Mais de 860 pessoas morreram de fome em quatro meses no norte da Etiópia
Mais de 860 pessoas morreram de fome nos últimos quatro meses do ano passado, no norte da Etiópia, na região do Tigray, devastada pela guerra entre 2020 e 2022, anunciaram hoje as autoridades regionais.
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Mundo Etiópia
"A fome em Tigray já ceifou mais de 860 vidas", disse à agência de notícias EFE o chefe da Comissão de Gestão de Riscos de Desastres de Tigray, Gebrehiwot Gebre-Egziahber, citando um estudo concluído em dezembro.
De acordo com Gebrehiwot, o estudo foi realizado por profissionais que seguiram métodos de padrão internacional apoiados por tecnologia GPS, que identificou com precisão cada morte em cada local específico.
Os dados foram enviados para o Centro de Coordenação de Emergência (CCE) da região e para as Nações Unidas (ONU), afirmou.
Mais de dois milhões de pessoas estavam em risco devido à seca que afetou cerca de 57.300 hectares de terra e cerca de 114.400 agregados familiares, segundo o estudo.
Grande parte da região continua sob o controlo de forças externas, nomeadamente das tropas da Eritreia, o que complicou a crise humanitária em Tigray, uma vez que as zonas continuam inacessíveis e fora do alcance de qualquer forma de assistência, referiu o chefe da comissão.
"Dada a situação atual, instámos o Governo federal e a comunidade internacional a responder rapidamente e a ajudar as pessoas afetadas pela fome, mas ainda não recebemos uma resposta", acrescentou Gebrehiwot.
O presidente da Administração Provisória de Tigray, Getachew Reda, em 29 de dezembro, voltou a pedir ao Governo etíope e à comunidade internacional para responderem rapidamente a "uma nuvem negra de fome e morte" que paira sobre a região, ao declarar que 91% da população em Tigray corria risco de "fome ou morte".
Em 30 de dezembro, o ministro dos Serviços de Comunicações da Etiópia, Legese Tulu, rejeitou a declaração de Tigray, afirmando que ninguém morreu de fome em nenhuma região da Etiópia, exceto devido à interrupção do fornecimento de ajuda humanitária.
"Não é apropriado relacionar política e ajuda humanitária", criticou Legese.
A Etiópia tem enfrentado inundações e chuvas torrenciais que atingiram partes do sul do país nos últimos meses devido ao fenómeno meteorológico El Niño, bem como uma seca persistente no norte.
A guerra de Tigray começou em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a então governante Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF), em resposta a um ataque a uma base militar federal e à escalada das tensões políticas.
Pelo menos 600.000 pessoas foram mortas durante a guerra em Tigray, de acordo com o mediador da União Africana, o antigo Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo.
Embora Adis Abeba e a TPLF tenham assinado um acordo de paz em 02 de novembro de 2022, a Human Rights Watch (HRW) e organizações locais alertaram em novembro de 2023 para o facto de a violência e os abusos continuarem em Tigray por parte de soldados da vizinha Eritreia, um aliado do Governo etíope.
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