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Consumo de azeite põe em risco lince ibérico? Novo estudo sugere que sim

Investigadores anunciaram hoje estar em condições de identificar e medir o perigo oculto para a vida selvagem da importação de bens de consumo, seja beber um café expresso em Pequim ou comer uma salada de tofu em Chicago.

Consumo de azeite põe em risco lince ibérico? Novo estudo sugere que sim
Notícias ao Minuto

18:30 - 04/01/17 por Lusa

Lifestyle Vida selvagem

O novo estudo, publicado na revista britânica Nature Ecology and Evolution, identificou que opções de consumidores de determinado país causam mais perdas de espécies terrestres e marítimas noutros Estados.

Os investigadores criaram um "mapa de ameaças" global que permite detalhar o impacto das exportações para os Estados Unidos, China, Japão e União Europeia (UE) nas espécies em perigo.

Para garantir o abastecimento de grãos de café ou tofu, por exemplo, foram destruídas florestas em Samatra (Indonésia) ou no Mato Grosso (Brasil), que levaram ao desaparecimento de dezenas de animais e plantas, por perda do habitat.

Um dos exemplos referidos é como a procura crescente de azeite de Portugal e Espanha pode levar ao desaparecimento do lince ibérico, devido à construção de barragens para controlar a irrigação dos terrenos.

Com base em quase sete mil espécies terrestres e marinhas ameaçadas - de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) - os investigadores definiram "focos" de perda de biodiversidade em troca de centenas de bens e mercados distantes, o que permite conhecer onde devem ser focados os esforços de conservação.

Atualmente, 90% dos mais de seis mil milhões de dólares (5,75 mil milhões de euros) mobilizados todos os anos para a conservação de espécies são gastos dentro das nações mais ricas, onde o dinheiro é angariado.

"No entanto, estes países raramente apresentam focos de ameaça", disse um dos autores Keiichiro Kanemoto, professor da universidade japonesa Shinshu, em Matsumoto.

Cerca de 2% das ameaças a sapos considerados vulneráveis no Brasil podem ser diretamente atribuídas à extração de madeira para bens exportados para os Estados Unidos.

Do mesmo modo, a indústria madeireira na Malásia, sobretudo para exportação para a UE e China, afetou o habitat do elefante asiático, da águia-gritadeira ('greater spotted eagle') e do urso-malaio.

O derrube das florestas no sul do Brasil, para a produção de carne bovina, destruiu o habitat do macaco mono-carvoeiro, conhecido como muriqui.

"Identificámos focos de ameaças à biodiversidade que são predominantemente criados por um pequeno número de países", disse Kanemoto.

O trabalho "devia facilitar a colaboração direta entre produtores e consumidores", acrescentou.

Para os cientistas, encontrar novas soluções para a perda de espécies tornou-se urgente, com o desaparecimento de animais e plantas mil vezes mais rápido do que há apenas alguns séculos.

A Terra entrou num "evento de extinção em massa", que só aconteceu seis vezes nos últimos meio milhar de milhão de anos. Alguns destes eventos foram responsáveis por 95% do desaparecimento de todas as formas de vida.

As ameaças à biodiversidade não incluem o comércio ilegal de marfim de presas de elefante, ou aves raras e répteis, vendidos como animais de estimação.

No papel, muitos dos animais e plantas ameaçados estão protegidos ao abrigo da Convenção da ONU sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas e Fauna e Flora Selvagens (CITES, sigla em inglês).

Mas o tráfico, no valor de 150 mil milhões de dólares (143 mil milhões de euros) por ano, destas espécies - vivas ou de determinadas partes - continua a ser muito elevado.

O estudo não considerou a influência de outros fatores como o crescimento urbano, a caça local ou as alterações climáticas.

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