Operação israelita em Rafah agravaria "pesadelo humanitário" em Gaza
Uma operação militar israelita em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, agravaria o "pesadelo humanitário" da população local, com "consequências regionais incalculáveis", alertou hoje o secretário-geral da ONU, António Guterres.
© Lusa
Mundo Guterres
"Estou especialmente alarmado com informações de que os militares israelitas tencionam concentrar-se a seguir em Rafah (sul da Faixa de Gaza) -- onde centenas de milhares de palestinianos foram espremidos numa busca desesperada por segurança. Tal ação aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário com consequências regionais incalculáveis", alertou Guterres numa apresentação perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) das suas prioridades para este ano.
"É hora de um cessar-fogo humanitário imediato e da libertação incondicional de todos os reféns. Isto deve conduzir rapidamente a ações irreversíveis no sentido de uma solução de dois Estados, baseada nas resoluções das Nações Unidas, no Direito Internacional e em acordos anteriores", instou ainda.
Na segunda-feira, o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, voltou a assegurar que o Exército de Israel vai avançar até ao "bastião do Hamas" em Rafah, a zona mais a sul da Faixa de Gaza onde se refugiaram mais de 1,1 milhões de palestinianos.
"Vamos chegar aos locais onde ainda não combatemos, quer no centro da Faixa de Gaza quer no sul e, em particular, no último [bastião] do Hamas, que se situa em Rafah", disse então Yoav Gallant numa conferência de imprensa.
Hoje em Nova Iorque, Guterres frisou que, com especial destaque para a situação em Gaza, os esforços de paz estão no centro das prioridades para 2024.
Frisando que nada justifica os ataques lançados pelo grupo islamita Hamas em 07 de outubro, nem a punição coletiva do povo palestiniano, o ex-primeiro-ministro português salientou que as operações militares israelitas em Gaza têm resultado numa escala e velocidade de destruição e morte "sem paralelo" desde que se tornou secretário-geral da ONU.
Ao lembrar os milhões de pessoas envolvidas em conflitos em todo o mundo, onde a vida se tornou "um inferno diário mortal e faminto", Guterres qualificou a guerra em Gaza como "uma ferida inflamada na consciência coletiva que ameaça toda a região".
Também a guerra na Ucrânia foi mencionada por Guterres, que reiterou os seus apelos por "uma paz justa e sustentável, em conformidade com a Carta e o direito internacional -- "para a Ucrânia, para a Rússia e para o mundo".
Ainda entre os obstáculos à paz, o líder da ONU identificou o terrorismo no Sahel, os combates no Sudão, os grupos armados no leste da República Democrática do Congo, as tensões no Mar Vermelho, a ilegalidade no Haiti e os Balcãs Ocidentais.
Apelou ainda a uma ação coletiva no Corno de África para preservar a integridade territorial, a um compromisso com eleições livres e justas na Líbia e a uma transição democrática e o regresso a um regime civil em Myanmar.
"As guerras destroem. A paz constrói. (...) É a maior responsabilidade da humanidade. Essa responsabilidade pertence a todos nós -- individual e coletivamente. Neste momento difícil e dividido, vamos cumprir essa obrigação para as gerações atuais e futuras", concluiu.
Observou que, apesar de a Organização ter sido fundada a partir da busca pela paz, a "única coisa que falta de forma mais dramática" no mundo de hoje é a paz "em todas as suas dimensões".
"À medida que os conflitos e as divisões geopolíticas aumentam, a paz no nosso mundo está ameaçada. À medida que a polarização se aprofunda e os direitos humanos são espezinhados, a paz dentro das comunidades é prejudicada. À medida que as desigualdades explodem, a paz com justiça é destruída. À medida que continuamos a nossa dependência dos combustíveis fósseis, desprezamos qualquer noção de paz com a natureza", declarou.
"Em todo o mundo, e em toda a gama de questões, a paz é a peça que falta. As pessoas querem paz e segurança. Querem paz e dignidade. E, francamente, querem paz e sossego", advogou.
Criticando aqueles que "vendem a matemática perversa que diz que 'se multiplica o apoio dividindo as pessoas'", especialmente num ano em que metade da humanidade irá às urnas para votar, o líder das Nações Unidas sublinhou que construir a paz é um "ato consciente, ousado e até radical", mas é a "maior responsabilidade da humanidade".
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