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Não, o ano não acabou realmente à meia-noite de 31 de dezembro. Entenda

Nem dura sempre o mesmo tempo.

Não, o ano não acabou realmente à meia-noite de 31 de dezembro. Entenda
Notícias ao Minuto

08:41 - 05/01/21 por Notícias ao Minuto

Lifestyle A ciência explica

Primeiro, calma: 2020 já acabou definitivamente.

E todos os anos é assim, entre brindes, desejos e passas, um ano 'acaba' e outro tem 'início'.

Trata-se, conforme explica um artigo publicado pela BBC News Mundo, do último dia do calendário gregoriano, o convencional de 365 dias (mais um nos anos bissextos, como 2020) que rege o Ocidente desde 1582, altura em que o calendário juliano deixou de ser utilizado. 

"O que tradicionalmente entendemos por ano, tanto em astronomia quanto em muitas culturas, é o tempo que o planeta leva para girar em torno do Sol", diz à BBC News Mundo o astrónomo e académico Eduard Larrañaga, do Observatório Astronómico Nacional da Universidade Nacional da Colômbia.

Todavia, segundo o especialista, a data em que um ano começa e termina não se baseia na ciência, é, afinal e simplesmente, uma convenção, ou seja, um sistema de certo modo 'inventado'. 

"Partir do pressuposto de que o ano termina à meia-noite do dia 31 de dezembro e começa no dia 1 de janeiro é uma construção social, uma definição que foi feita num momento da história", conta Larrañaga

De acordo com o astrónomo, visto que a base para medir um ano é o tempo que a Terra demora a dar a volta no Sol, contar quando esse ciclo se inicia e finaliza pode suceder, na prática, a qualquer momento.

"Do ponto de vista astronómico, nada de especial acontece no dia 31 de dezembro para dizer que é aqui que termina o ano, tampouco nada de especial acontece no dia 1 de janeiro para dizer que é quando começa", elucida.

"Na realidade, em toda a órbita da Terra não há nada de especial ou fora do comum que aconteça para marcar a mudança de um ano". 

Mas, caro leitor há mais... isto porque a duração exata de 365 dias do ano (ou 366, nos bissextos) não passa de outra convenção social.

"Na verdade, há muitas formas de medir a duração de um ano", diz Larrañaga. E, conforme refere, dependendo do modo usado, a duração não é igual. 

A duração do ano, uma definição complexa

Desde a sua introdução pelo imperador Júlio César, em 46 a.C., o calendário juliano foi utilizado para contar a passagem dos anos até ao fim do século XVI.

Mas, na Idade Média, vários astrónomos detetaram que esse método de quantificar o tempo resultava num erro cumulativo de cerca de 11 minutos e 14 segundos a cada ano.

Consequentemente, em 1582, o Papa Gregório 13 levou a cabo a reforma do calendário que usamos ainda hoje, realizando ajustes para aperfeiçoar o modelo introduzido por Júlio César, que já previa os anos bissextos.

Sendo que uma das modificações implementadas para resolver a situação do excedente acumulado consistiu em deixar de tornar um ano bissexto aquele que fosse divisível por 100, mas não por 400. Exemplificando, 2000 e 1600 foram anos bissextos, mas 1700 e 1900 não.

Adicionalmente, Larrañaga explica à BBC Mundo que, tendo em conta a astronomia, que é a base para a definição do que é um ano, não há de facto uma unidade de medida única, e sim pelo menos quatro para contar o tempo que a Terra demora a dar uma volta em torno do Sol, nomeadamente:

- Ano ou calendário juliano: "É uma convenção e é usada na astronomia como uma unidade de medida em que se considera que a Terra dá a volta no Sol em 365,25 dias".

- Ano sideral: "É o tempo que a Terra leva para dar uma volta no Sol em relação a um sistema de referência fixo. Neste caso, um grupo de estrelas é usado como referência, e esse ano tem uma duração de 365,25636 dias" .

- Ano trópico: "Leva em consideração a longitude eclíptica do Sol, ou seja, o ângulo do Sol no céu em relação à Terra ao longo do ano, principalmente nos equinócios. E dura um pouco menos que o ano sideral, 365,242189 dias".

- Ano anomalístico: "A Terra, assim como os outros planetas, se move em elipse. Essa elipse faz com que, em algumas ocasiões, o Sol esteja mais perto e mais distante da Terra. Mas há um ponto em que ambos estão o mais perto possível, chamado periélio. E o ano anomalístico é o tempo decorrido entre duas passagens consecutivas da Terra por seu periélio. Dura 365,2596 dias".

Larrañaga aponta que todos são da ordem de 365 dias, porém pressupor que este é o tempo rigoroso da duração de um ano é uma simplificação.

E não tem em conta outro fator. "Há uma outra questão. É que, embora tenhamos esses cálculos, nem todos os anos duram o mesmo, não têm a mesma duração todas as vezes", salienta. 

"É como um peão que balança"

Além dos factos já mencionados, o problema adensasse. O especialista menciona ainda que apesar dos astrónomos terem tentado calcular com exatidão no decorrer dos séculos o tempo que o nosso planeta leva a dar uma volta ao Sol, há uma questão básica que os inibe de alcançar um número definitivo.

"É preciso levar em conta que a duração dos anos nunca é a mesma porque tudo muda no sistema solar. Veja o caso do ano anomalístico: enquanto a Terra gira em torno do Sol, o periélio muda como resultado da ação gravitacional de outros planetas, como Júpiter", conta.

O académico explica que algo parecido sucede com o ano trópico, que mede o intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do Sol pelo Ponto de Carneiro ou equinócio de primavera, ou com o sideral.

"O ano trópico também muda, uma vez que depende do eixo da Terra, que é torcido. É como um pião que balança. Então a data e a hora do equinócio também são diferentes", afirma.

"E se compararmos quanto tempo durou o ano sideral em 2020 com quanto tempo durou em 1300, certamente notaremos uma diferença. Seria sempre em torno de 365 dias, mas não seria exatamente a mesma duração, porque o movimento da Terra nem sempre é o mesmo", conclui Larrañaga.  

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