Desinformação é fenómeno multidimensional que exige "resposta concertada"
O investigador do OberCom - Observatório da Comunicação Miguel Paisana assinalou hoje que a desinformação é um fenómeno multidimensional e que, como tal, requer "uma resposta concertada" por parte de todas as instituições responsáveis.
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País Desinformação
"Estamos perante um fenómeno que é, para todos os efeitos, um fenómeno multidimensional, ou seja, não é só o mediático, não é só das redes sociais, é também social, político, cultural e económico", disse Miguel Paisana à margem da conferência "Desinformação: os impactos na Península Ibérica", organizada pela agência Lusa e a decorrer em Lisboa.
Nesse sentido, o investigador apontou que "só com uma resposta concertada" por parte de todas as instituições responsáveis do Estado de Direito é que será possível "mitigar a desinformação como ela existe".
Já o investigador espanhol Ángel Badillo Matos, do Real Instituto Elcano, remeteu para o trabalho do estudo, onde se constataram "elementos comuns" na forma como Espanha e Portugal sofrem processos de desinformação.
"Vimos que há muitos elementos comuns nas condições em que Espanha e Portugal sofrem processos de desinformação, por exemplo, aqueles que têm a ver com as condições das liberdades e direitos públicos em ambos os países, ou aqueles que têm a ver com o desenvolvimento digital que as nossas sociedades felizmente têm", explicou o investigador, professor na Universidade de Salamanca.
Ainda assim, destacou que a confiança nos órgãos de comunicação segue tendências diferentes em Portugal e em Espanha.
"Os portugueses são cidadãos que confiam nos seus meios de comunicação social, têm geralmente um nível de confiança bastante elevado, de acordo com os dados da União Europeia, enquanto os espanhóis têm vindo a perder a confiança nos seus meios de comunicação social", acrescentou, dizendo que tal tem efeitos inegáveis "na capacidade de as campanhas de desinformação produzirem efeitos sociais".
Além da perda de confiança, o estudo também se debruça sobre a redução do consumo de notícias. Segundo Miguel Paisana, há duas respostas em grande quantidade que mostram o que poderia aumentar os inquiridos a consumirem notícias: notícias positivas e que se focam nas soluções e não apenas nos problemas.
"Isto dá aqui aos jornalistas, aos profissionais do jornalismo, também algumas indicações sobre o tipo de abordagem que se pode fazer ao nível do jornalismo", registou, ainda que tenha salvaguardado que em situações como uma pandemia ou crises políticas ou inflacionistas seja "muito difícil manter o foco naquilo que é o aspeto positivo".
Ainda assim, o foco não pode ser apenas as 'soft news', sobre entretenimento, celebridades ou desporto, ou as 'hard news', referentes à política, economia ou guerra, porque ambas "afastam visualizadores".
"Tem de haver sempre um balanço e não uma espécie de monotonização da agenda mediática em torno destes temas", defendeu.
Face a estes desafios, para Ángel Badillo Matos, o caminho para o combate à desinformação passa pela literacia, uma vez que um público dotado dessas capacidades "está consciente de que está exposto a muitas mensagens e campanhas de desinformação".
"Creio que esta parte da literacia mediática ou digital é um dos eixos fundamentais para nos ajudar a nós, cidadãos, que temos de ser a primeira barreira para conter a desinformação, a funcionar eficazmente como um elemento na luta contra a desinformação", defendeu, enaltecendo ainda o trabalho que a União Europeia "tem vindo a desenvolver no último ano para reforçar os meios de comunicação social como grandes instituições de referência".
O Iberifier é um projeto que visa combater a desinformação e integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e 'fact checkers' como o Polígrafo e Prova dos Factos - Público, de Portugal, e Maldita.es e Efe Verifica, de Espanha.
O consórcio é um dos 14 observatórios multinacionais de meios digitais e desinformação promovido pela Comissão Europeia, tem como coordenador Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, e inclui, entre outras, a Universidade Carlos III, de Santiago de Compostela, de Espanha, e ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa e Universidade de Aveiro, de Portugal.
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