"Envelhecer não tem mesmo nada de bom, mas aproveitei bem o meu tempo"
Teresa Guilherme: O nome é bem familiar para a maioria dos portugueses. O seu sorriso inconfundível e gargalhada contagiante ficou na memória de muitos espectadores quando o 'Big Brother' chegou para entrar na história da televisão, assim como a própria apresentadora.
"Envelhecer não tem mesmo nada de bom, mas aproveitei bem o meu tempo"
© Reprodução
Fama Teresa Guilherme
Teresa Guilherme acaba de lançar o livro 'Cheguei Onde me Esperavam', um projeto onde partilha histórias da sua vida, todas com um ponto em comum: o acaso. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a apresentadora partilhou o seu lado mais crente, não só nas surpresas da vida, como também face ao próprio destino que a levou sempre onde era esperado.
Lançar um livro foi obra do acaso, do destino ou dos dois?
Foi de tudo. É um livro de histórias, histórias de acasos que fazem a nossa vida avançar, que fazem a nossa vida ir por caminhos que não imaginávamos. Por exemplo, ser apresentadora, nunca me passou pela cabeça. Ou casos insólitos, sem uma explicação lógica para eles. Porque é que acontecem? Porque é que estive cercada por um cardume de sardinhas? É uma coisa estranha não é? As pessoas às vezes pedem para eu fazer uma biografia, mas não quero, pelo menos para já. Estas são aquelas histórias de quando nos encontramos com amigos. Quando comecei a juntar mais do que estas que estão aqui [no livro], acabei por ficar com aquelas que têm a ver só mesmo com o acaso. O destino, os sinais, essas coisas.
Em relação às outras crianças passei a ser mandona, apesar de ser franzina e pequenina. Era ser dentro da pequenez o maior possívelE o acaso já tinha alguma influência na sua infância?
Nessa altura ainda era muito miúda, mas já era supersticiosa. Acho que os miúdos têm algumas superstições, algumas da família e outras inventadas por eles. Já tinha a das cores da roupa, dos exames, não apanhava o cabelo nos testes, mas não tinha muita noção do destino e dessas coisas. Para me impor nas aulas era fácil porque tinha boas notas, os professores gostam sempre de bons alunos e nunca fui mandada para a rua. Em relação às outras crianças, passei a ser mandona, apesar de ser franzina e pequenina. Impor era nesse sentido. Era ser dentro da pequenez o maior possível.
Quanto tempo demorou para descobrir a sua vocação, neste caso, como produtora?
No livro digo que já havia uma pequena produtora dentro de mim quando era criança, porque organizava as festas das amigas e queria fazer as festas de Natal na escola. Queria que o espetáculo fosse meu, não queria entrar nele. Não queria fazer de princesa e ficar adormecida o tempo todo sem fazer mais nada. Nessa altura não se chamava produtor, era secretário disto, secretário daquilo. Quando entrei para a rádio – e foi lá que me descobri como produtora – chamava-se à mesma secretária. Comecei a fazer um programa de rádio, depois vieram outras coisas e acabei por descobrir que era isso que gostava de fazer. Sabia que não era artista, não cantava, não representava, não era bailarina, nada disso. Ao menos gostava de pôr os sonhos em prática e ajudar as outras pessoas a ter um espetáculo melhor. Ainda hoje é a grande vocação da minha vida, aquilo que gosto de fazer.
Ao longo dos inúmeros projetos na produção, nunca teve medo de aceitar um desafio sem ter uma 'rede', sem saber como iria correr?
Segui sempre muito a minha intuição e deixava-me levar.
Mesmo no caso do 'Big Brother', já como apresentadora?
Sim. Já estava há dois anos e meio sem apresentar em televisão porque não queria, estava só a produzir muitas coisas. Até achava que não ia apresentar mais programa nenhum. Mas um dia estava no cabeleireiro descontraída e veio-me à cabeça: “Alguém me vai convidar para eu fazer um programa”. Contei ao cabeleireiro, provavelmente, cheguei ao meu escritório e também contei às pessoas todas. No dia a seguir ligaram-me para apresentar o 'Big Brother' e eu aceitei logo.
Mas a Teresa sabia o que era o 'Big Brother'?
Não sabia nada. Sabia que tinha tido a intuição na véspera e que por isso era uma coisa para dizer claramente que sim.
Quando soube do que é que se tratava não ficou com medo da reação das pessoas na altura?
Sabia que era polémico, mas achei que era engraçadíssimo começar um programa que se ia experimentar. Aquilo era completamente navegar à vista. Foi o primeiro que apresentei e que não foi produzido por mim. Tive muito gosto em fazê-lo.
