Entre os nomes mais conhecidos (e apreciados) da moda de autor nacional inclui-se o de Nuno Gama. É o criador da portugalidade, com dezenas de anos de carreira e múltiplos desfiles inseridos no calendário da ModaLisboa. Para assinalar o 30.º aniversário do registo da sua marca homónima, quis organizar algo especial e "à altura de tudo isso", explica o designer em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.

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Para o criador, a única forma de garantir uma celebração única e igual a si próprio foi organizar um desfile independente "sem perturbações algumas do que quer que seja ou de quem quer que seja", afirma.

Posto isto, 'saltou' do calendário da última edição do ModaLisboa, evento que aconteceu entre 5 e 8 de outubro, e organizou uma apresentação a 'solo' no Castelo de São Jorge, em Lisboa. Infelizmente, o mau tempo não permitiu que o desfile acontecesse na data em que estava marcado originalmente, a 21 de outubro, mas terá lugar uma semana depois, ou seja, este sábado, 28 de outubro. Começará por volta das 16h30 e será aberto ao público.

Fazer a apresentação neste icónico monumento lisboeta foi uma sugestão de Carlos Moedas - o presidente da Câmara Municipal - que o designer aceitou com entusiasmo e, na verdade, enquadra-se perfeitamente com os temas em destaque na coleção de outono/inverno. Porquê? Para a estação fria, o criador fez uma homenagem a D. Afonso Henriques e ao Mestre José de Guimarães, algo refletido na apresentação e no vestuário. 

Com as novas criações, Nuno Gama tem como objetivo questionar o "mistério e essência de ser português", explorando duas figuras nacionais (e importantes) que têm algumas coisas em comum, mesmo que não pareça. O quê? Descreve o D. Afonso Henriques como o "nosso sócio número um", um homem que recebeu um condado como prenda de casamento, mas que, "insatisfeito, agarra na espada e faz disto um país". Graças a isto estabelece um paralelismo com o artista que, "perante uma tela branca ou uma pedra bruta, faz uma obra de arte e a expõe a todos nós". 

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Inspirações que eventualmente se materializam nesta coleção de vestuário para homem - com o nome 'Essência' - onde interpreta tudo isto de uma forma que "faça sentido", tendo em conta aquilo que quer "comunicar com as pessoas". Não consegue destacar nada específico na coleção, mas considera que os temas centrais estão muito "equilibrados. É "uma coleção especial, bonita, com muito ritmo", afirma.  

Para apresentar tudo isto, criou um conceito muito especial que começa com "uma homenagem a D. Afonso Henriques feita pela Charanga e da Orquestra Sinfónica da GNR (Guarda Nacional Republicana)". Depois, inicia-se o desfile, com "uma orquestra de violinos que toca acompanhada de um momento do poeta da cidade [Pedro Freitas] que fez um poema para a coleção e que vai declamá-lo". Está ainda planeada uma atuação de Edgar Valente que vai "cantar uma música portuguesa, cuja intenção é levar-nos às nossas origens acompanhada por adufes e violinos". 

Para terminar as celebrações, o designer apresenta uma surpresa: o desfile e lançamento da sua colaboração com o Sport Lisboa e Benfica. É o resultado de um convite do clube das águias e, logo após o fim da apresentação, estão disponíveis múltiplas "peças de vestuário que têm influência desportiva, mas que não são forçosamente para usar em desporto e podem ser inclusivamente usadas no dia a dia", explica. "Tentamos fazer uma coleção com ótima qualidade e especial de forma a que os benfiquistas se consigam sentir especiais a usar uma peça daquelas."

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Nuno Gama falou ainda sobre o futuro. "Continuo à espera de me revitalizar, redesenhar, aprender coisas novas, dar o meu melhor e fazer com que a marca consiga perdurar no tempo." Já sobre o eventual regresso ao calendário do ModaLisboa, garante: "Não tenho as portas fechadas a nada, nem a ninguém, a vida já me ensinou isso há muitos anos". "Primeiro este desfile e depois penso no resto das coisas", acrescenta. 

Por último, comenta o estado da moda de autor nacional explicando que alturas complicadas existem desde sempre "porque se não é uma coisa é outra". "Infelizmente, ainda não conseguimos vingar de alguma forma nestes anos democráticos do pós 25 de Abril enquanto país", faz sobressair.

Para esta indústria conseguir ser mais, em território nacional e no estrangeiro, "falta o investimento porque a moda de autor portuguesa somos nós". "Não sei como é a vida dos meus colegas, cada um poderá falar por si, mas aqui na Nuno Gama sou e mais eu e mais e mais eu. Se calhar, se existissem mais apoios para esta área podia ser muito mais interessante", destaca. 

Por isso, "temos de ser nós a fazer vingar o nosso nome e conquistar" este "investimento de forma a que, como em todo o lado do mundo, nos consigamos orgulhar desta indústria" e garantir que "contribui para o país e para todos nós". 

Questionado sobre o que o distingue dos restantes, Nuno Gama responde: "Sempre fiz aquilo que achava que devia fazer, aquilo que eu sinto. Faço tudo da maneira que gosto, sei fazer e faz sentido em mim".

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