"NASA causa menos alarido que a Esquerda quando descobre vida à Direita"
Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular (JP), é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.
© Isabel Santiago Henriques
Política Francisco R. Santos
A Forbes colocou Francisco Rodrigues dos Santos entre os jovens mais brilhantes, inovadores e influentes da Europa, na categoria Direito e Política, depois de ter ajudado a Juventude Popular a alcançar 20 mil filiados e ter duplicado o número de membros eleitos nas eleições autárquicas.
Aos 29 anos, o jovem advogado português é presidente da juventude partidária do CDS-PP e deputado da Assembleia Municipal de Lisboa.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Francisco Rodrigues dos Santos falou sobre si, o seu percurso e a forma como chegou à política, mais precisamente, ao CDS, quando as influências familiares o poderiam ter orientado para o PSD.
Conservador assumido, e com orgulho, o jovem explica que é preciso o CDS estar ciente do seu habitat natural, para conseguir tirar partido da "deriva esquerdista do PSD".
Durante a conversa, temas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a educação sexual, o aborto, a eutanásia e a liberalização das drogas leves não foram esquecidos, assim como a polémica em torno de uma piada sobre o Urban.
Aos 29 anos, a Forbes colocou-o na lista dos jovens mais brilhantes, inovadores e influentes da Europa, na categoria de Direito e Política. Que significado tem esta conquista?
Faço uma interpretação coletivista desta decisão da Forbes que creio que acaba por distinguir duas dimensões que são conciliáveis e irmanáveis no quadro da cidadania ativa das pessoas. São, em primeiro lugar, a sua atividade profissional, onde o esforço empregue na formação curricular e académica pode ser materializado através de uma prática da advocacia que seja reconhecida no quadro internacional e, por outro, a minha participação política na circunstância da Juventude Popular e do CDS, que são o pináculo da minha missão cívica.
A Juventude Popular tem protagonizado uma ideia de restauração da confiança na política à Direita, fazendo essa distinção para almejar defender valores que os partidos do 'centrão' já neglicenciaram há muito tempo. Eles são a defesa da família de forma intransigente, da vida, desde a conceção até à morte natural, da igualdade de oportunidades, que permite a cada um independentemente do ponto de partida conseguir ter acesso ao mecanismo elevador e dar aos seus filhos e a si próprio uma vida melhor do que os seus pais foram capazes de oferecer, uma aposta na educação como oficina da humanidade e criadora de novas fronteiras de sucesso, um trabalho que seja digno, decente e moral que permeie o mérito e não esteja divorciado do esforço e da qualidade do trabalhador, do princípio da subsidariedade na organização social, onde o Estado não se intromete numa esfera de autonomia que pertence às pessoas e às suas opções.
Por outro lado, também criar uma ideia e semeá-la em Portugal de que as tradições, o contexto da nossa matriz judaico-cristã, da nossa identidade cultural, da valorização de uma ideia de nação, de uma Europa dos Estados que deve estar no centro do debate político juvenil. Por isso, na JP temos encontrado uma equação que nos permite arvorar o seguinte: procuramos estimular o perfil de cidadãos ativos dos nossos militantes e não as dependências da política.
Na JP queremos premiar o mérito e não os vícios e as más práticas que estão instaladas nas juventudes partidárias, que tantas vezes são encaradas como centros de emprego, academias de maus hábitos, e emissoras de passaportes para o carreirismo e o colonialismo na Administração Pública.
Este modelo inovador faz com que possamos afirmar de forma desempoeirada e corajosa que queremos dar um novo fôlego ao caminhar da História, liderar em nome de convicções, restaurar a confiança da política e sermos um farol de esperança de uma Direita que é social, não relativista, democrática e popular, em defesa dos interesses intransigentes das novas gerações.
Existe em Portugal um cisma juvenil onde apenas quem tem cabelos brancos é que pode reclamar a maturidade. Para aqueles que acham que ser jovem é um defeito, não se preocupem, ele passará com o tempoA Forbes distinguiu-o pela chegada aos 20 mil filiados na JP e por ter duplicado o número de membros eleitos nas eleições autárquicas. É um sentimento de dever cumprido para com a JP?
