Mortalidade aumentou? "Consequência anunciada por muitos, há muito tempo"
O antigo ministro da Saúde considera que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) precisa não só de respostas rápidas, como também de tempo e de recursos. No entanto, "há um conjunto grande de pessoas que não tem esse tempo".
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País Mortalidade
Para Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde e professor da Escola Nacional de Saúde Pública, o aumento da mortalidade em Portugal “não traz nenhuma novidade”, considerando que o problema reside na “descontinuidade de cuidados provocada pela concentração de recursos no atendimento à Covid-19” que, como consequência, “fez com que o sistema em diferentes partes da sua organização deixasse de responder”.
“Infelizmente, não traz nenhuma novidade. Isto é uma consequência anunciada por muitos, há muito tempo; não apenas em Portugal, mas noutros países da Europa. É evidente que a descontinuidade de cuidados provocada pela concentração de recursos no atendimento à Covid-19 fez com que o sistema em diferentes partes da sua organização deixasse de responder”, começou por explicar o especialista, em declarações à Antena 1.
O responsável adiantou que, a seu ver, a teleconsulta, mecanismo amplamente usado pelos sistemas de saúde durante o auge da pandemia, “responde a necessidades pontuais, para doentes que são conhecidos; não responde a necessidades desconhecidas de doentes que não têm acesso”.
É por isso que “estamos a assistir a um efeito de causa, de arrastamento de uma barreira ao acesso [que] tão cedo não estará resolvido, a não ser que se mobilizem todos os meios numa resposta alargada e [se coloque] o conjunto desses meios que o país dispõe ao serviço dessas pessoas” que, explicou, “são pessoas pobres, são pessoas que vivem sozinhas, que tiveram medo de se dirigir aos serviços, que não conseguem aceder ao centro de saúde há longos meses”.
O responsável apontou que, apesar de as pessoas procurarem obter respostas e diagnósticos, há um segmento da população que não tem acesso à cobertura de seguros de saúde ou de subsistemas, estando “muito dependente da proteção pública”.
“Bastará circular pelas unidades privadas onde as pessoas acedem através da proteção financeira com subsistemas, como a ADSE e os seguros de saúde, para ver o movimento incrível que estas unidades neste momento estão a ter. Portanto, as pessoas procuram encontrar respostas”, complementou.
Na sua ótica, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) necessita de respostas rápidas “para pôr os motores de novo a trabalhar”, assim como tempo e recursos. Contudo, “há um conjunto grande de pessoas que não tem esse tempo”.
“Esta população frágil, pobre, envelhecida e com condições muitas vezes de literacia [baixa em saúde] […] fica numa espécie de limbo e é por isso que as urgências estão a ser novamente o ponto de escoamento de uma procura que não tem resposta”, justificou, recordando que tanto as doenças cardiovasculares, como as doenças oncológicas representam “a esmagadora maioria das causas que levam os portugueses a procurar cuidados de saúde, diagnóstico e tratamento”.
Recorde-se que o número de mortes em Portugal aumentou 11,9% em março face ao período homólogo de 2021 (mais 1.144 pessoas), segundo dados revelados na segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O total alcançou os 10.754 óbitos, tendo morrido em março de 2022 mais 92 pessoas do que em fevereiro.
A Covid-19 foi responsável por 644 mortes, representando 6% do total de óbitos. Relativamente a fevereiro de 2022, o número de óbitos associado à doença diminuiu (menos 470), mas, face a março de 2021, morreram mais 142 pessoas por esta causa.
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