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Do Bornéu para a Gulbenkian líder indígena traz apelo pela natureza

Da floresta tropical de Kalimantan, no Bornéu, para os jardins da Gulbenkian, em Lisboa, Bandi, líder de uma comunidade indígena, trouxe hoje um apelo ao respeito pela terra, a floresta e a água, que são "a família" do homem.

Do Bornéu para a Gulbenkian líder indígena traz apelo pela natureza
Notícias ao Minuto

19:30 - 19/07/23 por Lusa

País Gulbenkian

Bandi 'Apai Janggut', líder da comunidade Sungai Utik, na Indonésia, é um dos três vencedores da quarta edição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, que reconhece a liderança climática no restauro de ecossistemas na Indonésia, Camarões e Brasil.

Horas antes de receber o galardão, Bandi falou com os jornalistas, agradecendo o prémio, que "é muito importante para a comunidade", e que reconhece o seu trabalho na proteção da floresta e ajudará na sua continuidade.

Nos últimos 40 anos, Bandi foi o mentor da luta da sua comunidade pelo reconhecimento do direito à terra onde vivem.

Bandi explicou que a floresta tem de ser protegida porque esta foi oferecida pelos antepassados.

"Precisamos de protegê-la, não só porque a terra é fonte de vida, mas também porque é algo que passa de geração para geração e temos de proteger o futuro da próxima geração", indicou.

E recordou a filosofia que a comunidade segue: "A terra é uma mãe, a floresta um pai e a água é o sangue. Por isso temos de respeitá-la, porque são a nossa família", indicou.

Na opinião de Cécile Bibiane Ndjebet, natural dos Camarões e defensora da igualdade de género e o direito das comunidades à floresta e aos seus recursos naturais, são as mulheres que estão a conduzir a mudança e são dela "embaixadoras".

"Especialmente em África, ignorar as mulheres é ignorar mais de metade da população e isso não faz sentido", disse à agência Lusa a ativista e igualmente vencedora do prémio.

E prosseguiu: "Quando temos uma árvore, a mulher sabe como a tratar geração após geração, garantindo uma prática sustentável. Não podemos tirar a mulher deste processo, ela tem muita experiência, conhece a floresta e o seu desenvolvimento na vida e depende da floresta para comida, para habitação, para tudo".

Para o sucesso nesta luta contra o tempo que é a resposta às alterações climáticas, Cécile Bibiane Ndjebet defende o envolvimento das mulheres e que isso esteja espelhado nas políticas que "não são sensíveis em questões de género".

"É muito importante mobilizar os recursos para suportar iniciativas que estão no terreno e que são levadas a cabo por mulheres e raparigas. Temos muito boas iniciativas. Temos de mobilizar recursos para que essas iniciativas tenham impacto", referiu.

Nas árvores também está o futuro, segundo Lélia Wanick Salgado, uma ambientalista, designer e cenógrafa brasileira, outra vencedora do Prémio Gulbenkian para a Humanidade.

Lélia cofundou, em 1998, o Instituto Terra, dedicado à recuperação da floresta atlântica do Brasil. A organização já plantou mais de 2,7 milhões de árvores e recuperou mais de 700 hectares de terra degradada. Em colaboração com pequenos agricultores, mais 2.000 hectares foram reflorestados e 1.900 nascentes recuperadas.

Em declarações à agência Lusa, Lélia Wanick Salgado elegeu a humanidade como o maior predador na terra, alertando para o impacto do consumo desenfreado.

"A única coisa que fabrica oxigénio, que capta o CO2 [dióxido de carbono] e fabrica água são as árvores. Não tem outra solução", disse.

E defendeu a participação do campo nas reuniões ao mais alto nível sobre o ambiente.

"Não sou contra as reuniões e sim contra os convites para as reuniões", disse, preconizando a presença do campo, porque "não são os urbanos que vão plantar".

A solução para reverter o estado preocupante do ambiente na terra passa, segundo disse, pela plantação de árvores, pelo que os governos devem financiar esta prática.

No valor de um milhão de euros, o Prémio Calouste Gulbenkian distingue pessoas ou organizações que "contribuem com a sua liderança para enfrentar os grandes desafios atuais da humanidade -- as alterações climáticas e a perda de biodiversidade".

O júri, liderado pela antiga chanceler alemã Angela Merkel, selecionou estas três personalidades entre 143 nomeados, oriundos de 55 países e de todos os continentes.

Os vencedores foram escolhidos pela sua liderança e trabalho incansável, ao longo de décadas, no restauro de ecossistemas vitais - florestas, paisagens e mangais -, e na proteção de territórios em conjunto com as comunidades locais.

Para a presidente do júri, Angela Merkel, "os ecossistemas suportam toda a vida na terra. A saúde do planeta e dos seus habitantes depende deles e só os ecossistemas saudáveis nos permitirão combater as alterações climáticas".

O presidente do conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian, António Feijó, considera que o prémio "presta homenagem ao trabalho e à dedicação que estas personalidades mostraram nos seus esforços de recuperação de ecossistemas vitais, que são cruciais para a mitigação das alterações climáticas".

"São um exemplo de liderança excecional, com impacto significativo, em harmonia com a natureza e as comunidades locais", disse António Feijó.

Esta é a quarta edição do prémio, que foi atribuído pela primeira vez em 2020 à jovem ativista sueca Greta Thunberg.

Leia Também: Instalação artística sobrevoa Lisboa pelos 40 anos do CAM da Gulbenkian

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