Eu tenho para mim um princípio, à medida que vamos subindo na hierarquia, aumentam as responsabilidades e os deveres, mas diminuem os direitos. Através da minha magistratura de liderança da Juventude Popular, eu procurei capacitar o partido da transição geracional necessária, da renovação dos seus quadros e da injeção de talento.
O primeiro grande teste que a minha liderança ultrapassou foi precisamente as eleições autárquicas e existe em Portugal um cisma juvenil onde apenas quem tem cabelos brancos é que pode reclamar a maturidade e estatui-se que a experiência é uma condição sine qua non de uma data de nascimento que consta no documento de identificação. Para aqueles que acham que ser jovem é um defeito, não se preocupem, ele passará com o tempo. E da parte do partido, eu senti esta abertura e este acolhimento para afirmar o CDS num contexto geracional mais jovem, sabendo que se trata de uma faixa e zona etária onde as pessoas não têm uma consciência política ainda formada.
Em Lisboa isso foi um caso absolutamente paradigmático. Se é verdade que no país a JP passou de 70 mandatos em 2013 para 150... Esta alavancagem do resultado do CDS e este suporte que lhe demos como rampa para o sucesso, o sustentáculo que fomos como força motriz nas campanhas, mas não só, desempenhámos uma função que tem um carácter insubstituível na vida do partido: foi graças aos militantes da JP que o CDS conseguiu apresentar candidaturas autónomas em muitos concelhos deste país, onde o partido não estava munido de recursos humanos nem de meios nem equipamentos necessários para que a sua sigla constasse no boletim de voto. Provámos que o impossível às vezes acontece. Quando me disseram que nada me dariam do infinito que pedi, erguemos mais alto o nosso grito e mais infinito pedimos. Nós soubemos ser o âmago definidor das políticas de juventude a nível local, sendo que o CDS também soube absorver os contributos e a proposta política da JP. A JP é insubstituível a fazer as dobras ao CDS.
É um aproveitamento das fragilidades do CDS para aumentar o valor da JP?
O CDS e a JP estabelecem-se num plano de complementariedade, não são forças substituíveis uma da outra. Nesse domínio da participação democrática, a JP é CDS e o CDS é JP. Costumo dizer muitas vezes que o CDS deu a vida à JP, mas que a JP dá vida ao CDS. Somos um quadro unívoco quando temos de nos apresentar aos eleitores, porque professamos a mesma matriz.
A sua ascensão na JP foi muito rápida, assim como a chegada à liderança da estrutura. O que tem o Francisco Rodrigues dos Santos para ter conseguido estas conquistas tão rapidamente?
Acho que a humildade deve ser um valor que nos deve orientar sempre em qualquer domínio da nossa vida, é inexorável e irrenunciável. Eu estudei no Colégio Militar e um dos artigos do nosso código de honra dizia o seguinte 'ser honesto no êxito, digno na adversidade e confiante face às dificuldades' e creio que esta é uma regra de ouro que procuro nunca esquecer em qualquer fase e etapa do meu trajeto. Winston Churchill dizia uma frase que eu nunca mais me esqueci: 'o sucesso não é definitivo, o fracasso não é eterno e o que conta é a coragem para continuar' e eu tenho muita coragem para continuar, enquanto houver estrada para andar, vou andar.
Eu sabia que os sacrifícios pelos os quais tinha de passar serviriam para moldar e aperfeiçoar o meu carácterDe Coimbra, para Vila Nova da Barquinha e depois para Lisboa. O ensino no Colégio Militar ainda hoje está presente no dia a dia? E como vive uma criança longe da família?
A família é a célula fundamental em qualquer conjuntura social. Muitas vezes cria-se a ideia de que uns pais quando colocam um filho num colégio interno se demitem da sua função que é catedrática na educação. Isto não é, manifestamente, verdade. Muito pelo contrário. Isto obriga a um esforço redobrado, a uma atenção e vigilância especiais, porque o tempo de convivência diminui e então tem de ser mais intenso para suprir as ausências. Há também um esforço para harmonizar um quadro de valores que se ensinam no seio do lar com aqueles que ministrados a nível humano no colégio.
