Na Cinemateca, Apichatpong Weerasethakul fará, no dia 26, a antestreia portuguesa de 'Cemitério do esplendor', mostrará ainda a longa-metragem anterior, 'Hotel Mekong' (2012), e 14 curtas-metragens.

A presença do premiado cineasta e artista visual tailandês servirá ainda para leccionar um seminário no âmbito do Doutoramento em Estudos Artísticos, coordenado pelo realizador João Mário Grilo, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Nascido em Banguecoque, em 1970, Apichatpong Weerasethakul tem uma obra cinematográfica "intimamente ligada à paisagem da região de Khon Kaen, no nordeste da Tailândia, onde cresceu, e a um tratamento não linear da narrativa", afirma a Cinemateca, sublinhando ainda a questão da memória e da relação entre ficção e documentário.

Em Portugal, o realizador já teve direito a pelo menos duas retrospetivas, uma em 2006, no âmbito do festival Curtas de Vila do Conde e, em 2011, na Cinemateca, um ano depois de ter recebido a Palma de Ouro em Cannes, com 'O Tio Boonmee que se lembra das suas vidas passadas'.

Crítico do regime político que vigora na Tailândia, desde o golpe millitar de 2014, Apichatpong Weerasethakul recusou-se a estrear 'Cemitério do esplendor' no país, por saber que não existe totalmente liberdade de expressão.

O filme, que se estreia nos cinemas portugueses no dia 28, tem ainda uma interpretação política, uma vez que a história se centra numa misteriosa doença de sono que afecta um grupo de militares, provocando-lhes sonhos conturbados.

Apichatpong Weerasethakul, que ganhou reconhecimento internacional sobretudo depois de ter sido premiado em Cannes, licenciou-se em Arquitetura e prosseguiu os estudos em Belas Artes e Cinema, nos Estados Unidos.

Foi um dos poucos cineastas a trabalhar fora do restrito sistema de estúdio tailandês, destacando-se pelo caráter experimental das obras, a partir de finais dos anos 1990, quando fundou a produtora Kick the Machine.

Além do cinema de Apichatpong Weerasethakul, a Cinemateca irá ainda exibir alguns filmes escilhidos pelo realizador, de autores como Hou Hsiao-Hsien, Abbas Kiarostami, Jacques Tourneur e Francis Ford Coppola.

Em 2006, quando passou por Portugal a convite do Curtas de Vila do Conde, Apichatpong Weerasethakul dizia que, para ele, "a sala de cinema é como um veículo que transporta os espectadores para territórios desconhecidos".

"Às vezes, basta apenas olhar e não pensar - como quando viajamos numa terra estranha. Por vezes, quando deixamos a nossa mente à deriva, parece que há duplas narrativas à solta. Isso parece-me muito interessante", afirmou o realizador.