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Prémio Salavisa vai "colocar outra vez Moçambique no mapa da dança"

O bailarino e coreógrafo moçambicano Idio Chichava afirmou hoje que a atribuição do Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian vai "colocar outra vez Moçambique no mapa da dança".

Prémio Salavisa vai "colocar outra vez Moçambique no mapa da dança"
Notícias ao Minuto

27/11/24 22:46 ‧ Há 1 Hora por Lusa

Cultura Idio Chichava

Contactado pela agência Lusa, o artista disse sentir-se "muito feliz e honrado por ser dos primeiros a receber este prémio", no valor de 150 mil euros, que partilha nesta primeira edição com a artista anglo-ruandesa Dorothée Munyaneza.

 

O prémio, entregue hoje à noite numa cerimónia na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, distingue artistas de todo o mundo com talento ou qualidades especiais que mereçam ultrapassar as suas fronteiras nacionais, visando apoiá-los na projeção internacional.

"De certa forma, este prémio vai dar holofotes, e colocar outra vez Moçambique no mapa da dança, iluminar a forma como pensamos esta arte, ajudar a fortalecer as nossas batalhas quotidianas como artistas coreográficos", disse o criador à Lusa.

Os vencedores foram escolhidos entre cinco finalistas por um júri independente composto por Mette Ingvartsen, Nayse López e Fu Kuen Tang, que destacaram as "abordagens artísticas particularmente bem-sucedidas" e a "ligação profunda" dos artistas aos seus contextos culturais e sociais.

Idio Chichava fez carreira em França e regressou a Moçambique, onde se tornou diretor artístico da companhia Converge+, que promove o ensino gratuito da dança junto de comunidades locais, investe em produções multidisciplinares e criações colaborativas.

"Este prémio veio reforçar as minhas expectativas e convicção como artista coreográfico que trabalha a partir de Moçambique, com moçambicanos, dentro e fora do país", confessou à Lusa.

A passagem de 15 anos em França foi "como uma escola", que lhe possibilitou "olhar a dança em Moçambique de outra forma, e encontrar pontos claros de como trabalhar" no seu país.

"Ser ainda mais profissional e interventivo, estruturar a dança, são as minhas prioridades desde que estou em Moçambique. Isso passa por formar bailarinos e fazer-lhes crer que, trabalhando como coletivo e como comunidade é muito mais harmonioso para o ecossistema da dança", defendeu o coreógrafo.

O júri destacou o trabalho de Idio Chichava como "uma afirmação poderosa da energia coletiva e do desejo de criar e coexistir".

Com a sua companhia, criou o projeto/espetáculo "Vagabundos" que está a ser mostrado em palcos internacionais desde 2023, estando prevista a sua apresentação, pela primeira vez em Portugal, no Porto, no Festival Dias da Dança, em 2025, revelou à Lusa.

"Vagabundos" fala das migrações, da construção das imagens pós-coloniais, das formas de descolonizar o corpo e entendimentos, temas "que também se encaixam com a história de Portugal", apontou Chichava.

A companhia está sediada em Maputo, e parte das curadorias e de projetos de formação estão descentralizados do centro da capital "para criar pontos mais fortes com a periferia e o centro".

Questionado sobre o contexto atual que o seu país vive, de turbulência política e protestos nas ruas desde as últimas eleições, o artista disse que "a situação é muito preocupante".

"O regime está a desrespeitar muito a integridade física dos moçambicanos, e a violar o direto à liberdade de expressão", comentou o coreógrafo.

De acordo com Idio Chichava, "como a linguagem coreográfica da companhia tem muito a ver com rua, a situação em Moçambique está a afetar muito a criatividade e a atividade da companhia".

"Estamos a usar a arte como uma forma de revolucionar e resistir, lutar para que Moçambique seja um lugar para aspirar a futuros melhores", disse, acrescentando que, apesar da situação ser " caótica", o povo "não prima pela violência face a um regime cruel".

Além do prémio monetário, Idio Chichava e Dorothée Munyaneza, os dois vencedores da primeira edição do prémio europeu de dança, terão a oportunidade de apresentar os seus trabalhos nos palcos das seis instituições parceiras do galardão, que incluem o ImPulsTanz -- Vienna International Dance Festival, o KVS - - Royal Flemish Theatre (Bélgica), o Dansehallerne (Dinamarca), a Maison de la Danse/Biennale de la Danse (França), a Joint Adventures (Alemanha) e o Sadler's Wells (Reino Unido).

A portuguesa Catarina Miranda, a marroquina Bouchra Ouizguen, e a franco-argelina Dalila Belaza estavam entre os cinco finalistas da edição inaugural do prémio europeu de dança Salavisa lançado pela Gulbenkian.

Criado em 2023, o Salavisa European Dance Award homenageia o legado do bailarino e diretor artístico português Jorge Salavisa (1939-2020), sendo atribuído de dois em dois anos a artistas que ainda não alcançaram grande visibilidade no circuito europeu.

O júri desta edição incluiu Mette Ingvartsen, coreógrafa dinamarquesa que combina dança com artes visuais e tecnologia, Nayse López, curadora e diretora artística do Festival Panorama, e Fu Kuen Tang, dramaturgo e curador sediado em Banguecoque, com projetos em diversas plataformas na Europa e Ásia.

Leia Também: Idio Chichava e Dorothée Munyaneza vencem Prémio Salavisa de Dança

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