Não posso esconder que foi difícil, ao início, a adaptação ao colégio, porque as normas de convivências, as regras e os alicerces fundamentais da tradição colegial são injuntivos, no sentido em que não há uma grande flexibilidade na sua interiorização, têm de ser acolhidos no espírito de cada aluno de modo a que a pessoa consiga crescer como cidadão e ser humano no quadro da formação militar.
Eu sabia que os sacrifícios pelos os quais tinha de passar serviriam para moldar e aperfeiçoar o meu carácter e me preparar para as adversidades que a vida me reservaria quando saísse do colégio.
Mas uma criança tão pequena percebe isso?
Percebe porque há um acompanhamento, uma explicação e pedagogia no colégio que não faz projetos educacionais a curto prazo, consegue perspetivá-los no futuro que se avizinha risonho, de liderança e de sucesso. E eu acreditei naquela fórmula e todos os dias fazia por me aproximar do modelo, do prótotipo de aluno do Colégio Militar de acordo com as regras do dia a dia.
Também a ideia de praticarmos o bem. Este manancial de ditames foram úteis para a formação do caráter e são instrumentos muito preciosos que ajudam a desbloquear tensões que hoje atravesso no presente e são uma chave para o êxito.
O centro não existe. É uma neblina cinzenta que pode ser confundida pelo poder e pelo oportunismo eleitoral, que não existe na cabeça dos políticos, e que só tem morada no pulso do eleitor
As influências políticas surgiram na família, mas havia uma ligação até mais provável ao PSD. O que o fez filiar no CDS-PP?
Tenho para mim uma versão que pinto sobre as versões populares na altura de escolher um partido, quer seja para a sua filiação quer para depositar o seu voto. O centro não existe, é um método que colhe e faz concessões a diversas correntes ideológicas quer seja à Esquerda, quer seja à Direita. É uma neblina cinzenta que pode ser confundida pelo poder e pelo oportunismo eleitoral, que não existe na cabeça dos políticos, e que só tem morada no pulso do eleitor que tende sempre para os partidos mais fortes, quer seja PSD, quer seja PS. Isto significa que o centro é meramente conjuntural, e eu acho que as pessoas por terem alguma inércia de escolher com risco, optam por uma lógica mais utilitarista, votam e escolhem os partidos que lhes dão mais garantias de poder vir a exercer o poder.
E acho que o CDS não é equidistante do centro da Esquerda e da Direita, porque esta teoria que significa querer ser tudo e o seu contrário, o mundo ao mesmo tempo e no fim de contas não ser coisa nenhuma.
Sempre interpretei a ideologia do CDS como o partido de centro Direita, mas de uma Direita que ocupa o centro e não de um centro que toma de assalto a Direita. Portanto, eu optei pelo CDS porque não acredito em Direitas sem calorias, não sou adepto de Direitas descafeinadas, nem sou partidário de uma Direita neutral, ou que a Esquerda permita que ela seja.
O meu avô foi militante do PSD e dirigente autárquico, creio que estava mais inclinado para uma lógica de poder que só poderia ser conferida pelo PSD, pese embora o quadro de valores que ele defendia se inseriam ipsis verbis e estampavam naquela que é a roupagem do CDS. É precisamente este estigma que temos de combater e a JP tem procurado fazê-lo, anunciando o fim o bipartidarismo e da alternância de políticas em vez da verdadeira alternativa, onde o PS e o PSD, a social-democracia e o socialismo democrático, o marxismo reformado e a social-democracia, que em qualquer ponto a Europa significam exatamente a mesma coisa, porque o contraponto do socialismo democrático não é a social-democracia, é a democracia-cristã, e nós queremos apresentar-nos como esta terceira via, a antíteses daquilo que é o PS.
