Congressista luso-americano admite "problema de mensagem" dos democratas
O luso-americano António Cabral, membro da Câmara dos Representantes de Massachusetts, acredita que a derrota do Partido Democrata nas últimas eleições deveu-se a um "problema de mensagem", mas está confiante numa reviravolta nas intercalares de 2026.
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Mundo EUA
Nascido na Madalena, na ilha do Pico, António Cabral mudou-se para os Estados Unidos aos 14 anos, com o seu envolvimento no mundo da política norte-americana a dar-se quando ainda frequentava a Universidade.
Hoje, perto de completar 70 anos e já com três décadas no serviço público como membro da Câmara dos Representantes de Massachusetts, o democrata acaba de ser reeleito e disse à Lusa que tem entre as suas prioridades para este novo mandato questões ligadas à Educação e aos Transportes na região.
Apesar da sua vitória, o partido de Cabral não só falhou em eleger Kamala Harris para Presidente, como também perdeu o Congresso para os republicanos.
Questionado pela Lusa sobre os erros do seu partido, António Cabral aponta "um problema de mensagem", especialmente junto da classe média trabalhadora, e que se arrasta há anos.
"Acho que o que falhou foi não comunicar ou não apresentar a nível geral aquilo que é importante para a classe trabalhadora e para a classe média. Foi um problema de comunicação à partida, um problema de mensagem", disse, em entrevista à Lusa.
"Ao longo da sua história, o Partido Democrata tem sido não só o partido dos direitos humanos e direitos civis, mas também o partido que sempre defendeu os direitos e aquilo que era importante para para a classe trabalhadora e a classe média. Mas essa mensagem não chegou", frisou.
Para Cabral - o único representante eleito de ascendência portuguesa nascido em Portugal - o partido deve agora passar por um período de reflexão para analisar o que falhou e reestruturar a sua mensagem para conseguir "novamente a confiança dos eleitores e da classe trabalhadora".
"Só assim poderemos, no futuro próximo, ganhar eleições a nível nacional e controlar o Congresso dos Estados Unidos", advogou.
Apesar de admitir um problema de comunicação no partido, "não foi um choque" quando percebeu durante a madrugada de 06 de novembro que os democratas iriam perder a eleição, embora mantivesse esperança numa reviravolta.
Porém, acredita que o domínio republicano será temporário e que os efeitos de uma nova administração de Donald Trump terão a extensão de apenas dois anos, depositando a sua esperança nas eleições intercalares de 2026, ano em que confia que o Partido Democrata conseguirá recuperar o Congresso e limitar a segunda metade do Governo de Trump.
"Eu divido isto em etapas de dois anos. Nos próximos dois anos talvez iremos apreciar e ver aquilo que Donald Trump prometeu durante a campanha. (...) Mas, daqui a dois anos, haverá eleições intercalares e acho que, conforme o resultado dessas eleições, a sua Presidência também pode mudar. Por isso, os últimos dois anos poderão ser muito diferentes dos dois últimos", defendeu o legislador.
"Eu tenho esperança que os últimos dois anos sejam totalmente diferentes se os democratas conseguirem recuperar o congresso", acrescentou.
Em reconhecimento pelo seu trabalho na promoção das relações entre Portugal e os EUA, António Cabral já foi condecorado com o título de Comendador da Ordem Infante D. Henrique.
Sendo ele próprio um imigrante envolvido numa comunidade com forte presença portuguesa, Cabral admite haver "alguma ansiedade" em torno das promessas feitas por Donald Trump de deportação em larga escala de imigrantes indocumentados.
"Aqui fala-se do assunto, mas não me têm procurado para abordar esse tema. A nossa comunidade é um bocado pacata, mas na nossa região também temos imensas pessoas, principalmente jovens, que vieram indocumentados. A maioria geralmente vem dos Açores, mas temos do continente também", explicou.
"Trump tem dito desde o princípio que o objetivo é identificar todos aqueles que entraram não documentados e deportá-los a todos. Eu acho que seria caótico e complicadíssimo para que isso pudesse acontecer. Estamos a falar em milhões e milhões de pessoas. Acho que faz muito mais sentido começarem por aqueles que cometeram algum crime nos EUA ou no país de origem", observou o representante democrata.
Apesar da ala mais radical do Partido Republicano ter usado a campanha presidencial para rotular os imigrantes que entraram pela fronteira sul do país como "criminosos", Cabral não deixa de notar que o próprio Donald Trump tornou-se este ano um criminoso condenado.
"Falam de deportar os condenados, mas o próprio Donald Trump foi considerado culpado de 34 acusações criminais em Nova Iorque. Se fosse um imigrante não documentado era o primeiro a ser deportado", assinalou.
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