Crescente rivalidade com Washington ameaça ambições da China
A crescente rivalidade com os Estados Unidos marcou a China, em 2018, num momento em que o líder chinês, Xi Jinping, legitima o seu novo estatuto como presidente vitalício com a projeção do país além-fronteiras, consideram analistas.
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Mundo Estratégia
No ano em que Xi anunciou o início de uma "nova era" e reforçou o poder interno ao abolir o limite de mandatos para o seu cargo, com o objetivo final de firmar a posição da China como grande potência, até meados deste século, Washington definiu o país como a sua "principal ameaça", apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas que ameaça bipolarizar o cenário internacional.
"Nas últimas décadas, a liderança chinesa trabalhou com base nas suposições de que os EUA nunca romperiam com o sistema global baseado em regras e tratados, que construíram desde a II Guerra Mundial, e que os desafios internos da China seriam sempre a sua prioridade", descreve Kerry Brown, professor de Estudos Chineses no Kings' College de Londres.
"No entanto, ambas as certezas foram abaladas em 2018", afirma.
Uma guerra comercial espoletou já entre as duas maiores economias mundiais, com Washington a aumentar as taxas alfandegárias sobre 250 mil milhões de dólares de bens chineses, visando conter as ambições tecnológicas e geopolíticas de Pequim.
Este mês, Meng Wanzhou, a diretora financeira da gigante chinesa das telecomunicações Huawei, foi detida pelas autoridades canadianas, a pedido dos EUA, por suspeita de ter mentido sobre uma filial da empresa, para poder aceder ao mercado iraniano, violando sanções norte-americanas.
A marinha norte-americana reforçou ainda as patrulhas no Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos, enquanto Washington tem reforçado os laços com Taiwan, que se assume como uma entidade política soberana, contra a vontade de Pequim, que ameaça "usar a força" caso a ilha declare independência.
Referências a uma nova Guerra Fria são agora comuns entre funcionários chineses e norte-americanos.
"Podemos certamente pensar em várias frentes de batalha: no comércio, informática, defesa (Mar do Sul da China) ou tecnologia (5G). Mas isto é uma guerra entre uma superpotência mundial em declínio (os EUA) e uma em ascensão (a China)", considera Timothy Ash, estrategista na BlueBay, empresa gestora de ativos.
A crescente animosidade de Washington face à China surge numa altura em que Xi assume o desejo de aproximar o país do centro da governação dos assuntos globais, abdicando do "perfil discreto" na política externa chinesa, que vigorou durante décadas.
A nova vocação internacionalista do país materializa-se no gigantesco plano de infraestruturas 'uma faixa, uma rota', que visa conectar o sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa, e é vista como uma versão chinesa do 'Plano Marshall', lançado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje.
"Devemos reconhecer que a base fundamental para a relação entre os EUA e a China mudou", considera Ash.
"Antes de Donald Trump, a relação era inclusiva ou até simbiótica. A ideia era que a China podia tornar-se 'um de nós', à imagem do Ocidente. Mas existe agora o reconhecimento de que a postura das administrações anteriores falhou. Talvez tenha facilitado o crescimento global, através da globalização, mas a China tem sido o vencedor desproporcional e esmagador", acrescentou.
No mais simbólico discurso sobre a China da atual administração norte-americana, o vice-presidente Mike Pence acusou o país de "agressão económica", "crescente militarismo", e de recorrer à armadilha do endividamento para fazer avançar os seus interesses nos países em desenvolvimento, "contestando as vantagens geopolíticas dos Estados Unidos e tentando mudar a ordem internacional a seu favor".
"As administrações anteriores ignoraram as ações da China - e, em muitos casos, ajudaram [Pequim]", afirmou. "Mas esses dias chegaram ao fim".
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