E eu gosto de ser contundente e nada equívoco na forma como elaboro esta separação higiénica naquilo que considero ser uma confusão e um embaralhado de ideias, o poder pelo poder, uma mescla de teorias que significam mais Estado na vida das pessoas, a colonização do regime pelos partidos do sistema e uma falta de identidade flagrante que não permite à Direita afirmar-se como Direita e ser a Direita do futuro, que agrega os votos dos sociais-democratas que deixaram de ver na social-democracia uma representação da Direita.
Acho que o CDS tem de ir por aí, e foi através desta afirmação de uma Direita que não é relativista, coletivista, centralizadora, não procura ser experimentalista e que não é de todo socialista que eu optei por estar no CDS, porque achava que o PSD não dava guarida a estes pressupostos que considero linhas vermelhas da minha militância.
Optei pelo CDS porque não acredito em Direitas sem calorias, não sou adepto de Direitas descafeinadas. Um conservador não é um retrógrado, não é um tipo que vive no passado, não é um bota de elástico
O conservadorismo é uma das palavras que mais lhe tem sido associada. Onde acaba uma forma de pensar retrógrada e começa uma conservadora?
Um conservador não é um retrógrado, não é um tipo que vive no passado, não é um bota de elástico, nem pode ser assumido como uma pessoa que é passadista ou bolorenta. O que significa ser conservador? Um conservador representa um conjunto de características que acho que são fundamentais ao evoluir da História. Nós acreditamos na mudança, somos é prudentes e cautelosos face a ela para evitarmos ruturas, revoluções e mudanças de paradigma que revertam em prejuízo para a sociedade do seu todo. Nós respeitamos a herança do passado e interpretamo-la como um padrão de conquistas que não aconteceram por acaso e foram produto de avanços civilizacionais relevantes.
Se ser conservador, aos olhos dos outros, é defender a vida condenando a cultura de descarte proposta pela eutanásia; proteger a família, criminalizando o abandono de idosos (tal como, pasme-se, o legislador já fez com os animais) e desconfiar das engenharias sociais; ser partidário de uma Europa das nações e dizer não ao federalismo; respeitar a propriedade privada e a liberdade da pessoa face ao Estado, em vez de uma máquina fiscal poderosa que lhe subtrai rendimentos; exigir a tolerância pela diferença, mas uma diferença com tolerância; propor que a política conviva bem com a ética e com a moral; arvorar a igualdade jurídica entre o Homem e Mulher, abolindo todas as situações de discriminação, mas condenar a destruição artificial das suas naturais diferenças; então eu sou conservador. E tenho orgulho nisso.
Ser conservador é evitar os experimentalismos radicais, é renunciar a uma ideia do politicamente correto e de uma vanguarda do progresso que promete tudo a todos e durante todo o tempo mas a História já nos mostrou que nos leva a recaídas e regressões civilizacionais e, hoje em dia, é irreverente ser conservador porque quando queremos caminhar vertiginosamente num sentido de uma modernidade que não conhecemos, sem percebermos e estudarmos o presente e o que nos antecedeu, é corrermos aceleradamente em direção ao precipício.
Achamos lamentável que uma criança de 10 anos tenha de saber tudo sobre a utilização dos preservativos, da pílula e sobre o aborto, quando não existe maturidade
Tocando em alguns dos pontos que aí foram frisados, durante a sua liderança na JP, têm sido tornadas públicas opiniões controversas sobre diversos temas, um dos mais comentados foi a educação sexual nas escolas. O tema da sexualidade é apresentado tarde ou de forma errada?
A posição da JP sobre a sexualidade dos jovens não é nada polémica, o que foi objeto de grande clamor e celeuma público foi quando um jornal deturpou e falseou a informação que foi passada pela JP. Nós respeitamos a vida sexual dos jovens e achamos natural que ela exista, só que deve travar-se num clima de responsabilidade centrada nos afetos e onde a escola não deve insurgir-se num domínio que pode contrariar a educação que é dada em casa. Acho que deve haver um esforço para consertar aquela que é a posição das famílias, e cada uma tem direito à sua, com o quadro de ensinamentos que são ministrados na escola. Depois achamos lamentável que uma criança de 10 anos tenha de saber tudo sobre a utilização dos preservativos, da pílula e sobre o aborto, quando creio que não existe maturidade e que os conceitos a ensinar nessa fase tão precoce da vida deviam ser outros, como a comunhão de afetos, a responsabilidade, a descoberta do amor.
