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Rosto da oposição ao regime do Zimbabué condenado por incitar à violência

Um oposicionista zimbabueano, que passou cerca de 600 dias em prisão preventiva, foi hoje condenado por incitar à violência, enquanto alguns apoiantes choravam o tratamento dado a um homem visto por muitos como rosto da resistência à repressão governamental.

Rosto da oposição ao regime do Zimbabué condenado por incitar à violência
Notícias ao Minuto

20:41 - 24/01/24 por Lusa

Mundo Zimbabué

Job Sikhala, funcionário do partido da oposição Coligação de Cidadãos para a Mudança e antigo deputado, foi detido em junho de 2022 na sequência do assassínio e desmembramento de um ativista do seu partido.

O oposicionista foi acusado de utilizar as redes sociais para incentivar os apoiantes da oposição a reagir violentamente à morte de Moreblessing Ali.

Sikhala negou as acusações, argumentando que estava simplesmente a agir como advogado da família na sua tentativa de encontrar Ali, cujas partes do corpo foram mais tarde descobertas num poço.

No entanto, a magistrada Tafadzwa Miti disse que as provas mostram que Sikhala e o deputado da oposição Godfrey Sithole foram responsáveis pela violência que se seguiu à morte de Ali perto da capital, Harare.

Os dois homens podem ser condenados a até 10 anos de prisão ou a uma multa.

Sikhala foi detido mais de 65 vezes nos últimos 20 anos e saiu sempre em liberdade antes do veredito de hoje, segundo os seus advogados.

Os seus apoiantes afirmam que o seu caso põe em evidência a repressão das vozes dissidentes no Zimbabué, país da África Austral.

A tensão foi evidente na superlotada e minúscula sala do tribunal de Harare, com dezenas de pessoas, que não cabiam no espaço a encheram os corredores e a trocar empurrões com a polícia.

No exterior, a polícia, com equipamento antimotim e empunhando bastões, impediu um grupo de ativistas de entrar no pátio para protestar contra a continuação da detenção de Sikhala.

Enquanto alguns choraram depois de o veredito ter sido pronunciado, Sikhala permaneceu impassível.

Um dos advogados de Sikhala, Harrison Nkomo, disse que recebeu instruções para recorrer da sentença.

Na segunda-feira, o tribunal vai ouvir a atenuação, um processo de rotina em que os advogados pedem clemência antes da sentença.

Grupos de defesa dos direitos humanos locais e mundiais, incluindo a Amnistia Internacional, protestaram contra o tratamento dado a Sikhala, afirmando que a sua situação sublinha a contínua repressão da oposição e de outros críticos do Governo, como estudantes universitários e sindicalistas.

As eleições do ano passado no Zimbabué, as segundas desde o golpe de Estado que depôs o falecido e ex-Presidente Robert Mugabe, foram marcadas por alegações de violência, detenções, perturbação das atividades da oposição e resultados contestados.

O atual Presidente, Emmerson Mnangagwa, um antigo aliado de Mugabe que assumiu o poder, após o golpe apoiado pelo exército, com promessas de reformas democráticas, nega as alegações de repressão da oposição.

Mnangagwa insiste que o seu Governo melhorou o ambiente político e a situação dos direitos humanos no país.

Leia Também: Juiz mantém proibição de opositores concorrerem às eleições no Zimbabué

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