Linha ferroviária Aveiro-Espanha ignora necessidades da região Centro
O professor universitário Manuel Tão rejeita a construção de uma nova linha ferroviária entre Aveiro e Espanha, projeto que na sua opinião não responde às "necessidades de estruturação territorial interna" da região Centro.
© Twitter/ Bill Cassidy
Economia Parecer
"Provavelmente, o maior e mais duvidoso mérito que a miragem de uma fantasiosa linha Aveiro-Salamanca tem tido ininterruptamente, ao longo de anos, é impedir que se materialize uma ligação da Linha da Beira Alta à cidade de Viseu, com mais de 100 mil habitantes, bem com ao seu parque industrial", afirma o especialista num parecer solicitado pela Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra, a que a Lusa teve hoje acesso.
Tal impedimento, segundo Manuel Margarido Tão, doutorado em Economia de Transportes pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, demonstra "como não existe qualquer tipo de fundamentação" do projeto Aveiro-Viseu-Espanha, em termos de análise de custo benefício.
"Haveria de comparar-se o retorno de um investimento de 2.500 milhões de euros Aveiro-Salamanca com outro, de 200 milhões de euros", que consistiria "numa variante de 40 quilómetros à Linha da Beira Alta", passando por Viseu, defende.
Por outro lado, "um corredor Aveiro-Viseu não atende às necessidades de estruturação territorial interna da região Centro, as quais assentam, primordialmente, nas duas grandes relações funcionais Leiria-Pombal-Coimbra e particularmente Coimbra-Viseu", acrescenta.
O docente da Universidade do Algarve questiona "que o acesso do porto de Aveiro a Espanha não seja devidamente equacionado através da construção de uma concordância a Norte da Pampilhosa, de molde a evitar reversões" das composições.
"Independentemente da maior ou menor dificuldade de construção, ao longo de dois ou três quilómetros de extensão, seguramente é suscetível de se apresentar como projeto mais exequível e de maior retorno do que uma nova linha de 300 quilómetros, boa parte dos quais enfrentando orografia complexa", recomenda.
Para Manuel Tão, "não há justificação para a construção de uma nova linha Aveiro-Espanha, com base em mega-composições para cargas que, pela sua natureza, reduzida dimensão e/ou elevado valor acrescentado por unidade de peso e dispersão geográfica nas origens e destinos, não evidenciam qualquer propensão realista para o abandono do modo rodoviário internacional de longo curso, independentemente de se construir uma nova linha".
Na sua opinião, a ideia do corredor Aveiro-Salamanca tem-se mantido na "agenda política" porque Portugal "não possui qualquer tipo de plano ferroviário".
Um plano ferroviário "implicaria necessariamente a elaboração de um 'ranking' de projetos, com base em critérios objetivos, completamente ausentes no caso de uma miragem de 2.500 milhões de euros" para essa nova ligação a Espanha, conclui.
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