Achamos que é precoce a forma como são feitos estes ensinamentos e achamos curioso que, de acordo com o referencial, o tema da abstinência sexual viesse abordado apenas no 10.º ano, a crianças de 16 anos. Acho fundamental que se aprenda que é possível uma criança ter uma convivência amorosa com o sexo oposto sem ser necessário iniciar uma vida sexualmente ativa. Nós não defendemos que os jovens de 16 anos não possam ter relações sexuais, o que achamos lamentável é que se queira ensinar tudo sobre métodos contracetivos a uma criança de 10 anos, mas não lhes queiram explicar que podem não iniciar uma vida sexual aos 10 anos.
“Não é aceitável que se planifiquem, a partir do 5.º ano, aulas sobre métodos contracetivos, mas que a primeira palavra sobre abstinência sexual seja proferida apenas no 10.º ano”. Trata-se de uma desvalorização da abstinência?
Acho que a abstinência não deve ser o método central na vida da juventude, porque a vida sexual pressupõe que ela tenha início. A abstinência não é um método contracetivo nem pode ser considerada uma forma de ver a sexualidade, mas para crianças de 10 anos não se pode forçar a iniciar uma vida sexual ativa sem se falar que ela pode não ter lugar e que há outro tipo de valores que é importante cultivar numa idade tão tenra como aquela.
Também a questão do aborto foi considerada nas propostas da JP para a educação sexual. Que opinião lhe merece esta questão que continua a ser controversa na sociedade portuguesa?
O aborto é um tema que é controverso e não nos podemos esquecer que houve dois referendos em Portugal, o primeiro ganhou o 'não' ao aborto e no segundo ganhou o 'sim', com uma margem curta onde não votou metade da população, o que fez com que o referendo não fosse sequer vinculativo. O tema do aborto foi objeto de produção legislativa e despenalizado até às 10 semanas, mas a verdade é que continuam a existir dois lados, pois há pessoas que continuam a achar inaceitável que uma mãe possa dispor da vida do seu filho, porque consideram que ela tem início na conceção e só termina na morte natural. Portanto, querermos planificar o pensamento público, a opinião das pessoas, policiar a sua consciência fazendo crer que a atual lei em vigor representa todos os portugueses independentemente das suas sensibilidades, é um erro.
Eu não sou subscritor do entendimento de que o aborto deva estar despenalizado, um dia quando tiver filhos não quero ensinar que aquela é uma prática normal ou uma opção nas suas vidas. É natural que, para precaver e salvaguardar este pensamento de algumas famílias em Portugal, não deva ser o Estado a contrariar e a ensinar ao arrepio daquela que é a lógica das próprias famílias. Se para pessoas - e existem - o aborto não é uma prática admissível, no quadro moral, não deve ser o Estado a contrariar a perceção e a opinião que a família tem.
O PS fez saber que vai apresentar um projeto próprio sobre a legalização da eutanásia. Concorda com a posição do CDS que é contra a despenalização da eutanásia?
Absolutamente. A JP pronunciou-se sobre o tema da eutanásia afirmando que a morte não é solução para a vida. O acompanhamento que devemos dar aqueles que sofrem é cuidar, não é matar. Para já a nossa Constituição diz que a vida é inviolável, e ainda bem, acho que é uma conquista da lei fundamental que não encontra paralelo em muitas constituições. Depois, porque acho que a eutanásia vai destruir a relação médico-doente. A partir do momento em que o médico pode apresentar a solução 'morte' ao seu doente, passa logo a ser um ónus de desconfiança face a qualquer diagnóstico, porque nós contamos que o nosso médico nos cure e não que nos mate. E também porque coloca em perigo as franjas mais desfavorecidas e vulneráveis da nossa sociedade, que sem quererem podem ser conduzidas para uma morte que não declararam querer, como acontece nos idosos, nos mais pobres, nas pessoas que sofrem doenças psiquiátricas, naqueles que são um fardo e um estorvo para as suas famílias. Portanto, adotaremos um modelo de rampa deslizante, abriremos uma caixa de pandora que não é nada benigna porque transforma a morte numa solução admissível a apresentar a um doente.
