Jornalista processada por pôr "em perigo segurança do Estado" no Burundi
Uma jornalista do Burundi, detida há cinco dias pelos serviços secretos, foi acusada de "atentar contra a segurança interna do Estado", uma acusação punível com prisão perpétua, disseram hoje fontes judiciais e a família à AFP.
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Mundo Burundi
Sandra Muhoza, 42 anos, é jornalista do La Nova Burundi, um meio de comunicação social online considerado próximo do Governo.
Muhoza tinha aceitado um convite de um empresário e membro influente do partido no poder Conselho Nacional para a Defesa da Democracia -- Forças para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD).
Foi detida no sábado, 13 de abril, e levada no dia seguinte às instalações do Serviço Nacional de Informações (SNR) em Bujumbura, capital económica deste país africano da região dos Grandes Lagos.
A jornalista foi indiciada na quinta-feira e transferida para a prisão de Mpimba, em Bujumbura, disse uma fonte judicial à AFP sob condição de anonimato.
"A investigação continua, mas o Ministério Público anunciou que está a ser processada por pôr em perigo a segurança interna do Estado e por aversão étnica", continuou a mesma fonte.
Esta informação foi confirmada à AFP pela sua defesa e familiares, que acusaram os serviços secretos do Burundi de terem infligido "abusos corporais durante os interrogatórios" e alegaram que a jornalista foi interrogada com os olhos vendados e algemada nas costas durante horas.
De acordo com pessoas próximas, Sandra Muhoza foi detida na sequência de uma denúncia de comentários feitos numa conversa de Whatsapp entre jornalistas durante um debate sobre a alegada distribuição de catanas aos Imbonerakure, membros da liga juvenil do partido CNDD-FDD.
Questionadas pelos meios de comunicação, as autoridades não responderam.
Esta não é a primeira vez que jornalistas são alvo de ataques no Burundi.
Em maio de 2023, a jornalista Floriane Irangabiye foi condenada a 10 anos de prisão por "prejudicar a integridade do território nacional", num país que foi classificado em 114.º lugar entre 180 em 2023 em termos de liberdade de imprensa, segundo a Organização Não-Governamental Repórteres Sem Fronteiras.
O Presidente burundês, Evariste Ndayishimiye, que sucedeu Pierre Nkurunziza após a morte deste em 2020, foi elogiado pela comunidade internacional por pôr fim gradualmente a anos de isolamento do Burundi, mas não conseguiu melhorar em matéria de direitos humanos.
O Burundi, um país sem litoral na região dos Grandes Lagos, é o mais pobre do mundo em termos de PIB per capita, segundo o Banco Mundial, com 75% dos seus 12 milhões de habitantes a viver abaixo do limiar de pobreza internacional.
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