'Reciclagem em Portugal'. "Tudo o que não fazemos bem tem consequências"
Documentário da atriz e ativista Sandra Cóias estreia esta sexta-feira, 17 de maio, Dia Mundial da Reciclagem, no canal Odisseia. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, a artista revelou o que a levou a produzir um documentário sobre um tema ainda "não muito apelativo" hoje em dia. O objetivo é mudar comportamentos.
© Mayte Ojea
País Reciclagem
Esta sexta-feira, 17 de maio, Dia Mundial da Reciclagem, estreia no canal Odisseia o documentário 'Reciclagem em Portugal', da autoria da atriz e ativista Sandra Cóias e do realizador Pedro Rego.
É o primeiro grande documentário sobre reciclagem em Portugal e abrange as problemáticas do consumo excessivo e dos sete 'R's' da sustentabilidade: repensar, recusar, reduzir, reparar, reutilizar, reciclar e reintegrar.
Um trabalho, como explicou a atriz ao Notícias ao Minuto, que é não só um alerta para um problema que afeta toda a população, mas também uma forma de ajudar a sociedade a compreender a necessidade de alterar comportamentos em relação ao desperdício e à escolha dos materiais que consome. Tudo porque "neste momento temos um problema em comum, o lixo".
"Este tema surgiu na altura dos 25 anos de reciclagem em Portugal. Faço reciclagem desde que ela existe cá. Aliás, vivi noutros países em que a reciclagem já era feita e em Portugal não e fazia-me muita confusão. Apesar disso, continuo a ver lixo na rua, as pessoas continuam intencionalmente a atirar as beatas, papéis para a rua, vão à praia e deixam o lixo ficar num canto, vão ao campo e deixam ficar os seus resíduos. Isso faz-me sempre muita confusão. E ao fim de anos a pregar sobre a reciclagem percebi que ainda existem muitas dúvidas, muitos mitos e foi exatamente com este objetivo de alertar para a mudança de comportamento que decidi fazer este documentário", revelou Sandra Cóias, relembrando que "temos metas para cumprir até 2030 que estão longe de ser atingidas".
"Devíamos reciclar o dobro do que reciclamos"
"Nós reciclamos cerca de 30% em Portugal e devíamos estar a reciclar o dobro. Se ao fim de 27 anos só conseguimos chegar a este número, isso é preocupante. Claro que a reciclagem não é a solução para os nossos problemas, mas se conseguíssemos reciclar corretamente, se cada um fizesse a sua parte, tínhamos um planeta completamente diferente. Um país completamente diferente", salientou a ativista.
No documentário, cujas gravações ocorreram ao longo de um ano, em várias zonas do país, como Lisboa, Porto, Barreiro, Setúbal, Sesimbra, Alentejo e Bragança, participam vários intervenientes de renome que têm contribuído, ao longo dos anos, para termos uma sociedade mais limpa.
Entre eles estão a primatóloga Jane Goodall, Ana Trigo Morais CEO da Sociedade Ponto Verde, Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Inês Costa, ex-secretária de Estado do Ambiente.
"Falta de civismo"
Alguns destes intervenientes no documentário apontam "a falta de civismo" e a "despreocupação das pessoas" como principais motores do problema do lixo em Portugal,
"Continua a haver uma falta de civismo enorme. Continuo a observar as pessoas em qualquer sítio em qualquer parte do país, nas viagens que faço, a abrirem um maço de tabaco e atirarem para o chão, acabam de fumar e atiram a beata para o chão, quando é proibido e já há tantos alertas. Há uma despreocupação total, falta de civismo. As pessoas andam tão distraídas, tão ocupadas. É um ato irrefletido, nem pensam muitas vezes, fazem porque acham que o chão é o local indicado para atirar o lixo, esquecendo-se de que esta é a casa de todos. Nós não vivemos sozinhos, temos de ter respeito para com os outros. Já participei em imensas limpezas de praias, de campanhas de limpar Portugal e já vi coisas... As pessoas colocam o lixo em locais inimagináveis", descreveu Sandra Cóias ao Notícias ao Minuto.
Apesar de já haver muita informação sobre a reciclagem e de como fazê-la corretamente, assim como campanhas de sensibilização sobre o tema nas redes sociais, meios de comunicação social e escolas, na opinião de Sandra Cóias é necessário fazer mais.
"A reciclagem não é um tema muito apelativo. É uma questão a que muita gente continua a não dar muita importância. Os nossos canais de televisão, as séries, telenovelas, estas coisas todas têm um papel muito importante porque as pessoas consomem muita televisão. São necessárias mais campanhas. Alertas nas redes sociais. Trabalhos nas escolas. Já há. Mas é necessário fazer mais. Mais alertas, falar-se mais sobre o tema. A informação existe. Temos a WasteApp, por exemplo, que diz tudo sobre a reciclagem. Acho que existe é ainda uma falta de compreensão de quanto as nossas ações diárias, aquilo que nós fazemos, as implicações que isso tem no nosso ambiente e na nossa vida, no nosso planeta, no nosso ecossistema. Acho que ainda falta esse alerta. Após 27 anos de reciclagem em Portugal se ainda estamos a fazer tão pouco é porque algo aqui está em falta. Temos de insistir mais, temos de chamar mais a atenção das pessoas", sublinhou a artista.
E o documentário 'Reciclagem em Portugal' é uma grande ajuda nesse sentido, uma vez que dentro do tema, toca em várias problemáticas que afetam o nosso país.
"A reciclagem implica muita coisa. Implica o consumo excessivo. Consumimos hoje cada vez mais, como nunca antes consumimos. Temos de falar do lixo eletrónico. Dos pneus, dos monos, dos brinquedos, das cápsulas de café. Há tantos temas, tantas coisas para falar, que eu achei que todos deviam estar no documentário", contou Sandra Cóias ao Notícias ao Minuto.
"Nunca se consumiu tanto"
Sobre o consumo excessivo, um dos grandes problemas da sociedade moderna, a ativista reiterou que "nunca se consumiu tanto e que os recursos do planeta continuam a ser finitos", apesar de as pessoas continuarem a achar que "isso nunca vai ter fim", "que não vai ter consequências".
"E já começamos a ver as consequências todos os dias, nas notícias, por exemplo, de como o nosso ecossistema está a entrar em desequilibro. As alterações climáticas estão aí cada vez mais visíveis. Há situações que pensávamos que só iam acontecer daqui a 20 ou 30 anos e elas estão a começar a acontecer já. Os cientistas estão sempre a alertar para esta situação", lamentou.
Além dos problemas ambientais, a produção excessiva de lixo traz-nos também grandes desafios financeiros e sociais, como "viver com lixo à porta, o que não é agradável", "deslocação de pessoas" devido às alterações climáticas e até discussões entre quem recicla e não recicla, com a aplicação de taxas a quem não cumpre as regras.
"O mais indicado seria ter uma sociedade que não produza lixo porque a natureza não produz lixo, só nós, humanos. Acho que isso acaba por nos afetar. Vários locais já implementaram uma taxa que penaliza quem não recicla. Para as pessoas perceberem que não estão a agir corretamente. Temos de ganhar consciência de que tudo o que não fazemos bem acaba por ter consequências na nossa vida", concluiu Sandra Cóias.
A estreia do documentário 'Reciclagem em Portugal' no canal Odisseia está marcada para as 22h30 desta sexta-feira. Assista ao trailer aqui
Leia Também: Porto atingiu taxa de reciclagem recorde de 43% em 2023
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com