ONG alarmadas com "caos" na República Centro-Africana
Cinco organizações não-governamentais internacionais disseram-se hoje, em Paris, "alarmadas" com o "caos" reinante na República Centro-Africana (RCA), país que está a "afundar-se" numa "grande crise securitária e humanitária" e sem possibilidade de receber ajuda externa.
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Mundo Preocupação
Numa altura que antecede a visita do secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, à RCA, prevista de 24 a 27 deste mês, os Médicos do Mundo, Ação Contra a Fome, Acted, Solidariedade Internacional e Primeira Urgência Internacional uniram-se para exortar a ONU a "clarificar o mandato" da missão de paz presente em território centro-africano, a Minusca, que conta com 160 militares portugueses e cujo mandato termina em novembro.
"A República Centro-Africana está em vias de se afundar. Há uma grande crise no país. A reação da comunidade internacional não tem estado à altura do desejado", alertou o diretor para as Operações Internacionais dos Médicos do Mundo, Jean-François Corty.
Desde o iníquo de março que a RCA enfrenta um recrudescimento de confrontos violentos entre grupos armados, envolvendo sobretudo as milícias anti-Balaka, de maioria cristã, e as forças saídas do antigo Seleka, predominantemente muçulmano.
A violência já provocou dezenas de milhar de mortes e 1,1 milhões de deslocados - 600 mil para o interior do país e cerca de meio milhão para os países vizinhos, como Camarões ou RDCongo, lembrou Hélène Camus, representante da ONG Acted na RCA.
A responsável da Acted lembrou que um em cada dois habitantes do país depende da ajuda humanitária, mas a situação securitária "instável" e os grupos armados, "que controlam 80% do país", tem levado a um aumento do número de deslocados.
As cinco ONG lamentaram também serem consideradas como "alvo a abater" no conflito.
"Desde o início do ano, registamos mais de 280 incidentes que afetaram diretamente as ONG. Nos últimos seis meses, tivemos uma média mensal de 43 incidentes", referiu, por sua vez, a chefe de missão da Solidariedade Internacional, Marilyn Citaddini.
"Há três cidades (Zemio, Bocaranga e Batangafo) de onde as organizações humanitárias tiveram de ser evacuadas, com o consequente parar das atividades. Desde maio que tivemos de abandonar, parcial ou temporariamente, outras sete cidades", frisou, por seu lado, Hélène Quéau, da associação Primeira Urgência Internacional.
Face a esta situação, Jean-François Corty voltou a insistir na necessidade de renovar o mandato da Minusca, reforçando a ideia de que a força de manutenção de paz "não está bem interiorizada pelas autoridades, pelos grupos armados e pelos civis".
"A prioridade do mandato, entre outros, deve ser a proteção de civis e isso deve ser claramente expressado (pela ONU)", concluiu Hélène Quéau (Primeira Urgência Internacional).
Quarta-feira, em entrevista à France Presse e à RFI, António Guterres reconheceu que o conflito na RCA é "uma crise dramática, mas esquecida" e "muito longe das atenções da comunidade internacional".
"O nível de sofrimento do povo, mas também os dramas sofridos pelos trabalhadores humanitários e as forças de manutenção de paz merecem uma solidariedade e uma atenção acrescidas", acrescentou Guterres.
Com 4,5 milhões de habitantes, a República Centro Africana tarda em ultrapassar um conflito iniciado em 2013 entre os grupos armados, sobretudo os Séléka e anti-Balaka, apesar da intervenção da França (2013-2016) e da missão da ONU no país (MINUSCA, com cerca de 12.500 homens).
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