça criar grandes constrangimentos ao crescimento do Turismo. É muito difícil assegurar novas ligações aéreas – ou até garantir as existentes – com a capacidade atual do aeroporto. A solução do Montijo responde às nossas necessidades imediatas, mas não podemos esperar muito mais tempo para avançar com este projeto.
Lisboa não é apenas Alfama ou o Castelo de São JorgeDe que forma Lisboa e Porto se devem adaptar à enorme vaga de turistas? Há quem diga que são cidades demasiado pequenas para a quantidade de viajantes que chegam diariamente.
A CTP defende a necessidade de integrar o Turismo num modelo de sustentabilidade ambiental, essencial ao equilíbrio da paisagem e do património, e de criar novas centralidades que permitam distribuir os visitantes por várias zonas da cidade. Lisboa não é apenas Alfama ou o Castelo de São Jorge. Há que dar a conhecer aos turistas outros bairros ou monumentos com interesse histórico e cultural. Paralelamente, há um trabalho que está a ser feito pelas entidades regionais do Turismo no sentido de captar visitantes para outras regiões do país e que está a surtir efeito. Só para citar um exemplo, em agosto, os Açores cresceram 15,8%, o que revela bem o potencial e a margem de crescimento do nosso país em matéria de Turismo.
O Turismo deu um contributo importantíssimo para a reabilitação de muitos edifícios em várias zonas da cidade
Nem tudo são ‘rosas’. Em parte, devido ao Turismo, houve especulação no mercado imobiliário e chega a ser difícil para um português encontrar casas a preços suportáveis para a sua carteira. Reconhece que este é um dos efeitos adversos de um crescimento quase repentino?
Em Lisboa, o mercado imobiliário alterou-se de forma significativa nos últimos anos. O Turismo, através do Alojamento Local (AL), deu um contributo importantíssimo para a reabilitação de muitos edifícios em várias zonas da cidade. Há estudos que demonstram que uma larga maioria dos imóveis hoje convertidos em AL estava desocupada. Desse esforço, resultou a valorização de casas em algumas zonas de Lisboa e uma consequente subida de preços. É uma tendência do mercado, que acompanha a realidade das grandes cidades europeias.
Plataformas como o Airbnb vieram revolucionar o mercado de arrendamento, não só em Portugal como no resto da Europa. Como olha para esta nova tendência?
Acredito que o nosso mercado tem capacidade para absorver as novas soluções de alojamento, que decorrem das necessidades e exigências dos turistas dos nossos dias. O mundo está em constante mudança e a atividade turística em Portugal deve acompanhar as tendências que vão surgindo, sob pena de perder competitividade para outros destinos.
Todos ficamos a ganhar com o aumento do TurismoO ‘boom’ do Turismo teve consequências também no comércio. Há lojas e restaurantes a preços que só os turistas podem pagar. Andar de tuk-tuk é um exemplo característico deste aproveitamento. Os habitantes locais ficam, assim, a perder?
O Turismo foi decisivo para a recuperação da economia nacional, num momento em que o país precisava de gerar riqueza e postos de trabalho. Ninguém contesta nem é matéria de discussão a relevância da atividade turística para o desenvolvimento do país, para a criação de emprego, para as exportações, para o equilíbrio da balança comercial. Todos ficamos a ganhar com o aumento do Turismo.
Estamos a trabalhar para apresentar uma proposta no sentido de encontrar um modelo que integre um Ministério do TurismoA pretensão de ter um Ministério do Turismo foi defendida por si recentemente. Em que vantagens se traduzia, na prática?
Defendo a importância de encontrar um novo modelo de governance, que não se limite à gestão do Turismo enquanto atividade económica, mas que o liberte de constrangimentos e potencie toda a sua capacidade de gerar riqueza e emprego. Estamos a trabalhar para apresentar uma proposta ao atual Executivo no sentido de encontrar um modelo de governance que integre, entre outras iniciativas, um Ministério do Turismo.
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