Candidatos russos autorizados apoiam ou ignoram guerra na Ucrânia
A Comissão Eleitoral (CEC) russa aprovou hoje os boletins de voto para as presidenciais de março, excluindo Boris Nadezhdin, único candidato abertamente contra a invasão da Ucrânia, e deixando três que a aprovam ou ignoram, além de Vladimir Putin.
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Mundo Presidenciais
Chamado candidato da paz por se opor à "operação militar especial" na Ucrânia, que dura há dois anos, Boris Nadezhdin apresentou 105.000 assinaturas à comissão eleitoral para se qualificar para a corrida, na qual o Presidente, Vladimir Putin, é o claro favorito - até pela falta de alternativas.
No entanto, a CEC declarou que mais de 9.000 assinaturas apresentadas eram inválidas - o suficiente para o desqualificar. O candidato da Iniciativa Cívica, crítico do Kremlin (Presidência russa) e da invasão da Ucrânia, recorreu ao Supremo Tribunal, que confirmou hoje a decisão da CEC, segundo as agências noticiosas oficiais russas e o próprio Nadezhdin, que confirmou na sua conta da plataforma Telegram que vai continuar a sua luta legal, agora para o Tribunal Constitucional.
Com os mais destacados opositores do Kremlin presos - casos de Alexei Navalny e Vladimir Kara-Murza - eis um perfil dos quatro candidatos que constarão dos boletins de voto russos para as eleições que decorrem entre 15 e 17 de março.
Leonid Slutski
Com 56 anos, é membro do Partido Liberal Democrático do Rússia (extrema-direita) e iniciou-se na política como chefe de sector do Presidium do Soviete Supremo da Federação da Rússia, tendo sido depois conselheiro do edil de Moscovo.
Slutski foi co-autor, em 2009, do projeto-lei que responsabiliza criminalmente a reabilitação do nazismo.
Há três anos, a editora-chefe do canal televisivo RTVI, Ekaterina Kotrikadze, a produtora do canal de TV Dozhd, Daria Zhuk, e a jornalista do serviço russo da BBC, Farida Rustamova, acusaram Slutsky de assédio sexual. O político considerou as acusações "absurdas", parte de uma "campanha personalizada".
Alguns especialistas acreditam que Slutski poderá ficar em segundo lugar nas eleições, opinião corroborada pelo site informativo russo Meduza, publicado em Riga.
"Hoje, a operação militar especial não é uma operação de conquistadores, mas de reconquistadores, para reconquistar a língua russa e o bom senso. É a única solução possível", afirmou Slutski a 30 de julho de 2022.
Vladislav Davankov
Do partido Novo Povo, 39 anos, originário da cidade de Smolensk. É diplomado pela Universidade de Moscovo e pela Universidade Social.
Entrou para a política em 2020, quando participou da fundação do partido a que pertence, e ainda não se referiu à guerra na Ucrânia.
Davankov avançou no ano passado com um projeto-lei que proíbe o uso de toponímicos "ofensivos", tendo sido co-autor de leis que proíbem a transição de género e a exibição de animais em circos.
Nas eleições para o município de Moscovo, em 2023, ficou em quarto lugar.
Nikolai Kharitonov
Com 75 anos, é o candidato do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR).
Natural de Novossibirsk, Sibéria, ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2004, depois de Putin, com 13,69% dos votos. Desta vez, Kharitonov vai às urnas com a palavra de ordem "Basta de brincarmos ao capitalismo!"
Formou-se no Instituto Agrícola de Novossibirsk e trabalhou como agrónomo. Iniciou-se como político em 1990, como deputado da Duma Estatal. Foi co-autor de leis que interditam a venda de bebidas energéticas a adolescentes, a transição transgénero e a "propaganda de relações sexuais não tradicionais".
Não se pronunciou sobre a "operação especial", ainda que, em dezembro passado, após os ataques das Forças Armadas Ucranianas a Belgorod, tivesse afirmado que Kiev mostrara novamente a sua "face de besta".
"Vladimir Putin é, hoje, um chefe de estado experiente e muito respeitado por todos nós. Um único 'mas': as pessoas estão descontentes com os salários demasiado baixos e as pensões ainda mais. E ninguém sabe que tipo de capitalismo estamos a construir. E por que estamos a construí-lo?", interrogou numa entrevista à Free Press, a 27 de dezembro de 2023.
Segundo politólogos russos, a única incerteza que paira nestas eleições é se o PCFR conseguirá assegurar a segunda posição, como o tem feito em todos os actos eleitorais após a extinção da União Soviética. Para muitos falta carisma e visibilidade ao candidato comunista, que tem vivido à sombra do secretário-geral, Guennadi Ziuganov.
Vladimir Putin
Candidato independente, tem 71 anos. Ex-oficial da KGB, chegou ao poder em 1999, quando Boris Ieltsin o nomeou primeiro-ministro e, quase logo a seguir, seu sucessor. Assumiu oficialmente a presidência após as eleições de 2000.
Embora tenha garantido publicamente que não o faria, Putin alterou a Constituição em 2020 para permitir a sua reeleição, o que poderá fazer novamente dentro de seis anos e, assim, permanecer no Kremlin até 2036.
A sua equipa de apoio inclui a apresentadora de TV Iulia Baranovskaia, o pugilista Denis Lebedev, a cantora de rock Iulia Chicherina, os patinadores artísticos Evgeni Plushenko e Tatiana Navka, os atores Vladimir Mashkov e Ivan Okhlobistin, bem como outras personagem bem conhecidas da sociedade russa.
Dado o poder acumulado ao longo de um quarto de século de liderança, não tem concorrência à altura nestas eleições e apresenta-se, segundo todos os analistas, como o favorito incontestado.
O próprio Putin revela consciência da previsibilidade do resultado, declinando a participação em qualquer debate eleitoral, como foi anunciado pelo gabinete do presidente, que adiantou que a agenda presidencial no período de campanha se limitará a visitas a complexos industriais e eventos relevantes.
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