Detenções, desaparecimentos e tortura no Burundi aumentaram
Os casos de detenções, desaparecimentos forçados e tortura contra alegados apoiantes da oposição no Burundi, na África Oriental, aumentaram nos últimos meses numa aparente retaliação a ataques feitos este ano por desconhecidos, refere um relatório hoje divulgado.
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Mundo Burundi
"O número de casos de tortura pelos serviços de inteligência no Burundi aumentaram nos últimos meses e as técnicas são muito brutais", disse Lane Hartill, um dos autores da investigação da Iniciativa dos Direitos Humanos do Burundi (BHRI, na sigla em inglês), organização não-governamental sediada na Europa e nos Estados Unidos da América, citado pela Efe.
Segundo o relatório da ONG, desde meados do ano, "a atitude do Burundi em relação aos direitos humanos tem vindo a piorar de forma preocupante", embora durante anos as organizações tenham denunciado abusos cometidos pelas autoridades do país, em particular pelo antigo presidente Pierre Nkurunziza, que morreu de ataque cardíaco em junho de 2020.
O aumento das violações dos direitos humanos, segundo as notas da investigação, ocorreu em paralelo com uma sucessão de ataques por pessoas armadas não identificadas que abalaram o país entre abril e setembro deste ano.
Os assaltos ocorreram primeiro na cidade de Rusaka, na província central de Mwaro, e depois em Muramvya, na província do mesmo nome, a poucos quilómetros da capital, Gitega.
Em setembro, ocorreram também várias explosões na capital económica do país, Bujumbura, descritas pelo Governo como "atos terroristas", mas atos semelhantes também aconteceram em Gitega.
No total, estima-se que os ataques mataram dezenas de pessoas.
Segundo a investigação da BHRI, as autoridades acusaram os opositores políticos de terem colaborado com grupos armados para levarem a cabo os ataques e raptarem ou prenderem pessoas.
Alguns membros destes grupos armados foram presos e levados para a sede dos serviços secretos do país em Bujumbura, onde "alguns foram torturados até a dor ser tão intensa que diziam qualquer coisa para a impedir".
Dos detidos, muitos, depois dos atos de tortura e de estarem incontactáveis, foram vistos na prisão de Mpimba, em Bujumbura, mas outros não voltaram a ser vistos.
A este respeito, o relatório assinala que também houve um aumento de desaparecimentos forçados dos quais pelo menos 20 foram comunicados publicamente desde julho deste ano???????, embora seja difícil obter números concretos porque "há muitos casos que não são conhecidos", salientou Lane Hartill.
"Muitos dos casos são registados publicamente, mas o Governo quase nunca fala deles e mesmo os diplomatas em Bujumbura quase nunca abordam os raptos e a tortura (...) embora estejam sempre a acontecer", disse o investigador.
Durante anos, as organizações de direitos humanos têm vindo a denunciar os abusos cometidos no Burundi sob o regime de Nkurunziza, que governou o país com um autoritarismo crescente entre 2005 e 2020 à frente do Conselho Nacional de Defesa da Democracia (CNDD-FDD) no poder.
Embora o atual Presidente, Evariste Ndayishimiye, do mesmo partido, tenha chegado ao poder com uma imagem mais aberta, segundo o último relatório do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, desde a sua nomeação "continuaram a ser cometidas violações graves dos direitos humanos por trabalhadores públicos e membros das [milícias estatais de juventude] Imbonerakure".
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