"Defendo campeões europeus, que não sejam na França ou Alemanha"
O primeiro-ministro mostrou-se hoje favorável à existência de gigantes comerciais e industriais europeus desde que o seu desenvolvimento "não esteja refém" da França e da Alemanha, alertando para a necessidade de "igualdade de oportunidades".
© PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP via Getty Images
Economia Montenegro
"Eu sou defensor da lógica de que se criem campeões europeus, desde que não sejam todos localizados na França e na Alemanha", afirmou Luís Montenegro, no Porto, numa conferência organizada pelo jornal Eco, em resposta a uma questão sobre a possibilidade de serem criados "campeões europeus" ao nível do investimento.
No entanto, o chefe do executivo apontou uma condição: "A Europa pode ter gigantes comerciais ou industriais, não vejo nenhum problema com isso, desde que a estratégia que visa a sua constituição e o seu desenvolvimento não esteja refém apenas do interesse da França e da Alemanha, que é o que muitas vezes acaba por acontecer, e agora há mais dois ou três países".
Momentos antes, enquanto discursava, Luís Montenegro alertou que a igualdade de oportunidades deve ser a nova tónica das politicas de coesão europeias: "Estamos muito interessados em aprofundar a visão que deve estar subjacente às políticas de coesão", disse.
Referindo que o Governo está a preparar uma "nova abordagem" ao pilar da coesão europeia, Montenegro deixou um aviso: "Creio que os tempos em que Portugal vai de mão estendida para a Europa pedir fundos de coesão não se coadunam com as estratégias que hoje estão desenhadas para a União Europeia e também não se coadunam com a solidariedade, a compreensão dos nossos parceiros, nós estarmos permanentemente a exigir uma ajuda sempre no mesmo contexto".
E continuou: "A solidariedade que devemos pedir é, sobretudo, termos igualdade de oportunidades. Hoje, para haver uma politica de coesão que nos interesse, não é propriamente o acesso a fundos e a financiamento da União Europeia. Precisamos disso, com certeza (...), mas precisamos sobretudo que as nossas empresas tenham as mesmas condições do que as empresas do centro da Europa, do que as empresas do leste da Europa".
Como exemplo, Luis Montenegro apontou a questão da produção e distribuição de energia, defendendo ser "inadmissível que passados mais de 10 anos os processos de ligação e interconexão entre a Península Ibérica e a Europa continuem exatamente" no mesmo ponto em que estavam há uma década.
"Depois de se ter subscrito com a palavra do estado português, do estado espanhol, do estado francês, com a palavra da União Europeia (...) é inadmissível porque se inventa, enfim, justificações, que esta interligação não esteja feita", defendeu.
Montenegro apontou as consequências do atraso naquelas ligações: "Simultaneamente, nós estamos a dar uma pedrada na igualdade de oportunidades, estamos a dar uma pedrada na autonomia, na dependência da Europa face ao fornecimento de energia, porque não aproveitamos energia que nós próprios somos capazes de produzir e no caso da Península Ibérica estamos a desaproveitar os investimentos feitos com vista a garantir uma transição climática, visto que estamos a falar da produção de energias renováveis", disse.
"A impossibilidade de nós darmos à Europa aquilo que nós temos como potencialidade de produção de energia verde é contrária ao principio da União Europeia", concluiu.
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