É redutor pensar que numa carreira tão preenchida como a minha, as pessoas só se lembrem dos últimos anosExistem muitas pessoas que associam o trabalho da Teresa Guilherme apenas à apresentação de reality shows. Sente-se de alguma forma desvalorizada nesse sentido?
Desvalorizada não, mas é redutor, embora compreensível. Na verdade as pessoas viram-me mais em reality shows e esses programas não passam despercebidos, passam em horário nobre, são programas polémicos. Há muitos que não sabem que sou produtora ou que fiz outros programas. Conhecem mais ou menos o ‘Eterno Feminino’ ou ‘Ai os Homens’ ou o ‘Não se Esqueça da Escova de Dentes’. Para já a memória televisiva é uma memória curta. É redutor só se pensar que numa carreira tão preenchida como a minha – eu fiz cento e tal programas como produtora e alguns apresentei – as pessoas só se lembrem dos últimos anos, mas é perfeitamente normal.
Ser apresentadora foi mesmo obra do acasoLembra-se do primeiro programa que apresentou, como é que se sentia?
Estava nervosíssima. Tinha 35 anos, nunca tinha sido apresentadora e estava a começar num programa diário, em direto e sem ninguém para me apoiar. A parte boa é que era eu quem o produzia e acabava por fazer os desafios à minha medida. Era muito mais contida, cometia vários erros, especialmente quando estava a falar para a câmara. E não foi só naquele dia, também foi antes porque a responsabilidade era grande. Não era daquelas produtoras que têm pânico de dar entrevistas, mas nunca pensei em ser apresentadora. Ser apresentadora foi mesmo obra do acaso, totalmente.
Qual foi o programa mais desafiante que apresentou?
Consigo lembrar-me bem de muitas peripécias do ‘Não Se Esqueça da Escova de Dentes’, que era um programa de apanhados. Às vezes roubava-se a cozinha inteira da casa de uma pessoa e quando virava o palco, lá estava ela. Depois fazia-se um jogo para ganhar uma cozinha nova. Isso dava imenso trabalho, porque a pessoa tinha de ser arrastada por cúmplices, amigos, família. Levava-se muito tempo, então o momento de ir apresentar era um culminar de expectativas. Será que vai correr bem? Como é que a pessoa vai reagir? Umas vezes eramos apanhados desprevenidos, outras não. Por exemplo, nós roubávamos muitos carros, tirávamos do estacionamento, levávamos para aquelas prensas e prensávamos o carro todo. Depois mostrávamos o carro, que ficava num ‘quadrado’. Houve um casal que começou a chorar, eu fiquei muito surpreendida e disse: “Mas não tenham pena, porque se fizerem esta prova vão ganhar este automóvel”. Um automóvel muito melhor do que o deles. Mas eles continuavam a chorar até que disseram: “Foi neste carro que nós fizemos amor pela primeira vez”. Levaram um espelhinho de recordação. O programa tinha imensos percalços.
Quando me casei, muitos anos depois disso, foram dar os sentimentos ao ManelNum desses programas muitas pessoas chegaram a pensar que tinha casado com um dos seus melhores amigos, o Manuel Luís Goucha…
Ainda hoje acreditam nisso! Acreditam que não somos, mas que já fomos casados. As pessoas pensavam que eramos namorados, porque gostávamos um do outro e estávamos muitas vezes juntos. À medida que o tempo foi passando começaram então a dizer que tínhamos casado e nós iamos dizendo que não. Mas as pessoas ficavam tão desiludidas, tão desiludidas, que desistimos de negar e passamos a agradecer. Mandavam dinheiro para nós dentro de envelopes, paninhos para o nosso enxoval, coisas bordadas pelos próprios. Quando me casei, muitos anos depois disso, foram dar os sentimentos ao Manel. Anos, anos e anos depois. Até hoje acredita-se que fui casada com o Manel.
História que não deixa de ser curiosa, porque conta no livro que acredita que numa outra reencarnação a Teresa e o Manuel foram irmãos.
Os karmas são mesmo assim, as pessoas vêm para serem postas à prova, terem a mesmo problema para resolver e resolver da melhor maneira. A nossa prova tem sido: temos a mesma profissão e já nos cruzámos muitas vezes. Já trabalhámos em televisão anos a fio e nunca nos chateámos por isso. Estamos a cumprir o nosso karma e, provavelmente, já não voltamos noutra vida. O Manel ri-se muito quando digo isto.
