Costa "não fez xeque-mate, não se faz xeque-mate ao Presidente"
O antigo ministro do Trabalho considerou que o Presidente da República não é "um foco de instabilidade", mas tece críticas.
© Reuters
Política Vieira da Silva
José António Vieira da Silva, antigo ministro socialista da pasta do Trabalho, rejeitou que o Presidente da República seja "um foco de instabilidade", reconhecendo-lhe "muitas qualidades", mas também "alguns defeitos".
"O Presidente da República não precisa dizer que não abdica dos seus poderes. Alguém está a pedir que abdique? Todos sabemos que tem esse poder. Mas esse poder reforça-se usando quando ele deve ser usado e não andando permanentemente a falar dele", disse, ainda assim, Vieira da Silva, em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença.
Para Vieira da Silva, que falava sobre o azedar de relações entre São Bento e Belém, a dissolução da Assembleia da República, defendida por alguns após a mais recente polémica em torno do ministro das Infraestruturas e da demissão do seu ex-adjunto, não é uma opção viável.
"A dissolução da Assembleia tem um conjunto de preceitos, regras e de exigências e deve ser aplicada de forma muito bem pensada, muito sóbria. Não é um assunto de política corrente; é uma situação de exceção", alertou, recordando que "o nosso país, a Europa e o mundo defrontam problemas que são até imprevisíveis".
Vieira da Silva fez uso das metáforas de xadrez que têm sido utilizadas para descrever os desenvolvimentos na relação entre Costa e Marcelo, rejeitando que o primeiro-ministro tenha feito "xeque-mate". "Se estamos a falar de xadrez, António Costa não fez uma jogada defensiva, não sacrificou nenhuma peça e reafirmou a sua vontade de levar o jogo até ao fim", defendeu o antigo ministro, acrescentando que Costa "não fez nenhum xeque-mate; não se faz xeque-mate ao Presidente da República. A posição institucional do Presidente não é passível de sofrer um xeque-mate".
Liberdade para opinar, sim, mas nos sítios certos
O socialista comentou ainda a decisão de António Costa de manter no gabinete João Galamba, apesar de forte pressão social para a sua demissão. Também houve vozes dentro do próprio PS, no entanto, que pediam a saída do ministro, como foi o caso do presidente do partido, que sugeriu uma remodelação do gabinete de Costa.
Para Vieira da Silva, Carlos César não se excedeu, até porque "somos um país livre" e "tem todo o direito a dizer as suas subscrições". Agora, essas opiniões devem ser transmitidas aos responsáveis "nos momentos e nos sítios adequados e não transformados em mais uma onda", considerou.
"Claro que o presidente do partido é uma personalidade importante, mas eu, se tivesse responsabilidades dirigentes no PS, iria sempre preferir ter uma conversa nos órgãos próprios", reiterou ainda Vieira da Silva, afirmando que o partido tem, neste momento, um "défice de debate político interno", como efeito perverso do facto de estar no Governo há sete anos.
"Esse risco existe: que a atividade governativa, a comunicação governativa, não se sobreponham àquilo que é uma reflexão livre que é essencial aos partidos democráticos. Tenho pena que o PS não a pratique mais vezes", lamentou o antigo ministro, admitindo que alguns dos 'casos e casinhos' que marcaram a governação socialista têm a ver "com o PS não ter tirado todas as ilações que devia ter tirado nesta sequência em que está no Governo".
"A falta de debate político tem muito a ver com os problemas de governação que estamos a viver", disparou ainda.
Na terça-feira, António Costa decidiu não aceitar um pedido de demissão feito por João Galamba, alegando não ver razões para tal. O caso surgiu após a demissão de um ex-adjunto de Galamba, que Costa acusou de ter "roubado" um computador do Estado, que utilizava nas suas funções previamente à demissão.
A decisão do primeiro-ministro não foi vista com bons olhos pelo Presidente da República, que prometeu falar em breve sobre o assunto.
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