Partido "pró-russo" lidera sondagens para as legislativas na Letónia
A Letónia é convocada no sábado para eleições legislativas onde cerca de 1,5 milhões de eleitores inscritos vão renovar os 100 lugares do parlamento, num cenário político muito fraturado e de grande crispação.
© Reuters
Mundo Cenário
Para aceder aos 100 lugares no parlamento (Saeima), que se renova de quatro em quatro anos num país com dois milhões de habitantes, concorrem às eleições de sábado 16 partidos, alguns integrados em coligações.
O partido social-democrata Harmonia (SDPS e considerado "pró-russo"), venceu as últimas eleições legislativas (23% dos votos e 24 lugares), uma intenção que se repete de novo. Mas apesar de ser então a formação mais votada não participou no governo.
Após o escrutínio de 2014 foi formada uma coligação pelo Unidade (centro-direita, com 21,87% e 23 deputados), União dos Verdes e Agricultores (ZZS, conservador-ecologista e que engloba dois partidos, com 19,53% e 21 lugares), e a Aliança Nacional (NA, direita populista, 16,61% e 17 deputados), com Laimdota Straujuma no cargo de primeira-ministra.
A ex-república soviética do Báltico integra a União Europeia (UE) e a NATO desde 2004, e no início de janeiro de 2014 a Letónia tornou-se ainda no 18.º membro da Zona Euro, uma medida que suscitou uma profunda divisão no país.
Em 07 de dezembro de 2015, Straujuma demitiu-se na sequência de crescentes tensões na coligação. Na sequência do seu afastamento e de diversos escândalos em torno da líder do Unidade, Solvita Aboltina, as sondagens revelaram um rápido recuo no apoio a esta formação.
Em 13 de janeiro de 2016, Maris Kucinskis da União dos Verdes e Agricultores foi designado chefe do governo pelo Presidente Raimonds Vejonis e o novo executivo foi aprovado pelo Saeima em 11 de fevereiro.
O Partido dos Trabalhadores Sociais-Democratas, a União Democrata-Cristã e o Orgulho em Servir a Nossa Letónia surgem agora coligados na lista União SKG, após um acordo entre as três formações em março.
A União dos Verdes e Agricultores, que junta o partido dos agricultores letões e o Partido Verde, mantém-se.
Em abril, o Unidade juntou-se a diversos partidos regionais em trono da aliança eleitoral Nova Unidade.
As sondagens para o escrutínio de sábado continuam a dar vantagem ao SDPS (16% a 20%), à frente dos Verdes e Agricultores do primeiro-ministro. Quanto ao Unidade, o partido de Valdis Dombrovskis, atual comissário letão e antigo primeiro-ministro, pode simplesmente desaparecer (2 a 6% das intenções de voto).
Num cenário político muito fraturado, novas formações podem integrar o Saeima: o KPV (A quem pertence o Estado?), formação populista e "antissistema", fundada em maio de 2016; o "Movimento Por!", partido liberal e pró-europeu fundado em agosto de 2017, que concorre numa lista conjunta Desenvolvimento/Por! com o agrupamento Por um Desenvolvimento da Letónia (também de tendência liberal), formada em abril de 2018.
Nas legislativas de 2014, cerca de 300.000 pessoas foram impedidas de votar devido ao seu estatuto de "não-cidadão", que lhes retira diversos direitos fundamentais.
Diversos dados indicam que mesmo após diversas campanhas de naturalização impulsionadas pelas autoridades e com o objetivo de "assimilar" os seus cidadãos de origem não letã, os "não-cidadãos" -- na sua maioria russos que se instalaram no país quando a Letónia integrava a extinta União Soviética --, representam mais de 10% da população.
No entanto, a minoria de origem russa representa perto de um terço dos habitantes da Letónia, caso se incluam os russos já naturalizados e que constituem a base de apoio do SDPS.
A atual campanha eleitoral nesta pequena república do Báltico e ex-república soviética foi caracterizada por períodos de tensão devido à campanha de ataques sem precedentes, por um jornal económico, contra a ministra das Finanças, para além da ampla utilização das redes sociais.
Em agosto e setembro, a ministra das Finanças, Dana Reizniece-Ozola, 36 anos e filiada na União dos Verdes e Agricultores, protagonizou várias manchetes do diário económico Dienas bizness e foi designada "dona máfia" por apoiar funcionários alegadamente envolvidos em irregularidades.
Há alguns meses, apoiou a dissolução urgente do ABLV Bank, um grande banco privado que tinha sido acusado pelas autoridades norte-americanas de lavagem de dinheiro e financiamento de tecnologia para fabricar mísseis para a Coreia do Norte.
Diversos especialistas em meios de comunicação citados pela agência noticiosa Efe consideraram que os ataques contra a ministra e as suas propostas para regular de forma mais estrita diversos vetores da atividade bancária na Letónia podem estar relacionados com uma tentativa de promover um governo mais "pró-russo".
Nesta perspetiva consideraram que um executivo mais próximo de Moscovo poderia adotar uma atitude vantajosa face às instituições financeiras com clientes russos ou da ex-União Soviética.
A ministra aplicou diversas normas que obrigam os bancos a limitar os depósitos de não residentes e a restringir as atividades de empresas utilizadas em operações pouco transparentes.
Os depósitos de não residentes em bancos letões reduziram até 28,6% em finais de junho face aos 39,6% de fevereiro, quando começou a crise do ABLV Bank, segundo dados fornecidos pelo regulador bancário do país e quando se foi adensando o clima de suspeição e de acusações mútuas.
Segundo o Centro Báltico para Jornalismo de Investigação (Re:Baltica), a campanha do Dienas bizness insere-se num plano mais vasto para promover um novo partido populista designado "A quem pertence o Estado?" (KPVLV), um possível parceiro do russófilo partido Harmonia.
No entanto, o partido da ministra das Finanças (União Verdes e Agricultores) registou um recuo nas últimas sondagens e apenas obteve 11,5% das intenções de voto em agosto, enquanto ao KPVLV foram atribuídos 7,5%.
Em conjunto, os três partidos apenas garantem 40% das intenções de voto, sem incluir os 23% que ainda se declaravam indecisos. Os observadores não excluem a obtenção de uma sólida maioria por estas três formações.
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