A Teresa, como disse, acabou por casar, mas quando era pequenina dizia que não o queria fazer. Por que razão mudou de ideias em relação ao casamento?
Provavelmente porque a pessoa era mais especial do que qualquer outra que tenha encontrado. A gente também tem o direito de mudar de ideias, mas não sei. A época, a altura, não é explicável, são os acasos, lá está.Eu dizia: "Não, ter filhos é fácil. Eu evito-os ter"E em relação a filhos, o 'relógio biológico' da Teresa nunca despertou?
As pessoas perguntavam: “Mas não quer ter filhos?” E eu dizia: “Não, ter filhos é fácil. Eu evito-os ter”. Realmente não queria, não tinha essa vontade. Se acontecesse, se tivesse no meu destino ia acontecer, mas se não, não ia procurar.
Uma das coisas em que mais inspira os seus fãs é em relação ao amor próprio. Considera que hoje as pessoas se amam mais?
Acho que a solidão acontece precisamente porque as pessoas não conseguem estar consigo próprias. E cria-se muito o hábito de ‘ah, não vou ali porque não tenho companhia’. Cria-se em toda a gente a ideia de que para fazer qualquer coisa tem de ser acompanhado. Talvez nunca me tenha habituado a isso porque sou filha única. As pessoas agora ainda estão mais sozinhas do que estavam, porque estão enfiadas dentro de um Facebook a obter informação, mas sem limite. É quase uma obrigação. Dá-se mais atenção aos amigos virtuais do que aos amigos de carne e osso. Mas acho que a melhor companhia que podemos ter é a nossa.
Sendo uma figura pública, não teve momentos em que desejasse voltar a ser anónima?
Não, tenho isso muito resolvido. Como comecei a apresentar só com 35 anos fui durante muito tempo anónima. Lembro-me da diferença de uma coisa para a outra.
Na altura não estranhou as pessoas começarem a dar-lhe mais atenção?
Sim, sim e habituar-me a isso foi o mais complicado. Para já não estava nada à espera, porque era na RTP2, às cinco da tarde. Achei que não ia mudar nada e afinal foi rápido. O programa ainda não tinha estreado, só havia as promoções no ar e as pessoas já me conheciam. Era um estilo diferente. As pessoas passaram a conhecer-me a grande velocidade. Hoje em dia já estou habituada.
Se as pessoas se aproximavam por interesse ou não, era-me indiferenteE como é geriu todos os interesses 'paralelos' que surgiram posteriormente?
Senti isso mas habituei-me a não levar em consideração. Temos de considerar que somos um todo. Se as pessoas se aproximavam por interesse ou não, era-me indiferente, desde que acrescentassem alguma coisa tudo bem, até porque depois cansavam-se sozinhas. Não vou dizer que não tive desilusões, mas nada que me tenha marcado. É tentar perceber qual a motivação dos outros. Não vale a pena queimarmos as pestanas sobre o que as pessoas sentem ou o que estão a pensar de errado, prefiro pensar na parte boa.
Acha que hoje existe um fascínio dos jovens à volta da profissão de apresentador?
Isso tenho a certeza absoluta que não porque dou aulas há uns anos largos e já passaram pelas minhas mãos centenas e centenas de alunos. O que eles querem fazer é comunicar. Eu gostaria de ter um canal de cabo onde pudesse mostrar o tanto talento que anda por aí. O ser conhecido não é o objetivo, a fama imediata é até uma coisa que os assusta. O que eles querem é aquela emoção da televisão, falar com pessoas, entrevistar.
O arrependimento é bastante inútil, porque nós dissemos que sim ou nãoArrepende-se de alguma coisa que tenha feito?
Não vale a pena. O arrependimento é bastante inútil, porque nós dissemos que sim ou não. As circunstâncias daquele momento levaram-nos a dar aquela resposta. Tudo o que se fez, mesmo que seja errado, é o momento que indica. Não vale a pena a pessoa arrepender-se.
O tempo passa depressa demais?
Não. Claro que não é bom envelhecer, obviamente, não tem mesmo nada de bom, mas é a vida. Aos 20 anos achamos que ainda falta muito tempo, que somos eternos. Mas não me posso queixar de não ter aproveitado bem o meu tempo. Enquanto as pessoas me quiserem ver, cá estarei.
O que ainda lhe falta fazer?
Imensa coisa. O acaso fez que houvesse esta reviravolta de televisão no Facebook, de televisão no YouTube. São outros canais de comunicação de que eu estou a gostar imenso. Tenho essa sorte de explorar o digital, algo que antes não existia. Isto está sempre a mudar é esperar pela moda. Tenho essa enorme sorte.
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