Nos países em que isto já está legislado, há casos em que as pessoas não declaram que querem morrer e acabam por ser mortas e como passou a ser socialmente aceite já ninguém se questiona sobre isso.
O que defendemos é que devemos optar por meios médicos mais potentes que ajudem a diminuir e a mitigar o sofrimento, como apoios sociais e os cuidados paliativos para que até ao último suspiro as pessoas tenham dignidade.
Se ficar demonstrado cientificamente e medicamente que a canábis traz benefícios no tratamento do doente, não tenho nada a opor-me
Concordava com a utilização de canábis se se tratasse apenas de uso medicinal?
Eu acho que quem tem de se pronunciar sobre esta matéria, além da Ordem dos Médicos, é o Infarmed, de quem ainda não ouvimos uma única palavra sobre este assunto. Se ficar demonstrado cientificamente e medicamente que traz benefícios no tratamento do doente, não tenho nada a opor-me.
O que está em causa é a plantação?
Essa questão da plantação é um incentivo ao tráfico e abre um alçapão para, mais tarde, as drogas leves serem despenalizadas, o que na minha opinião é uma via aberta para a degradação do ser humano, com problemas que estão associados e que são insidiosos do ponto de vista social. Agora, se ficar demonstrado que o efeito médico é positivo, que o SNS prove a bondade e utilidade do recurso desse tipo de substâncias para o tratamento da doença, sim, somos favoráveis, dando a voz aos especialistas na matéria.
O casamento homossexual e a adoção de crianças entre pessoas do mesmo sexo merecem, por parte da JP, também uma resposta negativa?
A JP não tem um posicionamento de hoje em relação a esta matéria. Parece que eu inaugurei a opinião sobre este tópico, mas quando essa questão se colocou, sabemos que em sede parlamentar houve partidos que votaram a favor e outros contra. O CDS votou contra e a JP acompanhou e subscreveu o entendimento do partido. Quando eu cheguei a presidente da JP herdei esse património, com o qual também concordo. O que é que se esperaria de um líder da JP? Que estivesse numa posição contrária à do partido nesta matéria, que revogasse o entendimento maioritário da sua estrutura? Podia acontecer mas não é o meu caso, porque eu identifico-me com as posições que foram tomadas e quando sou confrontado devo ter a honestidade intelectual - uma coisa que em Portugal, hoje em dia, as pessoas não estão muito habituadas a aceitar - e a frontalidade de assumir aquelas que são as minhas convicções, que não vão beber a nenhum tipo de preconceito nem estigma social.
Nem tenho nenhum tipo de prurido em reconhecer o amor entre duas pessoas do mesmo sexo, apenas tem a ver com a instituição que é o casamento, que é milenar, e onde o direito à diferença que se reclama também deva passar pela designação que é dada às coisas. Sou da opinião que deve haver a chancela do Estado para unir pessoas do mesmo sexo, que salvaguarde e que configure um conjunto de direitos que deve existir mas, à semelhança do que acontece com o Reino Unido, sou da opinião que deve chamar-se União Civil Registada, porque o casamento é uma instituição que antecede o Estado e é superior a ele.
E em relação à questão de crianças por casais do mesmo sexo?
A adoção prende-se apenas com o superior interesse da criança. Mais do que avaliarmos o interesse de ter filhos, devemos procurar saber o que é melhor para a formação e desenvolvimento da criança e eu entendo que deve haver uma complementaridade de sexo e de género na sua aprendizagem, por isso, o preferencial é que tenha um pai e uma mãe e não dois pais ou duas mães. É tão simples quanto isto.
A NASA provoca menos alarido quando encontra um novo planeta no Espaço do que esta turba musculada e raivosa de extrema-esquerda quando descobre que há vida à Direita
No ano passado, uma publicação sobre o Urban Beach acabou por gerar muita polémica. As acusações de racismo levaram a uma justificação e a um esclarecimento. Como reagiu a essa situação?
