Alzheimer. "É fundamental aumentar o conhecimento sobre os números"
Comece hoje a reduzir o risco de demência. Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, o médico psiquiatra António Leuschner, coordenador da comissão executiva do Plano Nacional da Saúde para as Demências, explica como fazê-lo.
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Lifestyle Dia Mundial da Doença de Alzheimer
Estima-se que, em Portugal, existam cerca de 200 mil pessoas com demência, número que a Alzheimer Europe estima que possa vir a aumentar, em 2050, para 350 mil, pelo que é preciso agir e o mais rápido possível. E está nas mãos de cada um fazer por isso. Até porque sabe-se, hoje, que cerca de 40% das demências podem ser prevenidas ou atrasadas.
António Leuschner, coordenador da comissão executiva do Plano Nacional da Saúde para as Demências aponta para o impacto do estigma e alerta que é preciso sensibilizar a sociedade. "As demências ainda são olhadas como doenças que apenas dizem respeito a quem delas padece ou às suas famílias, estando ainda pouco disseminada a ideia de que se trata de um problema de saúde pública", diz o médico psiquiatra, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a propósito do Dia Mundial da Doença de Alzheimer, que se assinala esta quarta-feira.
Como tal, defende que "é fundamental aumentar o conhecimento da população em geral para a realidade dos números, a importância da adoção de medidas e atitudes de promoção e prevenção, desde a idade escolar".
Várias doenças podem provocar demência, dependendo da região do cérebro mais afetada e da forma como evolui
Quase todos já ouviram falar de demências, mas persiste algum desconhecimento. O que são exatamente?
São um conjunto de perturbações resultantes da diminuição ou perda de uma ou várias funções mentais como a memória, a atenção, a capacidade de pensar, o juízo crítico, o raciocínio lógico e a compreensão ou outras, em resultado de alterações do sistema nervoso central, mas com repercussões em vários aspetos da vida do dia-a-dia do indivíduo e da sua relação com os outros.
Quantos tipos de demência existem?
Várias doenças podem provocar demência, dependendo da região do cérebro mais afetada e da forma como evolui. Podem resultar de uma degenerescência do tecido nervoso, da morte por traumatismo ou acidente vascular. A mais frequente é a demência da doença de Alzheimer, seguida pelas de causa vascular ou mistas, as frontotemporais, as que resultam do consumo excessivo do álcool, ou de infeções como o VIH.
E quais os fatores de risco?
O principal fator de risco é a idade, antecedentes familiares, problemas cardiovasculares ou étnicos e lesões cerebrais, traumáticas ou infeciosas.
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A que sinais de alerta devemos estar atentos?
A perda significativa da memória, dificuldade de concentração, de manter uma conversa, de encontrar as palavras adequadas e de execução de tarefas habituais e variações de humor.
As projeções a 30 anos apontam para aumentos de 75% da situação atual em Portugal e de 166% no mundo
Existem quantas pessoas diagnosticadas com Alzheimer em Portugal?
Não temos números precisos. Existem apenas estimativas com base em populações comparáveis e em alguns estudos populacionais circunscritos, que apontam para cerca de 200 mil pessoas de ambos os sexos, em fases clinicamente identificáveis.
Estima-se que em 2050 o número global de doentes triplique. O que leva a este aumento?
As projeções a 30 anos apontam para aumentos de 75% da situação atual em Portugal e de 166% no mundo, diferença especialmente atribuível aos ganhos estimados da esperança de vida nos países de mais baixo rendimento, a par de outros fatores de risco como deficientes condições de vida.
A doença de Alzheimer foi identificada há mais de um século. Como tal, porque é que não houve progressos no desenvolvimento de tratamentos para esta e outras formas de demência?
Tratando-se em especial da morte celular do tecido mais nobre e complexo, não se estranha que apesar da imensa investigação e da sua partilha em muitas partes do mundo – com inúmeros interesses de várias naturezas em presença – não tenha sido ainda possível alcançar formas de alterar o curso da doença, melhorando a qualidade de vida de doentes e cuidadores.
Mas acredita que é possível encontrar uma cura ou continuamos longe disso?
São cada vez mais as doenças que, não tendo ainda cura, evoluem de forma progressivamente mais compatível com níveis de qualidade de vida aceitáveis. No caso da doença de Alzheimer muito há a fazer neste capítulo. A aposta deverá ser nos cuidados e no tratamento, apoiando as condições de vida dos doentes e das famílias e cuidadores, além de minimizar todos os fatores de risco e sintomas de comorbilidades e interações medicamentosas.
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Os potenciais tratamentos são baseados em quê?
Os tratamentos atualmente disponíveis visam melhorar a comunicação entre as células nervosas ou a atrasar a morte celular, uma e outra progressivamente perturbadas com a evolução da doença. Têm tido algum desenvolvimento mais recente medicamentos que tentam minimizar a deposição de substâncias que contribuem para o mau funcionamento das células em sofrimento.
Ainda assim, sabe-se atualmente que é possível prevenir as demência ou, pelo menos, atrasá-las, segundo um relatório da revista científica The Lancet, publicado em 2020. Mas como?
Excluídas as formas 'tratáveis' (reversíveis) de demência – daí a importância de um diagnóstico rigoroso – as restantes formas poderão ser minoradas ou atrasadas na sua evolução. Para tal, além das medidas gerais de promoção de hábitos de vida saudável e redução dos comportamentos de risco – 'o que é bom para o coração, é bom para o cérebro' – importa estimular a atividade física, cognitiva e social. Falo, por exemplo, de uma boa saúde vascular, com controlo da tensão arterial, compensação dos défices sensoriais, visuais e auditivos, da redução da exposição a ambientes poluídos (incluindo o fumo passivo do tabaco) e do consumo de álcool, prevenção de quedas com traumatismo cranioencefálico e do controlo do peso.
O confinamento vivido no auge da pandemia de Covid-19 deixou marcas irreparáveis nestes doentes?
Provavelmente – como em outras patologias crónicas – atrasando o diagnóstico e a adoção de medidas de minimização de riscos, com frequência instauradas tardiamente, terá permitido o aparecimento de danos mais graves, sendo especialmente de notar o isolamento social que acarretou.
Ficaram muitos casos por diagnosticar nestes anos?
Tudo faz supor que sim. As dificuldades no acesso a cuidados terá tido impacto na acuidade diagnóstica a que acresceram as maiores dificuldades do cumprimento das medidas preventivas da infeção por Covid-19.
As demências ainda são olhadas como doenças que apenas dizem respeito a quem delas padece ou às suas famílias
Como é que se pode aliviar a vida dos doentes e dos cuidadores?
Oferecendo condições de apoio efetivo e ajustado às necessidades, em especial aos segmentos da população com menos recursos, financeiros, habitacionais e de literacia.
Continua a existir um estigma?
Claro que sim. As demências ainda são olhadas como doenças que apenas dizem respeito a quem delas padece ou às suas famílias, estando ainda pouco disseminada a ideia de que se trata de um problema de saúde pública e de toda a comunidade, ainda que afetando especialmente as idades mais tardias, mas transversalmente a todos os grupos socioeconómicos.
Qual o trabalho a fazer?
É fundamental aumentar o conhecimento da população em geral para a realidade dos números, a importância da adoção de medidas e atitudes de promoção e prevenção, desde a idade escolar, contribuindo também para aumentar a capacidade para lidar, desde muito cedo, com as pessoas com demência, na tentativa de lhes melhorar a qualidade de vida e o bem-estar.
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