Fraqueza de aliados de Bashar Al-Assad aproveitada por rebeldes na Síria
Os rebeldes sírios aproveitaram a fraqueza dos aliados do regime de Bashar Al-Assad de surpresa para lançar uma investida e tomar grande parte da região de Alepo, após anos de um conflito estagnado.
© Reuters
Mundo Síria
O avanço reacendeu a esperança entre os sírios de que este seja o princípio do fim do regime de Bashar al-Assad, acusado de crime de guerras, e do conflito que arruína o país desde 2011.
Liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (Organização pela Liberação do Levante/ HTS) aproveitaram uma janela de oportunidade composta pelo enfraquecimento dos aliados do regime.
Enquanto as milícias iranianas e o Hezbollah foram enfraquecidos pela guerra com Israel, da mesma forma, o foco da Rússia na guerra na Ucrânia diminuiu as capacidaded de Moscovo de intervir na Síria.
O regime de Assad ficou assim vulnerável, com menos poderio militar dos seus aliados para reforçar o controlo sobre regiões contestadas como Idlib, já antes controlada pelos rebeldes, e Alepo, a norte da Síria. É também aqui onde recaem os interesses da Turquia.
Em declarações à Lusa, o jornalista turco Ragip Soylu disse que "a Turquia aprovou esta ofensiva para restabelecer o equilíbrio de poder na Síria".
Ancara está a apoiar os rebeldes para forçar a mão de Assad nas negociações para o retorno de cerca de quatro milhões de refugiados sírios que estão na Turquia.
Ao mesmo tempo, Ancara, que também controla parte do norte da Síria, consegue através dos avanços do HTS enfraquecer um inimigo em comum na região: os curdos representados pelas Forças Democráticas Sírias (SDF).
Com o regresso de Donald Trump à Casa Branca fala-se da possível retirada das forças americanas, que controlam parte do sul. Esta possibilidade lançou o mote para os vários países e forças interessados na Síria iniciarem uma corrida para ganhar um papel mais ativo.
"A Turquia está a jogar um jogo complexo... quer colocar-se numa posição de força numa Síria pós-retirada dos EUA"", disse Soylu.
No entanto, o avanço do HTS - a par do chamado Exército Nacional Sírio (SNA) também conhecido por "Exército Sírio Livre" (FSA) - é controverso.
O Hayat Tahrir al-Sham (Organização pela Liberação do Levante) nasceu de um grupo de líderes descontentes com a organização Jabhat al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda, que operava na Síria desde 2011. Apesar deste corte com a Al-Qaeda e da adopção de uma posição cada vez mais moderada, o HTS continua a ser considerado um grupo terrorista por vários países incluindo a União Europeia.
O grupo tenta projetar uma retórica anti-Assad mas sobretudo nacionalista, assegurando as minorias cristãs que os seus direitos estão assegurados.
Em Alepo, criou até uma linha telefónica para os residentes partilharem quaisquer preocupações e restabeleceu serviços básicos como eletricidade e recolha de lixo, que o regime não assegurava há anos.
"O HTS moderou-se significativamente nos últimos anos... é uma organização nacionalista síria, e não jihadista estrangeira", disse à Lusa Leila Al-Shami, co-autora do livro "País em Chamas: Sírios na Revolução e Guerra".
Este reposicionamento permitiu ao HTS consolidar o poder e coordenar esforços mais amplos com outros grupos da oposição.
Apesar dos receios de muitos sírios que veem o grupo como mais uma iteração da opressão armada a que Assad os habituou, para outros, o avanço rebelde representa a primeira esperança tangível em anos.
"Nada pode ser pior do que este regime fascista genocida. Se o regime cair, milhões de sírios poderão regressar a casa", afirmou Al-Shami.
O avanço dos rebeldes voltou a trazer à luz a complexidade dos interesses religiosos, identitários e estrangeiros dentro da Síria, com o futuro do país colado aos interesses dos Estados Unidos, Israel, Turquia, Rússia ou Irão.
"Os sírios não têm ilusões: o que quer que venha depois de Assad será uma confusão", admitiu.
Os rebeldes ainda têm um caminho duro pela frente, com bombardeamentos russos registados em alvos civis como hospitais e escolas em Idlib e Alepo.
Em poucos dias, mais de 400 pessoas morreram. Para além disso, há relatos de que milícias iranianas entraram na Síria via Iraque para enfrentar os rebeldes.
Bashar Al-Assad pediu assistência a Israel, que exigiu em troca a saída da presença iraniana como condicionante, o que o presidente sírio recusa por agora.
Os milhões de sírios dentro e fora do país que acompanham a história minuto a minuto, que se viram obrigados a abandonar as suas casas e que viram os seus familiares presos e desaparecidos sem rasto, esperam por qualquer melhoria drástica em relação ao regime brutal de Bashar al-Assad.
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