Achei uma ignominiosa estratégia de difamação e de linchamento de caráter, sem qualquer tipo de fundamento. A NASA provoca menos alarido quando encontra um novo planeta no Espaço do que esta turba musculada e raivosa de extrema-esquerda quando descobre que há vida à Direita. Um tipo de Direita se recorre ao humor para combater o racismo passa a ser, automaticamente, um racista, um xenófobo e um intolerante. Um tipo de Esquerda se o faz, é um génio, um iluminado, um paladino da igualdade. É esta dicotomia que eu nunca vou conseguir aceitar, porque eu não aceito perder a densidade humana para abrir mão do humor. Gil Vicente disse que 'rindo castigam-se os costumes'.
A minha publicação era profundamente antirracista, como de resto veio a ser defendido quer pelo Ricardo Araújo Pereira, o Pedro Mexia e o João Miguel Tavares no 'Governo Sombra' e até no programa 'Irritações', onde acusaram as pessoas de ser ignorantes e que entenderam que isto só aconteceu por eu ser um tipo de Direita.
Aponta-se mais facilmente o dedo às juventudes partidárias de Direita?
Claro, porque existe uma complacência muito grande e uma tolerância muito grande à Esquerda. Tudo é permitido a uma pessoa de Esquerda. Eu quis escancarar os estereótipos, porque uma discoteca que era acusada de ter práticas discriminatórias sob pessoas de outras raças, acabou por ser fechada por uma pessoa que podia perfeitamente ter sido alvo desse ataque e foi isto que eu quis destacar, abrindo as portas à ironia das coisas.
Basta ver a minha vida, onde estudei, o partido de quem sou, os meus amigos, para ver que não tenho problemas nenhuns e que nunca fui uma pessoa racista na vida. Mas claro, são os rótulos, a descaracterização e a tentativa de travar a minha liberdade e isto eu não posso vir a admitir porque aos tipos de Esquerda, dizendo as maiores barbaridades, tudo é admissível. São uns tipos alternativos… Mas há uma grande maioria silenciosa da população que não se expressa, nem é ruidosa, que não concorda e que já topou esta pandilha.
Se um governo de Direita, sujeito a um memorando excecional, aumenta os impostos para pagar a dívida contraída pelo socialismo, é austeritário; se a Esquerda, em tempos de normalidade, aumenta os impostos indiretos, taxa o sol, acaba com o regime simplificado, torna-se um mestre em equidade fiscal. Se aquele mesmo exercício de Direita, naquele exato período, tendo diminuído o investimento público era considerado ultra liberal; hoje a 'Geringonça' cativa verbas, destrói as funções essenciais do Estado, como a saúde que se encontra depauperada, a educação e as forças armadas, e é visto como um criterioso gestor do erário público.
Hoje em dia muitos jovens estão longe da política por falta de crença. Como se capta a atenção dessas pessoas que estão inseridas numa sociedade que aponta tanto o dedo aos políticos?
Quem acredita nos seus valores não os impõe, oferece-os, e é num clima de pluralismo que devemos aceitar a crítica, assim como acolher o elogio. Eu acho que as juventudes partidárias, se souberem ser escolas de formação, estimularem a vontade de aprender, souberem premiar os talentos e mostrar através de medidas muito concretas a proposta política que têm para a sociedade, mais cedo ou mais tarde acabarão por serem reconhecidas. Se forem casas fechadas em si mesmas, burgos pessoais ou negócios de família, vão acentuar ainda mais o divórcio que hoje em dia existe.
Nós devemos falar claro às pessoas, não sermos uma Direita que anda sempre com a calculadora na mão, também não podemos ceder ao politicamente correto e temos de trazer ao debate político problemas que as pessoas sentem no seu dia a dia, não podemos ter uma agenda que está desligada e que é imiscível do quotidiano dos jovens em Portugal.
É por isso que há uma aceitação mais fácil da Esquerda, por serem tratados problemas que tocam mais as pessoas?
