"A vaidade bem doseada pode ser uma virtude, não um defeito"
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, o conhecido cirurgião plástico Ângelo Rebelo conta como fez do bisturi a sua paixão e missão como forma de melhorar a autoestima, a confiança e a vida num todo de quem o procura - muito para lá do físico.
© Clinica Milénio
Lifestyle Ângelo Rebelo
A transformação das pessoas. Ajudar a melhorar a vida de tantos e modificar o que muitas vezes a natureza fez mal ou não tão bem, o que acidentes e doenças causam, ou até satisfazer ‘caprichos’ justificáveis” - é esta a missão daquele que é conhecido como o cirurgião das celebridades, segundo palavras do próprio.
Começou a sua carreira num internato da especialidade de cirurgia plástica, reconstrutiva e estética entre 1984 e 1990 nos Hospitais de Santa Maria e de São José, em Lisboa, e exerce, desde há alguns anos, a sua atividade profissional só no setor privado, estando em funções, em exclusivo, na Clinica Milénio onde é diretor, opera e faz consultas.
É ainda membro e pertence à direcção de várias sociedades científicas e médicas internacionais.
Com o decorrer de uma longa carreira, Ângelo Rebelo nota as diferenças que a sociedade vai impondo na aparência e expetativa daquilo que é visto como o 'físico ideal', nomeadamente a procura cada vez maior por cirurgias, o interesse dos homens pelo aspeto e a preferência das mulheres pela cirurgia de aumento mamário com próteses.
Ainda assim, o especialista não acredita que estejamos a viver numa sociedade de narcisistas, crendo ao invés que é preciso desmistificar a cirurgia plástica em si - como uma ferramenta para viver melhor - e considerando inclusivamente que "há e tem de haver um equilíbrio entre o interior e o exterior/aparência. E muitas vezes a cirurgia estética ajuda a criar ou a reencontrar esse equilíbrio. Apenas isso".
O que o atraiu na cirurgia plástica?
A transformação das pessoas. Ajudar a melhorar a vida dos outros e a melhorar e modificar o que muitas vezes a natureza fez mal ou não tão bem, o que acidentes e doenças causam ou até satisfazer ‘caprichos’ justificáveis. A criatividade, arte e rigor desta especialidade e a versatilidade.
Sempre foi aquilo que quis fazer?
Não. Houve desde muito cedo o desejo de estar ligado às ciências, depois começou a aparecer o ‘bicho’ da medicina e durante o curso de medicina o interesse por cirurgia e a descoberta da cirurgia plástica, que nunca mais abandonei desde o 5.º ano da faculdade.
Quais são as principais preocupações estéticas das pessoas que o procuram?
São muito variadas. Depende de vários fatores como genéticos, a idade, ser homem ou mulher, determinado momento da vida, fatores inesperados. As preocupações com o rosto em geral são para pessoas com mais idade e as de corpo para as de menos idade, mas há exceções.
De ano para ano aumenta a procura por parte de homens E as cirurgias mais procuradas?
Na maioria dos países, incluindo no nosso e na minha experiência, a cirurgia mais procurada é a mamoplastia de aumento com próteses, seguida de técnicas para retirar gorduras.
Na sua experiência profissional acha que hoje em dia as pessoas procuram mais a cirurgia plástica comparativamente há alguns anos?
Sem dúvida. Acho que se deve a várias razões como a evolução das técnicas e tecnologias, permitindo cirurgias menos agressivas, menos cicatrizes, quase sempre sem anestesias gerais e sem internamento, com recuperação rápida e poucas restrições para a vida habitual e consequentemente menos dispendiosas.
© Clinica Milénio
Os homens também procuram a cirurgia estética?
Cada vez mais, aliás de ano para ano aumenta a procura por homens de todas as idades.
Quais são as cirurgias mais procuradas pelos homens?
Se são mais novos têm a ver com o corpo. Gorduras localizadas ou generalizadas. No rosto será o nariz, as orelhas, a calvície. Em idades mais avançadas a principal preocupação é o rosto já que a pele começa a descair, as pálpebras, a papada, mas tudo é possível em qualquer idade.
E pelas mulheres?
A cirurgia mais procurada pelas mulheres neste momento e nos últimos anos é sem dúvida o aumento mamário com próteses.
Houve uma evolução muito grande na qualidade do silicone a tal ponto que a maioria dos fabricantes dá uma garantia vitalícia para a qualidade do silicone. Isso aliado à técnica que realizo sem anestesia geral, sem internamento, recuperação rápida para a vida habitual, poucas restrições e a cicatriz impercetível final contribuem para um aumento significativo da procura.
Costumo dizer às minhas doentes que para aumentar as mamas com próteses até ao presente momento é o método mais eficaz, seguro e dura toda a vida.
Há e haverá sempre narcisistas, mas não são a maioriaExistem pacientes obcecados com cirurgias?
Existem doentes que fazem mais do que uma cirurgia – não chamaria obsessão. São pessoas que em determinada fase da vida veem algo que as preocupa e procuram ajuda. Depois de um assunto resolvido descobrem outro que pode ser logo resolvido ou levar algum tempo.
