Oposição no Burundi denuncia "mascarada eleitoral"
O partido do principal candidato da oposição às eleições presidenciais no Burundi disse hoje que vai denunciar a "mascarada eleitoral", após o anúncio dos resultados provisórios que dão a vitória a Evariste Ndayishimiye, do partido no poder.
© REUTERS/Clovis Guy Siboniyo
Mundo Burundi
"Estamos a preparar o nosso processo de reclamação e vamos cumprir a lei, e amanhã (terça-feira) ou depois de amanhã (quarta-feira), vamos apresentar (o nosso recurso) para o Tribunal (Constitucional) decidir sobre as fraudes maciças que pontuaram esta mascarada eleitoral", disse à agência de notícias AFP Thérence Manirambona, porta-voz do Conselho Nacional para a Liberdade (CNL), o partido do candidato Agathon Rwasa.
Evariste Ndayishimiye venceu as eleições presidenciais, que se realizaram na quarta-feira, dia 20, com 68,72% dos votos contra 24,19% de Agathon Rwasa, que ficou em segundo lugar (entre sete candidatos), de acordo com os dados oficiais anunciados hoje à tarde na televisão pela Comissão Eleitoral Nacional Independente.
O CNL vai reclamar dos resultados por "não subscrever esta mascarada", acrescentou Thérence Manirambona, referindo-se a "uma votação não credível".
O porta-voz disse ainda que o seu partido estava no topo das compilações de resultados feitas internamente pelo CNL, mencionando pontuações de 57% ou 58% dos votos, dependendo do escrutínio.
Os eleitores do Burundi foram chamados às urnas, na quarta-feira, para eleger o seu presidente, deputados e presidentes de câmaras.
No caso de o recurso da oposição não ser bem-sucedido, o general Ndayishimiye, 52 anos, sucederá ao Presidente, Pierre Nkurunziza, que está no poder desde 2005 e decidiu não se candidatar a um quarto mandato, tendo designado o vencedor destas eleições, do seu partido, de seu "herdeiro".
Pierre Nkurunziza liderou o pequeno país da África Oriental com um autoritarismo crescente desde o fim da guerra civil (1993-2005), que colocou os hutus (85% da população) contra os tutsis e causou cerca de 300 mil mortos.
O sucessor de Nkurunziza deverá tomar posse em agosto para um mandato de sete anos, renovável uma vez.
Os dados hoje anunciados ainda terão de ser validados pelo Tribunal Constitucional, em 04 de junho, mas, se forem confirmados, Evariste Ndayishimiye tem uma maioria absoluta e evita uma segunda volta.
Pouco mais de cinco milhões de eleitores foram chamados às urnas na quarta-feira, após uma campanha eleitoral marcada pela violência, detenções de elementos da oposição e pela pandemia de covid-19, que já causou 42 infeções e uma morte no país, mas que não foi considerada como fator impeditivo para a realização das eleições.
O partido governamental ganhou também as eleições legislativas, que se realizaram no dia 20, ao conquistar 72 dos 100 lugares no parlamento, seguido do CNL (27) e da União para o Progresso Nacional (Uprona, com um lugar).
O país vive uma grave crise política desde as últimas eleições, em 2015, de que já resultaram pelo menos 1.200 mortos e mais de 400 mil refugiados, acontecimentos alvo de uma investigação do Tribunal Penal Internacional.
A violência, desencadeada pela contestação ao terceiro mandato de Pierre Nkurunziza, considerado inconstitucional pela oposição, fizeram ressurgir o espetro da guerra civil.
O chefe de Estado cessante surpreendeu ao anunciar, em junho de 2018, que não se recandidataria, apesar de a nova Constituição, aprovada por referendo nesse mesmo ano, lhe permitir ficar até 2034.
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