Não, eu vejo a Esquerda a ter uma agenda que é essencialmente disruptiva e que, por isso, traz uma polémica inerente que provoca mais efervescência no debate, mas a JP também tem crescido, e estamos prestes a atingir a marca dos 20 mil filiados, porque temos centrado o nosso programa político em ideias muito claras.
Noto nesta presidência do CDS que há uma grande vontade de romper com o bipartidarismo em Portugal e Assunção Cristas tem mostrado ser uma líder corajosa
A JP neste momento não tem representante na Assembleia da República e voltar a eleger um deputado é um dos objetivos do seu mandato. Essa meta está mais perto?
Noto nesta presidência do CDS que há uma grande vontade de romper com o bipartidarismo em Portugal e Assunção Cristas tem mostrado ser uma líder corajosa que quer acentuar a autonomia do CDS, que não é o sucedâneo do socialismo, nem a muleta nem o partido satélite do parceiro natural de coligação. Para fazer este caminho de afirmação do CDS, o grande debate no partido deve deixar de ser 'com que outro devemos coligar-nos para vencer as eleições' mas 'como nos devemos capacitar para, por nós próprios, ficarmos em primeiro lugar' e para atingirmos e fazer a assunção desse objetivo o partido precisa de contar com o apoio expressivo das novas gerações. Nesta lógica, com vista a um reforço da nossa votação, sei que a presidente do partido terá de contar com o apoio da JP que cresce mais do que as outras juventudes partidárias em Portugal.
Por exemplo, a JP tem hoje quase 21 mil filiados, a JSD tem 25 mil, a JS está na casa dos 27 mil. A diferença do CDS para o PSD e PS não se cifra na ordem dos 4 mil ou 6 mil, como é o caso da correlação de forças da JP com os seus concorrentes e adversários diretos, portanto, nessa esteira, para mobilizar o nosso eleitorado, terá que verter essa aposta nas novas gerações na elaboração das próximas listas.
Muitas vezes tem sido transmitida a ideia de que o CDS pode ser uma alternativa ao PSD. É uma ambição exagerada?
Creio que não é uma ambição desmedida, se os partidos existem é para poder exercer o poder e preferencialmente de forma isolada e por si próprios, sem precisar de arranjos parlamentares para atingirem esse intento. O CDS tem uma doutrina à qual tem de ser fiel mas que granjeia uma fatia considerável das pessoas, daí considerar que o eleitor típico do CDS e do PSD é muito parecido. Creio é que o CDS tem de mostrar que tem condições para ser a primeira escolha dos portugueses e traduzir e exprimir estes princípios que têm uma raiz sociológica muito dilatada, que vai desde o eleitor do PSD ao CDS, e convergi-los unitariamente no voto do CDS.
A deriva esquerdista do PSD, agravada por um CDS ciente do seu habitat político, fará as pessoas compreenderem que os valores que revela, embora não professe, não são os valores que a Direita exige nem aqueles a que tem direito. O PSD não pagará com políticas as aspirações do eleitorado da Direita portuguesa. Essa será função do CDS.
O resultado em Lisboa pode ter sido o primeiro passo para que isso aconteça?
Sem dúvida nenhuma, eu espero que o resultado de Lisboa tenha uma projeção a nível nacional. Houve muita gente que votou pela primeira vez no partido e que esse indicio seja encorajador para que todos outros o possam fazer a nível nacional. Ultrapassámos o PSD e mostrámos que fomos líderes da oposição. O precedente está aberto e agora é replicá-lo e conseguir transpô-lo nesta lógica Norte, Sul e Ilhas.
Esta liderança de Assunção Cristas atenua as saudades de Paulo Portas, um líder incontornável do CDS-PP?
Creio que esta liderança de Assunção Cristas honra o passado de Paulo Portas mas também de todos os ex-presidentes do CDS, dando continuidade à esperança que o CDS deve corporizar. Insiro esta liderança não numa lógica de rutura mas de transição e renovação geracional, que no encalço das conquistas do passado se propõe a elevar a fasquia.
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