É diferente das pessoas que querem fazer tudo e mais alguma coisa sem precisarem, mas só por estarem a fazer ‘plásticas’. Nesse caso, já estamos a falar de perturbações psicológicas.
Já recusou fazer alguma cirurgia?
Sim, várias vezes e por razões diversas. A pessoa pode pensar que precisa de fazer determinada cirurgia, mas se não precisa e não tem indicação médica, não a faço.
Pessoas com problemas psicológicos ou emocionais marcantes não devem ser operadas enquanto estiverem assim. Cirurgias para salvar namoros, casamentos, empregos… não se devem fazer.
Em quase todos os dias de consulta há ‘chumbos’.
Acha que vivemos numa sociedade de narcisistas?
Não completamente. Há uma maior preocupação por parte das pessoas com a sua imagem, com o sentirem-se seguras e com a autoestima em cima. E esta nova forma de estar leva as pessoas a parar um pouco, a olharem-se ao espelho e a terem tempo para si.
Há e haverá sempre narcisistas, mas não são a maioria.
A aparência altera de facto como nos sentimos e a nossa forma de estar?
O hábito faz ou não faz o monge? Tem de haver um equilíbrio entre o interior e o exterior/aparência. Muitas vezes a cirurgia estética ajuda a criar ou a reencontrar esse equilíbrio.
Há quem chame à cirurgia estética ‘psiquiatria cirúrgica'A vaidade deve ter limites?
Porque há-de ter limites? As pessoas são livres e podem ser vaidosas, cada uma à sua maneira. A vaidade bem doseada pode ser uma virtude, não um defeito.
Um cirurgião também é um psicólogo?
A maioria das vezes, sim. É muito importante perceber o interior de quem nos procura e encontrar a melhor ajuda.
Há quem chame à cirurgia estética ‘psiquiatria cirúrgica’.
Prefere fazer cirurgias estéticas ou reconstrutivas?
Muitas vezes a fronteira é difícil, mas a minha tendência é a estética não descurando a parte funcional e reconstrutiva. Por vezes, a fronteira é difícil de definir. O reconstrutivo tem de ser muitas vezes estético e o estético de fazer uma reconstrução. Prefiro operar e considerar cada caso como especial e fazer o meu melhor. Mas nem sempre consigo.
Qual foi a cirurgia que realizou e que mais o marcou?
Foi logo no começo da minha carreira, no hospital do Funchal, operar um recém-nascido a um lábio leporino com fenda palatina. Impressionante.
Em Portugal, a cirurgia plástica está ao nível de qualquer outro país
E no geral qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
Quando me tornei especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética.
Já trabalhou no estrangeiro, como compara o panorama da cirurgia plástica nacional com o internacional?
Sim, já operei nos quatro cantos do mundo, dando cursos, fazendo demonstrações, workshops e congressos.
Em Portugal, a cirurgia plástica está ao nível de qualquer outro país e tem profissionais em várias áreas que se destacam em relação aos estrangeiros só que muitas vezes não têm a visibilidade que mereciam.
Quanto à estética e no que me diz respeito, há anos que estamos à frente em certas áreas de que fui pioneiro e daí os cursos e congressos que dei por todo o mundo.
O que carateriza um bom cirurgião plástico?
Honestidade, sinceridade, humildade, arte, sensibilidade, amor pela profissão e disponibilidade.
Considera-se o cirurgião plástico dos famosos?
Sou o mesmo cirurgião plástico para toda a gente. Sou procurado por muitas figuras públicas, mas o julgamento tem de ser feito pelos meus doentes e por vocês.
Acha que ainda há um preconceito relativamente à cirurgia estética?
Claro, menos do que há uns anos, mas continua a haver. Continua-se a fazer cirurgias sem os outros saberem, mesmo familiares e amigos, por se achar que são cirurgias desnecessárias. Tal é completamente errado. Todos têm o direito a sentirem-se bem, com uma boa autoestima e confiança.
Sinto-me cada vez mais novo por dentro e por fora Tem cuidados com a alimentação? Faz exercício físico?
Tenho algum cuidado, mas não sou de certeza exemplo. Não sou gordo é verdade, mas não tenho tempo nem motivação para fazer exercício físico. Vá lá, quando viajo gosto muito de caminhar pelas cidades [risos].
O envelhecimento preocupa-o?
De modo nenhum! Aliás, sinto-me cada vez mais novo por dentro e por fora.
Tem três filhos e um neto, gostaria que seguissem os seus passos?
Nenhum seguiu medicina, mas a minha filha Rita é farmacêutica e colabora comigo. Nunca os influenciei, pelo contrário, quero que façam o que gostam.
O que ainda quer alcançar na sua carreira?
A satisfação de um trabalho bem feito e bons resultados para as pessoas que me procuram. Adicionalmente, tenho muitos projetos na área da cirurgia e medicina estética a começarem no final deste ano ou princípio do próximo.
E sobretudo desejo que haja sucesso, paz e saúde para continuar.
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