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Conheça Sia, a cadelinha de assistência que mudou uma família

No Dia Mundial do Animal de Estimação, o Lifestyle ao Minuto foi conhecer a Sia, a cadela Jack Russell de assistência que ajuda Núria, uma menina autista de 8 anos, a brincar, a socializar e a rir.

Conheça Sia, a cadelinha de assistência que mudou uma família

A Sia mudou não só a minha filha Núria como nos mudou a nós como família. Primeiro, porque quando está presente acabamos por nos reunir todos à sua volta. Brincamos e rimos mais, sentimo-nos mais unidos. E depois, porque saímos todos juntos como família para passeá-la pelo menos duas vezes por dia. Andamos tão ocupados no dia a dia, que se torna complicado parar e apreciar as pequenas coisas. Ou seja, a Sia proporciona-nos sempre momentos para estarmos, convivermos e falarmos, sem telemóveis e preocupações. Sem dúvida, que a nossa Jack Rusell contribui para o bem-estar da família de várias maneiras”, explica Vilma Brito. 

Os cães de assistência não só prestam um serviço especifico a pessoas com deficiência, como actuam de forma a melhorar a sua qualidade de vida e de uma forma geral devolvem ao seu dono a sensação de independência e liberdade, refere o site da Associação Portuguesa de Cães de Assistência (APCA).

Apesar de os cães-guia para os cegos sejam treinados formalmente há mais de 70 anos, os cães de assistência para pessoas com deficiência física e mental é um conceito muito mais recente, e só surgiu em 2007. O cão de assistência, inclui assim o cão-guia, cão para surdos e cão de serviço (medical dog). 

A APCA certifica cães de assistência, não treinados pela associação, mediante uma avaliação positiva do cão, realizada por treinadores devidamente certificados.

Sia, que completa dois anos neste mês de novembro, é uma dessas cadelinhas. A ideia de a ir buscar partiu de Vilma, que a trouxe para a sua casa na Charneca de Caparica, em Almada, com apenas dois meses de idade. Na altura falou com a psicóloga da filha no Hospital Garcia da Orta, que apoiou a ideia. "Aliás porque inicialmente tinha sido recomendada o recurso a uma terapia com animais, que Núria acabou por realizar com cavalos e já altura achámos que tinha ajudado imenso na sua capacidade de abertura e na recetividade ao toque", afirma. 

Notícias ao Minuto© Sia

"Posteriormente entrei em contacto com a APCA, que nos explicou a diferença entre cães guia, terapeutas e de assistência. Na altura aconselharam-nos treinar um Labrador, mas não quis porque é um cão muito grande e foi assim que optamos por uma Jack Russell".

Núria é aquilo que é considerado uma autista de alto rendimento, condição comummente designada por Asperger.

"Ainda assim a barreira da socialização continua a ser muito significativa. Hoje em dia vivemos numa sociedade na qual se valoriza o trabalho em equipa e a cooperação, portanto o envolvimento da Sia na vida quotidiana da Núria está a desbloquear essa parte menos favorável do seu comportamento", diz a mãe. 

"A Núria não leva a Sia para a escola, tal seria um trabalho acrescido. A cadelinha tem sim o papel de brincar e de acalmar. A minha filha tem uma grande dificuldade em lidar com o stress e a ansiedade, e a Sia oferece-lhe apoio", acrescenta. 

“Quando ela chora lambe-a e quando isso acontece a Núria sorri, o que significa que sai daquele bloqueio. Sai daquele 'loop' de repetir as mesmas ideias várias vezes e nós por sua vez enquanto pais já conseguimos manter uma conversa com ela. Por exemplo, a Sia ajuda também a desbloquear os gestos repetitivos que a Núria faz, abrindo-lhe a mão ou dando-lhe afetos o que nos permite chegar a ela". 

Vilma é quem treina Sia, seguindo as instruções da APCA, pelo menos duas vezes por semana. A pequena Jack Russell ainda tem alguns aspetos a melhorar, mas Vilma refere como recentemente o treino em espaços públicos já evoluiu dos 15 para os 45 minutos.

"Nos últimos seis/sete meses temos intensificado o treino, porém com cuidado para que não fique muito cansada. É importante corrigir o animal e dar-lhe disciplina", explica.

Sia treina sobretudo no centro comercial Fórum Almada, já que segundo Vilma sendo um grande espaço comercial é um local onde se encontra igualmente um grande número de pessoas aglomeradas. Por vezes, um membor da APCA acompanha a família dando-lhes indicações e depois cabe-lhes a eles seguir as instruções sozinhos nos treinos seguintes. "Cabe-nos a nós repetir o treino várias vezes até sentirmos que o animal se encontra seguro e consegue alcançar os objetivos, aprendendo a comportar-se", diz a mãe.

E acrescenta: "ao fim-de-semana realizamos no mínimo dois treinos, normalmente de manhã e outro à noite, em espaço público ou não. Por exemplo, frequentamos o jardim público ao pé de nossa casa, um espaço com crianças para que a Sia se habitue, para que aprenda a não ficar perturbada com o choro de um bebé ou com o ladrar de outro cão. É engraçado que quando lhe colocamos o colete de cão de assistência, a postura da Sia muda – ela sabe que está a trabalhar! Nessa altura não há festas ou colos". 

Vilma refere o trabalho constante que é necessário por parte dos donos - "um cão de assistência não vem pronto".

E no caso dos cães de assistência que são treinados para lidar com crianças, a verdade também é que cada caso é um caso.

Relativamente à situação da Núria, Sia ajuda-a a socializar. "A Núria não é uma criança muito alegre e extrovertida e a Sia tem essa função: é brincalhona, ativa, fá-la correr".

Ou seja para outras pessoas com outros problemas o animal terá que ser treinado adequadamente.

"Graças à interação da Sia com a Núria, a minha filha começou a socializar, brincar e a falar com outras crianças que conhece na rua. Os outros meninos também têm cães e assim tem um motivo para interagir. Coisas que não fazia antes". 

"E num autista esses pormenores são muito importantes, nomeadamente quebrar a barreira de falar com um estranho", salienta Vilma. 

Todavia, o treino de Sia é um processo que está longe de terminar e há medida que a Núria cresce haverá sempre coisas novas a aprender, que o animal terá de adaptar e incorporar.

"Os autistas têm fases de desenvolvimento positivas, mas também têm alturas nas quais regridem. Portanto tudo depende do desenvolvimento de ambas - Sia e Núria - e para isso não há prazo. Cada vez que há um novo problema tentamos ajustar: cada dia com um autista é um dia diferente, e acho que o tratamento nunca estará acabado, mas a Sia está connosco nesta viagem!"

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