Presidente do CFP vê economia a crescer cerca de 3% este ano
A presidente do Conselho das Finanças Públicas está mais otimista sobre o crescimento do PIB este ano, prevendo cerca de 3%, avisa que o desempenho em 2024 estará muito dependente dos parceiros europeus e defende a diversificação da economia.
© Getty Images/ João Silva
Economia CFP
Em entrevista à agência Lusa, Nazaré da Costa Cabral recorda o comportamento favorável da economia portuguesa no primeiro trimestre do ano, com um crescimento de 1,6% em cadeia, admitindo que o Conselho das Finanças Públicas (CFP) está a fazer a revisão do seu cenário macroeconómico para a totalidade do ano.
No entanto, considera que no segundo e terceiro trimestres haverá uma desaceleração da taxa de variação em cadeia para cerca da metade do valor verificado no início do ano.
Ainda assim, acredita que "a menos que o último trimestre do ano seja muito negativo", a taxa de crescimento deste ano "se aproximará dos 3%", o que a concretizar-se se situa bastante acima dos 1,2% previstos pelo CFP em março e dos 1,8% previstos pelo Governo no Programa de Estabilidade, entregue em abril.
A justificar o desempenho acima das expectativas elenca três fatores: as exportações, sobretudo de serviços, o investimento e o consumo privado.
"Temos tido um crescimento muito grande dos números do turismo nesta primeira metade do ano. É de esperar que agora, pelo menos na altura do verão, isso se mantenha", aponta, acrescentando que no investimento também se verifica essa aceleração.
Segundo a presidente do CFP, apesar de alguma desaceleração do consumo privado, não é tão intensa quanto se previa, já que por um lado "ainda se nota a capacidade de as famílias usarem uma parte das poupanças que obtiveram, nomeadamente durante a pandemia" e por outro lado, os apoios do Governo para mitigar o impacto da inflação, nomeadamente os apoios que "foram concedidos aos rendimentos na área dos salários e depois também ao nível das pensões", tiveram efeito numa camada com "uma elevada prevenção marginal de consumir".
"Também é importante dizer que o próprio turismo ou os turistas também dão um contributo não apenas para as exportações, mas induzem também consumo privado", acrescenta.
Para o próximo ano, considera que "as incógnitas são muitas".
"O último trimestre do ano é um trimestre problemático", justificando com a incerteza sobre a situação internacional, nomeadamente a dos parceiros europeus de Portugal e dos quais mais depende.
"Aquilo que seja o desempenho da economia portuguesa no próximo ano estará muito dependente também dessa evolução", explica.
A influenciar o crescimento económico de 2024 estará também "o investimento, nomeadamente o investimento público, induzido pela continuação da aplicação das verbas do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]", prevê.
Além das perspetivas para o curto prazo, Nazaré da Costa Cabral olha para o modelo de crescimento económico, que, defende, deverá passar pela aposta em setores de valor acrescentado.
"Creio que é muito importante que a economia portuguesa se diversifique mais e melhor para certos elementos de produção que permitam de facto acrescentar mais valor", disse.
Embora admita que o turismo tem "uma importância grande para a economia portuguesa" -- "aliás, é um setor que emprega muita gente e tem de facto um papel importante, quer do ponto de vista económico, quer também do ponto de vista social -, assinala que "não é o setor que garante uma produção de maior valor acrescentado".
"Verificamos que neste momento, em virtude primeiro da pandemia e depois com a guerra na Ucrânia, está a haver uma grande reconfiguração das relações económicas e das relações comerciais internacionais", observa.
Esta nova tendência passa, diz, pelo "encurtamento das próprias cadeias de abastecimento globais" e "no caso da Europa, para uma certa europeização dessas cadeias".
"Isso significa que nós temos de ter a preocupação - nós Portugal - de estarmos bem enquadrados e de sermos capazes de nos inserir adequadamente nessas mesmas cadeias de abastecimento. Ou seja, não podemos perder a oportunidade de estarmos naquelas que de facto vão garantir esse crescimento e o tal valor acrescentado para o futuro", argumenta.
Para Nazaré da Costa Cabral essas áreas são, sobretudo, a energia, comunicações e a defesa, que com a guerra assumem para a Europa "uma nova importância estratégica" e podem formar "complementaridades entre si na promoção daquilo que são os grandes objetivos de inovação tecnológica e também de transição ambiental".
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