Israel aprova lei para privatizar serviço público de TV e rádio
O parlamento israelita aprovou hoje, em votação geral, um projeto de lei para a privatização do serviço público de televisão e rádio, o que desencadeou um protesto da oposição.
© DeAgostini/Getty Images
Mundo Israel
O projeto de lei, apresentado pelo ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, propõe o encerramento da estação de televisão Kan e das rádios públicas no prazo de dois anos. As empresas privadas poderão então comprá-los e obter licenças de transmissão.
O líder da oposição, Yaïr Lapid, ex-jornalista, condenou o que classificou como "um ataque à democracia e à liberdade de expressão" em Israel.
"Não existe Estado democrático sem liberdade de expressão. Eles querem fazer o que fazem as ditaduras, começando por destruir a imprensa livre", acrescentou Lapid.
Embora o ministro das Comunicações tenha referido "uma ideologia económica liberal" para justificar a lei, também descreveu o canal Kan como um meio de comunicação "que promove o ódio contra o Estado de Israel".
Num comunicado, o grupo de comunicação Kan criticou a aprovação da lei, apontando-a como "mais um passo no caminho para assumir o controlo da radiodifusão pública, liquidá-la, vender os seus bens e recursos (...) e transferi-los diretamente para o capital privado".
"Enquanto representantes eleitos, temos o poder de decidir mudar o regime se assim o desejarmos", declarou Shlomo Karhi no domingo, numa reunião governamental.
O executivo votou no domingo, em conselho de ministros, a rutura de qualquer ligação entre o Estado e o diário de esquerda Haaretz, afirmando que não divulgará mais nem comunicados públicos, nem campanhas de publicidade nas suas páginas.
Segundo Shlomo Karhi, trata-se de lutar contra "a propaganda mentirosa" do jornal.
O Haaretz, muito crítico em relação à política do Governo israelita, é um dos diários mais antigos do país.
O seu diretor, Amos Shoken, apelou para a imposição de "sanções" a Israel e condenou a continuação da guerra contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza -- em curso desde outubro do ano passado -, numa conferência organizada pelo jornal em Londres, a 30 de outubro deste ano.
Referindo o precedente da proibição de transmissão em Israel do canal televisivo de informação al-Jazeera, do Qatar, a Associação da Imprensa Estrangeira em Israel (FPA) considera que Israel está a adotar "medidas [que] parecem vingativas e politicamente motivadas".
A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 35 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 418.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza quase 44.300 mortos (cerca de 2% da população), entre os quais mais de 17.000 menores, e mais de 104.000 feridos, além de pelo menos 11.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Na semana passada, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio na Faixa de Gaza e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita.
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