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Prisão perpétua para estudante autor de feminicídio que chocou Itália

O Tribunal de Veneza, em Itália, condenou hoje a prisão perpétua um jovem estudante universitário que assassinou a ex-namorada há cerca de um ano, num crime que chocou o país e reacendeu o debate sobre a violência de género.

Prisão perpétua para estudante autor de feminicídio que chocou Itália
Notícias ao Minuto

03/12/24 16:44 ‧ Há 16 Horas por Lusa

Mundo Itália

Num veredicto aguardado com muita expectativa em Itália, cuja leitura foi presenciada pela família da vítima, o tribunal condenou a prisão perpétua Filippo Turetta, de 23 anos, pelo homicídio de Giulia Cecchettin, a 11 de novembro de 2023, a poucos dias de a jovem completar a licenciatura em engenharia biomédica na Universidade de Pádua.

 

Turetta, que frequentava o mesmo curso de Giulia Cecchettin, admitiu ter esfaqueado até à morte a sua ex-parceira, de 22 anos, na localidade de Fossò, perto de Veneza, no norte de Itália, tendo a autópsia revelado que a jovem sofreu 75 golpes de arma branca.

Apesar da brutalidade do crime, o Tribunal de Justiça de Veneza excluiu as circunstâncias agravantes de crueldade e o crime de ameaça, como pedia a acusação, mas ordenou também uma indemnização às partes civis, com o pagamento de um montante provisório de 500 mil euros ao pai de Giulia, Gino Cecchettin, e de 100 mil euros a cada um dos irmãos, Elena e Davide, além das custas judiciais.

O assassinato de Giulia, na altura a 105.ª mulher morta em Itália em 2023, teve um impacto particular no país em virtude dos contornos brutais do crime e devido ao facto de envolver dois jovens estudantes universitários oriundos de famílias da classe média.

Morte de Giulia chocou Itália. Milhares de pessoas estiveram no funeral

Morte de Giulia chocou Itália. Milhares de pessoas estiveram no funeral

Milhares de pessoas concentraram-se hoje diante da basílica de Santa Giustina, em Pádua, norte de Itália, para acompanhar o funeral da jovem Giulia Cecchettin, vítima de femicídio que lançou um debate nacional sobre a violência de género.

Lusa | 13:22 - 05/12/2023

O crime lançou um debate político em Itália sobre a violência sobre as mulheres e a cultura patriarcal no país, que é liderado atualmente por uma mulher pela primeira vez na sua história, a primeira-ministra Giorgia Meloni, o que não impediu que o atual Governo de direita e extrema-direita cortasse em 70% o financiamento de medidas de prevenção de violência machista.

No mês passado, o ministro da Educação, Giuseppe Valditara, membro do partido de extrema-direita Liga, que faz parte da coligação governamental, provocou polémica ao declarar que "o patriarcado já não existe" na legislação italiana e ao atribuir a culpa da violência contra as mulheres à imigração ilegal, tendo a irmã de Giulia, Elena Cecchettin, recordado então que a sua irmã foi morta por um "jovem italiano branco".

A 05 de dezembro do ano passado, milhares de pessoas concentraram-se diante da basílica de Santa Giustina, em Pádua, norte de Itália, para acompanhar o funeral da jovem Giulia Cecchettin. Poucos dias após a notícia da morte da jovem, cerca de meio milhão de pessoas desfilaram nas ruas de Roma, Milão, Turim e outras grandes cidades de Itália, por ocasião do Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.

Giulia Cecchettin foi dada como desaparecida a 11 de novembro do ano passado, depois de se ter encontrado com Turetta, a pedido deste, tendo o seu corpo sido encontrado numa ravina perto do Lago Barcis, em Friuli, a 18 de novembro de 2023.

Turetta pôs-se em fuga depois de ter abandonado o cadáver, tendo sido localizado uma semana após o assassinato, na berma de uma estrada perto de Leipzig, na Alemanha, depois de ter ficado sem dinheiro e sem gasolina no seu carro.

No seu funeral, há cerca de um ano, o pai da vítima, Gino Cecchettin, disse esperar que a morte da sua filha marcasse um ponto de viragem na luta contra a violência de género em Itália.

Hoje, após lida a sentença, Gino Cecchettin considerou que "foi feita justiça", mas disse sentir-se "derrotado, como ser humano", em virtude do fenómeno de violência de género estar longe de ser erradicado e de não se fazer o suficiente em termos de prevenção e pedagogia.

"Todos nós perdemos como sociedade [face à violência de género]. Não me sinto nem mais aliviado nem mais triste do que ontem ou amanhã. É uma sensação estranha", disse à saída do tribunal.

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