Três dias após ter estado na Ucrânia, naquela que foi a sua primeira visita ao país desde a invasão russa iniciada em 2022, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, deslocou-se… até Moscovo, onde se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin. O objetivo? Uma "missão de paz".
Os rumores de que Orbán - conhecido como o único aliado da Rússia na União Europeia (UE) - iria visitar Moscovo começaram na quinta-feira, dias após o líder húngaro se ter encontrado com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, exortando-o a considerar um cessar-fogo como maneira de acelerar as negociações para um processo de paz com o Kremlin.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, foi das primeiras figuras do Ocidente a comentar a possível visita, alertando que a presidência húngara da UE, iniciada a 1 de julho, "não tem mandato para se envolver com a Rússia em nome" dos 27 Estados-membros.
Também o primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, questionou o homólogo húngaro se tinha realmente intenções de visitar Moscovo, considerando que os "rumores não podem ser verdadeiros".
"Viktor Orbán, os rumores sobre a sua visita e Moscovo não podem ser verdadeiros, pois não?", questionou nas redes sociais.
Já esta sexta-feira, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, vincou que a deslocação de Orbán a Moscovo se "insere exclusivamente no quadro das relações bilaterais", acrescentando que o húngaro "não recebeu qualquer mandato do Conselho da UE".
Na mesma linha, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou o primeiro-ministro húngaro que "apaziguar Putin" não vai impedi-lo de prosseguir com a invasão ao território ucraniano.
"O primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán está de visita a Moscovo. Apaziguar Putin não vai fazê-lo parar. Só unidade e determinação poderão abrir caminho para uma paz compreensiva, justa e duradoura na Ucrânia", disse nas redes sociais.
Já Jens Stoltenberg, o secretário-geral cessante da NATO, da qual a Hungria faz parte, revelou que Orbán comunicou à Aliança Atlântica a visita a Moscovo, mas insistiu que o governante "não está a representar" os aliados, mas sim "o próprio país".
Por cá, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou que a posição da União Europeia quanto à Rússia "é clara", de pleno apoio à Ucrânia, e salientou que "não existe qualquer mandato para contactos com a Rússia em nome da UE".
"A posição da UE relativamente à Rússia é clara: pleno apoio à Ucrânia contra a guerra de agressão russa. Não existe qualquer mandato para contactos com a Rússia em nome da UE. A nossa unidade é a nossa força", escreveu o primeiro-ministro português na rede social X.
Também os governos da Estónia, Suécia, Alemanha e República Checa criticaram a deslocação de Orbán à Rússia. Em publicações na rede social X, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, futura chefe da diplomacia europeia, garantiu que Órban "de forma alguma representa Bruxelas ou as posições dos 27".
Por seu lado, e além da "irresponsabilidade e deslealdade", o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson corroborou as palavras de Kallas, criticando o facto de Orbán utilizar a presidência húngara da UE para visitar Moscovo.
Também para Olaf Scholz, chanceler alemão, Orbán desloca-se a Moscovo para se reunir com Putin "na qualidade de primeiro-ministro húngaro". Por sua vez, Petr Fiala, primeiro-ministro da República Checa, insistiu também nas mesmas palavras, considerando que Orbán não representa os interesses checos ou os da UE em Moscovo.
Os governos da Estónia, Suécia, Alemanha e República Checa criticaram hoje a deslocação do presidente em exercício da União Europeia (UE), o primeiro-ministro Viktor Orbán, à Rússia e sublinharam que, em Moscovo, não representa os 27.
Lusa | 12:51 - 05/07/2024
Afinal, o que faz Orbán em Moscovo?
Segundo o porta-voz do chefe de governo húngaro, Bertalan Havasi, a visita insere-se no âmbito de uma "missão de paz". Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, falou também numa "abordagem para alcançar a paz".
"Os últimos dois anos e meio mostraram que a guerra na nossa região não tem uma solução no campo de batalha", declarou o ministro húngaro, na rede social Facebook, que faz parte da delegação que se deslocou a Moscovo por iniciativa de Órban.
"É necessário, o mais rápido possível, um cessar-fogo e conversações de paz para acabar com o sofrimento humano. Esperamos que a reunião de hoje em Moscovo nos possa aproximar da paz", acrescentou.
Rússia e Ocidente? "As posições estão muito distantes"
Após se encontrar com o presidente russo, numa reunião à porta fechada que durou mais de duas horas e meia, Orbán reconheceu que as posições da Rússia e do Ocidente estão "muito distantes" sobre a guerra na Ucrânia.
"Queria ouvir e escutei a opinião de Putin (...) As posições estão muito distantes, é preciso dar muitos passos para chegar mais perto do fim da guerra, mas o passo mais importante foi o estabelecimento de contactos e vou continuar a trabalhar", afirmou Orbán em declarações à imprensa no âmbito da sua visita de surpresa à capital russa, que motivou críticas dos seus pares europeus.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, reconheceu hoje após encontrar-se em Moscovo com o Presidente russo, Vladimir Putin, que as posições da Rússia e do Ocidente estão "muito distantes" sobre a guerra na Ucrânia.
Lusa | 16:35 - 05/07/2024
Vladimir Putin voltou a descartar um cessar-fogo com a Ucrânia, alegando que ajudaria o "regime de Kyiv" a recuperar e preparar-se para contra-atacar, mas, de acordo com o político húngaro, "a Rússia é a favor do fim completo e definitivo do conflito".
Orbán e Putin já se tinham encontrado em Pequim
Orbán já se tinha encontrado com Putin depois do início da invasão russa. Em outubro de 2023, o primeiro-ministro húngaro participou num fórum em Pequim e encontrou-se com o presidente russo. Da reunião entre ambos saiu a reafirmação dos laços entre Budapeste e Moscovo, durante o período de maiores tensões ocidentais com a Rússia desde a Guerra Fria.
"Apesar das circunstâncias geopolíticas atuais limitarem o desenvolvimento de relações e as condições para oportunidades e contactos, é bom saber que as nossas relações com vários países europeus continuam e desenvolvem-se, e a Hungria é um desses países", disse Putin, na altura.
No entanto, o último encontro público entre ambos tinha sido a 1 e fevereiro de 2022, em Moscovo, três semanas antes do início da invasão.
Leia Também: Hungria justifica visita de Orbán a Moscovo: "Aproximar da paz"
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