Guiné Equatororial. Recondução de Asue é "falta de vontade política"
O partido Convergência para a Democracia Social na Guiné Equatorial (CPDS) criticou hoje a recondução de Francisco-Pascoal Obama Asue para chefe do Governo do país, poucos dias depois de uma "demissão em bloco" pelo executivo.
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Mundo Oposição
"Esta nomeação é o fiel reflexo da falta de vontade política do senhor Obiang [Teodoro Obiang Nguema, Presidente do país] para fazer mudanças de que o país necessita, após 41 anos de regime em que sempre estiveram as mesmas figuras, ao mesmo tempo que se queixa da ineficácia e da corrupção de todos os seus governos", refere um comunicado da CPDS.
O partido assinalou que o executivo anterior foi considerado por Obiang como "ineficaz por não cumprir os seus objetivos".
"Esta nomeação, além de ser um desprezo pela população, mostra, mais uma vez, que Obiang não está lá para servir o povo, mas os seus próprios interesses e os do grupo que o rodeia", acrescentou o partido, assinalando que "não se podem esperar mudanças de qualidade na vida política, social e económica" do país sob o atual chefe de Estado.
A CPDS recorda que segundo a Lei Fundamental da Guiné Equatorial, o Presidente da República é, ao mesmo tempo, chefe de Estado e de Governo, pelo que Obiang "não pode ser isentado dos erros" cometidos pelo executivo.
"A nomeação de Obama Asue é o prelúdio de uma falência em que o país estará em breve", sublinha o partido opositor.
Na perspetiva do partido, a recondução do primeiro-ministro criou "mais inquietação na população" e nas "possíveis esperanças de ver o início de uma transição política coerente".
"Se o Governo cessante foi ineficaz para cumprir os objetivos estabelecidos, é inaceitável que o novo Governo seja liderado pelo antigo primeiro-ministro", reforçou.
Segundo um decreto presidencial hoje divulgado pelas autoridades equato-guineenses, e datado de segunda-feira, Teodoro Obiang reconduziu como primeiro-ministro, "encarregado da Coordenação Administrativa", Francisco-Pascoal Obama Asue.
Francisco Obama Asue lidera o Governo da Guiné Equatorial desde junho de 2016, tendo então sucedido a Vicente Ehate Tomi, mas o próximo será o terceiro executivo que irá coordenar. O executivo que se demitiu em bloco na semana passada estava em funções desde fevereiro de 2018.
Quando o anterior Governo liderado por Obama Asue apresentou a sua demissão em bloco na semana passada, o seu então porta-voz, o ministro da Comunicação, Eugenio Nze Obiang, explicou que durante uma reunião com o Presidente Obiang, Obama Asue e os 25 ministros do seu executivo colocaram os cargos à disposição para que o chefe de Estado e presidente do Conselho de Ministros "tenha liberdade para dirigir melhor a próxima fase" do desenvolvimento no país.
Obiang lamentou que o governo demissionário não tenha cumprido os objetivos programáticos, o que "provocou uma situação de crise que exige medidas urgentes", segundo indicou também o então porta-voz.
Na segunda-feira, antes da recondução de Obama Asue, a CPDS tinha defendido a criação de um governo de emergência, "composto por representantes de todos os partidos políticos, tanto internos como exilados, capaz de empreender as reformas políticas e legislativas, assim como a gestão económica e administrativa, necessárias para a construção de um Estado de Direito na Guiné Equatorial", de acordo com uma nota de imprensa divulgada pelo partido.
Desde a sua independência de Espanha, em 1968, a Guiné Equatorial tem sido considerada pelos grupos de direitos humanos como um dos países mais repressivos do mundo, devido a alegações de detenção e tortura de dissidentes e de fraude eleitoral.
Obiang, que tem liderado o país desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, é o Presidente em funções há mais tempo em todo o mundo.
A Guiné Equatorial integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014.
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